Eskalith escrita por haru


Capítulo 2
Nostalgia barata


Notas iniciais do capítulo

Mais um cap. tentando manter o mesmo ritmo do primeiro :c
Eu meio que acabei sentindo um tremendo sono de repente, enquanto digitava a ultima parte, espero que não tenha palavras erradas TT__TT se tiver, me desculpe D:
Bem, espero que gostem ^-^
Como eu já disse é uma história lenta, e ainda estamos nos primeiros cap, então é um pouco mais descritivo, para que você possa "conhecer" o personagem, antes de tudo realmente começar a se desenvolver. (pelo menos é o que eu acho que estou fazendo!)



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Os dias pareciam se passar mais lentamente do que o normal. As aulas pareciam nunca ter fim, e a noite sempre era assustadoramente longa. Eu passava a maior parte do meu tempo tentando me concentrar nas matérias novas que eu tinha, mas era em vão.

Acho que era minha personalidade teimosa quem não me deixava fazer aquilo que eu DEVERIA fazer, ao invés do que eu DESEJAVA fazer. Constantemente, meus olhos estavam voltados para as janelas, a procura de uma figura familiar. Eu o via muitas vezes, principalmente em minhas aulas de Física Experimental, onde se podia ver o pátio pela janela.

"Aquele cara não assiste nenhuma aula, por acaso?" eu me perguntava, sempre que ele surgia arrastando sua bolsa e se sentando num banco qualquer. O pátio estava vazio, quase sempre, e ele aproveitava para fumar. Eu era privilegiado com uma visão boa o bastante para observar cada detalhe de seus movimentos (e a sala não era tão distante do pátio, diga-se de passagem). Como ele olhava para os lados, conferindo que ninguém estava por perto. Como ele se distraia de repente, com qualquer coisa, desde um pássaro voando a metros e metros de distância, até o barulho de algum automóvel distante. Como ele puxava o maço de seu bolso, e levava o cigarro a boca. Cada tragada que ele dava. A fumaça evaporando no ar. Eu odiava fumantes.

No refeitório, eu me pegava procurando por ele. Olhando para cada rosto dos ali presentes, mas ele raramente frequentava aquele lugar. Algum tempo depois eu descobri que ele se encontrava na biblioteca a essas horas.

O silêncio daquele prédio sempre foi perturbador para mim. Era desconfortável. Um lugar enorme e simplesmente sem vida. As prateleiras pareciam muros em um labirinto, tampando toda sua visão, fazendo você se perder em um piscar de olhos. Cada ruido, parecia uma espécie de explosão. O meu pavor por chamar a atenção de qualquer alma que pudesse estar vagando por lá me fazia andar na ponta dos pés, e era difícil acompanhar os passos do calouro, que andava ligeiro, porém silencioso, como se seu peso fosse como o de uma folha de papel.

Ele vasculhava várias e várias prateleiras. Parecia ler cada titulo com atenção, e chegava a passar a mão em alguns, como se os tivesse admirando. Como se tudo aquilo possuísse uma espécie de encanto para ele. Eu procurava ler cada titulo que ele lia, na esperança de que algo pudesse me dar uma pista, eu creio. Como se eu pudesse encontrar alguma palavra chave, para descreve-lo, para desvenda-lo. Mas tudo parecia sem sentido, é claro.
Ao menos, em minhas perseguições por ele pela biblioteca, eu pude descobrir o seu gosto por livros de romance e mistério. Alguns dramas psicológicos e livros de filosofia e psicologia.



No quinto dia de aula, daquele ano, fui surpreendido em minha classe de Língua Portuguesa. Eu estava sentado no canto da sala, observando o vento bater nas folhas das arvores, como eu costumava fazer em meio ao tédio, quando o rapaz puxou uma cadeira logo a minha frente.

Seus cabelos espetados estavam agora tão próximos a mim, que eu podia sentir o perfume de seu shampoo.

– Fones não são permitidos em sala de aula, calouro - falei.

Ele se virou lentamente para mim, pela primeira vez. Ele nunca imaginaria que nos últimos 4 dias eu o estive observando, e até mesmo o perseguindo. Ele nunca havia notado minha presença ou ao menos olhando em minha direção. Agora, seus olhos azuis olhavam diretamente para os meus amarelos âmbar. Eu podia ver seus traços faciais harmoniosos, seus cílios grandes e sua boca rosada e fina, como ela abria e fechava para que as palavras pudessem sair.

– Eu não dou a mínima.

Suas palavras vieram diretamente para mim, e foi como se elas chegassem uma por vez, lentamente, sussurradas em meu ouvido.

Quando toda a mensagem foi processada por mim, ele já havia se virado e voltado a sua posição anterior.

Eu não tinha ideia do que estava por vir. Para mim, o que eu estava sentindo por ele era apenas um interesse trivial, sem sentido, uma curiosidade passageira. Eu não tinha ideia do que estava brotando dentro de mim, mesmo assim, eu insistia em cultivar aquilo, me tornando cada vez mais intrigado, curioso..

E foi naquele dia que eu descobri seu nome.

Suzuno Fuusuke.


– O que você tem, Haruya? - perguntou Shigeto, enquanto caminhavamos para o ponto de ônibus ao fim daquela tarde. Tudo parecia o de sempre. Até mesmo os tênis encardidos e velhos de Shigeto eram os mesmos. A mesma direção, a mesma pressa.

– Nada, porque a pergunta?

– Você anda muito quieto ultimamente.

– Não é nada demais.

– Eu soube que você perdeu o emprego, porque não me contou?

– Hiroto te disse?

– Sim..

– Eu não queria preocupar você com isso. Eu arrumo outro, como eu sempre faço, ok?

Eu olhei de relance para o mesmo local em que Suzuno havia sido encurralado a alguns dias. Era apenas uma parede normal, com vários cartazes de propaganda e rabiscos. Não havia nenhum daqueles caras, nem os repugnantes marginais nem o estudante com seu canivete. Era só o muro que sempre fora, o mesmo pelo qual eu passei em frente nos últimos anos para ir a escola, e mais tarde a universidade. O mesmo que eu passava para ir a alguns empregos que eu conseguia por aqui. Nada de especial, apenas o de sempre.

Suspirei, em nome da nostalgia que comecei a sentir. As mesmas lojas, fechadas, abandonadas. As mesmas pessoas, indo ou vindo de seu trabalho, as mesmas cores, o mesmo odor. O mesmo ponto. Quase todas as mesmas pessoas em um mesmo ônibus. Eu estava tão cansado de tudo isso, que a vontade de sair gritando na rua crescia a cada minuto que eu tinha que aturar de minha vida. O desejo de sumir para o mundo, para bem longe, onde eu fosse incapaz de voltar para esse lugar mesmo que quisesse.

Me sentei no mesmo banco que eu sentara todos os dias. A mesma janela. Shigeto adormeceu na metade do caminho, e encostou a cabeça em meu ombro. O cheiro de seu cabelo não era nenhum pouco semelhante ao de Suzuno Fuusuke, e provavelmente não possuíam a mesma maciez. O ônibus fazia tanto barulho que eu nunca fui capaz de dormir nele, não importando o quão cansado eu estava. Eu sentia como se cada viga, cada pequeno pedaço de metal do qual ele era constituído, fosse se soltar a qualquer momento.

Observei as pessoas pela janela como eu sempre fiz, a procura de um rosto novo. Novamente, quase todas eram familiares. Eu já estava desistindo quando vi um vulto de um cabelo branco dobrando uma esquina, antes que o ônibus passasse por ele.

Eu tentei enxerga-lo quando passei em frente a onde ele havia se enfiado. O transporte pareceu ter acelerado apenas para que eu não pudesse vê-lo direito, como se tentasse me provocar com o sentimento de incerteza que tomou conta de mim o resto da viagem.

"Sera que era ele mesmo?" Eu me perguntava, a cada cinco minutos. "Se era, porque ele não pega o ônibus além de andar?", "Ele não gosta de transportes públicos e barulhentos, é isso?". Quanto mais eu perguntava a mim mesmo, mas a necessidade de responder cada uma delas aumentava dentro de mim. Eu realmente senti como se pudesse saltar o ônibus e ir atrás daqueles cabelos brancos, mas simplesmente não me movi.

O desejo de chegar logo em casa, de subir as escadas até meu apartamento e me debater com uma porta de madeira com o trinco quebrado. O mesmo cheiro de mofo e cor desgastada. Isso mantinha meu traseiro no acento do ônibus.


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Notas finais do capítulo

Criticas são mais do que bem vindas :c



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