O Mal que o Homem faz - Fic. Interativa escrita por Sateily


Capítulo 44
Capítulo 44 - Juventude Hitlerista


Notas iniciais do capítulo

"Torne a mentira grande, simplifique-a, continue afirmando-a, e eventualmente todos acreditarão nela"



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Rodrigo desce uma escadaria um tanto longa, está dentro de um prédio, o local é pouco iluminado, apenas alguns castiçais em pontos estratégicos iluminam os degraus. Ele está com uma feição séria, é alguém que constantemente tem algo a fazer, uma tarefa a realizar, sua vida se baseia em seus preceitos cultivados em uma infância e adolescência conturbada, se encaixou bem no sistema hierárquico da Transportadora.

Com o passar do tempo ele criou uma casca, não se abala facilmente, apesar de seus vinte e nove anos, sua alma é velha. Já passou por bastante coisa para saber que o bem não é algo bem quisto, principalmente se tratando da selvageria que o mundo se tornou. Tenta manter sua mente sempre limpa, apenas se atenta aos problemas quando os mesmos são reais, não gosta de arrastar preocupações. Quando algo deve ser resolvido, ele procura insistir até que o problema se esvaia, não gosta de deixar nada para depois.

Assim como todos, Rodrigo também teve perdas durante seu trajeto, e por ser, ou pelo menos aparentar ao máximo, uma pessoa extremamente forte, abraçou o plano de erguer uma nova sociedade, uma sociedade que começando do zero, poderia trazer em si um pouco mais de seus pensamentos elitistas.

Prosseguiu descendo os degraus sem grande pressa até chegar a uma porta de ferro, ele bateu três vezes e ela foi aberta, o homem que a abriu estava armado, ele fez um sinal de cumprimento com a cabeça, Rodrigo não respondeu. Passou pela porta e saiu, estava saindo do prédio da transportadora, era noite, algumas pessoas se reuniam a frente de suas barracas, mas nada daquilo tinha importância a ele. Virou-se na direção do mesmo homem que abriu a porta e disse:

-- Diz para o Bruno ficar aí na porta! – O homem usava uma boina e tinha trinta anos, ele fez um sinal para que outro homem fosse até a porta, voltou-se para Rodrigo e perguntou:

-- Aonde vamos?

-- Recolher o que restou da barraca do Hugo, o Músico acha que podemos achar alguma pista sobre o plano dos rebeldes! – Exclamou.

-- Não podemos pegar os caras e resolver logo isso? Nós já sabemos quem eles são! – Indagou o homem.

-- É claro que não seu imbecil! Tudo deve ser feito à surdina... Um já foi! O próximo é aquele negro de merda do Tomas! – Exclamou Rodrigo furiosamente.

-- Essa barraca não é a dos novatos?

-- Isso mesmo... Vai ser divertido! – Concluiu ele com um sorriso indicando maus pensamentos.

Ambos saíram andando em direção a seu objetivo, passavam por todos de forma muito natural, sem levantar nenhuma suspeita. Pode-se ver que Rodrigo é respeitado por toda a Transportadora, ele e Sabrine são como a segunda patente mais importante do lugar, abaixo apenas da mística visão que existe sobre o Músico.

Rodrigo e o homem armado seguem passando pelas pessoas que agem de forma muito natural, apenas vivendo suas vidas. Ao chegarem perto da barraca indicada, Rodrigo faz um alerta:

-- Temos que fazer isso sem distúrbios... Não podemos deixar que desconfiem, é só mais uma missão, ficou claro? – O homem balançou a cabeça positivamente. – Então vamos!

Sorrateiramente os dois foram chegando cada vez mais perto da antiga barraca de Hugo, hoje ocupada por Alex e Vic. Se utilizando apenas de gestos, Rodrigo indicou que seu comparsa pegasse sua lanterna para utilizar lá dentro, frisando para utilizá-la com cuidado para não acordar o casal. Planejavam fazer tudo de forma imperceptível.

Finalmente chegaram à barraca, vagarosamente abriram-na e com muito cuidado passaram a se deslocar pelo local. Podia-se ver Alex e Vic dormindo, os mesmos não notaram a presença dos homens. Vasculharam o local e logo estranharam a ausência dos numerosos livros que Hugo guardara, os mesmos que ficavam ao pé da cama. Nada mais estava lá.

Rodrigo estava extremamente irritado, alguém havia o enganado, as tão preciosas pistas sobre uma possível revolta dos autointitulados ‘rebeldes’ não estavam ali, haviam sido removidas por alguém. Restava à dúvida se seria pelos ‘novatos’ ou por algum integrante do grupo revoltoso.

Por seguir ordens, preferiu não confrontar Alex e Vic no momento, consultaria ‘os superiores’ para não cometer nenhum erro por precipitação. Mesmo frustrado fez sinal para o outro homem para que abortassem a operação. Ao saírem, Rodrigo depositou em palavras seu sentimento raivoso:

-- Porra! Algum filho da puta levou os livros! Se forem esses novatos eles vão se foder bonito! Agora... – Fez uma breve pausa enquanto refletia – Acho que sei quem foi... Está na hora de falar com o Músico sobre a Inquisição... – Exprimiu um breve sorriso.

Seguiu seu caminho de volta, mesmo sem nada conseguido nessa breve missão, ele já tinha em mente seus próximos passos, e isso o deixava animado, imaginar o que poderá vir a acontecer o acalmava. O dia havia sido cheio, seus dias são sempre cheios e ele achou que era melhor se recolher, o próximo dia com certeza seria tão trabalhoso quanto o que já os deixava.

Diferente dos outros integrantes da Transportadora, Rodrigo não tinha uma barraca, ele se dirigiu novamente ao prédio e adentrou a grande porta de ferro, sempre protegida por um homem armado.

Subiu as escadas ainda pensativo, sabe que precisará ter uma conversa com o Músico pela manhã, para definir os próximos passos, mesmo tento certa autonomia, nunca fará nada sem consultá-lo antes.

O lugar pouco iluminado e deserto o levou até uma porta, não é possível ver muito sobre o local externamente, ele a abre e adentra o que anteriormente fora um escritório, lugar que hoje Rodrigo utiliza como moradia. Tudo está tão escuro quanto lá fora, tateando pelas paredes, ele consegue alcançar um castiçal que ali se encontrava, e com mais alguma busca, consegue achar fósforos.

Ao acender a vela, o local fica um pouco mais iluminado, pode-se ver agora que não é muito espaçoso, e que muito do original fora retirado para que fosse adaptado. Há uma mesa onde consta uma mochila, uma mala e alguns enlatados, uma cadeira típica de escritório também pode ser observada. Em uma estante logo ao lado da porta estão outros castiçais que pouco a pouco começam a ser acesos por Rodrigo.

O lugar agora está bem visível, e é possível enxergar o colchão no chão, onde ele dorme, não há muito no lugar, mas podem-se ver objetos pessoais, que dão um ar bem próprio a esse ‘quarto’.

A mesa única do lugar está de fronte a uma parede, e mais para a esquerda há uma janela coberta com uma cortina. Um destaque no lugar é um pôster de mais de um metro de Adolf Hitler sobre essa mesa. Rodrigo adentra o lugar e respira fundo algumas vezes, após feito isso, ele começa a retirar toda a sua roupa, ficando completamente nu no local.

Isso funciona como um ritual para ele, costuma fazer isso sempre. Agora é possível ver seu corpo repleto de tatuagens, nas costas há perto da nuca a simbologia 14/88 cravado em sua pele. Em sua nuca há desenhado uma caveira usando um capacete de guerra. Seu pescoço do lado direito é possível ver o símbolo do anarquismo, e do lado esquerdo uma águia negra. A maior de todas as tatuagens está em seu peito, toma-o de ponta a ponta, uma suástica em vermelho e preto, uma prova de seu orgulho por sua linhagem e seus preceitos.

Ainda em suas costas, há duas frases tatuadas, abaixo dos números, são elas: “We must secure the existence of our people and a future for White Children", e "Because the beauty of the White Aryan women must not perish from the earth", todas as duas escritas por David Lane e de cunho nazista.

Ele observa fixamente a foto de Hitler, e após respirar e inspirar algumas vezes, se põe em posição de sentido e fala em alto e bom som:

-- Heil Hitler! – Faz tal afirmação estendendo o braço direito, realizando uma legítima saudação neonazista.

Ele fica nessa posição por alguns minutos, é como uma oração diária, um momento de reflexão, para ele todo esse protocolo é sagrado. Após passar o tempo que ele julga necessário, Rodrigo começa a agir naturalmente, mas ainda sem roupa. Sentou-se em sua cadeira e passou a relaxar, pegou um cigarro e o acendeu, recostou-se na poltrona e passou a falar sozinho:

-- Meine Führer... Mas um dia daqueles – Soltou bastante fumaça após essa frase. Rodrigo fala olhando para a foto de seu mentor. – O babacão rockstar estava na barraca dela... Eu os vi de relance lá fora... Espero que ela não faça nenhuma besteira!

Rodrigo se levanta de repente e se dirige até a mesa, pega dois dos enlatados e os abre, um contém ervilhas e o outro legumes em cubos. Assim como Hitler, Rodrigo também é vegetariano e tenta seguir o sendo mesmo em meio a todo o caos implantado. Prefere comer sozinho, para não ver os frangos e carnes que geralmente são preparados na cozinha central. Volta a se sentar agora se alimentando, mesmo assim não deixa de dialogar com o pôster:

-- Eu sei Meine Führer, eu sei... – Rodrigo fala como se realmente conversasse com alguém – Amanhã eu conseguirei... Vou fazer o que puder para que o Músico aprove isso... Não, não se preocupe, aquele negro! – Dizia tais palavras com repulsa – As raças inferiores devem ser extintas... Eu vou conseguir acabar com aquele merda! – Rodrigo cuspiu ao terminar seu pequeno discurso.

-- As coisas parecem que estão piorando cada vez mais... Eles chegaram agora Meine Führer e eu não faço ideia de quem realmente são! – Disse voltando a falar com a foto, desta vez Rodrigo abre uma gaveta da mesa e retira uma pequena garrafa contendo alguma bebida alcoólica – Por mim eu os mandaria embora de uma vez, ou então acabaria com tudo isso! Mas o Saulo... O Músico não permitiria! Mesmo após todo esse tempo eu ainda não o entendo Meine Führer... Não consigo lê-lo!

Rodrigo deu alguns goles em sua bebida, tudo isso que fazia era como uma libertação, ele é muito fechado e gosta de passar tal visão a todos. É com o pôster que ele se abre, é com o ‘Führer’ que ele acaba contando seus segredos, seus sentimentos, se não fosse assim com certeza ele explodiria, muitas coisas passam por sua mão, ele vive sobre enorme pressão.

-- E pensar que eu vim para cá para tentar recomeçar... – Rodrigo abaixa a cabeça ao olhar para a foto nesse momento – Desculpe Meine Führer, desculpe... Eu nunca irei abandonar a causa! – Volta a olhar normalmente – Eu sei que o mundo não vai voltar a ser o que era... Eu sei que eu não voltarei ao que era...

Rodrigo caminha em direção ao colchão estendido ao chão e se deita, olha mais uma vez para a foto e diz:

-- Gute Nacht Meine Führer!

Ele fecha os olhos e se dispõe a dormir, mais um dia havia se passado e sua mente seguia cheia, eram muitas coisas a fazer, muitas decisões a tomar. Apesar de todos venerarem o Músico, Rodrigo era o homem a frente de todas as decisões tomadas por ele. Ele é a pessoa que suja as mãos quando é necessário, ele sabe de sua importância e de sua função. A Transportadora é como uma engrenagem e ele é uma das peças principais, uma peça bem forte. Ele sabe que o dia a seguir será decisivo, tentará levar uma ideia sua ao Músico, e se ela for aprovada, muita coisa poderá mudar.


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Notas finais do capítulo

Aqui foi mais um capítulo, espero que tenham gostado!
Comentem e opinem!



Vou fazer um esforço para postar dois capítulos amanhã...








Säteily



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