Minhas pernas vacilavam. Levantei-me e corri para fora da casa sendo seguida por Seth, desci algumas escadas até a areia da praia. Sentei até o limite onde as ondas encontravam a praia e chorei e gritei.

Senti os braços fortes de Seth e o calor de seu corpo me envolverem e descansei o rosto em seu peito.

–A culpa é minha Seth, nunca deveria ter nascido. –falei entre soluços.

–Nunca quis que as coisas acontecessem assim, não deveria ter sido assim. Você merece o melhor, vê-la sofrer é como enfiar uma estaca em meu coração. Você é única pessoa no mundo que me fez mudar, e até isso eu consegui estragar. –ele falou.

–Do que você está falando? –perguntei confusa.

–Marius não sabia onde você estava, eu contei a ele.

–Como você pode?! Eu confiei em você! Liu confiou em você. –eu disse me levantando.

– Mas eu não sabia que você era a garota do festival, eu...-ele gaguejou.

–Quer dizer que se fosse outra pessoa, você não se importaria que ela e sua família morressem?

–Não me importaria.

–Fique longe de mim, confiei em você, eu até o beijei. Meu pai estava certo, pena que ele errou de anjo.

O carro de Seth estava estacionado praticamente em pedaços, havia uma moto estacionada ao lado. Entrei na casa e achei a chave. Já estava subindo na moto.

–Você não vai a lugar algum. –disse Seth me puxando e jogando no chão.

–Você não tem o direito de me dizer o que eu devo ou não fazer. Você vai me soltar e eu vou salvar a única coisa boa que me resta agora, seu traidor de merda. –eu disse entre dentes.

A expressão de Seth mudou e ele me soltou, acho que ele ficou realmente assustado me ouvindo falar com ele daquele jeito. Há alguns dias atrás nunca seria capaz de falar com ninguém daquela maneira, mas tudo havia mudado.

Liguei a moto e parti em alta velocidade tentando encontrar e chegar o mais rápido possível em Sweetchild. Pedi informações a um homem que encontrei na rua e parti. Depois de uns 40 minutos, cheguei a cidade. Fui até o centro, mas ela estava vazia, pelo menos de gente viva. Havia corpos empilhados em um canto. Outros dois queimavam, estes estavam em cruzes de madeira. A cena era como de um filme de terror, minhas pernas tremeram. Chegando mais perto identifiquei meu pai e minha mãe. Senti o mundo girar, tudo ficou escuro.

–Mas o que diabos você está fazendo aqui?-ouvi uma voz grossa e rouca dizer antes de desmaiar.

Quando acordei, estava no sofá de um café que ficava no centro da cidade.

–Eu mandei que Seth cuidasse de você, você era para estar bem longe daqui. –disse Liu limpando o sangue de uma espada prata com detalhes dourados que percorriam toda a extensão da lâmina em espiral.

–Sabe que eu nunca aceitaria isso. O que esperava? Eu seria capaz de fugir enquanto minha cidade e minha família queimam?! –esbravejei.

–Esperava que você continuasse viva, pois assim a morte deles não teria sido em vão.

–Não é justo que eles tenham morrido por mim, tenho que fazer alguma coisa.

–Você não pode.

–Eu vou matar Marius, com ou sem sua ajuda. –anunciei me levantando.

–Melhor que seja com a minha. –ele disse me beijando calmamente, depois o beijo ficou selvagem. Nos soltamos por falta de ar.

Sentamos em uma mesa.

–Precisaremos de ajuda. –disse Liu. –Até agora só fiz atrasá-lo e já foi complicado, mas matá-lo será ainda mais difícil.

–Você não tem mais algum amigo anjo ou caído que possa vir?

–Tem alguém que lutava comigo no exército, mas não sei de que lado ela está. Se ela estiver do lado errado, ela será mais um problema com o qual teremos que nos preocupar.

–Você ainda duvida de mim? –disse uma garota muito linda, com lindos cabelos loiros e olhos azuis. Ela saia da escuridão do café.

–Sabrina, você me ouviu. –disse Liu suspirando aliviado.