O Casamento Da Minha Melhor Amiga escrita por Ana Carolina Potter


Capítulo 6
Capítulo 6


Notas iniciais do capítulo

N/A: Alguém sentiu falta do Ryan e seus escândalos?



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Capítulo Seis

Grande escalada

— Ela morreu nesta madrugada! – disse Bob Fray

— Mas morreu como? Deu pra saber se foi magia negra? Armas trouxas? A menina não poderia morrer do nada! Tem que ter algum indício – reclamou Rebecca Bowers. – Além do mais, pode ser os próprios pais que a mataram, vocês também pensaram nisso?

— Não acho que tenha sido os pais! Até porque eles estavam viajando naquela semana e a garota estava com a avó, que durante a morte dormia. Foram encontrado vestígios de poção para dormir em seu sangue. Quem queria matar a menina sabia o que estava fazendo – salientou Ryan Graysson.

— Eu não descarto a teoria dos pais, mas acho que deveríamos ir ao local e... investigar melhor! – conclui Harry.

A manhã de segunda-feira do Quartel General dos Aurores começou animada. Uma garota havia sido assassinada no dia anterior e a seção estava o caos. Primeiro porque não sabiam quem seria o autor do crime e não havia nenhum indício contundente que o levariam até o assassino. Segundo porque a avó da garota estava em estado de choque e eles não sabiam como lidar com a também vítima, apesar dos esforços dos medibruxos.

— Potter e Bowers, quero os dois na cena do crime. Quero nem saber se vocês já têm alguma coisa para fazer hoje. Vão lá e recolham o máximo de coisas que possa importante. Tenho certeza que deixamos passar alguma prova na primeira visita a casa. Depois quero o relatório na minha mesa ainda hoje. Já para rua! – Fray estava uma fera aquela manhã. Ele gritava ordens para todos e não se importava de ser grosso com quem quer que fosse. A faxineira do ministério, que costumava trazer café aos aurores, ao ver seus gritos mudou de ideia e rumou para outro departamento.

Harry e Rebecca pegaram suas capas e rumaram para fora do Ministério da Magia. Harry tinha que admitir que o caso havia mexido com ele. Susana Mars era uma garotinha de 9 anos. Pelas fotos que eles tinham recolhido na cena do crime, ainda pela madrugada, ela parecia frágil e delicada. Inofensiva para qualquer um.

Ele tinha medo do que poderiam encontrar naquele local. Seu coração palpitava de uma maneira nunca antes vista. Mas ele precisava se controlar. “É só uma cena de crime. Um assassinato. Você já viu isso centenas de vezes. Se controle Harry!”.

— Está animado para o baile? – perguntou Rebecca enquanto eles entravam no elevador. Os memorandos estavam se mexendo no teto do compartimento querendo a todo o momento sair pelas portas.

— É para ser sincero? – ele resmungou.

Ela colocou uma mecha do cabelo loiro atrás da orelha enquanto dava uma profunda gargalhada.

— Mas é claro! Afinal não é todo dia que temos uma festa promovida pelo departamento em homenagem a nós, não é mesmo?

Harry sempre evitava conversar com Rebecca. Ela era grudenta demais para o seu próprio bem. Com as mãos dentro da capa, ele ansiava pelo átrio.

— Pois é. Mas sabe... eu não sou muito fã de festas. Você vai? – perguntou para mudar o foco da conversa.

— Sim, eu vou. Mas ainda não arrumei um par. Queria saber se você gostaria de ir comigo? – ela olhou para baixo. Harry notou uma vermelhidão no pescoço da bruxa que não tinha nada ver com o calor que fazia dentro do elevador.

— Er, Rebecca, me desculpe, mas eu já tenho um par. Vou com a Gina, irmã do Rony, lembra-se dela?

Ela levantou a cabeça no exato momento que as portas do elevador se abriram. Ainda não estavam no átrio, mas dois bruxos entraram no compartimento. Ambos cumprimentaram Harry e Rebecca com a cabeça e se encaixaram ao fundo do pequeno espaço.

— Sim, eu me lembro vagamente dela. Ah, que legal. Vocês estão juntos? – ela murmurou.

Harry olhou para frente.

— Não! Gina é só minha melhor amiga. Além disso, ela está noiva de um escocês. Vai casar no mês que vem, acredita? – Ele falou como se estivesse comentando o tempo abafado de Londres naquele verão.

A garota sorriu.

— Não sabia não! E o namorado dela não liga de vocês irem juntos ao baile? Por que se eu fosse sua namorada iria ficar uma fera se você fosse com outra pessoa que não fosse eu.

Harry revirou os olhos.

— Veja bem, Rebecca! Eu e Gina somos amigos. E tenho certeza que o Peter deve confiar muito na garota dele. Todo mundo sabe que eu jamais tentaria algo com a Gina nessas condições.

A porta do elevador abriu e Harry saiu como um tiro. Rebecca sempre fazia comentários inoportunos em horas inesperadas. Ora, onde já se viu agarrar a Gina enquanto ela tivesse namorado? Apesar de que não era má ideia!

A bruxa seguiu Harry de perto e ambos aparataram para a cena do crime. A casa da avó de Susana estava uma verdadeira bagunça. Havia faixas com o símbolo do Ministério por todo o perímetro e era possível ver aurores rondando a rua para evitar que trouxas invadissem o local. Eles precisaram mostrar a varinha para provarem que eram os funcionários aptos para averiguar o caso.

Ao entrar pela porta principal, Harry tomou um susto. A sala estava intacta. Nenhum móvel revirado, nenhuma almofada fora do lugar. O pó parecia que havia sido retirado há poucas horas e na atmosfera pairava um leve aroma de limpeza. Contudo, as escadas denunciavam que a casa era realmente a cena de um crime.

Manchas vermelhas de sangue banhavam o corrimão por onde Rebecca retirava pequenas amostras para levar ao legista. Harry começou a subir as escadas em direção ao quarto em que Susana ocupava na casa da avó. Ele empurrou a porta com cuidado e olhou o espaço. O cômodo era pequeno, mas aconchegante.

A cama encostada na janela ainda estava revirada, como se estivesse acabado de ser desocupada. No chão, havia sapatos cuidadosamente colocados um ao lado do outro. “Coisas de vó”, pensou Harry. Perto da cômoda também havia brinquedos, bonecas e até alguns livros, sendo que os Contos de Beedle, o Bardo podia ser facilmente avistado no meio deles.

O quarto lembrava Harry do seu antigo quarto nos Dursleys. Algo revirou em seu corpo, como se uma garra tivesse sido colocada direto na boca de seu estômago. Ele começou a procurar por vestígios, por isso mexeu nas cobertas, revirou os livros, puxou as cortinas creme que impediam a passagem do sol pelo cômodo. Também averiguou embaixo da cama para verificar se existia alguma prova do crime perdida ali, em meio a poeira e o pó. Tudo isso usando luvas de couro de dragão e a varinha.

Ele não achou nada contundente, exceto um urso de pelúcia, que embaçou seus olhos. Harry não tinha se deparado com um caso como esse antes, mas ele começou a perceber que não deveria investigar assassinatos envolvendo crianças. “Tô parecendo uma mulherzinha!”. Bufou.

Sendo sincero com ele mesmo, Harry admitiu que a história de Susana o lembrava a si próprio. Ele também tinha sofrido uma tentativa de assassinato quando criança, mas “talvez” ele tenha tido maior sorte em sobreviver. Ele pensou no terror que viu nos olhos da avó da garota. A senhora já era idosa e parecia muito apegada à neta. Ela disse aos aurores que estava planejando o aniversário da menina, o que iria ocorrer nos próximos dias, e que não sabia o que dizer ao seu filho e nora sobre o assunto.

Uma lágrima caiu dos olhos do auror, que rapidamente secou o momento de fraqueza. “Foco, Potter! Você está a trabalho! Você tem que achar alguma coisa, alguma prova, você tem que ajudar a senhora Mars! Vamos lá, cara!”.

Harry colheu as digitais da porta e recolheu a roupa de cama. Ao retirar o lençol, ele percebeu fios de cabelos pretos no material, bem diferente do vermelho vivo de Susana. Ele colocou o fio dentro de um saco e correu em direção a Rebecca, que ainda estava no andar de baixo conversando com os vizinhos para ver se havia alguma prova ou testemunha sobre o caso.

— Com licença – disse a bruxa ao vizinho da Sra. Mars.

Da escada, Harry acenou para que ela se juntasse a ele.

— Conseguiu alguma coisa? – murmurou Rebecca.

O auror mostrou o saco com o cabelo preto.

— Pode não ser grande coisa, mas acho que dá para gente tirar o DNA do autor do crime. Susana e o resto da família tinham cabelos ruivos, certo?

Rebecca olhou para a lareira, onde a avó da vítima costumava colocar vários porta-retratos com os membros da família. Um casal aparentemente jovem acenou para os dois.

— Acho que sim. Leve isso direto ao Bob. Eu termino aqui com os vizinhos.

— Ok, Rebecca!

Harry desceu o restante da escada, enquanto sua parceira voltava a conversar com o senhor de cabelos grisalhos. Ele caminhou pela sala, saiu pelas portas duplas e caminhou em direção à rua, onde ele poderia aparatar até o ministério.

xxx

— Bob tá um pesadelo. Nunca o vi tão bravo. Já é o quinto esporro que tomo em duas horas – reclamou Ryan a Harry durante o horário de almoço.

Assim que Harry chegou ao departamento, ele fez questão de levar a amostra com o fio de cabelo preto ao chefe, que apenas levantou a sobrancelha e gritou sobre o relatório que ainda não estava em sua mesa.

Harry tinha que concordar que Bob não estava em um dos seus melhores dias, mas ficar descontando nos subordinados já era demais. Por isso, ele decidiu chamar Ryan para almoçarem juntos, já que o amigo estava espumando de raiva porque tinha recebido vários sermões sobre o caso ou a maneira como ele conduzia as investigações.

— Se você quer saber ele já me pediu o relatório. Eu tinha acabado de chegar a sala, como ele queria que eu tivesse feito o maldito documento. Ele que vá a merda! – disse Harry.

Os dois andavam pela Londres trouxa. O calor do verão estava tão insuportável que eles retiraram a capa bruxa que ainda estava sob os ombros. Era possível ver mulheres com vestidos floridos movendo-se apressadamente pelas ruas. Crianças também aproveitavam o bom tempo para pedir sorvetes ou picolés aos pais.

Eles pararam em um restaurante de comida chinesa e conseguiram uma mesa próximo a janela que dava para a calçada.

— Rebecca me perguntou sobre você hoje mais cedo. – comentou Ryan. Harry somente ergueu as sobrancelhas e deu um olhar cansado. – Ela quer saber se você já chamou alguma mulher ao baile. O que eu respondo? Que você convidou a Murta Que Geme?

— Idiota! Fala que eu chamei a sua mã –

— Opa, Harryzinho. Mãe não é algo que se coloca na mesa do almoço, cara!

— Desculpa – Ele e Ryan viviam tirando sarro de um e do outro. - De qualquer forma, ela também me perguntou a mesma coisa antes de irmos para a investigação. Rebecca é um pesadelo!

Ryan caiu em gargalhada.

— Ela curte você, Cicatriz! Qual é, dá uma chance pra loirinha. – ele se curvou na mesa. – Vai me dizer que você não acha que ela é gostosa?

Harry o olhou como se ele tivesse ingerido pus de bubotúberas.

— Qual é a parte do “ela é um pesadelo” você não entendeu? Se eu der uma chance para aquela maluca é capaz dela se mudar para minha casa e de lá nunca mais sair. Ela é doente! Psicopata! – Ryan riu até se acabar – Além do mais, a Gina vai comigo.

O amigo bateu com força na mesa. “Sempre discreto”, pensou Harry.

— Como é que é? E você não me contou essa parte, Potter? Ela largou do mané da gaita de fole?

Ryan e suas piadinhas sem graça. Harry suspirou.

— Ainda não!

— E o que você ainda está esperando pra tirar ela do idiota? Lerdo como sempre hein, Potter?

— Eu tô conquistando a Gina, ok?

— Tá otimista hein, Potter! Me conta como andam os planos de “conquistar sua garota”? – Ryan fez aspas no ar.

A garçonete chegou à mesa dos bruxos rindo do jeito que Ryan cruzava os braços e Harry bufava. Eles decidiram por yakisoba com dois pint de cerveja.

— A gente está fazendo algumas aulas de dança – murmurou Harry.

— O QUÊ? – Ryan gritou. O salão se voltou para os dois e Harry ficou vermelho no mesmo instante. O outro auror apenas deu um sorriso amarelo.

— NINGUÉM TEM NADA MAIS INTERESSANTE PARA FAZER NÃO? ENXERIDOS! – As pessoas voltaram para seus pratos após a intervenção de Ryan.

Harry o olhou incrédulo.

— Você não aguenta não dar escândalo, né?

Ryan sorriu amarelo novamente.

— Ah, sabe como é. Meu amigo salvador do mundo bruxo está dançando para conquistar a mulher de seus sonhos. Não é todo dia que isso acontece. Além disso, eu sei que você dança mal como meu tio Edmundo, então eu sei que é tempo perdido você ir nessas aulas. O que a Gina está dizendo desse mico todo?

Harry riu triunfante.

— Não que seja da sua conta, mas eu estou tendo grandes progressos nesse curso. Posso dizer que eu excedo as expectativas! E Gina está morrendodeciúmesdeOlívia!

— Hã?

— A GinaestámorrendodeciúmesdeOlívia.

— Potter repete que você tá falando como se estivesse com o pomo de ouro na boca.

— A Gina está morrendo de ciúmes de Olívia.

Ryan o olhou como se ele fosse maluco.

— Você anda criando amigos imaginários? Quem diabos é Olívia?

— É uma das alunas do curso de dança. Ela é espanhola e está noiva, mas ela não tira os olhos de mim. Até eu, que sou totalmente lerdo, percebi as intenções da mulher. A Gina gritou com ela em algumas aulas passadas.

— Isso é uma coisa muito boa, Harry. Mas... talvez a Gina só estivesse te protegendo como uma irmã, sabe? A mulher tem noivo e não pegaria tão bem para você estar com alguém comprometido, entende? – Ryan sempre ponderava todos os possíveis lados de um problema. Por isso ele era o melhor estrategista do Quartel General dos Aurores.

Harry considerou a possibilidade.

— Pode ser.

— Não quero te desanimar, mas acho que você precisa de provas mais concretas!

Harry concordou. Era apenas o primeiro passo de uma grande escalada. Em sua mente, ele pensou em sete grandes etapas até Gina cair finalmente em seus braços. O primeiro já havia sido dado e o último, e ele esperava que desse certo, seria selado no altar. Ciúmes, confusão, flerte, conquista, negação, aceitação e confirmação.

— Por isso que eu a chamei para ir ao baile, quero que ela se sinta bem ao meu lado e perceba que, talvez, o escocês foi um erro.

— Ainda te acho muito otimista! Não seria mais fácil abrir de vez o jogo?

Ele até pensou nessa possibilidade, mas seria como jogar bosta de dragão na Torre de Astronomia. Gina poderia considerar, mas talvez ela não percebesse que sentia o mesmo que ele ou ela acharia que Harry estava fazendo isso porque tinha medo de perder a melhor amiga dele. 

Ryan o olhou com pesar.

— Então vocês vão ao baile?

— Pelo menos esse é o plano!

— Só toma cuidado, brother! Eu sei que eu te estimulei nesse plano de conquista, mas veja bem onde está pisando. Eu gosto muito da Gina, acho que ela é uma mulher incrível, porém você é meu irmão, ok?

— Valeu Ryan!

Harry sorriu e eles deram típicos tapinhas masculinos nas costas.

O almoço chegou rapidamente e os dois comeram em silêncio. Harry realmente apreciava comida chinesa, talvez fosse o seu prato preferido, aliado com torta de melaço. Ele imaginou como seria comer essa torta agora depois de experimentar esse delicioso yakisoba.

— Harry?

Ele olhou para o lado e reconheceu alguém que não via há tempos.

— Duda?

xxx

Gina Weasley simplesmente não sabia o que vestir para o baile em homenagem à sucedida missão de Harry Potter, concedido pelo Ministério da Magia. Ela tinha passado a tarde caminhando pelas ruas de Londres em busca do vestido perfeito, mas nenhum deles tinha caído como uma luva em seu corpo pequeno.

Ela tinha que admitir que os anos a haviam feito bem. Gina não era tão magra quanto antigamente, mas tinha ganhado curvas nos lugares certos. Os cabelos caiam como cascata ao longo das costas e os olhos castanhos emolduravam o rosto. Além disso, a personalidade forte e, considerados por muitos até como, felina a fazem um ser incomum. Uma entre muitos.

A bruxa entrou no quarto abrindo as cortinas da grande janela que dava para a cama queen size. O cômodo era amplo, mas Gina preferia poucos móveis, por isso quem entrasse no lugar iria se deparar apenas com uma penteadeira que abrigava poucos perfumes e acessórios, uma estante com equipamentos trouxas – aquisições feitas graças ao pai – e um gracioso sofá que vivia atolado de roupas. Do outro lado da janela, havia uma porta que dava para o closet. O quarto era em tons pastéis e a decoração lembrava temas vintages, mas sem o toque “menininha”.

Gina caminhou diretamente para o closet pensando se poderia resgatar algum vestido de lá. O local como sempre era uma bagunça imensa. Roupas jogadas por cabideiros.  Blusas semi dobradas em cadeiras e sapatos encostados em cantos de armários. Ao todo, ela tinha cinco armários que, na verdade, não guardavam nada, porque as peças se esparramavam pelo cômodo. Mas ela apreciava toda aquela bagunça organizada.

— Acho que eu poderia usar o vestido preto, mas onde ele está? – disse Gina para si mesmo enquanto se equilibrava em uma das duas cadeiras que existia no closet para o caso de alguma visita ou para vestir os calçados dentro do local. Ela queria ver o topo do armário, mas ela só viu pó e malas.

Ela vasculhou outras duas partes do armário, mas desistiu no percurso.

— Eu vou estar horrível para essa festa. – choramingou caindo no chão. Porém, nesse momento seus olhos bateram em um tecido verde, que estava embaixo de várias peças de frio. Ela se lembrava desse vestido.

Caminhando lentamente até o armário defronte, Gina retirou a roupa e se posicionou ao grande espelho que havia na parede de frente a porta. Era um vestido verde escuro com decote em v, sem mangas e com modelagem justa até a cintura. Depois do quadril, ele ganhava certo volume até os pés. Nas pernas, ele possuía uma grande fenda e as suas costas eram recobertas por um singelo tule. O modelo era perfeito para ocasião. Ela nunca chegara a usar a peça.

“Será que Harry irá gostar?”. Um pequeno sorriso brotou nos lábios de Gina enquanto ela apertava o vestido na cintura para verificar se ainda servia. Ela tinha grandes expectativas quanto à noite de sexta-feira, apesar de não dizer em voz alta.

A bruxa percebia que as coisas entre eles estavam mudando, mas ainda não tinha noção de onde esse caminho poderia os levar. Ela pegava Harry a olhando mais de uma vez por dia, o sorriso nos lábios do auror, o jeito meigo que ele a estava tratando e até concordando com todos os pequenos planos dela. Peter era um plano longínquo em sua mente. A culpa a abateu no mesmo instante. Ela sabia que não deveria pensar em Harry dessa forma e que a história deles havia terminado há muito tempo, mas...

— Você está linda! – disse Harry com os braços cruzados e um sorriso enigmático na porta do closet.

— Harry, que susto! – gritou Gina.

Ele caminhou até ela e colocou as mãos em sua cintura. O rosto equilibrado na curva de seu pescoço.

— Acho que já posso escolher a gravata para combinar com seu vestido, estou certo? – ele não desgrudou os olhos do espelho, que naquele momento refletia a imagem perfeita dos dois.

— Uhum. – Gina não conseguia pronunciar uma palavra concreta com ele tão perto de si. O perfume amadeirado de Harry a deixava sem palavras, mesmo após tantos anos. “Talvez você devesse esperar um pouco mais para casar. Você não pode subir ao altar com Peter pensando em Harry”.

Gina saiu do abraço dele no mesmo instante. – Er, Harry... como você entrou?

Ela caminhou o mais longe possível dele.

Ele suspirou profundamente. – A porta estava aberta e eu só queria conversar com você.

Gina notou algo diferente em sua voz. Ao olhar novamente para Harry ela viu seus olhos verdes, que normalmente são profundos e brilhantes, levemente vermelhos.

— O que houve Harry?

— Dia difícil!

— Quer uma xícara de chá e uma série ruim na televisão?

Harry a olhou com um sorriso.

— Como nos velhos tempos?

— Sim! Como nos velhos tempos! Eu vou preparar o chá. Sente-se na minha cama e fique a vontade, senhor. – Ela saiu com uma pequena piscadela enquanto ele ria.

Em poucos minutos, Gina apareceu com duas xícaras fumegantes de chá e bolachas de vários tipos em um pequeno prato. Harry já estava acomodado em sua parte da cama coberto com vários cobertores, como ele costumava fazer, apesar do calor estava do lado de fora do apartamento. “Santo feitiço de refrigeração”, pensou Gina. O canal escolhido não importava, eles geralmente zapeavam até encontrar algum filme de drama para alegria de Gina ou um seriado policial para deleite de Harry.

Gina colocou o chá no criado-mudo ao lado de Harry e o prato no meio da cama e foi para o seu lado. Ela não notou o quanto sentia falta desses momentos ao lado do seu melhor amigo até agora.

— Então? Drama ou sangue? – perguntou Harry. Ele parecia adorável embaixo de várias camadas de cobertores, somente olhos verdes embaixo do tecido.

— Romance! – Ela fez um beicinho para convencê-lo.

Ele começou a procurar pelas centenas de canais que a TV a cabo disponibilizava no apartamento de Gina.

—Ué, não vai começar a reclamar como eu sou uma menininha?

Ele simplesmente olhou para ela.

— Não. – Voltou sua atenção para TV.

Gina retirou o controle remoto de suas mãos e colocou o prato com os biscoitos em seu criado-mudo. Ela se aproximou mais de Harry, encostando a cabeça em seu peito.

— O que houve, Harry? – Ela notou leves arrepios que subiram pelo seu braço.

— Dia ruim – ele resmungou.

— Todos têm dias ruins. Me diz o que houve?

Ele se virou em seus cobertores para olhá-la nos olhos. Ela nunca viu tanta intensidade em um olhar, tanta dor, tanta aflição.

— Eu me senti tão impotente hoje. Eu vi Duda durante o almoço e não foi nada muito agradável, Gina. Apesar de me tratar com respeito, eu me lembrei de como ele e meus tios foram miseráveis comigo durante toda minha infância. Acredita que ele ainda teve a petulância de perguntar se o bruxo “maluco” ainda estava atrás de mim? – ele riu sem graça.

— Achei que ele tinha superado essa idiotice toda de achar que sou doente ou maluco. Mas acho que não. Arrogante! Pior é que eu não pode colocá-lo em seu devido lugar porque eu estava em lugar lotado de trouxas. Idiota! Só não queria tê-lo visto. Só queria que esse passado ficasse... no passado, entende Gina?

Ela o olhou com curiosidade.

— E hoje de manhã uma garotinha foi assassinada e eu e Rebecca fomos designados para cobrir o caso. Ela era tão pequena, não merecia perder a vida dessa forma. A avó estava inconsolável. Acho que foi um dos únicos casos que eu me impressionei de verdade. Coloquei-me no lugar da vítima. Eu sou um imprestável, Gina!

— Não, Harry! Não! Você só é humano! Colocar-se no lugar da vítima é normal, é ver com outros olhos o mesmo caso. Não se culpe, por favor! Você fez o que qualquer pessoa teria feito no seu lugar. Acho que casos com crianças chocam qualquer um, sendo pais ou não. – Ela se ajeitou da melhor forma possível para abraça-lo. Harry estreitou o espaço entre os dois. Eles ficaram da mesma maneira por vários minutos.

— Obrigado Gina!

— Sempre que precisar! – Ela sentiu quando Harry beijou seus cabelos, gesto que eles compartilharam tantas vezes enquanto namorados e ela pensou em quanto ela sentiu falta de estar nos braços dele mais uma vez. Gina estava confusa em relação aos seus sentimentos. E Harry ainda não sabia, mas já havia dado o segundo passo.


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Notas finais do capítulo

* Pint: Para quem não sabe, pint é uma unidade de medida na Inglaterra. É muito comum pedir a pint of beer nos pubs ingleses, algo que costuma equivaler a 568 ml.



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