Deuses e Diamantes escrita por André Tornado


Capítulo 32
Regresso.


Notas iniciais do capítulo

Soube imediatamente que seríamos um só
À primeira vista senti a energia dos raios do sol,
Vi a vida no interior dos teus olhos.
Por isso, brilhemos, esta noite, tu e eu.
Somos belos, como diamantes no céu.
Rihanna, Diamonds



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Goku sentava-se exausto e dormente sobre um calhau que não era nada confortável, mas ele só queria descansar num sítio qualquer, sem se importar com as características do poiso. Estar sentado, depois de tantas horas numa posição rígida e imutável, era o que lhe bastava, naquele momento. Apoiava os braços sobre os joelhos e pendia a cabeça, que se enterrava entre os ombros, resistindo à tentação de adormecer. À parte das mazelas normais do combate e daquela fadiga monumental, não se sentia especialmente mal, mas o diamante estava escuro e inerte.

Ao lado do calhau, estendido de barriga para cima, braços e pernas abertos, a respirar apressado e ferido, estava Vegeta, tremendo de cansaço. Goku olhava-o, de vez em quando, a verificar o seu estado. Se não tivesse sido pelo príncipe e por número 17, ele nunca teria conseguido. Carregou o sobrolho. Recordava-se vagamente de o humano artificial ter sucumbido a um ataque raivoso de Lux e temia que o pior tivesse acontecido, pois também se recordava de ver lágrimas no rosto de Ozilia. Essas memórias eram fragmentadas, vinham da recordação do tal sonho misterioso onde ele estivera imerso durante grande parte do tempo em que durara o seu ataque com a Genkidama.

Escutou alguém a chamar por ele e conseguiu sorrir ao reconhecer a voz do filho mais novo.

- ‘Tousan!!

A criança abraçou-se ao seu pescoço. Goku riu-se, envolvendo-lhe o corpo com um braço e foi muito bom sentir o calor do pequeno corpo de Son Goten.

- Está tudo bem, filho… Ganhámos.

Hai, ‘tousan! Tu ganhaste. Tu conseguiste destruir o tirano Lux para sempre.

Gohan também se aproximava sorridente, logo seguido de Piccolo.

- ‘Tousan! – Exclamou feliz. – O torneio já acabou e parece que tu foste o grande vencedor.

- Pois é, Gohan-kun… Mas nunca o teria conseguido sem a vossa ajuda.

- Estás bem, Son?

Hai… Piccolo – respondeu ele ao namekusei-jin que esboçava um sorriso.

Trunks ajoelhou-se junto a Vegeta, abanou-o suavemente com uma mão sobre o seu peito ofegante. Chamou preocupado:

- ‘Tousan?... Sentes-te bem?

A resposta não foi imediata. Trunks voltou a chamá-lo. Estava com os olhos húmidos e o lábio inferior tremia de inquietação. Até Goku sentiu um arrepio ao ver a apatia de Vegeta, que nem tinha forças para responder. Abateu-se um silêncio esquisito no grupo. Número 18, no seu porte indiferente, juntou-se a eles.

- ‘Tousan… estás a ouvir-me?

H-hai, miúdo – respondeu Vegeta torcendo-se num esgar, espreitando o filho – Eu estou bem. Sou… o príncipe dos saiya-jin. Isto é uma ninharia… para mim. Sinto-me capaz de regressar ao combate.

- Lux já foi derrotado, ‘tousan – explicou Trunks com uma voz esganiçada, alegrando o olhar tremeluzente.

- Eu sei… miúdo. Eu sei. Lux só foi derrotado porque ajudei o imbecil do Kakaroto.

Goku entremostrou um sorriso ténue.

Arigato, Vegeta. Tens razão. Se não fosses tu, eu nunca teria conseguido.

Voltou-se para número 18 e acrescentou:

- Número 17 também me ajudou. Onde é que ele está?

- Morreu – respondeu ela sem uma ponta de emoção.

Goku arrepiou-se com a frieza dela.

- Mo-morreu? – Gaguejou.

Hai, Son Goku. O meu irmão sacrificou-se para que tivesses a tua vitória.

- Eh…

- Não censures o meu pai – defendeu Gohan, ante a atrapalhação de Goku. – A vitória nunca foi só dele, é de todos nós. O sacrifício de número 17 não foi em vão. Afinal, Lux acabou derrotado e isso também aconteceu com a ajuda do androide. O meu pai sabe apreciar o gesto do teu irmão.

Ela susteve o olhar azul-marinho, semicerrando as pálpebras, desafiando Gohan, que não conseguia classificar a atitude dela, se seria uma das maneiras que teria de suportar a sua perda pessoal, o confronto com quem estava mais próximo, a indiferença fingida ou simplesmente uma absoluta falta de coração. No fim, foi ele que perdeu o jogo e baixou os olhos. Número 18 elevou o queixo, cruzou os braços e voltou-lhes costas, demarcando-se claramente do grupo. Goku abanou a cabeça, pedindo a Gohan que a deixasse ficar afastada. Talvez fosse assim que ela lidava com a sua mágoa. Ele não sabia, ninguém sabia e o melhor seria não provocar qualquer desentendimento naquele momento de triunfo.

Vegeta continuava prostrado, a sorver todo o oxigénio que era possível para satisfazer os pulmões áridos.

- Acho que precisamos de um feijão senzu – disse Goku suspirando.

- Ozilia poderia ajudar-nos nisso – acrescentou Gohan, olhando em volta, à procura dela.

- Mas não sabemos onde ela se meteu – acrescentou Piccolo num murmúrio, como se verbalizasse um pensamento.

- Ou se a planta dos feijões senzu ainda existe – disse Trunks continuando ajoelhado ao lado do pai, com uma mão pousada sobre o peito dele, a confortá-lo e a protegê-lo com esse gesto. – Eu e Goten-kun encontrámos a planta nos jardins do Palácio do Tempo, mas acho que isso deixou de existir a partir do momento em que Lux morreu. Todas as ilusões que ele criou devem ter desaparecido com ele. O tatami, o Palácio do Tempo, todos aqueles lugares em que nós estivemos.

- Os senzu são as sementes dos deuses. Ozilia saberá como encontrá-las neste mundo – disse Piccolo convicto, cruzando os braços.

Soprava uma ventania medonha no asteroide que vogaria desprotegido pelo Universo afora. Pela curva do horizonte, percebia-se que seria um pedregulho espacial de dimensões reduzidas, viajando entre as estrelas. O que se via ao nível do solo era desengraçado, de tons monótonos, vazio e sem vida. O espetáculo situava-se por cima das cabeças, onde havia toda uma panóplia de corpos celestes para serem observados e admirados, um mostruário impressionante de planetas, estrelas, supernovas, galáxias, quasares e buracos negros.

- Ozilia também me ajudou a derrotar Lux – confessou Goku.

- Nani? – Admirou-se Piccolo, esquecendo o firmamento.

Hai.

- Era absolutamente imprescindível eliminar o tirano, saiya-jin.

A voz da deusa, límpida e majestosa, fê-los voltarem a sua atenção para o mesmo sítio. Até Vegeta fez um esforço, soergueu-se com o auxílio de Trunks, e fitou Ozilia que estava mais bela do que nunca. Envergava um vaporoso vestido branco transparente, que revelava as suas formas elegantes e bem proporcionadas, colado ao torso, vincando-lhe a cintura estreita e os seios pequenos. Os cabelos estavam apanhados em tranças finas, a fronte ornava-se com um diadema e os olhos brilhavam de gratidão. Ousava até mostrar os lábios finos encurvados num ensaio de sorriso. A ventania agitava-lhe a bainha do vestido alvo, revelando a curva suave das pernas e as botas peludas. No pulso esquerdo enrolava-se um lenço vermelho.

Por deferência à deusa, Goku levantou-se do calhau. Os joelhos fraquejaram e Gohan amparou-o.

- Tu confiaste sempre em mim. E eu acabei por aprender… a confiar em ti, saiya-jin.

- Ora, Ozilia… Eu estava aqui precisamente para derrotar esse Lux – disse Goku a tentar sorrir, mas as dores que tinha por todo o corpo impediam-no de ser mais expressivo.

Os dedos dela roçaram no diamante apagado dele. Havia compaixão naquele toque, uma saudade qualquer reprimida e a noção de que aquela pedra jamais voltaria a brilhar e a comunicar como o tinha feito antes. Tinha cumprido a sua função e apagara-se. Fora também um preço a pagar pela derrota de Lux, a morte do diamante especial de Son Goku, oferenda do Shenron, o ser sagrado das bolas de dragão. Estendeu a outra mão, abriu-a e havia sobre a palma dois pequenos feijões senzu.

Gohan agarrou nos dois senzu. Entregou um a Trunks que o levou a Vegeta com alguma ânsia e deu o outro ao pai. Algumas trincadelas depois, os dois saiya-jin de sangue puro estavam totalmente restabelecidos e com o aspeto típico do fim de uma batalha titânica. Sangue seco na pele onde tinham havido ferimentos e as roupas em farrapos. Mas bem-dispostos, o poder aumentado, a satisfação de terem lutado na raia do impossível, mais um desafio superado pela lendária raça guerreira.

- Chegou a altura de partir – disse Goku. – Queremos regressar à Terra, Ozilia.

Inesperadamente, a deusa dobrou as costas numa vénia.

Arigato, Son Goku. Os deuses ficarão eternamente gratos ao que fizeram aqui. Foi uma honra receber-vos.

Quando Ozilia se endireitou, uma pequena bola de vidro flutuava junto ao rosto dela. A casa deles estava ali dentro, naquele berlinde que encerrava toda a galáxia do Norte. Essa noção de muitos mundos existirem confinados num espaço tão minúsculo, incluindo a sua amada Terra, baralhava-o e Goku piscou os olhos. Esqueceu prontamente a tentativa de compreender o que não era passível de ser compreendido. Ele acenou com a cabeça, devolvendo o cumprimento.

- Foi também uma honra combater pelos deuses, Ozilia.

Então, como se sempre tivesse estado ali, um coro silencioso de deuses, com a mesma aparência física esguia e impecável de Ozilia, também o mesmo aspeto irrepreensível e altivo de Lux, Valo e Argia, surgiu atrás dela. Eram às centenas, aos milhares. E imitaram-na na vénia profunda e sentida.  

Ela disse:

- O vosso sacrifício será celebrado por toda a eternidade. O sangue aqui derramado não será esquecido. Não sabemos como erigir monumentos aos caídos, mas sabemos celebrar condignamente a lembrança de quem se entregou a uma causa nobre.

Falava de número 17 e, ao fazê-lo, havia uma sombra estranha nos olhos dourados. O diamante dela cintilava brandamente sobre o peitilho do vestido, criando sombras rosáceas no tecido. O coração daquela deusa tinha-se perdido, algures, pelo humano artificial.

Número 18 não reagiu.

- Espero que as coisas fiquem melhores para ti, Ozilia – disse Goku com sinceridade. – Serás recebida novamente na tua casa, espero…

- As coisas nunca estiveram mal para mim, saiya-jin – redarguiu ela perdendo toda a suavidade, erguendo os habituais espinhos defensivos.

- Mas tu não tinhas sido expulsa do mundo dos deuses? – Perguntou ele inocente.

Ozilia rosnou. Piccolo cortou a cena que ameaçava descambar, depois de ter sido tão cordata e pacífica, digna de uma cena protagonizada por deuses e por guerreiros lendários, dizendo:

- Como Son Goku afirmou, queremos regressar à Terra, deusa. Como o poderemos fazer?

Vegeta deu uma cotovelada em Goku e quando lhe captou a atenção, inclinou-se e sussurrou:

- Parabéns, baka! Acho que acabaste de irritar aquela louca instável e nunca mais vamos sair daqui, agora que esse teu diamante já não nos pode ajudar.

- Achas, Vegeta? Mas ela estava a ser tão simpática.

- Dizes bem… Estava a ser simpática. Se eu ficar aqui nesta rocha a viajar pelo meio do espaço, aviso-te já que vais ter de te ver comigo! Vou partir-te os ossos todos!

A ira de Ozilia não diminuiu uma gota. Fixava-se em Goku com os punhos bem fechados, os braços trémulos, rosnando como um grande felino. Ele mostrou-lhe um sorriso apatetado, na esperança de a acalmar, mas ela ficou ainda mais irada.

Um dos deuses do coro avançou e estendeu um pequeno diamante azul.

- O que é isso? – Perguntou Gohan tenso.

- Deve ser o nosso bilhete daqui para fora. – Vegeta deu uma cotovelada menos dissimulada em Goku. – Vamos, baka! Agarra naquilo e sem dizeres mais nada.

Nisto, a ira de Ozilia diluiu-se e ela adotou a costumeira apatia dos deuses.

- O príncipe está certo – disse. – Só com um diamante conseguirás abandonar este lugar. Acontece que o teu diamante ficou inutilizado durante o teu combate contra Lux, saiya-jin. A sua energia foi utilizada para alimentar a Genkidama. Foi também necessário, já que o teu diamante encerrava uma força muito especial, derivada da divindade sagrada do dragão mágico. Aceita mais este presente dos deuses que, gratos, pagam os teus serviços dessa forma.

Goku recebeu do deus mudo o diamante azul, que desaparecia totalmente se ele fechasse a mão. Era muito mais pequeno que o seu diamante e que o diamante de Ozilia. Ela acrescentou seca:

Sayonara,saiya-jin. Nunca mais nos voltaremos a ver.

Honto?

Recebeu uma terceira cotovelada de Vegeta e encolheu-se com a dor, levando a mão ao ponto onde tinha sido atingido, abafando um grito.

- Cala-te, baka! – Censurou o príncipe.

Os dois miúdos estavam lado a lado, junto a Gohan e a Piccolo. Número 18 postava-se mais afastada deles, alheada ao que se estava a passar. Goku e Vegeta estavam diante de Ozilia.

E como lhe era típico, em que as emoções e as reações se sucediam em extremos díspares, como se fosse necessário esse enorme desequilíbrio para manter-lhe a sanidade ou balançar a sua personalidade especial, Ozilia sorriu para Son Goku, com uma ternura desconcertante, zombeteira, pueril. A deusa saltitou até ao saiya-jin e depositou-lhe um beijo na face. A boca dela era quente e ele corou.

- Ah…

Queria dizer alguma coisa, mas a garganta ficara obstruída com a ousadia deslocada da deusa. Tão depressa o rechaçava, como o afagava, fogo e gelo em simultâneo.

Ozilia fez um gesto circular com o braço direito, uma espécie de adeus e um gesto elaborado de um mago a lançar um feitiço. Uma névoa acinzentada, em forma de esfera, envolveu-os. Iriam embora daquele lugar. Seria para sempre e, na verdade, nunca mais veriam a deusa ou qualquer outro dos deuses. Goku sorriu-lhe, antes da cortina negra baixar e iniciarem a viagem.

Ficou uma última imagem. Ozilia e o coro calado dos deuses.

E o lenço vermelho enrolado no pulso esquerdo dela.

***

Quando chegaram à floresta, a noite já havia caído. Regressavam ao sítio de onde tinham partido, junto à cabana de madeira que tinha pertencido a número 17. Número 18 não olhou uma única vez para a casa. Despediu-se sumariamente deles e levantou voo, dirigindo-se para a sua casa, onde Kuririn e a filha de ambos, Maron, a aguardariam preocupados. Nem sabiam bem quanto tempo se teria passado desde que tinham ido embora. Foi essa a desculpa dela. Mas mesmo que não emitisse ki, Goku percebia que ela estava transtornada com o desaparecimento do irmão e que, assim que tinham posto o pé na Terra, as emoções ameaçavam transbordar a taça. E ele sabia também que, durante o seu voo até casa, ela iria chorar por número 17.

Respirou fundo o aroma da floresta. Era o mesmo odor de Ozilia e a recordação arrancou-lhe um arrepio. Olhou para o peito e descobriu que já não tinha o seu diamante. Desfizera-se em cinzas durante a viagem. Não haveria de trazer nada do mundo dos deuses, apenas memórias que já se iam esbatendo. Nem mesmo o pequeno diamante azul, desfeito nas mesmas cinzas.

Vegeta fez um sinal a Trunks. Goku disse-lhes:

- Até à próxima, Vegeta.

Hai, Kakaroto.

Arigato.

O príncipe fingiu um suspiro enfastiado.

- Claro, claro… Nunca o conseguirias sem mim, já sei.

E dispensou-lhe um sorriso enviesado. Goku também lhe sorriu. Acenou-lhe com dois dedos. Goten despediu-se de Trunks, Vegeta e o filho também se foram embora, voando na direção do ocidente, para West City.

A seguir foi a vez de Piccolo. O namekusei-jin disse-lhes até à próxima e levantou voo, igualmente para ocidente mas, no caso dele, em direção ao bosque sagrado de Karin e do Palácio Celestial. Levou com ele as sete pedras redondas guardadas na cabana, as bolas de dragão adormecidas, que haveriam de se reavivar para o segundo desejo a pedir a Shenron. Qual seria, não fazia a mínima ideia…

E ficou Goku com os seus dois filhos.

- Rapazes! Esta aventura abriu-me o apetite! O que acham de irmos a correr para casa para enchermos a barriga até rebentarmos com os excelentes cozinhados da vossa mãe, a minha querida Chi-Chi?

Goten saltou de alegria.

Hai‘tousan!

Gohan acenou que sim, sorridente.

- Assim que chegar a casa, vou telefonar a Videl… Eh, estou com saudades dela – confessou acanhado e corado.

Goku riu-se. Uniu dois dedos à testa, dizendo.

- Pois bem, rapazes. Agarrem-se a mim. Vamos mesmo a correr para casa.

Com a Shunkan Idou alcançaram as montanhas Paozu num instante.

O reencontro da família foi estranho. Afinal, eles tinham acabado de sair de casa e Chi-Chi ainda estava a tentar entender o motivo que tinha levado Son Goku a ausentar-se misteriosamente, ainda por cima acompanhado do filho mais velho. Goku prometeu-lhe que lhe contaria tudo mais tarde, se ela lhes preparasse um banquete. Chi-Chi aceitou o desafio, relutante e zangada.

Nessa noite, Goku dormiu um sono sem sonhos.

***

- Tens a certeza?

Ela fez um aceno ligeiro, dobrando um nadinha o pescoço para diante.

Hai – respondeu.

- Vais abdicar da graça da tua existência e viver na iniquidade.

- Já nada resta para mim neste mundo divino.

- A vergonha da tua condição já foi esquecida.

- Todavia, no meu coração continua.

O deus amparava-a com uma doçura incandescente, mas ela não se deixava alcançar pela amplitude daquele gesto desprendido.

- Sempre foste demasiado exigente contigo própria. Sempre aspiraste ao impossível.

- Julguei que não existia o impossível para os deuses.

- Existem certos limites…

- Ah! Mentiram-me – troçou ela rindo-se.

Mas não havia alegria naquele riso. As lágrimas escorreram-lhe pelas faces e, ao pingarem no vazio, transformaram-se em gotas de cristal. O deus apanhou uma das gotas entre os dedos invisíveis, fazendo um raio de sol passar por esta, emitindo faíscas de luz azulada. Eram lágrimas mortas, pensou ele.

- Entregaste o teu coração, deusa.

- Fi-lo de livre vontade.

- Outra armadilha de Lux. E tu caíste nela.

- Provavelmente.

Após um demorado momento de silêncio, eras rolando, impérios criando-se e desfazendo-se no pó dos tempos, o deus concordou.

Hai. Dar-te-ei o que pretendes.

Guardou a gota de cristal.

Ozilia entregou-lhe o seu diamante, sem qualquer pena ou indecisão. Um ato tão simples como o de cheirar o perfume das flores ou contemplar a eternidade da poesia de um céu infinito. Não se descartou do lenço vermelho, porém, apesar de saber que este seria desintegrado durante a passagem.

Regressou ao santuário da floresta. Não se sentiu feliz ou realizada. Apenas completava um ciclo, aquele que Lux desenhara na areia de uma praia. Ainda conseguia ver o dedo do tirano a iniciar o círculo, dizendo-lhe que aquela era a vida dela, que começava naquele ponto criado na superfície arenosa e que seria ela que o haveria de completar. E ela via-o a enrolar o traço, a criar um círculo perfeito, a sua vida, Lux sorrindo-lhe, dizendo-lhe que a partir do momento em que o renegava, ela não tinha mais salvação.

Ozilia regressou à floresta metamorfoseada em corça macho, galhada imponente na fronte, abandonando a sua divindade, entregando-se aos caprichos de uma vida mortal e breve. Simplesmente, porque assim devia ser e lhe estava destinado.


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Notas finais do capítulo

Esta é a conclusão desta história que envolveu Deuses e Diamantes.
A canção escolhida para este capítulo recorda a origem da inspiração do título e a utilização de diamantes como símbolo e poder dos deuses que protagonizaram esta aventura de número 17, Son Goku e amigos.
Esta fanfic continua dedicada da primeira à última palavra à Hayami LiKogo.
Foi ela que inspirou todos os momentos descritos, desde o protagonismo de número 17, a criação de Ozilia, a morte do humano artificial e a utilização da Genkidama para derrotar o deus tirano Lux.
É também especialmente dedicada à Maya Briefs, pela excelente capa que produziu e pela sua amizade revestida a titânio.
Muito obrigado por terem acompanhado, comentado, roído as unhas, exultado, chorado, rido e amado.
Iremos ver-nos, certamente, em aventuras futuras!
Beijos e abraços.



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