Deuses e Diamantes escrita por André Tornado


Capítulo 24
Travessuras.


Notas iniciais do capítulo

"Por favor, vem agora, acho que estou a cair.
Estou a agarrar-me a tudo o que me parece seguro.
Acho que encontrei a estrada
Para lado nenhum
E estou a tentar escapar."
Creed, One Last Breath



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/347651/chapter/24

O jardim exuberante, exibido pela enorme janela aberta de par em par, onde piavam pássaros e zuniam abelhas que não se viam, foi invadido por dois intrusos. Caminharam furtivos, esgueirando-se pelos recantos que lhes pareceram menos expostos àquela incursão secreta. Não queriam ser descobertos logo no início da aventura. Mas à medida que se embrenhavam entre arbustos floridos e árvores frondosas, entre montes de pedras, cursos de água e piscinas de folhagem seca, foram ficando mais seguros e, se começaram por rastejar, metros mais adiante e minutos passados, já caminhavam de pé e sem qualquer receio.

Trunks enfiou os dedos no cinto do dogi.

- Ei, Goten? – Chamou a olhar em volta.

- Hai.

- Onde é que este jardim acaba?

- Se calhar… não acaba – concluiu Goten imitando o amigo, enfiando os dedos no cinto do dogi e a olhar em volta.

Pararam na beira de um barranco e espreitaram o ribeiro que corria gorgolejando entre seixos e pedras. Trunks olhou para trás. Já não se conseguia ver a janela. Carregou a sobrancelha sobre o olho azul, esperando que não fosse demasiado difícil regressar ao ponto de partida. Mas como tinha um pouco da intrepidez e inconsciência da mãe a correr-lhe no sangue, sacudiu os ombros, esqueceu preocupações e esfregou as mãos.

- Vamos dar um mergulho!

Goten saltou, socando o ar com um punho fechado.

- Eh!!! Vamos!

Desceram o declive a correr, rindo às gargalhadas e iam-se despojando das roupas por cada passada pela mesma ordem, como se o filho de Vegeta fosse o espelho do filho de Goku. O cinto, a túnica, o sapato e bota do pé esquerdo, o sapato e bota do pé direito, a meia do pé esquerdo, a meia do pé direito, as calças e as cuecas. Alcançaram a margem e mergulharam de cabeça. O ribeiro não era muito fundo, acabaram a chapinhar com água pela cintura. Brincaram aos gritos, empurrando vagas de água com as mãos, quase vazando o ribeiro que corria tão devagar que parecia parado. Nadaram, enfiaram a cabeça debaixo de água, fizeram uma competição a ver quem conseguia ficar mais tempo a suster o fôlego. Quando saíram do ribeiro vinham com as mãos cheias de seixos redondos e a competição seguinte foi a de ver quem conseguia atirar uma pedra a maior distância.

Cansados e repletos, deitaram-se na margem a olhar para o céu que existia por cima do jardim. Não era bem um céu verdadeiro, notou Trunks. Era formado por painéis colocados uns por cima dos outros, coloridos de um azul quase idêntico a um céu real, mas que tinham sido colocados tão atabalhoadamente que se notava claramente as sobreposições e as junções. Sentou-se e puxou um tufo de erva. Levou-o ao nariz, cheirou-o. Parecia-lhe verdadeiro, mas provavelmente era tão falso quanto o céu. Observou o tufo junto aos olhos à procura dos painéis minúsculos verdes, mas não encontrou nada. Atirou fora o tufo de erva e espreguiçou-se. Goten dormitava ao lado dele, todo nu como ele, de braços abertos e pernas afastadas, tão tranquilo como se estivesse nas montanhas Paozu, onde morava. Trunks abanou-o.

- Goten, anda… Vamos explorar mais o jardim.

O amigo esfregou os olhos ensonados.

- Ahn?... Hai, Trunks-kun.

Vestiram-se devagar, apanhando as peças de roupa e enfiando-as uma a uma, aproveitando para apanhar pedras pequenas e atirá-las para longe entre uma peça e outra.

- Onde é que estão os pássaros? – Perguntou Goten a olhar para as copas das árvores.

- Não sei.

- Oiço-os a cantar, mas não os vejo.

- Nem eu. Este jardim é muito estranho.

Talvez os pássaros que cantavam também fossem construídos com painéis mal colocados e estivessem tão imperfeitos que se escondiam dos olhares de quem os pudesse julgar. Trunks voltou a olhar para o céu, mas, daquela perspetiva, de pé e atarefado a dar o nó no cinto do dogi, não conseguiu detetar as junções e as sobreposições dos painéis. Não perdeu tempo a pensar naquilo e deu uma cotovelada no amigo.

- Vamos tentar encontrar insetos.

- E achas que os conseguimos ver? Podem ser invisíveis, como os pássaros.

- Mas podem não ser… Não queres conhecer um inseto do mundo dos deuses?

- Hai!

Rastejaram pelo solo, revolvendo pedras, terra e folhagem caída, mas não encontraram nenhum inseto. Inspecionaram os troncos das árvores com minúcia, abrindo cuidadosamente algumas lascas da casca, mas, se havia insetos, estes eram, de facto, tão invisíveis quanto os pássaros. No entanto, se escutassem com atenção, poderiam ouvir, com os pios das aves, o zumbido de abelhas e o vibrar das cigarras, emulando um típico dia de verão. Até o ar era morno e em breve os dois miúdos já tinham os cabelos secos.

Esqueceram os insetos. Correram para longe, subindo montes e descendo ladeiras, espraiando-se numa planície atapetada com flores azuis, amarelas e vermelhas, pequenos botões que se abriam quando tocavam nestes com um dedo. O jogo seguinte foi fazer desabrochar as flores da planície, criando um caminho colorido da mesma cor. Trunks escolheu o azul e Goten escolheu o vermelho. Em breve, havia dois riscos ziguezagueando por entre o tapete florido.

- Este jardim é enorme! – Gritou Goten encantado.

Trunks afirmou, como se conhecesse um grande segredo:

- Hai. Estamos num palácio. Nos palácios vivem reis e princesas, que são muito ricos e podem ter jardins como este, tão grandes que não acabam nunca.

- Como a tua casa.

- A minha casa não é um palácio.

- Para mim, é um palácio. A tua casa também é muito grande. E vive lá um príncipe.

- Dois príncipes, não te esqueças que eu também tenho sangue real. Mas a minha casa tem fim, Goten-kun.

Após desenharem uma curva arredondada, os riscos encontraram-se, o vermelho e o azul. Os dois miúdos sorriram um para o outro. Trunks desafiou o amigo para uma pequena sessão de treino e Goten aceitou sem hesitar. Lutaram até que as gargalhadas começaram a atrapalhar o acerto de cada golpe. Deitaram-se no meio das flores mágicas, rindo-se e engasgando-se. Trunks já não procurou pelas imperfeições do céu. Limpou o suor dos olhos e estranhou o silêncio repentino de Goten.

- Nan dá, Goten-kun?

- Tenho fome.

- Hum… Eu também.

Goten sentou-se, rodando a cabeça devagar e depois disse apontando:

- Olha, está ali uma árvore que me parece uma macieira.

E voou como uma flecha na direção da suposta macieira.

- Eh! Espera!

Trunks voou atrás do amigo. Pousou debaixo da grande árvore cujos ramos estavam pejados de grandes e suculentas maças encarnadas, mas não se parecia nada com uma macieira. Ao estreitar os olhos conseguiu ver, em interstícios subtis, os painéis com que aquela árvore fora construída. Puxou pela túnica de Goten impedindo-o de saltar.

- Não deves comer essas maçãs, Goten-kun.

- Mas eu estou com fome – choramingou, cobrindo o estômago com um braço.

- Bem, se tens fome… Vamos regressar.

Goten olhou faminto para as maçãs que pareciam tão deliciosas. Trunks tentou convencê-lo dizendo, mas sem lhe soltar a túnica:

- Estamos no jardim dos deuses. E se eles se zangam connosco por lhes estarmos a roubar a fruta das árvores?

- Estivemos a mergulhar no ribeiro, a atirar pedras e a abrir flores com um dedo. Acho que se eles se quisessem zangar, já se tinham zangado.

- Anda. Eu também quero comer. Devemos regressar ao quarto…

Entristeceu, acrescentou:

- E eu quero saber se já há notícias do meu pai.

O rosto de Goten também se ensombrou. Concordou, esquecendo as maçãs:

- Hai, Trunks-kun.

Começaram a andar fazendo o caminho inverso mas, estranhamente, depois da planície riscada com um trilho de flores azuis e vermelhas desabrochadas, não passavam pelos mesmos lugares que tinham percorrido. Trunks ficou apreensivo, notou que Goten não o estava menos, mas nenhum confessou os seus receios, por temer a reação do outro.

Entraram num bosque de arbustos e de árvores anãs, cobertas de folhas brilhantes que pareciam de ouro e de prata. Um verdadeiro tesouro, havia também folhas mais escuras, mas aparentemente do mesmo metal precioso, caídas no chão em redor dos troncos negros e lisos.

- É melhor não tocares em nada, Goten-kun.

- Hai.

Mas algo lhe chamou a atenção, correu e puxou pelo braço do amigo, obrigando-o a correr também. Ajoelhou-se diante de uma planta escondida entre outros arbustos vulgares e Goten fez o mesmo.

- Olha! Isto não é…?

Goten gritou:

- Feijões senzu!

Os pequenos frutos não se exibiam em vagens, como seria de esperar de um feijoeiro normal, mas antes penduravam-se nas ramagens finas e quebradiças, entre a folhagem verde. Admiraram a descoberta por alguns segundos, sorrindo. O suor escorria pelas têmporas de Trunks. Aproximou os dedos do arbusto.

- O que é que vais fazer? – Guinchou Goten assustado.

- São feijões senzu, baka! – Explicou irritado, recolhendo os dedos, porque se assustara com o guincho do amigo. – Nós podemos precisar deles… Para repor as forças ao teu pai, para curar o meu pai, se ele aparecer muito ferido depois de lutar com Argia.

- Hai, eu sei mas…

- Mas o quê, Goten?! – Indignou-se Trunks.

- Mas se não podíamos roubas as maçãs dos deuses… Achas que lhes podemos roubar os feijões senzu?

- Isto são senzu! – Trunks agitou as mãos. – Não são simples maçãs para satisfazer a tua gula. Percebes? Podem significar salvar o meu pai ou salvar o teu irmão. Ou salvar Piccolo-san ou mesmo tu ou eu. Não sabemos o que vai acontecer no torneio, depois de o meu pai lutar com Argia. E o meu pai… – Espetou-lhe o dedo no esterno por cada sílaba que pronunciou separadamente: – não vai per-der!

- Pois… Os senzu são mais importantes que as maçãs.

- Vamos arriscar, Goten! Prefiro ser castigado por roubar senzu, do que por roubar uma reles maçã.

E puxou pelo primeiro feijão.

Imobilizou-se, Goten susteve a respiração. As pupilas viajaram de um lado ao outro, mas do céu não desceu nenhum raio para os fulminar por terem arrancado um feijão senzu. Trunks sorriu para Goten.

- Vês? Não aconteceu nada.

Goten também separou um feijão senzu de um raminho e aguardou.

Voltou a não acontecer nada.

Foi a vez de Trunks puxar pelo terceiro feijão.

- O que é que estão a fazer?

A voz tinha aparecido atrás deles.

Goten e Trunks gritaram com o susto e afastaram-se do feijoeiro.

A garrafa que falava através de uma mancha esverdeada no gargalo, ladeada por dois tubos, saltitava nervosamente, e interpelou-os com a mesma pergunta:

- O que é que estão a fazer?

Os dois miúdos estavam pálidos e ofegantes, amparando-se um no outro. Goten segurava num feijão senzu e Trunks segurava em dois, um em cada mão, fazendo uma pinça com os dedos indicador e polegar.

Era só aquela maldita garrafa com os tubos, pensou Trunks. Soltou um suspiro de alívio. Pigarreou, endireitou as costas, espetou o peito e desafiou:

- Não tens nada a ver com o que estamos a fazer aqui.

A garrafa continuava a saltitar como se tivesse molas na parte de baixo. Goten amedrontado escondeu-se atrás do amigo, gemendo:

- Trunks-kun…

- Não tenhas medo, Goten – disse Trunks cheio de bravata. – O que é que esta coisa nos pode fazer? Nós somos dois saiya-jin!

- Fomos apanhados pelos deuses, não fomos?

- Isto não é um deus.

A garrafa repetiu a pergunta, como um robot com o processador de voz avariado:

- O que é que estão a fazer?

- Queres ver, Goten?

E, passando os feijões senzu para a mão esquerda, apanhou um dos tubos que ladeava a garrafa. Esta parou imediatamente de saltitar e escutou-se um sibilo, como um balão a ser esvaziado lentamente.

- Agarra no outro tubo. Depressa!

Goten obedeceu.

- Agora, vou contar até três… E, quando terminar, puxas com toda a tua força.

- Hai!

- Um… Dois…

A garrafa estava parada.

- Três!!!

Os dois puxaram pelo respetivo tubo, separando-os do conjunto que formavam com a garrafa. Não estavam unidos, apenas se faziam deslocar juntos, parecendo que era uma força como a gravidade que os mantinha próximos, mas quando Trunks e Goten puxaram pelos tubos soou um rangido, um pano a rasgar-se e tinham imprimido tanta força no gesto que caíram de traseiro no chão.

Sem o equilíbrio dos tubos, a garrafa estilhaçou-se em mil cacos de vidro que se espalharam em forma de estrela na terra. E do interior desta saiu um fio de fumo preto como um carvão que não ganhou espessura, continuou finíssimo, um desenho de um lápis mais grosso que o normal, mas ainda assim, um simples lápis, que ganhou braços e pernas que descolaram do fio inicial.

Trunks não conseguia fechar a boca e Goten também não. Soltaram os tubos que tinham arrefecido subitamente e quando estes embateram no solo desfizeram-se na mesma figura de estrela, formada por cinzas.

Era um boneco simples, feito de linhas de lápis, mas sem cabeça, igual aos que Goten gostava de desenhar nas margens dos cadernos da escola. O boneco disse:

- Arigato! Salvaram-me! Estava encerrado naquela prisão e servia o tirano contra a minha vontade, mas vocês salvaram-me.

- Ah… Pois… Nós queríamos… salvar-te – gaguejou Trunks.

- Arigato!

E depois do último agradecimento, o boneco deslizou por entre as árvores das folhas de ouro e de prata e desapareceu. Ficaram apenas as três estrelas, a grande de vidro e as duas pequenas de cinza.

Silêncio.

Um enorme silêncio.

- Trunks-kun?

- Goten…?

- Não é melhor… Irmos embora?

- Hai.

Levantaram-se e correram a direito, sem preocupação de reconhecerem o caminho. Ao fim de alguns minutos a fugir como se estivessem a ser perseguidos pelo mais tenebroso dos monstros, Trunks apontou num grito de triunfo:

- A janela está ali!

Deram um salto e entraram numa cambalhota pelo quarto adentro, rebolando pelo soalho. Trunks e Goten estacionaram junto às pernas de Piccolo que os olhava zangado, de braços cruzados e cenho crispado.

- Onde é que vocês andavam?

Os dois forçaram um sorriso.

- Estávamos no jardim – responderam em uníssono.

Apareceu o rosto de Son Goku no seu campo de visão e apagaram o sorriso, porque ele não tinha melhor cara que Piccolo.

- Vocês podiam ter-nos colocado a todos em perigo – disse ele. – Não sabem que não podemos deixar os quartos?

- Mas o jardim faz parte dos… quartos – arriscou Trunks.

Goten esticou um braço, abrindo a mão e exibindo o que aí tinha, dizendo com uma alegria inocente:

- Olha, ‘tousan! Encontrámos feijões senzu!

Gohan também se juntou a Piccolo e a Son Goku:

- Nani? Onde é que encontraram isso?

Trunks levantou-se, a espreitar o namekusei-jin que ficara nas suas costas, não fosse receber um açoite traiçoeiro, pois continuava a achar que ele e Goten ainda não se tinham livrado de um castigo. Contou:

- No jardim.

Mostrou os dois senzu. Gohan recolheu os três pequenos feijões com tanto cuidado que dir-se-ia segurar em delicadas pétalas de uma flor exótica que se desfazia ao toque.

Nisto, como se tivesse soprado uma rajada de vento, a janela fechou-se com estrondo, surpreendendo-os a todos. Até número 18, que nunca se sobressaltava com nada.

A mesma rajada de vento fez a porta do quarto escancarar-se.

Enquadrados pela moldura da porta estavam número 17 e Ozilia, que carregava Vegeta nos braços, completamente apagado, cabeça e braços pendurados, com o aspeto de quem havia sido resgatado das garras da morte no último segundo. Estava sujo de sangue, tinha o uniforme rasgado, as luvas desfeitas na ponta dos dedos, a couraça amassada.

Goku correu para a porta.

- Vegeta!

Depois olhou para o androide e perguntou:

- Porque é que ela o está a carregar?

A censura velada irritou número 17. Devia estar ele a carregar o guerreiro inanimado, pois a deusa Ozilia, mesmo sendo divina, continuava a ser um elemento do sexo feminino e eram-lhe devidas determinadas cortesias. Ela carregara-o desde o início, ele nunca a questionara, julgara que ela estava a fazer o que era suposto ser feito, não pedira a transferência do saiya-jin para si e agora tinha aquela pergunta de Son Goku a zunir-lhe na cabeça.

Ozilia esclareceu:

- É o poder do meu diamante que o mantém vivo.

Goku perguntou de seguida, com a voz tensa:

- A luta contra Argia foi assim tão difícil?

E número 17 viu que Ozilia tinha recuperado a sua personalidade, pois não lhe respondeu e mirou-o com os seus habituais olhos dourados vazios, altiva e digna, tão incrivelmente bela que ele, secretamente, admirou-a um pouco mais.

- ‘Tousan, Vegeta-san precisa de um senzu.

Son Goku voltou-se para o filho mais velho.

- Hai, Gohan.

Os braços de Ozilia estremeceram ligeiramente. Perguntou sem qualquer tipo de entoação:

- Senzu? Onde é que encontraram a planta sagrada dos deuses?

- No jardim – explicou Trunks apontando para a janela enorme que estava agora fechada. – Fomos dar um passeio e encontrámos um arbusto que tinha muitos senzu pendurados. Mas só conseguimos arrancar três.

- Pois – prosseguiu Goten. – Fomos apanhados e não conseguimos tirar mais do que três senzu.

- Apanhados? – Quis saber Piccolo.

- Hai, por aquela garrafa com os dois tubos de lado. Depois, Trunks-kun disse para eu puxar um tubo e ele puxou outro…

Recebeu uma cotovelada no estômago e calou-se engasgado.

- O que foi que vocês os dois andaram a fazer no jardim, para além de apanhar senzu?

- Eh… nada, Piccolo-san – disse Trunks. Goten esfregava a barriga, olhando para ele aborrecido.

Goku retirou um senzu que Gohan lhe estendia e enfiou-o na boca de Vegeta. Ozilia depositou-o em cima da cama, à medida que os efeitos mágicos do feijão se espalhavam pelo corpo do príncipe, entranhando-se na corrente sanguínea, penetrando nas células, curando e reparando o que precisava ser curado e reparado.

Vegeta esticou-se sobre o colchão, retesando os músculos, apanhando a coberta nos punhos trémulos, abafando um grito na garganta, torcendo a cara numa careta de sofrimento. Depois, abriu os olhos pestanejando muito depressa, inspirando uma enorme porção de ar. Renascia naquele momento. Sentou-se na cama e olhou para Goku.

- Kakaroto? O que é que fazes aqui?

Olhou para Ozilia e cerrou os dentes. Recordava-se do que tinha acontecido e apartou o olhar, incomodado. Levantou-se da cama e disse com ironia:

- Está a haver alguma reunião que eu desconheça?

- Como foi… combater Argia?

Voltou a olhar para Goku. Fez um meio sorriso e respondeu:

- Deves ter cuidado com esse diamante que tens contigo. Se alguém to roubar e destruir, perdes a vida.

Goku voltou-se para Ozilia, à procura da confirmação e ela limitou-se a acenar levemente com a cabeça. Não respondera a uma pergunta direta e tinha os seus meios de esclarecer dúvidas, mantendo-se fiel ao que realmente era, pensou número 17. E aquele maldito saiya-jin sabia arrancar dela sempre todas as respostas. Como viu a irmã a marcar-lhe as reações, ocultou todas as emoções.

O diamante de Son Goku estava como que adormecido, a bolha alaranjada movia-se indolente no interior da pedra quando ele o retirou da túnica do dogi onde o guardava. Contemplou-o preocupado, matutando certamente na confirmação de Ozilia, na afirmação de Vegeta e no que lhe tinha acontecido sobre o tatami. Gohan estendeu-lhe um senzu.

- Este é para ti, ‘tousan.

Desviou os olhos do diamante.

- Para mim? Eh… Eu acho que não preciso.

- Engole essa porcaria, Kakaroto – disse Vegeta agastado. – Perdeste muita energia durante o nosso combate e precisas de estar na tua máxima força. Argia foi eliminado, Lux deve estar agitado. Primeiro, irá enviar Valo e depois de eliminarmos esse também, entrará em ação. E esses são os deuses mais poderosos deste mundo. Estou correto, deusa?

Ozilia não lhe respondeu, nem confirmou com um aceno discreto, mas também não contestou e o príncipe deu-se por satisfeito.

- E uma vez eliminado Lux, a nossa missão fica concluída e podemos regressar a casa.

- Mas se eu comer esse senzu ficamos apenas com mais um.

- É um risco que vamos ter de correr. Provavelmente, esse único senzu será o necessário.

Goku mastigou o senzu e engoliu-o.

Vegeta olhou para baixo ao sentir Trunks roçar-lhe na perna. O miúdo sorria-lhe e ele sorriu-lhe de volta. Mexeu-lhe nos cabelos num gesto carinhoso, mas rapidamente apartou a mão para que ninguém notasse, mas número 17 analisava o cenário nos seus mais ínfimos detalhes e gravava tudo no seu processador interno, pois a informação poderia ser útil num contexto futuro e quando menos esperasse. Número 18, a irmã, fazia o mesmo e os dois entreolharam-se, cada um no seu canto, varrendo o quarto com o seu olhar azul-marinho analítico.

Piccolo assustou-se com o repentino semblante fixo de Goku.

- Son?

- O torneio vai reiniciar – disse hipnotizado com o tom alaranjado vivo do seu diamante.

Ozilia rosnou baixinho. Também ela estava a receber uma mensagem dos deuses. Número 17 fez um sinal a número 18. Fim do processamento, ativação do modo de combate.

- Temos de regressar ao tatami – completou Goku.

E, num gesto automático, com a outra mão, puxou do cartão preto.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Próximo capítulo:
Perigo.



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Deuses e Diamantes" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.