Vidas Em Guerra escrita por A Granger


Capítulo 3
O Primeiro Amigo, de forma inesperada


Notas iniciais do capítulo

Olha eu aqui de novo. Sexta-feira e cap novo =]
Bom, eu pensei em pular a infancia da Sarah e colocar como flashback's mas tentei fazer um cap assim e não deu muito certo então vou continuar usando os cap do jeito que estão. Bom é isso, até semana que vem =]



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–-Você está bem? – ela perguntou.

–-Acho que depois de um soco e um chute, até que já estive pior – ele respondeu sorrindo, ela devolveu o sorriso num tom divertido, mas ficou séria logo depois – O que foi? – ele perguntou vendo a mudança.

–-Me desculpa – suspiro – por aquele dia. Eu tava irritada, não devia ter brigado com você.

–-Eu também tenho que pedir desculpas; não foi como se eu não tivesse sido avisado, não é? – e foi o primeiro sorriso de verdade que ele a viu dar.

–-Ainda não sei seu nome; e porque não aproveita e me conta também o porquê deles estarem te batendo?

Os dois acabaram sentados e encostados à parede, ao lado da porta dos estábulos. E, bem, se a festa dos adultos estava animada, a conversa dos dois também ficou. Ali, sentados no chão, a luz das fogueiras e ao som da musica e dos risos, John e Sarah contaram um ao outro tudo o que poderia haver sobre duas vidas tão curtas. Notaram também pequenas coisas que não puderam perceber no primeiro encontro. Ele tinha a pele um tom mais escura que o branco da dela; ela tinha marcas e manchas no vestido comprido e azul claro que pareciam ter sido feitas ao caminhar na floresta. Mas não foi só isso. Ele sempre ajudava o pai e o irmão na plantação; ela tinha que ajudar a mãe com os serviços da casa; ele não gostava de que o pai o fizesse concertar as ferramentas, ela não suportava ficar presa dentro de casa; ele adorava sentar a sombra de uma arvore e olhar a paisagem, ela de subir em arvores e ficar olhando as nuvens; ele amava nadar, ela correr; ele de pescar, ela de achar um bom lugar para um cochilo; ele amava o cheiro de terra molhada e o som de água correndo, ela do som do vento balançando as folhas e do cheio que a chuva deixava na madeira molhada dentro de uma floresta.


E assim, quando o sono chegou, eles deitaram no chão de costas um para o outro e dormiram. Foi ali que seus pais os encontraram quando a festa acabou e o dia começou a clarear. Talvez tenha sido o inicio da amizade entre as duas famílias, talvez serem os únicos com casas depois da vila pela estrada também tenha ajudado. O fato é: Hawkey’s e Snown’s passaram a ter um vinculo enorme; quanto aos dois pequenos, pode-se dizer que eles nunca mais ficaram sozinhos depois dessa noite.

–-Não vai poder fugir deles para sempre, John – ela disse com um olhar reprovador.

–-Ainda posso tentar; ao menos isso eu posso fazer, Sarah. Ou você realmente espera que eu os enfrente? – ele respondeu meio triste.

Era quase final de tarde; eles vinham voltando da vila depois de levar uma encomenda da mãe de John. Na saída da vila tinham visto Bris e seu grupo e John fez com que saíssem da estrada e dessem a volta pela mata para se esconderem deles. Os últimos dois anos tinham sido uma melhora pra ele, tendo Sarah por perto. Mas o pequeno não gostava que ela o defendesse, nem que ela criasse confusão por causa dele. E depois, Bris havia crescido bastante e até ela vinha tendo dificuldades em lidar com isso. Depois daquela noite, na festa do inicio da colheita, o grupo passou a tê-la como alvo faz brincadeiras também, o que o deixava incomodado, apesar dela dizer que isso teria acontecido de todo jeito.

Sarah não era como as outras meninas. Não se importava de se sujar e odiava as saias e os vestidos que a mãe a obrigava a usar (razão pela qual tinha sempre uma calça por baixo, que ela dobrava para que não aparecesse sob a barra das saias). Ficar brincando com bonecas também não lhe agradava. Na maioria das vezes ela acabava embrenhada na floresta subindo em alguma arvore depois de trocar as saias pelas calças. Isso e o fato de não respeitar ninguém acabaria por fazer Bris e os outros a importunarem; assim ela tinha ficado até contente por isso ter começado por causa de John. Tê-lo por perto era divertido e ela nunca ficava entediada.

Os dois passaram a dividir tudo, experiências e conhecimentos. Com ele ela tinha aprendido a pescar; andar pela floresta; reconhecer frutas comestíveis e lugares perigosos. Com ela ele aprendeu a correr sem tropeçar; subir até os galhos mais altos sem ter medo de não conseguir descer; e a ler e escrever, o que muito poucos sabiam, e ela tinha aprendido com a mãe. Os dois eram inseparáveis, mas viviam naquele dilema de enfrentar ou não os outros garotos.

–-É o que deveria fazer – ela falava um pouco triste, não pela resposta dele, mas sim pelo amigo que não merecia passar por aquela situação.

–-Não fica assim, Sarah. Eu vou pensar em alguma coisa – ele tentou anima-la.

–-Não! Não vai não!! – ela suspirou – Nós dois sabemos que não vai. John, você deveria pedir ao seu irmão que te ensinasse a brigar. Conta pra ele o que estão te fazendo, pede pra ele te ensinar e ...

–-Não!! – ele a interrompeu – Sarah, você sabe como o Josh é – foi a vez dele suspirar – desculpa, não devia ter gritado.

–-Sei, mas devia às vezes – agora ela estava séria – Se você aprendesse a se impor mais talvez o Bris parasse de te incomodar tanto.

O sorriso que apareceu nos lábios dele depois de ouvir isso não teve nem um pingo de diversão.

–-Você sabe que não seria assim.

O silêncio entre os eles durou alguns metros de caminhada, até ele ver um brilho um tanto conhecido nos olhos cinzas da amiga. “Algo me diz que não vou gostar da ideia que eu sei que ela esta tendo” foi o que ele pensou antes dela apressar um pouco o passo e parar na frente dele com uma expressão divertida.

–-Tive uma ideia! – ela disse animada e sorrindo, um sorriso que o deixou com medo.

–-Da ultima vez que te vi com esse sorriso, se é que você se lembra, eu acabei com um tornozelo inchado e com folhas de arbusto até dentro da camisa.

–-Tá, tá. Não vou te fazer pular de outro galho. – ela disse enquanto revirava os olhos – Posso contar minha ideia? Ou você não vai querer nem me ouvir?

–-Se eu disser que não quero ouvir você vai ficar emburrada até chegarmos. Então pode dizer.

–-Vamos treinar luta, nos dois junto – disse ela toda contente.

–-Pra que? – ele arregalou os olhos – Você vai me deixar cheio de hematomas com essa brincadeira.

–-Deixa de ser chato, John. Se fizermos isso nos dois ficaremos mais fortes.

–-Sabe, isso não é o tipo de coisa que meninas dizem – disse John tentando esconder um sorriso.

Logo depois eles estavam correndo um do outro. John ia à frente tentando não tropeçar enquanto gargalhava. Sarah vinha atrás gritando para ele parar ser homem e enfrenta-la; enquanto alternava entre chama-lo e idiota e gritar de raiva. Ainda assim ela ia pensando que nos últimos dois anos ele tinha ficado mais rápido.


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