For Amelie - 2a Temporada escrita por MyKanon


Capítulo 16
XV - Confronto


Notas iniciais do capítulo

Música: I don't care (Apocalyptica)



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I try to make it through my life

Tento conseguir as coisas na vida

In my way, there's you

No meu caminho existe você

I try to make it through these lies

Tento conseguir as coisas no meio destas mentiras
That's all I do

isso é tudo o que faço

 

Tentei me decidir em mandá-lo para o quinto dos infernos, ignorar ou simplesmente dizer como ele estava sendo mal-educado, mas isso levou muito tempo, e a irmã dele tomou uma atitude antes de mim:

_ Aff Caio, as pessoas não precisam saber logo de cara que você é um cavalo...

_ Não perturba você também, pirralha.

Também? Também? Significava que eu o estava perturbando? Por qual motivo? E por que ele podia dizer que eu estava perturbando e eu não podia dizer que ele estava? E quem disse que eu não podia?

Percebi que minha tentativa de agradar minha mãe tinha ido por água a baixo quando rebati:

_ Acho que você é o que mais perturba, Caio. - Pronunciei o nome com visível desagrado.

_ Incomodo mesmo? Faz o seguinte: cai fora.

Por Deus, como podia tanta grosseria junta?

_ A meu ver, você se incomodou primeiro.

_ Parabéns pela brilhante dedução.

_ Então por que você não acata a própria sugestão?

_ Por que você simplesmente não faz silêncio?

Apertei meus punhos tentando me controlar e não descer o nível.

_ Posso fazer isso. Contanto que faça o mesmo.

 

Just don't deny it

Apenas não negue isso
Just don't deny it

Apenas não negue isso
And deal with it

E lide com isso
Yeah, deal with it

Sim, lide com isso

 

Ele se calou para me dar razão, o que na situação não era tão agradável assim. Olhei para a irmã dele atônita com a rápida discussão.

_ Desculpe Lígia. Espero que não fique chateada também.

_ Não. - respondeu sem me olhar.

Talvez fosse verdade, mas no mínimo, ela sentia receio de mim agora.

Melhor, impossível” Pensei desapontada comigo mesma quando voltamos a andar em silêncio de volta ao casal.

 

*~*~*

 

_ E então... O que achou? - começou minha mãe quando entramos no carro.

Péssimo!”

_ Legal.

_ Continuo na mesma. Isso é muito vago... O que achou do Fred?

Na verdade não consegui achar nada, pois quando pude finalmente presenciar às ações dele para com a minha mãe, estava com a cabeça cheia de pensamentos perversos contra o filho dele.

_ Ainda não sei.

_ E os filhos dele?

Virei-me vagarosamente para ela, buscando uma forma de não magoá-la.

_ Não gostei do seu olhar. - ela entendeu.

_ Desculpe, mas herdei de você.

_ Ah Mel, vamos começar tudo de novo?

 

You try to break me

Você tentou me parar
You wanna break me

Você quer me parar

Bit by bit

Pouco a pouco
That's just part of you

Isso é apenas parte de você

 

Cocei a cabeça para não olhar pra ela enquanto respondia:

_ Tá bom, mãe. Mas vamos com calma. Foi apenas o nosso primeiro encontro, não é? - e com um pouco de sorte, talvez o último.

_ É, tem razão. Oportunidades não faltarão.

Senti um aperto no estômago com esse vislumbre.

Felizmente as férias estavam terminando, as chances de outro passeio em família ficariam escassas. E em breve eu poderia voltar a ver o Aquiles regularmente. Era confortante pensar nisso nos momentos de fúria.

Ainda faltava convidá-lo para a minha casa. Eu me sentia em falta com ele e com a minha mãe, por ainda não ter providenciado um encontro entre eles - pelo menos um onde eu estivesse presente de corpo e alma -, mas não sentia maturidade suficiente no relacionamento para dar esse passo. Não parecia muito, mas eu só não queria envolver minha mãe nos meus problemas mais uma vez. Não até que o problema se tornasse um problema sólido. Não menos lindo por causa disso.

O fato era que a volta às aulas estava cada vez mais próxima. E quanto mais nos aproximávamos dela, mais eu queria que chegasse.

Acordei mais cedo que costumava acordar na primeira segunda-feira de aula. É que além das costumeiras preocupações, eu havia acrescentado mais algumas.

Com o cabelo eu ainda não tinha trabalho, não estava tão liso quanto na semana em que foi tratado, mas estava levemente ondulado e sedoso. Então decidi investir nos olhos como a Thaís incentivou.

Não tive muito sucesso, pois a prática incomodavam meus olhos, e eles ameaçavam lacrimejar. Parei antes de começar a chorar e passei o já conhecido brilho de morango.

_ Morango com Mel... - e ri depois de me lembrar de cantada tão chula.

Coloquei os óculos por cima, e decidi que não combinavam mais com o que eu queria ser. Guardei-o na mochila. Se precisasse de 0,25 graus para ler alguma coisa, então eu colocaria.

Me dirigi para a escola mais confiante que nunca. Era incrível como apenas uma leve massagem no meu ego conseguira mudar minha forma de encarar o mundo. As coisas não pareciam mais tão difíceis. Ou sem graça.

Estava muito cedo, então não encontrei ninguém na subida para a sala. Depois da pequena maratona, deparei-me com o mesmo banquinho sempre tão companheiro. Sentei me sentindo nostálgica. Foi o lugar onde me abriguei no primeiro dia de aula. Estava tão assustada e revoltada na ocasião... Ali eu conheci a Thaís e a Camila, que inicialmente classifiquei como "garota popular da sala" e "vice garota popular da sala", respectivamente. E também as julguei insuportáveis. Cheguei a pensar que a Bia fosse se tornar algo mais próximo de uma amiga, e que talvez eu acabasse assassinando o Aquiles numa crise nervosa durante uma das aulas de química.

E lá estava eu com a situação completamente invertida. “Completamente” na sua forma mais extrema.

Abandonei meus devaneios quando a turma começou a se aglomerar perto da porta. Algumas pessoas passavam me encarando demoradamente, não pela surpresa, mas realmente por não me reconhecerem. A surpresa vinha depois, quando arregalavam os olhos e voltavam para seus afazeres.

Achei graça na situação, e fiquei aguardando até que o Aquiles chegasse. Infelizmente a Bia chegou antes, acompanhada da Bruna. Elas pararam um pouco a frente e ficaram batendo papo alegremente. A Bia parecia ter muito o que contar sobre as férias.

Quando teve oportunidade, a Bruna comentou alguma coisa com amiga olhando indiscretamente na minha direção. A Bia estreitou os olhos, forçando-se a me reconhecer, e em seguida ficou inexpressiva. Depois de se convencer que era eu mesma, veio em minha direção. Ela não podia falar mal de mim de longe mesmo?

_ Olha só a Cris! - começou.

_ Bom dia, Bia. - cumprimentei a contra gosto.

_ Aproveitou mesmo as férias né? - perguntou risonha.

 

If you were dead or still alive

Se você estivesse morta ou continuasse viva
I don't care, I don't care

Eu não me importo, eu não me importo
And all the tings you left behind

E todas as coisas que você deixou para trás
I don't care, I don't care

Eu não me importo, eu não me importo

 

_ Sim. O que pude.

_ Você está mesmo bonita. - depois fingindo um ar resignado, completou – Uma pena que só fez isso pelo Aquiles. Podia ter aproveitado muito antes, não é? - e sorriu simpática.

Senti cada vaso do meu corpo se preencher de sangue, preparando-se para uma batalha. Lutei contra o instinto e suspirei. Respondi:

_ Pelo contrário Bia. Eu só descobri que eu também me amava. Além do Aquiles, claro. - dessa vez, eu que sorri simpática.

_ Que lindo. Isso é realmente ótimo. Posso só dar uma dica?

_ Acho que não preciso Bia. - tentei ser o mais amável possível.

_ Mas como sua amiga, vou dar mesmo assim: não se descuide quando ele terminar com você. Seria mesmo uma judiação.

_ “Quando ele terminar comigo”? - repeti indagativa.

_ Ah, não me leve a mal! Não quis dizer que ele vai terminar! Longe de mim. Mas sei lá... Você sabe como são os garotos nessa idade, não é mesmo? - deu uma risadinha.

_ Claro. Sei, Bia. Agradeço a... Dica.

_ Disponha.

Em seguida voltou para perto da amiga Bruna. Sabia que era muita ingenuidade de minha parte, mas fiquei tentando descobrir o que ela queria dizer com “como são os garotos nessa idade”.

_ Cris, minha musa!!!

Senti um abraço apertado me engolfar, e quando pude respirar novamente, reconheci a Thaís.

_ Oi Thaís! E então, tudo bem?

_ Tudo perfeito! E com você? Vamos, conte-me tudo, não esconda-me nada! - acrescentou baixando a voz em tom insinuante – Nem os detalhes sórdidos!

Ri da forma como ela sempre falava e contei o que havia acontecido daquele dia em diante, inclusive sobre o passeio no parque. Mesmo sem dizer nada, as caretas que ela fazia eram muito expressivas e me faziam rir de qualquer forma.

_ Bom dia Thaís. - começou o Rafa de forma distante ao passar por nós. - Bom dia. - cumprimentou-me sem notar quem eu era.

E continuou andando. A Thaís olhou para mim e suprimimos uma risada.

Conversamos por mais pouco tempo até a professora chegar. E colado nela, o Aquiles.

_ Sabe como é... Desacostumei. - justificou-se pelo atraso.

_ Abre o olho rapaz... A Cris agora pode fazer um estrago simplesmente por estar em público, hein. - começou a Thaís nos acompanhando para a sala.

 

I try to make you see my side

Eu tento fazer você ver meu lado
Always try to stay in line

Sempre tentando permanecer na linha
But your eyes see right through

Mas seus olhos veem através
That's all they do

Isso é tudo que o eles fazem

 

_ Chega de besteira Thaís. - pedi constrangida.

_ Nada, a Thaís tem razão.

_ Quem não dá assistência, abre a concorrência e perde a preferência. - ela finalizou.

Depois de rir de tal filosofia, não nos falamos mais. Ao sinal do fim da aula, fomos para a quadra de educação física.

Somente lá a Bia teve a oportunidade de cumprimentar o Aquiles.

_ E aí Aquiles! Tempão! - saltou sobre o pescoço dele.

Procurei não demonstrar nenhum ciúmes.

_ É... Oi Bia... - ele respondeu sem saber ao certo o que fazer com as mãos.

Finalmente ela o soltou. Pra mim pareceu muito tempo.

_ Sentiu saudades?

Mas que...?” Preferi atentar para a resposta dele.

_ De uma certa forma, senti falta da turma no geral.

_ Sempre engraçadinho! - e riu.

_ Eu vou logo pra quadra, antes de ficar na reserva. - dando-me um beijo, correu para junto dos meninos.

Era evidente que em hipótese alguma o Aquiles ficaria na reserva do time, mas ele preferia ser diplomático para se livrar da Bia.

Continuei encarando-a duramente, na esperança que me dissesse em alto e bom som o que pretendia. Mas ela só me lançou mais um daqueles sorrisos odiáveis e também foi para a quadra.

 

I'm getting tired of this shit

Estou ficando cansada dessa merda
I've got no room when inside this

Eu não tinha quarto quando foi assim
What you want of me, just deal with it

O que você quer de mim, apenas lide com isso

 

Passei a aula sentindo a cabeça pesada com os absurdos que tinha que aturar da Bia, e por isso ela me pareceu durar o dobro que o de costume.

_ Vamos na lixo? - ele chamou enquanto subíamos as escadas em direção aos blocos.

_ Prefiro te esperar no bloco dois.

_ Algum problema?

Encarei-o e fiquei feliz ao constatar que estava preocupado.

_ Nenhum. É que a essa hora está sempre muito cheio.

_ Então tá. Eu volto logo então.

Concordei silenciosamente com um sorriso e entramos no bloco dois onde nos separamos. Fiquei encostada no começo do corrimão da escada que levava à sala de química aguardando que retornasse.

 

I don't care... at all

Eu não me importo... com nada

 

Aquele bloco que sempre parecia tão morto estava realmente movimentado. Tinha muita gente desconhecida. Então entendi que se tratava das pessoas que regularizavam suas matrículas para começarem o curso técnico logo mais à tarde.

_ Ahhh não! Não posso acreditar que é mesmo você! Que mundinho mais pequeno!

Reconheci-o com alguma dificuldade, afinal, tentei por todo esse tempo apagar cada característica dele de minha memória. Mas infelizmente não fiz um bom trabalho.

_ V-você? - olhei de um lado a outro, tentando descobrir que era só uma ilusão.

Ele gargalhou com vontade e perguntou:

_ E aí, como vai indo?

Senti minhas mãos suarem. Depois de ter certeza que era ele mesmo quem estava ali, não consegui pronunciar outra coisa além de:

_ O que faz aqui?

Ele estudou minha expressão e deve ter percebido que eu só queria xingá-lo, pois franziu a testa em estranhamento, e só quando ele falou descobri a razão de sua reação:

_ Uau! Você está mesmo diferente! Ah, eu vim pra me matricular no curso técnico! - ele falava como se realmente estivéssemos conversando amigavelmente – Você estuda aqui também, não estuda?

Senti meu estomago despencar com a relação que ele apontava. Não respondi. Só mantive minha expressão de repulsa.

Ele aproximou-se perigosamente, e disse muito próximo a mim:

_ Quem sabe não rola um “remember”?

_ É melhor me dar licença, antes que eu vomite em cima de você.

Não era mentira que ele me embrulhava o estômago.

Ele afastou um passo e colocou as mãos nos bolsos. Correu os olhos dos meus pés à minha cabeça, enquanto mordia o lábio inferior.

Não tive força para dizer mais nada. Desviei-me e andei em direção à saída do bloco.

Suspirei fundo tentando controlar o tremor que começava a me acometer. Era muita mágoa acumulada, não seria fácil superar.

_ Ei, Cristina! Espera!

Parei antes de alcançar o pátio. Como ele ainda se atrevia?

_ Desculpe se me fiz entender mal.

_ Se refere a tudo? - perguntei seca.

_ Tudo? Ah! Aquilo! Você não ficou chateada não é? - e depois riu sem culpa.

Olhei para o chão tentando encontrar as palavras. Mas não as encontrava. Como ele poderia entender o que senti naquele dia em que entreguei minha virgindade na esperança que ele me acolhesse,  e em troca disso, fui repudiada e satirizada?

_ Só fica longe de mim. - pedi ao me virar, voltando a andar.

_ Que tal conversarmos? - perguntou vindo atrás de mim.

Já estávamos no meio do pátio. Então me dei conta, não podia me encontrar com o Aquiles. Não com o Thiago na minha cola. Seria muito humilhante.

Estaquei de repente, quase fazendo-o trombar comigo. Virei-me para ele e tentei ser firme:

_ Minha mãe só não te denunciou porque eu não deixei. Que tal mantermos assim?

_ Denunciar? Denunciar por quê? Não foi à força gatinha... Vai dizer que não gostou?

Cheguei a tomar impulso, mas agredi-lo só chamaria atenção para nós. E eu cairia no joguinho dele. Ele pegou uma mecha do meu cabelo que agora estava sempre solto e disse:

_ Está mais bonito que me lembrava.

Empurrei a mão dele para longe de mim.

_ Opa... Tá tudo bem aqui?

Meu sangue que estava quente até aquele momento, pareceu petrificar-se dentro de mim, causando uma sensação ruim.

_ Aquiles... - comecei virando-me para ele.

Ele estudou minha expressão e vi seus olhos verdes cravarem-se no Thiago.

Ficaram ambos quietos tentando decifrar um quem era o outro.

_ Vamos pra aula Aquiles.

Tentei puxá-lo pela mão de volta ao bloco dois, mas ele resistia.

_ Calma Cristina, por que não aproveita e nos apresenta? Ele é seu atual namorado?

_ Vocês se conhecem? - o Aquiles perguntou numa voz fria que não reconheci.

Pensei em mentir, depois em dizer a verdade e explicar mais tarde, mas o Thiago se precipitou:

_ Ô! - e riu em seguida.

Senti o Aquiles ficar rígido ao meu lado. Mais ainda que eu. O Thiago parou de rir, e quase como num convite ao Aquiles, acrescentou:

_ Profundamente.

Continua


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Notas finais do capítulo

*
N/a: Florzinhas, nem teve betagem pois agora com essa #$%@! de fila pra entrar no nyah, nunca se sabe qdo vai conseguir logar, e eu queria postar ainda esse fds. ¬¬
Kissão!