Acordei com uma mão quente me balançando, uma voz grave e parecendo estar longe, chamando o meu nome, abri meu olhos lentamente e vi que era o Vitor, ele dizia: "O QUE VOCÊ FEZ?" era algo do tipo, senti uma ardência e uma dor em meu pulso, como nunca havia sentido. Vitor me pegou no colo e me deitou na cama, pegou um pano e enrolou em meu braço, eu lhe disse com a voz tremula:

– Não conte a minha mãe.

Eu adormeci novamente, acordei creio eu que poucos minutos depois, vi Vitor na beira da cama, com as mãos na cabeça, me movi devagar e Vitor olhou diretamente para mim, ele estava assustado, com um rosto de quem havia chorado, ele se aproximou de mim e me abraçou, sussurrou algo em meu ouvido, eu não consegui entender direito. Eu me sentei enquanto esperava ele trazer um copo de água para mim, vi que o quarto estava limpo, não havia um pingo de sangue, os lençois estavam trocados e fiquei pensando se foi ele que fez tudo aquilo, ele voltou com a água, e enquanto eu a bebia, ele me bombardeou de perguntas:

– Porque você fez isso? Você queria se matar? Como você fez isso?

– Depois a gente conversa, ok? – Disse eu com a voz fraca.–

Ele balançou a cabeça fazendo sinal que sim. Não havia me tocado, mas tinha perdido um dia de aula, eu continuei deitada na cama, só estava em casa eu e o Vitor, meus pais tinham ido trabalhar e a mãe dele tinha ido comprar alguns moveis. Ouvi alguém me chamar, Vitor desceu rapidamente para ver quem era, parecia ser a voz do Fabio, eles devem ter conversado, não sei direito, mas quem é que seja que tenha ido lá, foi embora, eu perguntei quem era e Vitor não me respondeu. Ele deitou do meu lado e aconchegou seu corpo com o meu, pudi sentir seu coração bater e por incrível que pareça aquilo me deixou tão feliz, eu esqueci de tudo, da dor, dos cortes, da magoar, simples de tudo, e fui feliz aqueles poucos segundos. Vitor ficou passando os dedos em meu cabelo, me deu beijos no rosto e no pescoço, as vezes me apertava contra o corpo dele. E eu passei assim o final daquela tarde, sendo feliz.