Sob o Signo de Vênus escrita por Ray Shimizu


Capítulo 28
Astúcia de uma raposa




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Shirayuki fixou o olhar em Kurama, ainda não acreditava que o tempo todo ele estava ali ao seu lado e não havia notado. Afinal tudo nele era diferente, a aparência, o cheiro e a energia sinistra lembravam um pouco, porém não tinha o mesmo poder e nem intensidade. Mas porque tinha outra identidade? Para fugir do grande deus cão, mais conhecido como o tirano do makai de gelo. Ou para ser mais simples, o pai da doce Shirayuki.

− Kurama já vai começar com força total? – perguntou Kuwabara. – O cara aí não parece ser muito forte.

− É por isso que você sempre perde, ou toma um piau! – Yusuke respondeu, dando uma cotovelada no topetudo. – Não tem o menor sentido eles deixarem o mais fraco pro final.

− Olha só quem fala... Pra começo de conversa quem perdeu a luta aqui foi você! Eu ganhei, ouviu bem? – o ruivo retrucou indignado.

− Eu posso ter perdido essa, mas e as outras? Você sempre tomou um sarrafo de mim!

Hiei ignorava a discussão inútil dos amigos e observava o ringue com atenção, enquanto Megume permanecia adormecida, nem sinal de que iria acordar.

Após a luta ser iniciada nenhum dos dois abriu espaço para mais diálogo, já começaram a se movimentar, parecia uma batalha simples sem nada rebuscado. Porém, o detetive espiritual foi o primeiro a demonstrar suas habilidades ocultas.

Kurama sentiu a pele arder com o aumento súbito da temperatura.

− Então quer dizer que você controla o fogo...

Para o raposa que era especialista em plantas, não havia vantagem em seus métodos de combate, entretanto nem tudo estava perdido e ele sempre tinha uma carta escondida na manga. Yoshioka sabia daquele fato, aquele youkai não era alguém a ser subestimado. Com certeza do quarteto – dos demônios do Time Urameshi –, Kurama era o mais inteligente e sabia ser bem maldoso quando queria.

A arquibancada gritou em euforia quando Kurama desviou das labaredas que surgiam das rachaduras do ringue, ficando em constante movimento. A expressão do detetive era séria e enquanto atacava também buscava em sua memória quais plantas eram imunes ao fogo e conseguiu pensar em apenas duas.

Uma era a Flor do Inferno, encontrada geralmente perto de vulcões, se alimentava de qualquer coisa que se mexesse e poderia ficar séculos sem comer... Desde que estivesse perto de algo extremamente quente. Seria completamente impossível o raposa aparecer com uma planta daquela, já que aquela região era úmida e relativamente fria. A outra opção era a Árvore do Ardor Eterno, mas essa também era pouco provável, porque como o nome já entregava era uma árvore. Precisava de muita energia sinistra para evocar, mais que toda equipe classe S que o Koenma possuía. Mas se por um milagre o Youko conseguisse invocar seria o seu fim. Yoshioka sabia disso, aquela árvore se alimenta da energia – sinistra ou espiritual – da presa e uma vez envolvido nos troncos, era praticamente impossível de escapar: era ofensiva e mortal.

− O que você está escondendo? – ele perguntou ao notar a falta de preocupação do adversário, já que ele parecia estar certo de sua vitória.

− Você tem vantagem sobre mim em relação apenas uma coisa. Eu não tenho razão para me preocupar. – Kurama blefou. Além do rapaz controlar o fogo, também tinha uma energia bastante elevada.

− Você tá me subestimando? Eu tenho mais poder que o Kevin e ele conseguiu vencer o Hiei! – aquilo era uma meia verdade, poderia ter mais força que o companheiro, entretanto ainda não o controlava direito e precisava treinar por mais um ano.

− Então me mostre o poder que você tem. – usou de provocação, desferindo um golpe com seu chicote que foi repelido no mesmo instante. Sabia que estava com problemas, o oponente era relativamente mais forte e se o seu plano falhasse, era bem possível que perdesse.

Yoshioka não sabia se aquela raposa estava mentindo, era algo natural da sua espécie: enganar as pessoas; não que ele pudesse falar muita coisa. A única forma de descobrir seria atacando novamente. Seus punhos e pernas ficaram em chamas e parecia de fato estar na vantagem, já que Kurama não havia evocado nenhuma planta especial e não fazia nada além de se defender e esquivar.

Resolveu aumentar a velocidade e o poder de ataque, o resultado foi satisfatório já que o inimigo não conseguia desviar de todos, levando alguns golpes.

− Você não vai conseguir evocar planta nenhuma, eu vou queimar todas! Meu fogo espiritual acabará com seu pequeno jardim! – agora foi a vez do detetive provocar.

− Tem certeza? – o youkai jogou verde, talvez o garoto respondesse o que ele queria saber.

− Só existem duas plantas que podem me deter e você não é capaz de invocar nenhuma. – ele respondeu sério, mas ainda sim tinha suas dúvidas... Deveria ser impossível alguém conseguir essa proeza.

− Acho que você está enganado. – a voz do raposa era imponente, demonstrava um ar de superioridade até mesmo quando tentava desviar dos golpes flamejantes. – Provavelmente você se refere à Flor do Inferno e da Árvore do Ardor Eterno. Realmente eu não sou capaz de invocar nenhuma delas, mas acho que você não estudou o suficiente.

Invocando o chicote novamente, Kurama correu pela lateral direita e atraiu o ataque de Yoshioka para si e do chão – em meio aos destroços das lutas anteriores – uma pequena planta disparou espinhos ao ser pisada pelo detetive. As feridas não foram letais, mas isso foi o suficiente para distraí-lo e assim o raposa se aproximar e com um movimento rápido implantar algo no abdômen do rapaz.

− O que você colocou? – gritou irritado, criando um escudo de fogo para afastá-lo.

− É a semente da árvore do ardor eterno. Eu não consigo invocar, mas posso plantar em um ser vivo e o calor humano já é capaz de fazer ela se desenvolver... Só que como você controla o fogo ela vai crescer mais rápido... Acredito que em menos de dez minutos ela vai ter tomado seu corpo.

− Nossa, como o Kurama é ruim, eu hein! – Kuwabara sentia calafrios ao ouvir as palavras do amigo.

− Ele sabe ser mais cruel que o Hiei quando quer. – Yusuke estava pasmo, se tinha entendido bem o cara ia ser consumido de dentro para fora.

As chamas foram controladas e o detetive colocou a mão sobre a ferida, tentando de alguma forma retirar a semente.

− Você tá blefando! – queria acreditar naquilo, estava em vantagem até agora e como Kurama iria plantar aquilo nele? E outra como ele arranjou a semente de uma árvore extremamente rara de se encontrar? Poucas pessoas saberiam reconhecer a semente desta planta assassina.

− Você vai descobrir em breve. – o youkai sorriu de canto. – Daqui a pouco você vai começar a sentir que alguma coisa está errada. E sinto lhe informar, mas me matar não vai adiantar muito. Ela se desenvolve com sua energia.

− E não tem como reverter isso? – Kevin atravessou a conversa, se aproximando do ringue.

− Ainda tem. A planta ainda está no seu primeiro estágio, eu posso remover com uma de outra planta... Mas o tempo é curto.

− Yoshioka, desiste! – Kevin disse apressado, estava apavorado pelo companheiro.

− Ele tá blefando, eu ainda não estou sentindo nada!

No instante seguinte, o detetive sentiu a barriga arder e parecia que alguma coisa o estava devorando por dentro.

− Kurama se ele desistir, você salva ele, não é? – Kevin correu até o youkai apressadamente.

− Logicamente, mas ele tem menos de um minuto para decidir isso. Depois não poderei fazer mais nada.

− Yoshioka, desiste agora! – ele suplicou. O amigo, já tossia sangue.

− Eu... Eu desisto. – o detetive se pronunciou. Era humilhante perder daquela forma, mas ainda não podia morrer.

− E o vencedor é Kurama, do time Urameshi! – Koto anunciou.

− Agora faça o que prometeu! – Kevin foi cobrar o youkai, afinal não tinham tempo.

Ainda na forma de Youko, ele invocou uma planta azul e ela produziu uma espécie de semente que parecia mais com um comprimido.

− Tome isso.

− É o suficiente? – perguntou, com o coração na mão.

− A luta acabou não tenho motivo para matar ninguém.

Kevin entregou a semente para o companheiro e assim que ele tomou o comprimido, adormeceu. Segundo as instruções do raposa, logo ele estaria bem.

Aquilo definia quem iria para as oitavas de final: o time Urameshi.

—/-

Kurama já havia deixado o campo de batalha e ido junto de seus amigos. Na forma de Shuichi Minamino.

− Você ia matar o cara, mesmo? – Kuwabara perguntou assustado.

− Quem sabe. – o ruivo sorriu, inocente. Ele não ia revelar que com aquela semente não ia matar ninguém, talvez desse uma boa diarréia, mas nada além daquilo. Porém, guardou este segredo para ele mesmo.

Ele olhou em volta e viu Shirayuki. Ela o encarava, um pouco distante, parecia que estava com receio de se aproximar. Então foi até a youkai cachorro.

− Está com medo de mim? Ou está brava porque não me revelei antes?

Esperou uma resposta, os olhos dela brilhavam e parecia surpresa ainda, ao mesmo tempo feliz. A longa cauda sacudia de um lado para o outro, e as orelhas completamente empinadas.

− Eu jamais teria medo ou ficaria com raiva de você!  - sem autorização, ela o abraçou. Mesmo que ele achasse ruim, isso era mais forte que ela. Fazia tanto tempo desde que ele havia partido e a deixando para trás no castelo junto de seu pai, dos servos e dos inúmeros tesouros.

Aquilo foi uma reação inesperada, afinal, ele se ocultou durante muito tempo e não tinha pretensão de se revelar, fazia muitos anos que havia parado de ir até o castelo do deus cão. Eram incontáveis problemas e não tinha como ganhar daquele tirano. Além disso, só havia usado Shirayuki para conseguir se infiltrar e pegar as coisas valiosas daquele lugar. Como seria possível sentir falta de alguém assim?

− Pena que tenho que voltar pra casa, né? – a jovem youkai se desvencilhou do ruivo. – Não posso mesmo ficar com vocês? Eu juro que me comporto!

— O problema não é você. É seu pai, você sabe disso. – Kurama fez carinho na cabeça dela. – Você sabe do que ele é capaz.

Ela sabia que era verdade. O Inugami era um terror, depois da morte de Raizen as coisas não melhoraram em nada, pelo contrário só pioram cada vez mais. Porém, não queria deixar Kurama e também havia se afeiçoado aos outros. Sentia falta dos três servos e dois deles eram gêmeos, sempre faziam companhia para ela naquele castelo e ficou feliz quando soube que eles iriam casar. Mesmo assim, ela sentia que o lugar dela não era ali. Era ao lado de Kurama, seja em qual forma ele estivesse.

Amor à primeira vista existe, ela sabia disso, afinal, fora vítima do cupido.  Queria arranjar uma forma de convencer que poderia ficar. Porque se fugiu, não era porque ali era o paraíso. Tinha um motivo e o maior deles, estava a sua frente.

Voltar agora significava não o ver mais, sabia disso muito bem.

—/-

Megume permanecia adormecida, se ela já dormia como se tivesse morrido quando estava se recuperando normalmente, o que diria sobre se recuperar depois de uma transformação animalesca como aquela?

Hiei não queria carregar a garota no colo, se sentia constrangido pra fazer aquilo, mas se ele não o fizesse era certo que Kevin o faria e isso o deixaria ainda mais bravo. Assim que chegaram ao quarto, ele a jogou de qualquer jeito na cama.

Lembrar de como Megume havia se transformado, aquela forma esquisita, com um poder descomunal o surpreendeu, não imaginou que ela poderia ser capaz de se transformar daquela forma e nem com um olhar tão cruel.

Deixou a garota deitada ali e se retirou, ainda estava irritado porque tinha perdido para aquele humano imbecil. Como pôde perder? Sem paciência para ficar por ali, sumiu, indo para algum lugar isolado.

Ultimamente Hiei sentia que estava sendo invadido por outros sentimentos, não sabia descrever. Desde que conheceu Yusuke percebeu que tinha mudado, passou a valorizar a amizade e até mesmo que às vezes precisava trabalhar em equipe. Entretanto desde que conheceu Megume, não se reconhecia mais. Era tomado por sentimentos estranhos e avassaladores, ele não era assim. Talvez tivesse se apaixonado? Bobagem, nunca se apaixonou em toda sua vida, por que iria agora? E ainda por alguém do mundo humano. Mesmo ela sendo youkai, não a considerava, já que nasceu no mundo dos homens.

—/-

Apesar da eliminação do seu time, Kevin estava aliviado. Ninguém havia morrido e conseguiu ganhar de Hiei, achou que assim provou seu valor para Megume. Quem sabe eles não se dariam bem na faculdade agora? Poderiam andar juntos pelo menos. No fundo ainda tinha esperança que poderia conquistá-la. Os sentimentos por ela não mudaram depois que descobriu que a garota era youkai, mas o deixou preocupado depois que viu a transformação dela, talvez pudesse perder a razão de vez e acabar matando alguém inocente.

Preocupado ele foi até o quarto da morena, queria ver como ela estava. Seguiu pelo caminho mais curto e entrou pela janela. E lá não tinha mais ninguém além de Megume, que já estava trocada e de banho tomado. Porém ainda estava dormindo profundamente, não tinha ferimentos visíveis. Provavelmente era só exaustão.

O detetive ficou ali durante algum tempo, velando o sono de sua amada e algumas vezes acariciava o rosto dela, fazendo um leve cafuné. Poderia ser imaginação, mas parecia que a expressão dela tornava-se mais relaxada.

Foi impossível não lembrar que há poucos instantes eles estavam juntos nas termas, e ela até permitiu que ele a tocasse e a beijasse. Que naquele momento seria apenas dele... Queria que tudo aquilo durasse para sempre.

Kevin acabou adormecendo com aquilo em mente, deixando algumas lágrimas.


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Notas finais do capítulo

Pessoal! Desculpa a demora! Só não demorei mais porque a Jessy postou aqui pra mim, porque eu tava sem conseguir usar meu computador! Mas agora eu to aqui!
Agradeço muito a ela por ter betado pra mim, além de ser a leitora mais fiel que eu tenho na vida. ( Acho que ela me acompanha nas jornadas das fanfics desde que a gente se conheceu... isso faz tanto tempo... xD)
Também pra DalilaC que sempre acompanha minhas coisas, mesmo sempre estando ocupaderrima! Por ultimo, mas não menos importante a Lilith Queen, que vem acompanhando a fic já faz um tempo.
Muito obrigada a todas vocês!
Um beijo! :)
E até a próxima!