Passato e Futuro escrita por Litsemeriye


Capítulo 3
II


Notas iniciais do capítulo

Esse capítulo tem muito diálogo comparado aos anteriores, mas eu não consegui reduzir eles ;u;
Gosto de discurso direto



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“Com licença, o senhor sabe me informar quando um navio sai para o continente?”

O vendedor ergueu os olhos, mirando a garota que o questionara. Ela tinha olhos grandes, castanhos como os cabelos presos, alguns fios escapando do coque e caindo sobre o rosto, e usava um quimono simples, que parecia ter enfrentado muita coisa até chegar ao litoral.

“Por que uma moça como você iria querer ir para o continente?” Perguntou, tirando o cachimbo da boca – algo que negociara com os chineses, muitos anos atrás.

A garota sorriu, sentando sobre o baú que levava consigo, parecendo visivelmente cansada. O velho acenou para seu ajudante, que sumiu dentro da loja, e então se ajeitou melhor na cadeira, em respeito à viajante.

“Tem essa pessoa que eu conheço que está passando por uns tempos difíceis... Queria fazer uma surpresa.” Ela disse, coçando a nuca, muito mais descontraída do que as moças que ele estava acostumado a ver.

“Se não me falha a memória, vai sair um para... Itália, eu acho, que vai sair mais tarde. Eu ia mandar meu filho, mas acho que posso mandar a senhorita, desde que me garanta deixar a entrega com quem a encomendou antes de seguir viagem.”

O ajudante novamente apareceu, com duas xícaras de chá. Deixou-as na caixa ao lado do homem e voltou para a tarefa anterior de limpar o que havia exposto para venda.

Os olhos da garota brilharam.

“O senhor está falando sério? Mas por que faria isso?”

Ela analisou o homem. Ele tinha um cavanhaque longo, branco como os cabelos amarrados no alto da cabeça, a pele com manchas de sol. Seu quimono era simples, de cor escura e tecido grosso, e seus olhos escuros um tanto enigmáticos.

“Sim, falo. Você parece ter tido uma longa viagem até aqui, e ela parece que ainda vai continuar. Que tipo de pessoa eu seria se deixasse uma jovem que parece se esforçar tanto sem nenhum apoio?” Ele bebeu um gole de seu chá, indicando para que a garota fizesse o mesmo. “Não me parece uma pessoa desonesta, também. Só peço para que lembre de mim quando encontrar seu amigo, senhorita Sawada.”

“Como você...?”

Foi então que Tsunayoshi percebeu que conhecia aqueles traços. Não os do homem, mas do assistente – uma versão mais jovem, mas com toda certeza era Kawahira. Um estalo se deu em sua mente. Ele não sabia por coisa qualquer, estava destinado a acontecer.

“Oh, entendo.” Sorriu em compreensão. Certamente, uma ajuda para chegar até a Europa seria mais que bem vinda, mas ter ajuda daqueles que sabiam sobre o Trinssete estava acima de qualquer expectativa que poderia ter.

As horas seguintes foram passadas na frente da loja. Nenhum cliente aparecia por lá, Kawahira estava centrado em um livro, e ela e o velho se mantinham numa conversa calma. Quando o sol estava esfriando, um homem carregando uma espécie de carroça se aproximou, cumprimentando o dono da loja. Eles trocaram algumas palavras, e então o recém chegado colocou o baú de Tsuna na carroceria, enquanto o mais velho entrava na loja para pegar algo.

“Esse é Talbot” disse, mostrando um desenho, que fora o nariz nada tinha a ver com o Talbot de seu tempo. “Preciso que entregue essa caixa a ele. Vai estar te esperando no porto, então é só entregar a caixa e essa carta. Ele vai leva-la até seu destino.”

“Obrigado, velho.” Tomou a caixa em mãos. “Por tudo.”

“Boa viagem, Sawada. E não se esqueça; o futuro depende de você.”

Foram as últimas palavras que ouviu antes dos cavalos entrarem em movimento e, lentamente, a pequena loja sumir de sua vista conforme deixavam aquela parte da cidade e seguiam para o porto do lugar que um dia viria a se tornar a grande Tóquio.

X

Quando Giotto chegou em casa naquele dia, seu plano era seguir direto para o quarto dos seus pais e roubar a maquiagem da mãe, só descendo para a sala de jantar quando escondesse a vermelhidão no lado direito de seu rosto.

Tudo foi por água abaixo ao abrir a porta da mansão e ver a mãe lhe esperando nas escadarias, com cara de poucos amigos. Claro, ele estava atrasado, e Clara havia deixado mais que claro que estava de castigo aquela semana – como pôde se esquecer?

“Tem ideia do quão preocupada fiquei?” Sua mãe desceu as escadas, não apenas brava. Estava furiosa. “Estava quase indo procura-lo! Justo hoje você tinha que se atrasar?!” Clara agora estava a poucos passos de si, os cabelos louros caindo por seus ombros. Daquela distância era possível ver seu nariz e olhos avermelhados, como se tivesse chorado, e mesmo a pinta que tinha na bochecha esquerda, ainda que estivesse coberta por pó.

“Desculpe, eu... tive um problema.” Giotto não poderia contar que havia se metido em uma briga, por mais nobre que fosse o motivo. Ela sempre diz que o cérebro vem antes dos punhos, mas o que posso fazer se os idiotas não tem um cérebro para por em primeiro lugar?

Clara passou as mãos no rosto, exasperada. Às vezes ela se perguntava se valia a pena, os castigos, as broncas – porque nunca, jamais, levantaria a mão para seu filho. Como se algo estalasse em sua mente, se lembrou do aviso que havia chegado em sua caixa de correio, e da visita que esperava no escritório, com seu marido. Endireitou as costas e olhou uma última vez para os olhos azuis do filho. Estava se esforçando para que o pai não o mandasse para um colégio interno, mas o tempo ia passando, a paciência acabando, e Giotto não melhorava o comportamento. Sua última esperança de manter o adolescente junto a si estava agora no andar de cima tomando chá, e só podia rezar para que, daquela vez, seu filho tomasse um rumo.

“Lave o rosto e vá ao escritório do seu pai, por favor.” Disse, cansada. “Temos algo importante para falar com você.” E deu as costas, subindo as escadas, mas tomando o corredor da direita.

O louro suspirou em alívio. O tom da mãe não era o que geralmente precedia castigos, e mesmo não sabendo o que viria pela frente, tinha certeza que poderia aguentar.

Nada o prepararia para o que encontrou ao atravessar a porta.

O escritório na mansão dos Vongola era largo, com janelas que se esticavam até o teto. Além da mesa que o pai usava para trabalhar e sua cadeira, haviam duas outras cadeiras de frente para a mesa, para quando houvessem visitas, duas poltronas de costas para a lareira e um sofá vermelho. Também havia um tapete forrando aquela parte específica do cômodo, e um armário da altura de sua cintura com portas de vidro, onde se guardavam bebidas. Com aquele cenário estava familiarizado. O que o fez travar na porta foi a presença de um elemento novo, ocupando uma das cadeiras na frente da mesa.

Uma garota de vestido laranja pastel.

Ele fingiu tossir, chamando a atenção dos pais e da estranha para si. Sorriu meio constrangido, se aproximando quando seu pai assim permitiu, parando ao lado da cadeira vazia, sentindo os olhos castanhos da garota em si.

“Giotto, eu e seu pai estávamos conversando e, bom, seu comportamento anda de mal a pior nos últimos tempos.” Clara começou, a mão no ombro do marido, como se indicasse que ali a fala seria dela. “Estávamos prestes a manda-lo para um internato, quando surgiu uma luz no fim do túnel. Um dos empregados viu o anúncio numa visita à cidade, e é meu último recurso. Se uma tutora não conseguir ajuda-lo, eu cederei ao que seu pai insiste e o mandaremos para um internato.”

Francesco Vongola não era um homem de muitas palavras. Naquele momento, tinha o cenho tensionado, formando uma ruga entre as sobrancelhas louras, e os olhos baixos. Mesmo que fosse um homem grande e relativamente temido no mundo dos negócios, a partir do momento em que botava os pés na propriedade da família, sabia que era rebaixado, e Clara passava a ser a real cabeça da família. Era raro ele opinar em assuntos que envolviam a criação do adolescente, pois embora fosse pai há tanto tempo como sua esposa, não levava o menor jeito para a coisa. Seu irmão certamente estava decepcionado com o desempenho que vinha tendo na paternidade. Por isso, decidiu seguir o conselho dele em apoiar a ideia de uma tutora para o filho, sabendo como a decisão de manda-lo para longe afetaria a esposa – e, por mais que não admitisse, a si mesmo.

Clara sabia isso, e Francesco era grato por ela falar o suficiente para externar tudo o que ele não sabia como fazer. Ele só esperava que seu filho também soubesse disso.

“É um prazer, Giotto.” A garota falou, se erguendo. Ela era uns dois palmos mais alta que o louro, e seu vestido não trazia a clássica armação de ferro que as mulheres usavam, deixando a saia cair com mais leveza e tornando seus movimentos menos duros. “Meu nome é Tsunayoshi Sawada. Se me permitir, serei sua tutora daqui em diante.” Sua voz era calma, mansa. Certamente mais velha que si.

“Giotto Vongola, é um prazer conhece-la.”

Ela sorriu, apertando sua mão. Era um cumprimento firme, e o garoto viu que os olhos castanhos carregavam uma sombra de quem já viu muito – o que era ilógico para alguém tão jovem. Mesmo assim, devolveu o cumprimento, sabendo que a menos que os pais mudassem de ideia, estava agora preso àquela garota.

“Bom que se deram bem.” Francesco falou, segurando a mão da esposa. “Filho, por favor leve a senhorita Sawada até o corredor dos quartos. Ela ficará no ao lado do seu. O baú com seus pertences já está lá, senhorita.”

“Obrigada, senhor Vongola. Pela oportunidade e cortesia. Garanto que não os decepcionarei.”

“Não precisa tanta cortesia, querida. Qualquer pessoa que ajude nosso garoto é bem vinda.” Clara sorriu, olhando para Francesco.

Aquilo fez com que um cubo de gelo parecesse ter caído no estômago da japonesa. Ela lembrava de quando Reborn a havia feito estudar a história da Família, e naquelas últimas semanas uma informação crucial, que antes havia passado despercebida, martelou em sua mente. A data oficial de óbito dos pais de Giotto era de meados outubro do ano de 1590, dali a apenas alguns meses. Por isso, era crucial ganhar a confiança de seu antepassado antes que aquilo ocorresse.

Sabia que não podia salvar Francesco e Clara. A morte deles, por um assaltante qualquer, era o pontapé inicial para que Giotto se ocupasse em criar o grupo de vigilantes que futuramente se tornaria a maior Família do mundo. Era algo que parecia muito com Batman, mas no século XVI, bem antes de quadrinhos poderem existir.

Tsuna não queria que Giotto conhecesse a dor de se tornar órfão, mas, se isso significasse reaver Hibari, Kyoko e os outros, ela temia que deixaria sua parte egoísta falar mais alto.


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Notas finais do capítulo

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