Édipo escrita por LFrinhani


Capítulo 14
Indo




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Megumi logo parou de chorar e se afastou do meu abraço, parecia estar um pouco envergonhada, afinal ela nunca havia me contado sua história, muito menos chorado em minha presença. Hoje o dia estava sendo realmente atípico, pensar nisso me fez até esboçar um sorriso, mas não de felicidade.

– Desculpe Yuu. - Se desculpou Megumi olhando para a mancha que havia deixado em minha camisa.

– Não se preocupe, sinta-se a vontade sempre que precisar.

– Mas, você não vai estar aqui sempre que eu precisar. - Ela olhou tristemente, como se me acusasse de algo.

– Desculpe. - Foi o que pude dizer, ela não precisava me acusar, eu já me sentia culpado. Apenas desviei de seu olhar e abaixei a cabeça.

– Você não deveria abaixar a cabeça se considera certo o que está fazendo. - Disse Megumi colocando a mão debaixo do meu rosto me fazendo erguer a cabeça. - Siga em frente Yuu, por mais triste que seja. - Então ela sorriu, mesmo com os olhos vermelhos por ter chorado era um sorriso bonito e caloroso, como ela costumava dar. Isso me deu ânimo para progredir com a minha decisão.

– Sim, obrigado Megumi. - Sorri de volta com a mesma sensação que ela me passou, ela por sua vez apenas riu.

– Não há do que, eu estarei exatamente aqui sempre que precisar. - Era nítido o tom de ironia em sua fala, porém só fez com que nos dois ríssemos um pouco.

Quando percebemos já estávamos gargalhando, bem, não sabia ao certo o por que disso mas era realmente bom estar assim, ainda mais em relação ao dia que estava passando. De certa forma estar com Megumi me deixava mais leve, é como se eu pudesse esquecer um pouco dos meus problemas, é como se eu pudesse respirar livremente. Depois de alguns segundos rindo Megumi se virou e caminhou em direção ao corredor.

– Você pretende voltar pra casa que horas? - Perguntou Megumi de algum lugar lá dentro.

– Bem, na verdade estava pensando passar o dia aqui, não sei como vou ser recebido em casa. Você me deixa ficar? - Perguntei um pouco sem graça, ainda bem que ela não podia ver minha cara.

– Ah, já que pretende passar o dia aqui poderia pelo menos me ajudar com algumas coisas.

Ela não estava brincando, pude ver o sorriso diabólico em seus lábios quando retornou a sala e me passou um balde que estava em suas mãos, me arrependi ligeiramente. Foi um dia agradável, apesar do trabalho escravo que ela me fez fazer entre afazeres domésticos e trarefas escolares, tentamos evitar os assuntos pesados e ter conversas mais leves, com isso as horas se passaram rapidamente. O sol já estava caindo quando algo me tirou o fôlego.

Estava ajudando a arrumar a sala quando algo vibrou em meu bolso, meu celular, havia recebido uma mensagem. Foi como se meu corpo tivesse sido paralisado com o toque, levei alguns segundos para levar a mão ao bolso e pegar o celular, mesmo assim hesitei em ver quem a havia mandado. Respirei fundo e olhei, era da Misaki. Meu coração parou levemente de bater, o ar se extinguiu dos meus pulmões. O que poderia ser agora?

– O que foi Yuu? - Perguntou Megumi quando retornou a sala e viu minha expressão de espanto.

– Uma mensagem, da minha madrasta. - Respondi mostrando o celular para ela.

– E o que ela disse?

– Não sei, ainda não abri.

– Tá esperando o que?

Respirei fundo novamente e abri a mensagem. " Yuu, não contei nada ao seu pai, por favor volte pra casa." Como assim? Ela não contou pra ele? Por que? Isso está confuso demais, eu realmente não compreendo por que ela não contou o que aconteceu ao meu pai. Bem, pelo menos agora nem tudo estava perdido, mas mesmo assim eu ainda não podia ficar.

– Então, o que diz? - questionou Megumi aflita ainda me encarando.

– Ela não disse nada. Digo, ela não contou ao meu pai sobre o beijo.

– Ah, isso é bom! Isso é muito bom Yuu! - comentou a menina alegremente e visivelmente aliviada.

– Não sei Megumi, acho isso um pouco estranho. Por que ela não contaria? - Estava realmente intrigado com isso.

– É, agora que você falou parece mesmo estranho. Ela teria algum motivo para fazer isso? - Ela perguntou chegando mais perto e tirando o celular de minha mão para ver melhor a mensagem.

– Bem, acho que há sim um motivo. - Depois que o choque havia passado eu comecei a pensar melhor. - A Misaki é estéril e nunca havia se casado por não encontrar um homem que a aceitasse, acho que ela não iria abrir mão do seu casamento por isso, afinal meu pai foi o único que a aceitou assim e ainda se casou com ela, ela não jogaria isso fora. Sem contar que, parece que eles realmente se amam.

– É, faz sentido. – Disse Megumi me passando o celular. – E o que você vai fazer agora? – Perguntou me encarando diretamente.

– Ah, eu não sei, mesmo que ela não tenha contado nada acho que ainda terei que ir embora, não tem mais como convivermos na mesma casa. – Levei as mãos a cabeça e comecei a andar em círculos.

– Por hora acho melhor você ir pra casa. – Afirmou a menina ainda parada no mesmo lugar, mas ela estava olhando pela janela de cômodo, a noite já estava aparecendo.

Ela tinha razão, eu tinha que voltar e encarar isso de cabeça erguida, afinal não dava mais pra fugir, o mau feito já havia sido feito. Porem pensar em voltar pra casa me dava um pouco de receio, na verdade estava com medo, com muito medo. Meu maior medo era de ver meu pai, não sei a reação que teria, mesmo que ela não tenha contado eu ainda podia estragar tudo.

Megumi foi comigo até a calçada, os dois em silencio, era como se houvesse criado uma leve tensão entre nós, já fora da casa me virei para me despedir de Megumi e avisar que mandaria notícias, mas por isso eu não esperava. Megumi estava chorando, as lagrimas escorriam lentamente por seus olhos e molhavam seu óculos, ela me olhava estática, estava ligeiramente pálida.

– Megumi o que foi? – Me aproximei dela e a segurei pelos ombros.

– Ãh? – Ela levou as mãos ao rosto e tocou o rastro que as lagrimas haviam deixado, como se não tivesse percebido que estava chorando. - Não sei Yuu, ver você indo fez eu me sentir tão solitária, como se um buraco tivesse sido aberto em meu peito. – Ela colocou as mãos sobre o coração e mais lagrimas caíram de seus olhos. – Desculpe.

– Você não precisa se desculpar por isso. – Retirei seus óculos e olhei fundo em seus olhos, incrível como nunca havia reparado antes nos seus olhos infinitamente azuis. – Eu posso estar longe, mas nunca vou deixa-la sozinha. – A abracei forte porém rapidamente. – Eu tenho que ir, mas eu vou mandar noticias. – Disse já me afastando sentindo uma leve dor no coração, a noite já estava posta. – Ah! – Antes que eu fosse de fato tinha mais algo a dizer. – Você deveria usar lentes, seus olhos são muito bonitos.

Megumi apenas sorriu e se afastou, então eu apenas me virei segui meu caminho em direção de casa, fui andando lentamente como se a cada passo que dava tentasse reunir um pouco de coragem para entrar em casa novamente.


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