Delena Short Stories escrita por Nancy Watson


Capítulo 1
Never Let Me Go


Notas iniciais do capítulo

Apenas um pequeno conto que me veio na cabeça enquanto eu ouvia a música. Acho que não está lá essas coisas, mas eu sou impulsiva demais pra ficar revisando e não postar logo.
Espero que gostem, boa leitura!



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Música.

Olhei para a bela paisagem sentindo um certo conforto. O céu tinha tons laranja que se fundiam com o azul marinho, meio roxo, que dava um ar melancólico. Na verdade, eu é que estava melancólica, não era á toa que estava prestes a fazer o que iria fazer. 
Mas então voltei meus olhos para o mar, e o conforto cresceu dentro de mim. A imensidão estava num tom muito bonito e escuro de azul, devido a noite que se aproximava. O som das ondas fazia a trilha sonora daquele meu momento de despedida.

Era triste, sim. Mas era também libertador. Eu sentia um tipo estranho de liberdade porque minha vida estava realmente em minhas mãos.

Não demorou muito para a praia ficar completamente vazia e a lua enfeitar o céu negro. As estrelas eram como cada erro que eu havia cometido em minha vida: brilhantes, atrativos, bons de se ver de longe, como espectadora.

Sempre vivi aos trancos e barrancos. Muitas perdas, muita lamentação, muitos relacionamentos fracassados, muitas festas, muitas bebedeiras, muita diversão, muitos amigos. Mas muito pouco amor. Muita solidão.

Eu já havia feito quase tudo que um ser humano pudesse almejar, não tinha nada que me atraísse mais, que me fizesse querer seguir em frente. Minha vida não tinha propósito.

Eu era só mais uma mulher sem rumo, sem família, sem nada significativo. Só mais uma pessoa incapaz de mudar a própria vida.

Eu estava de mãos atadas, não tinha outra saída.

Dei um longo suspiro antes de tirar meu grosso casaco. O tecido fino do meu vestido branco não me protegia do vento frio, o que me fez estremecer. Me permiti apreciar o momento. Os pelos eriçaram-se como quando se recebe um beijo no pescoço. Foi uma sensação gostosa, e eu sorri.

Dei um passo á frente, e foi nesse momento que minha fragilidade se manifestou e lágrimas grossas passaram a escorrer por minhas bochechas. Os momentos mais obscuros de minha trajetória vieram á minha mente como uma bomba que explode sem aviso prévio. E então eu estava em soluços. A dor cortante de cada sentimento miserável me atingiu, atravessando minhas entranhas como uma faca envenenada com arrependimento e culpa.

Com a visão embaçada, eu fixei meu olhar na água, e em direção á ela eu fui.

Decidi acabar com dor desta maneira porque sabia que seria pacífica, indolor e isso tornou meus passos firmes, pois não havia nada a temer.

Senti meus pés molhados, e continuei, ansiando pelo fim.

Quando as ondas já batiam em meu rosto, eu mergulhei.

A paz me inundou, preencheu o vazio dentro do meu peito, e eu sorri. O primeiro sorriso verdadeiro que dava em anos.

Relaxei meu corpo deixei que os braços do infinito me carregassem. Ao abrir os olhos, me concentrei na luz da lua, que era muito mais intrigante vista daquele modo.

Meu coração estava aquecido, e aquela sensação me fez querer chorar.

Me lembrei de quando havia dito para mim mesma que era hora de desistir, mas aquilo não era desistir; eu estava apenas libertando-me, entregando-me. E eu nunca havia me sentido daquela forma. Era inexplicável. Era minha última experiência. Minha redenção.

Faziam segundos que eu havia sucumbido, mas pareciam horas. Minha mente estava desovando ali todas as lembranças daquela vida pacata e sem sentido.

Minha alma estava leve.

Eu estava pronta para libertá-la inteiramente e deixar que a água me consumisse por completo, e foi nesse instante que uma força desconhecida me puxou para a superfície.

A primeira imagem que captei foram duas íris azuis iluminadas pelo luar. Pareciam dois pedaços do oceano, onde navegava um brilho intenso e hipnotizante.

– Você está bem? Meu Deus! Você tem noção do que acabou de fazer? – Uma voz grossa e carregada de preocupação disse enquanto mãos grandes seguravam meu rosto.

– Eu só queria ser feliz. – Eu confessei num suspiro pesado e cheio de agonia.

– Você não pode ser feliz morta. – Ele disse docemente, e acariciou minha bochecha, transmitindo um calor indescritível.

Eu não deveria estar ali, em seus braços, eu deveria estar no fundo do mar, dormindo eternamente.

– Me deixe ir. – Supliquei, e senti que estava chorando, novamente.

– Nunca a deixarei ir. – Ele disse determinado, me fazendo olhá-lo nos olhos. Estávamos tão perto um do outro que eu mergulhei de novo, mas desta vez na imensidão cravada em seu belo rosto.

E ali, no mar, á noite, depois de tentar cometer suicídio, envolta por um estranho, encarando as íris dele, fui abatida por algo que jamais pensei que iria sentir. Uma luz clareou minha mente.

Esperança.


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