Era mais uma verificação rotineira. Aproximar do terminal de verificação e depois voltar para o sistema. Como sempre.

Era exatamente nisso que Lucy estava pensando quando parou em frente ao terminal de verificação 4, e teria continuado a pensar em sua rotina se não fosse a inusitada situação que se instalou depois que ela virou de costas para o terminal e colocou sua mão esquerda – levantada acima da cabeça – na base de verificação.

-Por favor retire sua mão da base de verificação. – orientou o rapaz atrás da grande tela de vidro transparente, onde se via inúmeros números e imagens de tamanhos pequenos demais para enxergar com perfeição.

Lucy ficou confusa por alguns segundos, olhando sobre o ombro direito o rapaz.

-Como?

-Por favor retire sua mão da base de verificação. – repetiu o rapaz.

Lucy tremula a retirou, dois agentes do sistema já se aproximava do terminal, mas ficaram parados alguns passos desse. A loira sentiu uma tensão sobre seu ombro, aquilo nunca havia feito parte de sua rotina.

-Agora coloque sua mão novamente sobre a base de verificação.

Lucy concordou com a cabeça, e com a mão tremendo ergueu o braço esquerdo acima da cabeça, aproximando da base de vidro que flutuava alguns passos de distancia do balcão do terminal 4.

Assim que colocou a mão na base, viu de esgueira alguém se aproximar do terminal 5, nervosa com a situação olhou para a direção desta, Alzack, seu colega de serviço, acabara de colocar sua mão na base de verificação do terminal ao lado. Aquilo  a aliviou. Um alívio que não durou muito, antes que ele pudesse lhe dominar completamente, um apito soou no grande terminal de verificação. A loira fechou os olhos sentindo todo o seu corpo dominado por aquele temor terrível, pedindo intensamente que o sistema, pela primeira vez, estivesse errado.

O sistema não erra. A frase ecoou em sua mente. Nunca erra.

E tudo somente piorava quando começou a ouvir os passos firmes e apressados dos agentes do terminal. Seus olhos ficaram ainda mais cerrados que já estavam – caso fosse possivel – enquanto sua mão tremia sobre a base.

-Pronto Heartifilia. – a voz do rapaz atrás de si soou indiferente.

Lucy abriu os olhos, antes que pudesse virar para o rapaz, a movimentação ao lado lhe chamou atenção. O apito que soara realmente não tinha sido para si, e sim para Alzack, aquilo lhe acertou duramente.

Ela o olhou, o moreno estava sério e imóvel, enquanto um dos três agentes que se aproximara do terminal 5, algemava ele. Alzack lançou um olhar para Lucy, como que querendo dizer que tudo estava bem, quando na verdade, nada estaria dali para frente. Afinal ele havia adquirido.

Alzack foi conduzido até o portão vermelho, o tenebroso portão vermelho. Nenhum agente do Além gostaria de passar por ele, depois de um ronda rotineira, e Lucy não queria que seu colega de serviço, com quem mantinha certa amizade, principalmente com sua esposa; tivesse que passar por ele. Infelizmente, o que ela queria ou deixasse de querer não contava naquele instante.

Antes que Alzack passe completamente pelo portão, voltou a olhar para Lucy, deixando-lhe um pedido, embora silencioso. “Cuide de Bisca.” Lucy concordou com a cabeça, e desviou o olhar assim que o portão vermelho fechou-se, tragando com sua imponência os Três agentes e principalmente seu colega Alzack.

-Heartifilia. – o rapaz atrás do balcão pronunciou impaciente.

Lucy voltou-se para ele.

-Estenda sua mão, por favor.

Como pedido, Lucy estendeu sua mão esquerda para o rapaz, que com garimpo de chip, qual havia duas minúsculas agudas na sua base inferior, garimpou a mão de Lucy.

 A dor latente cobriu toda sua mão, e depois seu corpo, a forçando fechar os olhos, querendo controlar aquela dor de prosseguir. Quando voltou a abrir os olhos estava sentada numa cadeira de estofado branco, dentro de uma minúscula sala de paredes brancas. Rapidamente a loira retirou a sonda de ligação do não sistema de sua mão esquerda e saiu da sala. Ainda tonta pela volta do Além do Sistema, ela foi cambaleando até a cabine 7, onde mais cedo seu colega de trabalho Alzack havia entrado. Tremula ela abriu a porta da cabine, encontrando esta vazia, ainda sem acreditar afastou-se desta e olhou ao redor. O cumprido corredor com dezenas de cabines de ambos os lados, iguais aquela a sua frente, seguia tediosamente e criava aquele cenário padronizado de branco e azul, deixando claro que não havia mais ninguém além dela.

Aquela era a primeira vez que alguém aproximo a ela Adquiria, e somente agora ela entendia perfeitamente a angustia que foi para Loki, outro agente do Além do Sistema, quando seu colega de serviço Adquiriu.

Desanimada ela tocou na porta da cabine 7, olhou para dentro desta, sabendo que no dia seguinte seria outra pessoa que entraria nesta para ir para o Além. E continuou dessa forma por algum tempo, observando o vazio. Somente afastou-se dali quando ouviu passos.

Esperançosa ela olhou em direção ao som dos passos, quem caminhava em sua direção não era Alzack, e sim um agente Elite. Sting Eucliffe.

Rígida ela colocou-se em posição, observando o outro seguir em sua direção em passos firmes e certos, tão frios quando o olhar que lhe direcionava.

-Heartfilia. – cumprimentou. – Por ser a agente mais próxima em número do agente Connell, ficará encarregada em dar a noticia a Moulin.

Lucy concordou com a cabeça.

-Sim senhor.

-Contudo, para dissipar essa noticia, trago-lhe uma feliz.

O agente, cuidadosamente uniformizado, com uma vestimenta negra, que destacava os cabelos loiros do rapaz, levou a mão até o bolso interno do sobretudo que usava, retirando deste um envelope branca com a marca do Sistema. Lucy delicadamente pegou o envelope, curiosa para saber o que continha ali. E por isso que sem demora ela a abriu, lendo as palavras que mudaria a sua vida.

“Heartifilia.

O Sistema, a grande ordem da nossa nação, detectou hoje a data da sua união, que será realizada no dia 07 de Julho de 06, ás 15 horas. O parceiro escolhido será revelado pelo Sistema no momento da união, para garantir e preservar a perfeição da nossa Nação.

E sempre se lembre, o Sistema nunca erra.”

Nunca erra.

Aquelas palavras poderiam ser verdadeiras, mas para Lucy pareciam ser mentirosas, pois ela sentia que o sistema havia errado pela segunda vez num mesmo dia. Afinal como ela poderia se unir, ou como era utilizado antigamente, se casar, dali 24 horas?  

Sem demonstrar a tristeza daquela noticia, ela guardou a carta dentro do envelope e este no bolso de sua calça, e sorriu para o agente Elite.

-Obrigado senhor, por essa maravilhosa noticia.

-Fico feliz que ache isso Haertifilia. Agora, com sua licença, tenho que finalizar as documentação de negação do senhor Connell.

Lucy o olhou se afastar desolada, sentindo-se sufocada com os últimos acontecimentos. Lembrando-se dos avisos que ouve todas as vezes que entra na fronteira final do Além.

‘Não imagine’ ‘Não seja criativo’ ‘Não deixe que sua mente se prenda nessa realidade’ ‘Não faça deste lugar o seu sonho’. Afinal o Sistema não erra...