Não tinha nada a ser feito a respeito de Edward e nossa transa. Eu tentava me enganar, mas estava numa missão já falida. Eu me olhava no espelho. Calça social, blusa azul comportada e cabelos soltos. Não daria oportunidade para o azar com saias ou vestidos. Meus saltos deixavam o visual mais sexy do que eu queria, mas não poderia ser diferentes, sapatilhas não era opção naquele tempo quente. Respirei fundo, peguei minha bolsa ajeitando meus pertences e descendo as escadas com a confiança de quem tinha apenas acordado e estava indo tomar café com a família e não revendo a foda do dia anterior.

As conversas da mesa poderiam ser ouvidas do ultimo degrau. Deixei minha bolsa numa pequena mesa que tinha e fui caminhando ate a sala de jantar. Nessie estava de uniforme, estavam todos la, merda! Sentei do lado de Nessie.

- Bom dia meu amor.

- Bom dia tia! Tirei dez na prova de historia.

- Parabéns meu amor, acho que precisamos comemorar isso não?

- Tia me leva naquele lugar lindo que fomos a ultima vez que saímos? Eu adorei a paisagem...

- Claro, sábado eu vou com você o que acha? E podemos tomar sorvete na praia...

Nessie se empolgou e começou a dizer tudo que gostaria de fazer. Eu sentia os olhos de Edward em mim, eu poderia jurar que ele não os tirava de mim. Olhei de relance para Alice e ela sorria discretamente, ela sabia? Edward contou a ela alguma coisa?

- Não madrugaram na empresa hoje?

Esme perguntou curiosa.

- Não mãe hoje só tenho reuniões a tarde e avisei a Bella que poderíamos chegar mais tarde já que não tínhamos muita coisa a fazer. A semana está tranquila.

- Eu sei como está... – Emmett e sua boca dos infernos – Você está com uma cara ótima meu irmão.

Arregalei os olhos e encarei Edward. Ele tinha dito a família toda o que aconteceu no escritório ontem?

- Está mesmo Edward, parece que o mundo não está nos seus ombros mais.

Alice e sua observação. Ela disse cada palavra daquela frase me olhando, Esme e Carlisle estavam entretidos com alguma noticia no jornal e não percebiam as indiretas dos seus malditos filhos. Eu fiquei vermelha, não sabia se era de raiva ou de vergonha.

- Os negócios andam bem, conseguiremos lançar o produto na data eu tenho certeza Alice. – Edward disse olhando para ela e houve uma comunicação não verbal ali. Emmett sorria para os dois com uma cara divertida. Rose sorriu para mim, ela também sabia? Porra!

- Me diz Bella que horas chegou ontem... não a vi no jantar.

- Rose eu...precisei passar num lugar antes...

Edward levantou a sobrancelha. Ele queria saber onde eu fui?

- Chegou que horas Bella? – ele disse num tom sério.

- Não te interessa. – disse firme.

- Chegou que horas?

- Por que quer saber?

Emmett já estava às gargalhadas e Alice sorria sem ser nenhum um pouco discreta.

- Isabella não comece. Ficou andando sozinha pelas ruas até de madrugada?

- Edward meu pai morreu há alguns anos atrás e pelo que sei você não é nada meu. Estou fora do meu serviço e não pode e nem te dou liberdade para se meter na minha vida desse jeito.

Eu consegui chamar atenção de todos na mesa. Agora todos esperam uma reação de Edward, o apocalipse estava perto eu sabia, eu via os olhos cheios de raiva dele e quis pela primeira vez na vida sair correndo.

- Não me provoque Isabella com sua boca pertinente! Posso e vou me meter na sua vida não importa quantas respostas malcriadas e idiotas me dê. Eu estou na sua vida sim, eu não vou sair dela não importa o quanto você fuja.

Prendi a respiração. Estavam todos... todos em silêncio olhando para nós. O que eles estavam pensando? Meu coração acelerou e um ódio tomou conta de mim quando voltei a mim. Levantei da cadeira num pulo.

- NÃO ESTÁ! NÃO ESTÁ MESMO! VÁ A MERDA OU PROCURE ALGUMA MERDA PARA FAZER! DESENTERRE VITÓRIA EDWARD E ME DEIXE EM PAZ! EU PRECISO DE PAZ! NÃO PRECISO DISSO AGORA E NÃO PENSE QUE O QUE ACONTECEU ONTEM VAI MUDAR ALGUMA COISA PORQUE NÃO VAI! NÃO VAI! NÃO VOU DEIXAR!

Minha respiração estava descontrolada, eu suava e não era de calor, era de nervoso. Edward se levantou também em algum momento do meu discurso e foi então que percebi os olhos arregalados de todos. Porra eu e minha boca descontrolada.

- O que aconteceu ontem? – Emmett mostrava sua falta de conhecimento sobre os fatos e me deixou desconsertada.

- Cala boca Emmett! – Rose tentou falar isso baixo, não conseguiu, todos ouvimos perfeitamente e eu fiquei ainda mais vermelha.

- Vamos Isabella você já deu seu show, agora precisamos fazer isso em particular não acha?

- Eu... olha...

- Tenham um bom dia. Não nos esperem para o jantar.

- Tia o que aconteceu ontem?

E então Alice começou a rir o que eu achava que ela estava a um tempo se segurando para não fazer, mas Nessie não a deixou continuar.

- Querida os adultos são um pouco estranhos... – Carlisle dizia com suavidade e carinho. – sua tia teve alguns problemas ontem só isso.

- Não se preocupe meu amor. – disse dando um beijo na testa dela.

- Vamos Isabella.

Edward pegou no meu braço e como um ótimo homem das cavernas saiu me arrastando pela casa. Peguei minha bolsa num impulso e ele continuou me segurando firme até seu carro, destravou e abriu a porta para mim.

- Não vou entrar no seu carro.

- Vai sim!

- NÃO VOU.

- Tudo bem, vamos no seu?

- Vamos? Para onde?

- ENTRA NO CARRO ISABELLA! QUALQUER UM!

Entrei no dele mesmo. Edward logo se posicionou no volante e começou a dirigir, eu não conhecia o caminho, não era o usual para irmos a empresa. Ele pegou o seu celular em algum momento e ligou para alguém, desmarcou seus compromissos e disse que só voltava em dois dias. Dois dias? O que Edward estava fazendo? Respirei fundo e fechei meus olhos, eu iria enlouquecer... eu estava enlouquecendo... Edward era um ótimo precipício que eu não queria me jogar, eu não queria encarar. James por que o amor precisa ser algo tão complicado?

- Chegamos.

Não percebi que o tempo passou. Não percebi que estávamos em uma casa. Sim, havia um jardim e uma casa grande na nossa frente. Olhei para trás e vi grandes portões brancos. Quando tínhamos chegado aqui?

- Edward onde estamos?

- Minha casa.

- Você tem uma casa?

- Achou que morava com minha mãe?

- Eu moro porque não gosto de ficar sozinho. Mas tenho minha casa sim. Posso vir aqui e relaxar, me isolar um pouco.

- Você passou aquela semana... aquela que sumiu aqui?

Ele agora me olhava triste. Vitória.

- Estava com ela?

- Sim.

- Porra Edward você não percebe o quanto isso é fudido demais? O quanto isso e errado?

Eu estava com ciúmes dele. Vitória. Ele passou uma semana com ela.

- E então reviveram o grande amor do passado? – disse irônica olhando ele com raiva.

- Não, eu passei uma semana tentando convencer ela a se tratar, a largar o vício.

Merda. Ele agora tinha uma expressão sofrida e pesada. Seus olhos tinham lágrimas que não tinham caído ainda.

- Ela está cada dia pior. E toda vez que me olho no espelho eu me culpo. Me culpo por estar bem e ela não. Me culpo porque isso é culpa minha, os pais dela já declararam que está morta... muitos amigos deles nem imaginam que a filha perfeita rouba a casa deles para se drogar quando não tem nada. Ela estava aqui fotografando para uma campanha de lingerie eu fui tentar convencer ela a se tratar, a mudar... Só que nada... nada do que eu faço faz ela mudar de ideia ou de escolha. Ela sempre diz que está cansada e quer parar, mas é só Luka aparecer e ela correr para os braços do namorado viciado.

Meu Deus isso era terrível. Luka...namorado viciado... Edward era o ex-atormentado... isso poderia ficar pior?

- Edward ela precisa querer e lutar por isso como você fez. Não mudamos as pessoas, elas mudam quando querem e se quiserem.

- Eu sei... mas eu sofro Bella... sofro demais!

Não resisti a fragilidade daquele ser que eu gostava tanto e o abracei. Abracei Edward e queria que aquilo sanasse todas as suas dores e seus pesadelos. Suas escolhas erradas e a imagem de Vitória viciada e destruída. Abracei ele querendo que as lágrimas que escorriam levassem toda essa merda para fora dele.

- Vamos Edward... vamos entrar...

Naquele clima ainda pesado, entramos e Edward pegou as chaves da casa abrindo. Eu percebi como ele estava desorientado ainda e me perguntava como ele conseguia viver com aquilo dentro dele todos os dias. Como ele conseguia agir e se movimentar... não se entregar aquilo... Peguei na sua mão quando passamos pela porta. A casa era linda, deslumbrante. Decoração simples, mas aconchegante. Tinha quadros engraçados na parede, eram cubistas, eu poderia reconhecer aquele estilo em qualquer lugar. Tinha vasos vazios que precisavam de flores para alegrar o lugar, moveis escuros contrastando com todas as paredes e janelas brancas. O chão era de mármore, as escadas tinham um corrimão dourado que reluzia, a sala era grande e espaçosa, sofás grandes e vermelhos. Tapete e mais quadros, dessa vez Renascentista.

- Gostou? Eu quase não venho aqui.

- Deveria vir mais... é uma linda casa Edward... quem decorou?

- Eu escolhi cada parte dela. Foi algo com que me ocupei nos últimos anos, fazer dessa casa algo lindo e aconchegante. Um dia queria que minha família viesse aqui.

- Eles não vêm aqui por quê?

Edward sorriu torto.

- Minha mulher e meus filhos Bella. Eu sonho em um dia viver aqui com eles.

- Ah... – engoli seco. Isso foi uma indireta? Minha barriga parecia ter borboletas em vez de estômago. – Ela ... a casa... é perfeita para isso... um dia...

- Um dia Bella, não precisa ser hoje. – ele disse divertido.

Respirei fundo... eu não seria uma boa esposa... ai todos os santos, deuses e crenças eu precisava de algo forte para beber agora. Eu queria fugir daquela situação.

- Vamos comer algo? Deve ter algo na dispensa, duas vezes por semana uma pessoa vem aqui e arruma para mim, então eu sempre peço que ela abasteça com coisas que eu poderia guardar sem que estrague.

- Sim... isso seria bom... não tomei café.

Edward começou a se movimentar e eu o segui. A cozinha era grande e tinha de tudo um pouco. Muito limpa e arejada, tinha uma janela que dava para um pequeno jardim. Eu fiquei olhando o jardim imaginando brinquedos e uma criança correndo ali, sim... era uma boa casa para uma família. A árvore grande me dava a ideia de um balanço. Eu e James tínhamos um balanço na casa onde morávamos com nossos pais, na garagem montamos uma pequena quadra de basquete, James adorava basquete e futebol americano. Ouvi barulhos e vi Edward montando na bancada um pequeno café da manhã, a cafeteira estava ligada já e o cheiro estava muito bom.

- E agora vai me contar sobre você? Eu me abri. Agora é a sua vez.

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