A Longa Vida De Serena Cullen escrita por Angelicca Sparrow


Capítulo 8
Capítulo 8


Notas iniciais do capítulo

Chorei ao escrever o final desse capítulo... Apesar de tudo. Espero que gostem.



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Acordei mais tarde cansada. Um toque contínuo em minha cabeça me relaxava. Abri os olhos lentamente, e olhei para o cabelo cobreado de Edward, que me olhava com um sorriso calmo nos lábios. Os raios do Sol adentravam pela janela de vidro, e atingia nós dois com seu brilho, fazendo a pele do vampiro cintilar. Ele ainda fazia carícias em meu cabelo, e percebi que havia dormido em seu colo, durante o jogo de basquete. Vasculhei a sala com o olhar mas não havia mais ninguém lá, além de nós.

- Boa tarde. – sussurrou ele.

- Boa tarde... – respondi com a voz sonolenta, me sentando.

O relógio no pulso direito dele,  marcava 4 horas da tarde.

- Meu Deus! Eu nunca dormi tanto assim. – alterei minha voz surpresa. – O que houve comigo?

- É normal, lobos costumam dormir bastante, assim como humanos... – ele tentou me confortar passando um braço em meu ombro, me fazendo arrepiar com o toque gélido.

- Mas eu não sou só humana, ou só lobisomem... Minha parte vampira também existe, Edward. – tentei argumentar.

- Eu sei. – disse ele fazendo uma pausa, com a voz rouca e olhar negro. – Seu cheiro está me deixando fora de mim...

Parei observando seus lábios entreabertos, que soltavam o ar lentamente, e seu maxilar relaxado. Franzi a testa, imaginando o significado daquelas palavras, e suspirei aliviada.

- Ah, você está com sede. – deduzi.

Peguei-o pela mão quando me levantei, e senti uma pontada aguda no abdômen. Arfando, coloquei a mão livre na barriga. Ele se colocou ao meu lado em menos de um segundo.

- Você está bem? – perguntou ele preocupado.

- Estou. É a fome. – respondi incerta.

Levei ele até a porta principal e o observei até ele desaparecer entre a floresta, para caçar. Fui até a cozinha e abri o freezer admirando um suculento pedaço de carne congelada. Meus braços formigaram, meu olhar enegrecido ficou cheio de um desejo inexplicável. E antes mesmo de pensar, o instinto me fez comer aquilo, cru e congelado. Mordia os pedaços com facilidade, evitando um arrepio ou outro, quando meus dentes tocavam a camada de gelo. Devorei o pedaço inteiro, fazendo um barulho de pedra sendo estilhaçada e me virei para a janela, que refletia o meu rosto. Olhos negros, selvagens e monstruosos me encaravam de volta. Os lábios cor da pele manchados de vermelho. O rosto da menina que me encarava estava sombrio, e psicótico. Ri nervosa, ao me identificar naquelas feições, aquele era meu reflexo. Eu era daquele jeito quando estava caçando, e eu provocava medo até em mim mesma. Porque eu estava tão estranha?

Me recompus aliviada pela dor que cessara, e corri até meu quarto. Ouvi os sussurros dos outros integrantes da casa conversando. Apenas Emmet e Rosalie estavam na casa. Sorri divertida e peguei uma caneta preta e longa, ao caminhar para a porta do casal. Eles davam risadinhas e cochichavam do outro lado da porta trancada. Suspirei me preparando e abri a porta rapidamente, arrombando a fechadura, quase no mesmo momento em que atirei a caneta no meio dos dois, fincando-a na parede. Ambos deram um pulo de susto e me encararam chocados.

- Sua idiota! Quer nos matar de susto? – gritou Emmet tentando não rir. – Nós podíamos estar fazendo alguma coisa importante!

- É mesmo? – gargalhei – Não acho... Onde foram os outros?

- Eles foram fazer compras em Seattle, e Alice foi ajustar o vestido em Bella pela décima vez... – disse Rosalie rindo levemente.

- Muito Obrigada Rose! Desculpe por atrapalhar... a conversa de vocês! – ri mais uma vez.

Fechei a porta, mais ela estava toda estourada, a maçaneta caída ao chão. Forcei-a para mim e ela acabou por rachar. Coloquei fita adesiva para fechar a porta e funcionou muito bem. Fui para meu quarto ouvindo Emmet xingar de dentro do quarto dele. Liguei um aparelho de som que começou a tocar músicas que eu não conhecia. Fui tomar outro banho e escovar os dentes, pois estava disposta a sair essa noite, e deixar meu poder tomar conta de mim. Era muito complicado ter de me segurar sempre.

- Serena! O que é que você vai fazer? – disse Alice ao adentrar no banheiro me assustando.

- Alice? Você já chegou... O que é? – perguntei desligando a ducha e saindo do box.

- Vi você... Indo à um lugar que desconheço. E você estava em um quarto com um homem. – disse ela chocada.

- Bem... Venha cá. Preciso te explicar uma coisa. – disse me enrolando na toalha branca e sentando com ela na minha cama. Sabia que se contasse à ela, os outros ficariam sabendo então eu só precisaria contar a história uma vez. Abaixei um pouco o volume do som e continuei.

- Lembra-se de quando eu disse algo sobre minha habilidade, meu poder? – comecei devagar e ela assentiu. – Então, você sabe que vampiros podem possuir dons, olhe só você! Bem, desde que me lembro, eu nasci com o dom mais catastrófico e horrível que eu conheço... Você não tem ideia de como eu me sinto mal, quando o liberto.

- Estou ficando assustada... O que é que você faz? – perguntou ela, segurando minha mão.

- Sedução é a palavra. É algo parecido à Succubus... Mas pelo que vejo meu caso é o poder de seduzir para matar. Você sabe exatamente do que estou falando, conhece a história. É tão difícil de controlar... – fechei minhas mãos em punhos ao redor das dela. – Sabe como é a sensação de não poder olhar ninguém nos olhos? Não poder mostrar a pele, ter de esconder seu cheiro? Tudo em você é atrativo... Seduz suas vítimas. É como Edward, que não pode simplesmente evitar ouvir o pensamento de alguém, está fora de seu controle...– Alice me olhava séria, ela entendia.

- Porque você acha que Max teve imprinting por mim? – agarrei a toalha que me cobria, arfando. – Na época eu não sabia disso... Olhar para alguém é uma coisa tão natural que... que... – a fúria me inundava, assim como as lágrimas que desciam em meu rosto.

- Você olhou para ele, e ele sofreu o imprinting... – Alice sussurrou. –Ele te amaria de qualquer jeito, você é tão adorável, e de qualquer forma você era um bebê, não teve culpa.

- Não, a culpa foi minha. Você acha mesmo que ele, justo ele, gostaria de mim se eu não tivesse essa “habilidade”? – disse sarcástica. Parando então para observá-la diretamente nos olhos, pela primeira vez. Seus olhos dourados se arregalaram, sua pupila diminuiu. Ela ficou petrificada na posição em que estava. Seus olhos refletiam a fúria dos meus. Me aproximei dela.

- É disso que estou falando... Adoração, ele me idolatrava. – sussurrei em seu pescoço, o ódio envenenava cada palavra que eu dizia. – Ninguém jamais gostaria de um monstro como eu, e esse dom é a única coisa que me permite me aproximar de qualquer criatura... Vai além da sedução que um vampiro causa em um humano.

Alice continuava parada, me observando estática. Suas mãos percorreram meus braços. Ela tentava dizer algo mas sua voz havia morrido. Seus olhos percorreram meu pescoço, por onde uma lágrima escorria até a toalha. Tentei me controlar novamente, fechar minha mente. Olhei para a porta e após um tempo Alice começou a voltar ao normal.

- Eu... eu... Não sei o que dizer. – ela sussurrou apática.

- Pode me dizer o que sentiu Alice? – perguntei cética.

- Desejo, muito desejo... – ela me observou.

- Agora imagine o que acontece quando eu faço isso com um homem, ou um vampiro, ou um lobisomem... Os machos são mais domáveis, é mais difícil deles resistirem. – disse sorrindo amarga para minhas mãos, em meu colo.  

 - Eu não fazia ideia. Serena, não fique chateada com isso. – ela me abraçou.

- Como acha me matei o namoradinho de Jane há anos? Usei isso também, e foi tão fácil... – ri me deliciando com a lembrança. – Eu sou a heroína e a vilã, Alice. Eu não posso controlar isso a todo tempo.

- Então saia, se divirta. Liberte-se um pouco, mas depois volte. – disse ela compreensiva.

- Era o que eu queria ouvir. Obrigada Alice. – disse tentando sorrir.

- Use o sobretudo que eu te dei quarta-feira. É comprido, cobre bem o corpo, e é muito elegante...

- Claro... O que eu não faço por você afinal? – respondi ficando mais alegre.

Ela saiu do quarto fechando a porta, me deixando solitária novamente. Andei até o espelho para limpar as lágrimas, e meus olhos estavam verdes depois de muitos dias. Olhos em estado normal, sem nada sobrenatural, minha única e simplória parte humana além da pele. Vesti o sobretudo negro de mangas compridas, que ia até meu joelho, e coloquei botas altas o suficiente. Me senti em um filme de ação de James Bond, onde eu era uma super espiã, lutando contra bandidos. Ri com minha imaginação. O rádio tocava (até que enfim) uma música conhecida: Bleeding Love – Leona Lewis, que eu ouvia muito durante a viagem aos Estados Unidos. “Uma ótima música para o momento, só que não”, pensei rindo com meu sarcasmo. A letra triste da música já havia cortado meu coração tantas vezes, que a única coisa que fiz dessa vez foi olhar para o teto e sorrir.

- Agradeço por ter estado ao meu lado todas as vezes em que precisei, agradeço por ter acreditado em mim, e me amar à sua maneira. Agradeço por ter me escolhido como sua alfa, e agradeço por ter dado a sua vida, em nome da minha... Sei que vai me entender agora, como sempre me entendeu... Eu te amo lobo, até depois que a morte nos separou... – rezei olhando para a noite já estrelada do outro lado da janela de meu quarto. Quando desci as escadas ignorando os olhares de Alice, e saí pela porta da frente rumo à cidade, com o Porsche amarelo que ela própria me emprestara.


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