Édipo escrita por LFrinhani


Capítulo 8
Ato de bravura


Notas iniciais do capítulo

Yuu, meu herói *---*



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Fiquei alguns minutos ali sentado na calçada ainda com as mãos na cabeça, já nem me importava mais com o horário da escola, mais importante que isso era saber o que faria da minha própria vida a partir de agora. "O que vou fazer?" Era a única pergunta em minha mente. O que faria? Não dava mais pra negar esse sentimento que definitivamente não é de um filho por uma mãe, eu sinceramente a desejava como mulher, mas ela era mulher do meu pai, a única coisa que poderia fazer é engolir tudo isso e digerir da forma que achasse conveniente, o unico problema seria morrer engasgado.

Minha tática de se afastar não tinha surtido o efeito esperado. Então que caminho tomaria? Afinal eu não poderia dar corda para esse sentimento torpe, o que eu escolhesse fazer de agora em diante poderia por em risco o casamento e minha relação com meu pai, ele merecia ser mais feliz do que eu. Por hora irei manter o plano inicial de me afastar, mas eu ainda tinha que arrumar um plano para fazê-lá se afastar também, talvez se ela achasse que eu a odeio ou fizesse ela me odiar, talvez assim ela se afaste. Isso! É exatamente isso! Farei com que ela ache que eu a odeio E farei ela me odiar também, vai ser esse o plano, tem que dar certo, mas só pretendo fazer isso até eu ter certeza de que conseguirei me controlar devidamente, sinceramente não sei se aguentarei muito tempo perto dela sentindo aquele maldito calor.

Olhei o relógio, ainda dava pra chegar no segundo tempo, levantei e recomecei a andar bem lentamente, procurava fazer o mínimo esforço possível para evitar dor de cabeça. Já na escola fiz o contrario, tive que fazer o máximo de esforço possível para ignorar as pessoas a minha volta, seja por causa do atraso ou por conta da minha cara de poucos amigos todos me encaravam, mesmo que alguns tentassem disfarçar eu ainda podia sentir, estava começando a ficar irritado com aquilo porém não queria dar mais motivos para cochichos, apenas respirei fundo e tentei me focar em outra coisa, algo me dizia que esse dia não seria bom.

– Errr... F-Fujimoto-kun. - Chamaram-me timidamente, sem mover um músculo apenas virei meus olhos e me deparei com uma pequena menina com grandes óculos.- Errr... Bem, o professor de história pediu para lhe entregar este livro. - Ela me estendeu um livro.

– Obrigado.

Só disse isso e peguei o livro de suas mãos que pareciam estar trêmulas. Mesmo após ter entregue o livro ela permaneceu ali ainda, virei meus olhos para ela novamente com minha paciência se esvaindo.

– Fujimoto-kun, aconteceu algo? - Perguntou a menina timidamente sem encarar-me.

– Aconteceu o que não interessa pra você. - Olhei bem em seus olhos e acho que pude transmitir toda a raiva que sentia por dentro, a garota me olhou espantada, parecia a ponto de chorar, ela apenas abaixou a cabeça e foi embora sem dizer mais nada.

Ok, confesso que fui rude demais com ela sem necessidade, não era com ela que deveria agir assim agora, droga, estou me sentindo mal agora por ter agido desse jeito, vou me desculpar quando tiver chance. Novamente os cochichos começaram, eu não queria causar mais estresse então me foquei no livro que estava em minhas mãos. "O mito de Édipo Rei", eu tinha esquecido que havia pedido o livro emprestado ao professor de história, era aula dele no primeiro tempo, ainda bem que ele pediu para me entregarem. Droga, estou me sentindo mal denovo, eu definitivamente tenho que me desculpar com aquela menina.

Já nem prestava atenção na aula, não era atoa que não era o número 1 da classe, mas pelo menos tirava notas o suficiente para passar, na verdade sempre fui assim. Com o livro em mãos me aprofundei na história de Édipo, que me assustou bastante. Segundo o livro, Édipo havia matado seu pai e casado com a própria mãe, porém ele não sabia disto afinal ele acreditava que seus pais eram outros, ao visitar um Oráculo recebeu a noticia de seu fatídico destino, com medo da previsão se cumprir ele fugiu e acabou encontrando seus verdadeiros pais, e então o seu destino foi cumprido como foi profetizado, quando finalmente soube da verdade ele arrancou seus próprios olhos e deixou sua pátria.

Mesmo tendo sido um engano, matar o pai e casar-se com a própria mãe é algo realmente odioso. Sem que me desse conta pensei em Misaki, eu a desejava, mas não teria coragem de matar meu próprio pai para conseguir isso. Ou teria? Tentei afastar esse pensamento o máximo possível, já tinha coisa demais para me preocupar, não precisava de mais nenhuma. O resto das aulas passou de forma monótona, até tentei prestar um pouco de atenção mas realmente não conseguia me concentrar em nada, sentia minha cabeça pesar além do normal, droga, ainda tinha que trabalhar hoje.

Meu dia no trabalho também não foi um dos mais agradáveis, estava muito disperso e a todo momento Akira chamava minha atenção, isso me irritava ainda mais, não anotava os pedidos direito e não acertava as mesas, realmente esse não estava sendo um dia bom, cheguei ao ponto de Akira ter que me mandar pra casa muito mais cedo que o normal. Eram 8:30 da noite ainda e não tinha a menor pretensão de chegar cedo em casa e ter que ver a cara de Misaki sorrindo pra mim, só de pensar eu já tinha dificuldade de respirar, resolvi ir andando e aproveitar a noite fria para esfriar a cabeça, afinal o verão havia ido embora e o outono em Chiba era rigoroso, as arvores nas ruas já estavam praticamente nuas de suas amarelas folhas, andava vagarosamente inalando o ar frio e seco, minha cabeça pesava cada vez mais, eu só queria me deitar e descansar, talvez descobrisse que tudo isso não passou de um cansativo pesadelo.

Enquanto andava pelas ruas mais afastadas do centro quase desertas algo chamou a minha atenção, um grito na verdade, era agudo como de uma mulher, uma jovem mulher, não foi muito alto mas parecia vir de um beco próximo, sinceramente não pensei duas vezes é corri até lá e encontrei com aquela cena. Dois homens seguravam uma menina enquanto um terceiro a molestava, a garota tentava escapar mas os homens que a seguravam eram muito mais fortes do que ela, pareciam não fazer esforço algum.

– EI! SOLTA ELA!

Sem que me desse conta já havia entrado no beco, precisava fazer algo ou então só Deus sabe o que aconteceria com aquela menina, o homem que a estava molestando parou o que estava fazendo e se voltou para mim, olhando de mais perto ele era ainda maior que os outros dois. Droga, como iria sair dessa? Eu nunca fui bom de briga, na verdade nunca entrei em uma, não sabia nem como deveria reagir.

– Garotinho, é melhor voltar pra casa logo, a mamãe deve ta preocupada, vai antes que não consiga sair. – Disse o homem soprando um hálito de alcool na minha face.

Já era. Em fração de segundos eu já tinha fechado o punho e acertado bem no seu maxilar, acho que isso doeu mais em mim do que nele, literalmente. Parecia que tinha quebrado a mão, enquanto o homem apenas cambaleou um pouco e então voltou seus olhos para mim, pude sentir o odio dentro dele. Também em fração de segundos ele acertou um soco em meu maxilar, diferente dele fui de encontro ao chão, ele começou a me chutar no abdômem com toda a força que poderia ter, ao todo não sei quantos chutes levei. Estava a ponto de perder a consciência, a única coisa que ouvia além do som dos golpes era a menina gritando por ajuda, o que logo foi abafado por um cala a boca e algo que me pareceu ser um tapa.

O homem que me chutava parou por um instante, me levantou por meus cabelos e olhou bem em meus olhos, ainda havia raiva neles, o homem simplesmente sorriu malignamente e então cuspiu na minha cara antes de me desferir o golpe final, um soco bem no meu rosto. Então cai no chão novamente, sentia o gosto de sangue na boca e já não enxergava mais nada.

– Vamos embora, pode deixar a cachorra ai com o "herói" dela. - Disse alguém, que julguei ser o meu agressor, que ria em sinal de deboche.

Ouvi alguns sons de passos e risadas se distanciando, nem sei dizer onde no meu corpo não estava doendo, ainda estava consciente mais não sabia se agüentaria por muito mais tempo.

– Fujimoto-kun você esta bem? - Perguntou a menina, agora eu finalmente a reconhecia, era a menina que havia me entregue o livro mais cedo. Bela forma de me desculpar.


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