Édipo escrita por LFrinhani


Capítulo 2
A casa


Notas iniciais do capítulo

Segundo capitulo ai minha gente. Boa leitura



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- Yuu-kun? Tudo bem com você? – Misaki agora balançava uma das mãos enfrente aos meus olhos, me tirando do estado de transe em que estava.

- Ah! Tudo bem sim. Prazer em te conhecer. – Finalmente havia lembrado de respirar e apertei sua mão em forma de cumprimento. – Desculpe, é que eu não esperava encontra ninguém aqui a essa hora.

- Pois é, eu deixei o emprego para poder me dedicar inteiramente ao lar. Toshi me disse que você viria então pensei em dar um jeitinho na casa. – Ela lançou um singelo olhar para o corredor onde jazia uma vassoura.

- Não precisava se incomodar. – voltei minha atenção para estante que havia na sala, estava repleta de porta retratos.

Olhando mais atentamente para eles encontrei um com uma foto do casamento dos meus pais, mamãe estava sorrindo como sempre sorria, estava linda vestida com aquele vestido branco, ate meu pai que costumava ser um tanto serio estava sorrindo também. Olha-los assim me fez sorrir.

- Sua mãe era realmente bonita. – Disse Misaki olhando pra foto e sorrindo como eu, nem tinha reparado quando ela havia chegado ali.

- É, ela era. – Coloquei o retrato de volta na estante.

- Vem Yuu-kun, quero lhe mostrar o quarto. – Ela me puxou pelo braço escada acima, consegui pegar as malas pelo caminho.

Já no segundo andar paramos em frente a porta do meu antigo quarto, Misaki se virou de lado para que eu mesmo a abrisse. Um tanto receoso girei a maçaneta e abri da mesma forma que fiz com a porta da sala, deixei que ela se escancarasse sozinha e lentamente. Respirei fundo antes de entrar de fato.

Ele ainda tinha a mesma cor, azul marinho, porém os moveis tinham mudados. Como o quarto era pequeno não era possível caber muita coisa, havia apenas uma cama de solteiro, uma escrivaninha com uma cadeira e um pequeno armário, nada além do necessário.

- Mudamos os moveis para você poder se acomodar melhor. - Disse Misaki da porta.

- Tudo bem, está ótimo.

- Bem, vou deixar você arrumar as suas coisas em paz, se precisar de algo estarei lá embaixo. - Falou a mulher se retirando do recinto.

Ainda fiquei um tempo só olhando ao redor, apesar dos moveis diferentes o quarto ainda era o mesmo. Engraçado, ele parecia bem maior quando era criança, era só mais uma prova de que o tempo havia passado, afinal sete anos não são sete dias.

Abri a janela, embora fosse verão estava soprando uma leve brisa fresca. Comecei a desfazer as malas, colocando as roupas no armário e as outras coisas adicionais sobre na escrivaninha. Peguei uma peça de roupa e fui tomar um banho pra ver se aliviava o cansaço.

Após sair do banheiro fiquei um tempo parado no corredor. O chão de madeira, agora desgastado pelo tempo, era tão brilhante naquela época, mamãe se esforçava para deixa-lo impecável, "afinal é o chão que nós pisamos!" era o que ela sempre dizia.

Sem querer notei que a porta do quarto do meu pai estava entreaberta, não consegui conter a curiosidade e entrei no recinto, empurrei um pouco mais a porta fazendo-a ranger, olhei pra traz para me certificar de que não tinha ninguém por perto, ouvi o som da vassoura no andar de baixo. Finalmente entrei.

O quarto era branco da mesma cor da casa, os moveis eram os mesmos de sete anos atras, menos um, a cama havia mudado. Lá também havia porta retratos, olhando de relance avistei uma foto que me fez congelar. Com as mãos um tanto tremulas peguei o retrato devagar para não deixar cair. Estávamos eu e meus pais na foto, todos sorrindo.

Eu lembro daquela foto, foi um pouco antes da minha mãe morrer, foi tirada no meu aniversario de 10 anos, tínhamos ido ao parque naquele dia, foi muito divertido. Mas então aconteceu. Uma semana depois, exatamente uma semana, havia acabado de chegar do colégio, entrei em casa e achei estranho não ver mamãe que sempre vinha me receber, comecei a chamar por ela, foi quando parei na porta da cozinha. Mamãe estava jogada no chão com uma poça de sangue envolta.

Fiquei em choque ao ver tal cena. Não sabia o que fazer, estava sozinho em casa, meu pai só deveria chegar mais tarde. Tinha que fazer alguma coisa. Sai pela rua gritando por ajuda, logos os vizinhos saíram correndo para me acudir. A única coisa que conseguia dizer era "a cozinha, na cozinha". Enquanto uma das vizinhas ficava comigo do lado de fora, entraram na casa e encontraram ela deitada na cozinha, ligaram para a ambulância que chegou rapidamente.

Fui ao hospital acompanhado pela vizinha, eu não queria ficar em casa. Ligaram para o meu pai que logo veio me encontrar no hospital. Ficamos os dois lá sem dizer nada um para o outro, apenas esperando a noticia, a fatídica noticia. Ela morreu. Segundo o laudo medico, ela teve uma queda de pressão e desmaiou, porém ela bateu com a cabeça na quina da mesa da cozinha, por não ter ninguém que pudesse socorre-lá na hora ela perdeu muito sangue. Uma tragédia.

Aquela lembrança ainda me atormentava muito. Coloquei o retrato no lugar, reparei  que já estava chorando. Me retirei do quarto rapidamente, mas antes de sair vi que na cabeceira de cama havia um porta retrato. Parei por um instante para vê-lo melhor, era do casamento do meu pai com Misaki, ele não estava tão sorridente como na foto do seu casamento com minha mãe, mas mesmo assim parecia feliz, Misaki é quem estava sorrindo abertamente. Sai de vez do quarto.

Já dentro do meu próprio quarto deitei-me na cama e fitei fixamente o teto por um longo tempo. Foi então que me lembrei da bela senhorita da floricultura. Isso foi a tanto tempo, ela nem deve lembrar de mim, mas ainda assim eu gostaria de encontrar-la novamente. Pensei em minha mãe, já que estava de volta acho que deveria ir no cemitério, só havia ido lá uma vez, no seu enterro, nada mais justo que visita-la.

Continuei lá deitado apenas fitando o teto por um bom tempo, não sei ao certo quanto. Pensamentos iam e voltavam, mas nenhum se fixava realmente. Devo ter cochilado, sei lá, só sei que quando me dei conta já havia anoitecido. Como o tempo passou tão rapido?

- Yuu? Ta acordado? – Alguém me chamou da porta.

- Pai?

Reconheci a figura assim que a vi, era ele sim, estava parado na porta do quarto sorrindo de leve. Vestido de terno e gravata como era de costume, já que seu trabalho exigia isso. Me sentei na cama e olhei para ele, meu pai acendeu a luz e entro no quarto, sentou-se na cadeira da escrivaninha de frente pra mim. Estava com saudades dele, mas ainda não tinha coragem de abraça-lo assim tão espontaneamente. Sob a luz da lâmpada pude ver que seus cabelos de cor castanho escuro já começavam a ficar grisalhos, seus olhos castanhos pareciam brilhar por traz dos óculos, sua grande boca se abriu em um sorriso maior quando se aproximou.

- Fico feliz que tenha feito uma boa viagem, mas não pensei que iria chegar tão cedo. – Ele finalmente falou.

- Pois é, o trem se adiantou um pouco. – Tentei sorrir um pouco para tentar demonstrar a felicidade de ve-lo novamente.

- Que bom, não via a hora de você voltar. – Ainda sorrindo ele afagou minha cabeça bagunçando meus cabelos, acabei rindo também – Gostou dos novos moveis?

- Sim sim, são ótimos.

- Foi ideia da Misaki, ela mesma que escolheu, achou melhor trocar por moveis mais novos pra você ficar mais confortável. Deixei na mesma cor de antes, mas se quiser trocar fique a vontade.

- Não, tudo bem com essa cor, eu ainda gosto de azul. – Após tais palavras um silencio incomodo se instalou entre nós, ficamos alguns segundos assim, apenas olhando um pro outro. Resolvi quebra-lo. – Pai?

- Diga Yuu.

- Estou feliz por estar de volta. – Foi o máximo que consegui dizer para expressar o que sentia.

- Também estou feliz por você ter voltado. – Ele finalmente me abraçou, um abraço bem apertado, do jeito que eu lembrava. – E o que você achou da Misaki? – Perguntou com um grande sorriso na cara assim que me soltou.

- Desculpe, eu ainda não tenho uma opinião formada.

- Ah, tudo bem, eu vou esperar. Agora vamos descer que o jantar está pronto. – Me empurrando escada abaixo. Papai estava realmente feliz com a minha ida, ele não costumava a ser tão sorridente assim, a menos em ocasiões especiais.


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Notas finais do capítulo

Obrigada por ter lido, deixe-me saber o que achou.



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