This is just a journey
           Drop your worries
     You are gonna turn out fine
 

Carrie passou a maior parte da semana comigo e eu ri quando ela disse, de repente como se tivesse acabado de lembrar, no final da quinta-feira que não era pra eu pensar que ela não tinha amigos e por isso eu era a única com quem ela passava o tempo. A verdade era que sua amiga estava viajando e, as outras pessoas que conhecia não eram tão íntimas dela.

- o que pode soar estranho – disse pensativa – já que você é também não é tão íntima ainda... – ficou em silêncio por alguns segundos e então deu de ombros – mas eu gosto de você – sorriu – foi amor à primeira vista – exclamou rindo enquanto guardava um de meus filmes na prateleira do armário.

Eu tinha visto seu irmão apenas uma vez depois do dia do parque, quando fui jantar em sua casa. Ele era engraçado e charmoso, não posso negar, e era bem legal comigo também. Tratava-me assim como Carrie: como se eu fosse uma velha conhecida, e não somente a nova garota da cidade.

As aulas começaram segunda-feira e eu me encontrava parada em frente ao meu escaninho, trocando os materiais para as próximas aulas.

- isso é ridículo! – Carrie disse e eu dei um pulo.

Ela estava parada atrás da porta aberta do meu armário e esperou para falar assim que fechei a mesma. Ela não pareceu ligar para meu estado de choque e continuou seu discurso.

- quer dizer,  a menina dormiu com tipo todos os caras do colégio, incluindo meu irmão – deu uma pausa para uma cara de nojo – e tem a coragem de chegar no primeiro dia de aula participando do grupo que apoia o sexo só depois do casamento!

Balancei a cabeça concordando. Achei que seria o gesto certo a se fazer, uma vez que eu não fazia a mínima ideia de quem ela estava falando.

Carrie pareceu se contentar com isso e me puxou pelo corredor, em direção à cantina, imaginei.

Ela estava falando algumas coisas sobre a escola, mas eu não prestava atenção. Estava muito ocupada tentando desviar dos olhares que recebia pelas pessoas no corredor.

Eu sabia que isso ia acontecer. Quer dizer, qual o tipo de segredo que dura em cidades pequenas? Por Deus, estava lá há uma semana e já sabia que a mulher da casa do lado (a mãe das crianças choronas) tinha traído seu marido com o irmão dele. É claro que todos já sabiam que eu era a amiga-que-chorou-horrores-no-enterro-de-Sarah.

Mas eu também sabia quem eram alguns deles. O gay que jurava ser hétero, a garota que sofria bullying no jardim de infância e agora era querida por todas, a ruiva que podia ser parte da família Weasley.... todos que Sarah comentava começaram a ganhar rostos, ou, pelo menos os que eu tinha encontrado em alguma das três primeiras aulas.

- não é? – Carrie disse sorrindo e eu sussurrei um “claro”, como se soubesse realmente sobre o que estava falando – ah, ali está Anna – pegou em meu pulso e me puxou até uma das mesas do refeitório.

- você deve ser a famosa Emily – a garota loira de olhos azuis parada à minha frente falou – deixei Carr nas suas mãos uma semana e ela já não consegue parar de falar sobre você – disse primeiro séria, mas depois  abriu um sorriso – sou Anna. Anna Lower – abriu mais seu sorriso e seus olhos brilharam.

- Emily Westwick – disse com um aceno de cabeça e isso pareceu bastar para nos sentarmos à mesa e começar a conversar.

Comecei a dar mordidas em meu sanduíche de peru que tinha levado de casa quando a conversa chegou a um tópico que eu não conhecia: pessoas do colégio.

-  falando nisso! –Anna deu um pulo na cadeira – você não vai acreditar quem voltou!

- quem? – Carrie disse perdendo interesse em seus cookies.

- Lucas – Anna deu uma pausa e até eu parei de comer, pelo seu tom de voz – Lucas Skylar! – Carrie quase cuspiu os biscoitos.

- mentira! – pronunciou cada sílaba lentamente e a loira arregalou os olhos e concordou com a cabeça – não é possível! Meu irmão me falaria! – ela parecia estar tento uma briga interna, provavelmente procurando pelos motivos de Finn não ter feito isso.

- bom, eu não sei Finn, mas eu o vi andando em carne e osso pelo corredor perto das quadras!

Houve um silêncio momentâneo na mesa. Um silêncio tão grande que fui obrigada a perguntar.

- quem é Lucas Silar?

- Skylar – as duas me corrigiram ao mesmo tempo – ele é um garoto que tinha saído do colégio ano passado – Anna continuou sozinha.

- e qual é o problema? – disse confusa.

- ninguém achou que ele ia voltar... – Carrie disse pensativa e eu continuei confusa – acho que você se interessaria por ele... – disse estreitando os olhos para mim e eu dei uma risadinha seca.

- não estou exatamente atrás de um relacionamento agora, Carrie – disse ainda brincalhona.

- não. Não por isso... – hesitou um momento, trocando olhares do tipo “devo contar a ela?” com Anna – é por ele ter sido muito ligado a Sarah no tempo que ela estava na cidade... – disse baixinho, como se não quisesse trazer o nome de Sarah para a conversa.

Aquelas palavras me atingiram de um jeito que nunca imaginei. Não sei o motivo ainda, mas descobrir alguém “ligado a Sarah” teve seu efeito sobre mim.

De qualquer maneira, tive de esperar o ultimo sinal bater para saber mais sobre aquilo, já que o intervalo tinha terminado exatamente naquele momento, e as duas garotas pareciam querer fugir de minhas perguntas.

Eu não as culpava. Também não gostaria de falar sobre alguém que já tinha partido dessa para melhor com a melhor amiga desse alguém.

Encontrei Carrie na saída do colégio. Tínhamos combinado de voltar juntas a pé todos os dias, já que meu irmão só podia dar carona na ida.

- vamos? – Finn disse e seguimos. Os três calados.

Eu com vergonha de perguntar sobre o garoto.

Carrie com medo de perguntar alguma coisa sobre ele para o irmão e acabar chegando às minhas perguntas.

E Finn... bom, acho que Finn só não estava com vontade de falar mesmo.

- eu não acredito que não me contou – Carrie não aguentou, já a três quarteirões do colégio, e perguntou – porque não me contou que Lucas tinha voltado? Tenho certeza que você sabia!

- é claro que eu sabia – Finn disse calmo – ele é o meu melhor amigo

- e você não me contou! Porque?

- bom, você sabe porque – deu uma pequena pausa – ele não queria que ninguém soubesse, que não começassem a encher o saco dele antes das aulas voltarem.... e pelo o que eu conheço de você, e o que eu conheço dessa sua boquinha enorme, não daríamos um dia para a cidade toda ficar sabendo – deu de ombros e a irmã pareceu furiosa.

- isso é ridículo!  Ele é meu amigo também! – jogou os braços para cima.

- porque está brava comigo? Não é como se eu tivesse feito essa decisão sozinho... – deu de ombros mais uma vez.

Carrie puxou ar para falar, mas acabou não falando nada. Talvez por ter algum problema com silêncios longos demais, me peguei perguntando sobre Lucas mais uma vez no dia.

- o que ele fez de tão ruim para ter que sair do colégio e ter todos comentando sua volta?

- ele não fez nada.... – foi Finn quem respondeu.

- ele, bom, ele teve um mês, difícil, vamos dizer... – Carrie continuou e então, depois de respirar fundo e olhar para Finn, jogou os braços para cima – ah, que se dane! Ele usou drogas e foi desclassificado do campeonato! Pronto, falei

- oi? – eu disse, mais confusa do que antes e pude ver Finn revirar os olhos.

- Lucas era do time de natação, assim como eu sou  – ele começou a dizer, olhando para mim – ele e Sarah eram tipo, melhores amigos, sem ofensas – disse rapidamente.

- não ofendeu – dei um sorrisinho e ele continuou.

- as coisas já não estavam muito bem depois do acidente – ele disse cautelosamente e me olhou de rabo de olho, como que pedindo permissão para continuar – e então houve o campeonato. A escola rival  vence todo ano, mas não daquela vez – podia se ver, em seus olhos que ele não estava mais ali, Finn tinha voltado para o dia do campeonato – Lucas teve que ralar mais do que nunca, mas ele conseguiu, venceu o outro colégio na prova final – sorriu – mas, então, duvidas começaram a ser levantadas e um garoto do outro time jurou de pés junto ter visto ele tomando alguma coisa no vestiário. Olharam em sua mochila e encontraram a droga. Era para deixar o atleta mais rápido, e, antes de ele conseguir dizer “posso fazer exame de sangue para comprovar que não tomei nada”, o  juiz já o tinha desclassificado.

- e ele tinha tomado? – perguntei.

- claro que não! Mas que pergunta... – Finn disse – ele foi expulso do time – disse com ar triste

- depois disso ainda descobriu que a namorada tinha dormido com o cara que ele mais compete e odeia da escola rival  – Carrie disse – ele estava realmente arrasado. Foi muito para um mês só... – Finn concordou com a cabeça.

- ele decidiu ir morar com os padrinhos em Londres por um tempo, e então voltou, há umas duas semanas... – deu de ombros.

- mas porque ele voltaria? – perguntei alto, sem querer.

- orgulho – Finn disse com uma risadinha – um dos problemas de Lucas. Ele é orgulhoso demais para deixar que pisem nele fácil assim. Eu sei que ele se mudou por um ano, mas eu sabia que ele ia voltar um dia – seu sorriso cresceu – e voltar com uma surpresinha...

- está escondendo alguma coisa de novo, não está? – Carrie perguntou olhando para o sorriso do irmão.

- sinto muito, irmãzinha – o garoto riu e então chegamos a sua casa.

*****

- Cookies? – Carrie disse aparecendo atrás da porta aberta de meu escaninho pela segunda vez na semana.

- não, obrigada – disse sorrindo olhando para o pacotinho de biscoitos que ela parecia levar para todos os lugares.

Era quarta-feira e o numero de pessoas que olhava absurdamente indiscretamente para mim começava a diminuir. Talvez eu não tivesse tanta graça assim. Não mais graça que Lucas Skylar, pelo menos.

Os murmurinhos sobre sua volta continuavam rolando pelos corredores e, apesar de ainda não tê-lo conhecido, ou, ao menos, visto, eu sentia dó dele.

Andamos em silêncio até o armário de Anna e achamos a menina colocando metade de seu conteúdo para fora, em busca de seu celular perdido.

- essas coisas só acontecem comigo, é impressionante! – xingou baixinho e eu ri por trás da meia dúzia de livros que tinha colocado em meus braços.

- é porque seu QI é baixo, eu já disse... – Carrie deu de ombros, encostada no armário ainda comendo cookies.

Ainda estava rindo do desespero de Anna quando Carrie me cutucou discretamente. Olhei-a e ela apontou com a cabeça para o outro lado do corredor.

- ali – sussurrou e Anna não pareceu escutar, já que continuou mexendo no armário – aquele vindo de camisa verde...

- o que tem ele? – disse fazendo pouco esforço para ver o garoto por trás dos livros.

Carr revirou os olhos.

- é o Lucas, sua tonta... – virei mais uma vez para onde ela tinha apontado e procurei direito dessa vez.

Podia sentir meu coração acelerado mesmo sem ter um motivo para isso e, depois de algum esforço para parecer discreta, encontrei-o.

Mesmo de longe, já podia perceber que ele era mais alto que eu. Não que isso fosse difícil, mas quero dizer que era alto do tipo 1,80.

Ele tinha os cabelos escuros e curtos, daquele jeito que não é liso, mas também não chega a ter cachos. Era aquele cabelo ondulado de homem, você deve saber do que estou falando. Andava com o olhar baixo (eu não o culpava, todos o encaravam), mas pude ver, ao passar por nós e levantar o rosto para sorrir de leve para Carrie, que tinha olhos caramelos e algumas sardas embaixo dos olhos.

Era possível ver um skate saindo de dentro de sua mochila e eu sorri. Aquilo, junto com seus jeans surrados e óculos tortos, com certeza saia dos padrões de Sarah, que sempre preferiu aqueles engomadinhos que me davam nos nervos, ou os fortões que me davam ainda mais nos nervos.

Era bonito, eu não podia negar.

- e então? – Carrie disse baixinho.

- e então o quê? – perguntei entregando os livros de volta à Anna, que finalmente tinha encontrado o celular.

- o que achou dele? – levantou as sobrancelhas.

- Carrie, os livros nem me deixaram o ver direito – menti e ela revirou os olhos.

- tudo bem, você vai ter outras oportunidades para flertar – sorriu docilmente e eu arregalei os olhos.

- Carr, pelo amor de Deus, para de jogar a menina pra cima do Lucas. Ela está te pagando para arranjar um namorado para ela ou você está trabalhando de graça agora? – Anna revirou os olhos.

- eu só estou dizendo que acho que os dois têm tudo a ver – deu de ombros.

- eu nem conheço ele – disse baixinho

- mas eu conheço – sorriu vitoriosa

- tudo bem, não tem nem um mês que Emily está na cidade, será que você pode dar um desconto e parar de tentar arrumar caras para ela?  Quer dizer, tem quatro dias de escola e você já tentou cinco vezes... – Anna bufou e eu ri.

Continuamos andando até o refeitório e eu fui me preparando mentalmente e espiritualmente para a aula de história que teria no horário seguinte.

Não demorou muito (para a minha surpresa) e o último sinal do dia bateu.

Saí da sala e dei de cara com Carrie, que estava parada na porta me esperando.

- posso te pedir um favor? – piscou os olhos incansáveis vezes e eu ri.

- chora, Carr – revirei os olhos e ela sorriu.

- tenho que esperar Finn sair do treino hoje para ir para casa e não estou nem um pouco afim de ficar lá sozinha. Será que você pode fazer a caridade de esperar comigo? – fechou os olhos e fez figuinha com as duas mãos, em um gesto ridículo que me fez dar uma risadinha.