Rika parou em frente à mesa.

- Professor Terada...

- Hum ? – perguntou, se levantando.

- Eu queria conversar com você. Mas tem que ser na biblioteca.

- Tudo bem então, vamos para a biblioteca.

Os dois caminharam juntos até lá. Se sentaram em uma mesa. Ironicamente, a mesma mesa onde Rika presenteou o professor com um ursinho, três anos antes.

- Sobre o que você quer falar comigo, Rika ?

Rika encarava a mesa e esfregava os joelhos por baixo da mesa. Aquele seria provavelmente o momento mais complicado da sua vida. Mas decidiu ser direta.

- Eu... só queria dizer que... – levantou o rosto – Eu amo você professor!

Rika havia falado isso mais alto do que pensava. Terada se surpreendeu um pouco com a declaração. Suas suspeitas haviam se conformado, ela realmente gostava dele. Mas não podia deixar de agir com maturidade naquela situação.

- Me ama ? Mas Rika, eu sou o seu professor.

- Não faz diferença pra mim. – disse ela, encarando-o nos olhos. Não iria mais desviar seu olhar.

- Você não acha que eu sou muito mais velho do que você ?

- Eu não acredito que a idade faça diferença para as pessoas que se amam.

- Não seria mais fácil você gostar de alguém da sua idade ? Da sua classe ?

- Não. Eles são bons amigos, mas eu não quero passar o resto da minha vida com eles, eu quero passar o resto da minha vida com você! – uma lágrima escorreu de um olho dela.

- Rika, não chore, por favor. Eu não quero que pense que eu não ligo pra você, mas você não acha que a nossa diferença de idade, ou o fato de eu ser o seu professor, nos traria dificuldades ?

- Pessoas que se amam podem superar qualquer coisa. Se o senhor não me ama, é só dizer.

Terada ficou internamente desconfortável por ter sido chamado de “senhor”.

- Não Rika, não foi isso que eu disse.

- Mas pensou, não foi ?! Eu não sou mais criança, sou madura o suficiente pra aceitar a verdade, eu só não aguentava mais guardar os meus sentimentos só pra mim! Eu tinha que dizer a verdade, que eu sou apaixonada por você desde a 4ª série, que o motivo de eu me matar de estudar para essa matéria complicada é pra deixar você impressionado, e que é horrível que a pessoa que eu ame não possa me corresponder!

- Rika, eu... você não entendeu...

- Entendi sim. Não precisa falar que é porque você é mais velho, ou porque você é professor e eu aluna, ou que a sociedade nos estranharia só porque os outros não sabem cuidar da própria vida e tem que ficar cuidando da dos outros! Eu só queria saber se você também me ama, e agora já tenho a resposta.

Terada não conseguiu falar nada. Apenas ficou parado, refletindo sobre cada palavra que ela havia dito. Rika continuava com a voz firme, apesar do olhar choroso.

- Não fique com peso na consciência, eu entendo. Você não é obrigado a me amar, eu só queria desabafar. – Rika começou a levantar. – Bom, até a formatura, professor. – disse ela, com uma lágrima escorrendo de cada olho.

Rika pegou sua mochila e parecia ter pressa de sair de lá. Dando dois passos rápidos. Mas o professor foi mais rápido.

-Rika, espere! – disse pegando-a pelo braço e impedindo que ela continuasse a andar.

Rika se virou, ia mandar ele soltá-la. Mas antes que pudesse reagir, o rapaz a abraçou com força. Rika ficou sem reação. Várias vezes se imaginou envolvida nos braços dele, e a sensação era melhor do que ela imaginava, corou diante da súbita ação dele.

- Rika, eu também amo muito você. Não me deu tempo para explicar isso. Há meses eu não te vejo apenas como uma aluna entre muitas outras, há meses eu sinto vontade de dizer o que eu sinto, mas achei que eu pudesse estar enganado. – desfez o abraço e a olhou nos olhos.

- Mas... há um minuto atrás você disse outra coisa.

- Não importa o que eu disse antes, o que importa é o que estou dizendo agora! Eu estava inseguro, com medo do que poderia acontecer, ou que você não tivesse maturidade suficiente. Mas depois do que você disse eu vi que quem estava sendo imaturo era eu, que estava com medo de encarar a verdade. Você é tão madura quanto eu.

- Então, você não me vê mais como criança ?

- Não Rika, é claro que não.  E eu daria de tudo para ficar com você. Mas por enquanto apenas é impossível assumirmos um relacionamento porque ainda somos professor e aluna apesar de tudo.

- Mas você não dá aula para o colegial.

- Eu acabo de tomar uma decisão: vou aceitar uma proposta que a diretora me fez e vou dar aulas para o ensino médio. Assim pelo menos eu ainda vou poder ficar perto de você. Mas nós vamos ter que esperar um tempo até podermos assumir um relacionamento.

Rika sorriu.

- Eu entendo. Eu posso esperar sim. Desde que você também esteja disposto.

- Sim, Rika. Eu vou esperar o tempo que for necessário. Até lá, ainda podemos ter alguns encontros em segredo, talvez nessa mesma biblioteca, ou em algum lugar onde nenhum conhecido nos encontre. Eu juro que vou esperar o tempo que for necessário até nós não precisarmos mais esconder do mundo que nós nos amamos.

- Promete ? – perguntou ela, estendendo um dedo mindinho.

- Prometo. – respondeu ele, entrelaçando o seu mindinho com o dela.

- Tudo bem. Então, já está decidido. –Rika fazia o possível para não deixar as lágrimas de felicidade escorrerem por seus olhos úmidos. – Nos vemos na formatura ? E no ano que vem também ?

- Sim. Na formatura, e no ano que vem.

- Certo. Então eu vou indo. – disse ela sorrindo.

- Te vejo na formatura, meu amor.

“Meu amor”, Rika mal conseguia acreditar no que ouvia, seu coração estava acelerado e ela deu um grande sorriso. Chegou a se virar e dar um passo, mas se voltou de novo para ele.

- Antes de ir, eu queria pedir um favor.

- Claro, o que quiser.

- Bem... – Rika olhou para baixo e corou. – Você pode me dar um beijo ? É tudo que eu quero. Depois eu juro que não vou pedir outro até eu sair do colegial. – levantou o rosto. – Pode me dar apenas um ?

O professor sorriu, ele nem precisava responder. Se aproximou dela, passou uma mão em seu cabelo e em seguida pousou suas mãos nas bochechas levemente rosadas dela. Os dois aproximaram seus rostos, sentindo as respirações se misturarem. Colaram seus lábios em um beijo longo, terno, apaixonado. O sonho de Rika havia se realizado, após tantos anos. Naquele momento, um se sentia parte do outro, e juntos, estavam completos. Sentiram o tempo parar apenas para apreciar aquela sensação, que só sentiriam de novo muito tempo depois. Mas naquele momento estavam juntos, e isso era só o que importava.