The Devil's Daughter escrita por Ninsa Stringfield


Capítulo 8
Capítulo 8




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Niah não parava de encara-lá e algo dentro de dela dizia "Fuja" mas nenhum músculo se mexia. Ela olhou para os lados, Finn e Blake as encarava como se esperasse que qualquer uma das duas explodisse, pareciam preparados para nos separar, mas ela não podia esperar pela boa vontade dos dois, foi se distanciando devagar até estar a uma boa distância de Niah.

Ela era incrivelmente alta, mesmo de salto, Katherine conseguia se sentir pequena perto dela, talvez eram aqueles olhos vermelhos, ela não sabia, mas ela se sentia fria quando estava perto de Niah, como se tudo ao seu redor morresse só por estar em contato com ela.

Mas pior do que tê-la por perto, era tê-la encarando-a. Ela continuava querendo fugir, mas a curiosidade a dominava, uma boa parte dela também queria descobrir porque elas eram tão parecidas...

O rosto de Niah era tão angulado quanto o de Katherine, e estava com tanta maquiagem que parecia impossível visualizar a pele por baixo, mas mesmo com toda aquela maquiagem, nada parecia estranho nela. O vestido curto e justo se ajustavam perfeitamente em seu corpo, como se tivesse sido feito para ela, os colares que percorriam seu pescoço eram tão bem escolhidos que cada peça parecia pertencer a garota, tudo parecia tão perfeito nela.

Demorou um tempo, muito tempo, até que Niah abrisse a boca novamente e parasse de fitar Katherine:

– O que é isso?

– Niah - disse Finn -, essa é Katherine... Katherine Walker.

Ela soltou uma risada fria e encarou Finn, ficando séria.

– Isso é algum tipo de brincadeira? - mesmo com raiva sua voz conseguia parecer entediada, como se nada daquilo importasse - Porque se for, Finn Smith, eu vou te matar tão lentamente que você vai desejar nunca ter nascido.

– Bom, isso eu já desejei muitas vezes na minha vida.

– Não é brincadeira, Niah - se intrometeu Blake - Esse é realmente o nome dela, e... Os Caçadores quase a mataram ontem em um ritual pensando que ela fosse você.

– Ontem? - repetiu Niah - Vocês estavam escondendo uma cópia de mim, muito mal feita aliás, desde ontem?

– Eh...

– E se ela estava num ritual, porque não deixaram que ela morresse de uma vez? - perguntou ela - Uma a menos de mim no mundo, os Caçadores iriam amar!

Seus olhos brilharam de um jeito frio, como se quanto mais dor Katherine sofresse, melhor.

– Niah... - começou Finn - A rosa, ela, ficou basicamente preta.

– Basicamente preta? - ela repetiu surpresa, como se essa fosse a única coisa que a abalasse. - Mas...

Ela olhou para Katherine de novo, e se recuperando mais rápido do que ela imaginaria, puxou Katherine pelo pulso com força, em direção ao castelo. Ela empurrou a porta com força a sua frente e entrou no salão com tudo.

Nenhum dos convidados pareceu perceber o surto da sua anfitriã, apenas continuaram a dançar sem se importar como sempre e não se incomodaram com a visão de uma furiosa Niah carregando uma ainda surpresa Katherine pela escadaria. Ela tropeçou no terceiro degrau, mas Niah não pareceu se importar, apenas segurou o braço da outra com mais força, e começou a andar mais rápido.

Ela parou no segundo lance de escadas e começou a arrastar Katherine pelo corredor, sendo as duas seguidas por Finn, que parecia estar se divertindo, e Blake, que parecia estar com medo do pior acontecer. Katherine foi percebendo o quão frio o corredor era. Mesmo todo aquele lugar sendo frio, aquele corredor conseguia ser ainda pior, e ela sentia como se uma pequena corrente de ar fria se formava ao redor de qualquer corpo vivo, e não o largavam tão cedo.

Finalmente Niah parou na frente de uma porta, e a abriu. O quarto era do mesmo tamanho que o dela e o de Finn, mas as paredes eram cobertas por um papel de parede diferente. Ela não conseguiu identificar o que era, mas se parecia com uma enorme teia de aranha, um emaranhado de linhas pretas que percorriam o quarto todo, como se o tivesse segurando.

Niah parou no centro do quarto soltando o braço de Katherine e encarando-a ainda mais profundamente.

– O que é isso? - ela indicou a cabeça na direção de Katherine.

– Ela é uma mortal, apenas uma simples mortal, com nada de especial - disse Finn - Ela é apenas humana, um simples ser humano.

Katherine não gostou de sua utilização da palavra simples.

– Olha, eu não sei o que está acontecendo, eu não sei porque você se parece tanto comigo, - começou Katherine. - mas eu não quero me parecer com você, então seja lá o que for isso, desfaça.

Niah olhou para Blake, como se dissesse "Isso é algum tipo de brincadeira?".

– Katherine, não é tão simples assim...

– Espera! - Niah intrometeu Blake - Melinda, é claro! Aquela bruxa maldita...

Ela começou a andar em direção a porta mas Finn segurou seu braço.

– Ela não tem nada a ver com isso. - ele jogou a cabeça para o lado. - Pelo menos não completamente, ela conheceu Katherine e sabia que ela tinha alguma ligação com você.

Ligação? – repetiu Niah perplexa, ela parecia estar perdendo o controle - Eu não tenho ligação alguma com mortais!

– Não tente parecer importante - Katherine se intrometeu. - Seja lá o que você for, pare de me chamar de mortal, eu tenho um nome.

– É claro que tem. - disse Niah. - Pena que eu não me importo. - ela não tirou os olhos de Finn, e parecia estar fazendo o possível para não encará-la.

– E de qualquer jeito... - continuou como se Katherine não a tivesse interrompido - Se Melinda sabe um parte da história, ela na verdade sabe tudo, deixe-me vê-la.

– Não! - agora Blake impedia sua passagem. - Se tiver alguma ligação você vai saber.

– Não há nenhuma ligação entre nós!

– Então qual o problema de fazer o teste?

Katherine se perguntou sobre que teste estavam falando. A tal de ligação deveria ser algo relacionado a parentesco, mas ela sabia que não poderia haver algum tipo de ligação entre elas, sua mãe a teria contado...

– Tudo bem! - explodiu Niah - Eu faço, mas se isso der negativo, e vai dar, eu mato os dois só por diversão.

– Feito - concordou Finn sorrindo, como se já soubesse o que iria acontecer.

Niah se virou na direção de Katherine e foi até ela. Ela pegou uma espécie de caneta de dentro de um dos bolsos do vestido, (como aquele pedaço de pano conseguia ter um bolso?), e fez uma cruz em seu próprio pulso. A cruz brilhou, e uma luz azul saiu de dentro de sua pele, ela estendeu a mão para Katherine.

– Me dê seu braço.

– Nem morta!

– Não faça disso uma opção. - ela pegou o braço de Katherine brutalmente e desenhou uma cruz em seu pulso também, a luz azul brilhou e Katherine sentiu seus olhos queimando, mas ela não conseguia parar de olhar.

Niah colocou seu braço exatamente ao lado do de Katherine de um jeito que o pulso das duas ficavam em uma linha reta entre elas, e de repente, a luz azul foi substituída por uma vermelha, que depois de um tempo começou a piscar, ao mesmo tempo no braço das duas.

Niah se afastou da outra com os olhos arregalados.

– Isso... isso é impossível!

– O quê? - Katherine olhou da cara de Niah para a de Finn e da deste para a de Blake, nenhum deles parecia disposto a respondê-la.

Niah murmurava algo baixinho, horrorizada, pela cara dos dois garotos, essa não era um expressão muito comum. Depois de um tempo ela pareceu voltar ao controle e se aproximou de Katherine, lhe dando um tapa na cara.

Blake a segurou bem a tempo, antes que ela desse outro tapa em Katherine. A bochecha dela latejava, uma marca de mão se estendia por toda a lateral de seu rosto, e uma dor angustiante fazia com que ela sentisse que sua cabeça iria explodir.

Niah parecia a ponto de chorar, ela esperneava nos braços de Blake, que a seguravam confiantes, mesmo a garota se debatendo feito uma louca.

Finn começou a arrastar Katherine para longe dos dois, e passou com ela pela porta, levando-a ao corredor.

Katherine se desprendeu de seus braços, que seguravam sua cintura, e se apoiou na parede.

– O que - disse ela lentamente -, foi isso?

– Exatamente como o previsto - disse ele - Niah explodiu e quase te matou.

– Isso foi quase me matar? - apesar da dor surpreendente que ela sentia no rosto, já que, era apenas um tapa, não deveria doer tanto assim, ela sentia como se aquilo não fosse nada, em relação a tudo que já ouvirá sobre Niah só naquele dia.

– Você não percebeu que a mão dela é mais pesada do que as mãos normais?

Ela não respondeu.

– Bom, por essa marca vermelha em seu rosto eu tenho certeza de que percebeu - ele disse com um sorriso no rosto. - Ela faz esse tipo de coisa.

Katherine massageou seu rosto com o dorso da mão. Realmente, se perguntou ela, como ela conseguia ter uma mão tão pesada?

Finn a ajudou a se levantar e começou a avaliar a marca vermelha em seu rosto.

– É melhor colocar um gelo nesse seu rosto, ou qualquer outra essência, porque se não essa marca não vai sair tão cedo.

– E onde você espera que eu ache gelo? - perguntou ela - A menos, é claro, que você queira que eu esfregue meu rosto em uma dessas pedras de gelo que tem na floresta.

– Você está ficando ainda mais grossa que Niah - ele puxou seu braço em direção as escadas. - Vamos, eu te arranjo gelo. - ele olhou para trás - E não, eu não vou fazer você ralar sua cara no chão.


Ao descerem os dois lances de escadas, Katherine se viu novamente no salão onde a música alta fazia com que as paredes vibrassem, e pelo modo que as pessoas tinham se dividido em pares e dançavam grudadas e lentamente, aquela deveria ser considerada uma música lenta. Não que a música fosse rápida, mas era tão alta que fazia seus ouvidos zunirem e sua cabeça doer.


Eles atravessaram o salão rapidamente, mas Katherine conseguiu sentir seu rosto ficar ainda mais vermelho ao perceber que estava de mãos dadas com Finn, e que ele não parecia querer sair do salão tão rápido assim.

Eles entraram em uma porta no outro lado do salão, perto da mesa comprida onde se encontrava a comida (ou pelo menos era o que se parecia, ela tinha conseguido ver um jarro cheio de olhos humanos), e ao Finn fechar a porta atrás deles, ela se viu em um corredor comprido e escuro. Ela olhou para seus dois lados, mas de tão escuros, Katherine não conseguia ver onde terminavam.

Finn a puxou para o lado esquerdo do corredor. As paredes eram lisas, mas quando se apoiou em uma delas ao passar, ela conseguiu perceber que eram um pouco úmidas, e também escorregadias. Eles finalmente chegaram a uma outra porta e a cruzaram, revelando o maior quarto de enfermaria que Katherine jamais viu.

Várias macas se estendiam pelo contorno das paredes do quarto, alinhadas perfeitamente uma ao lado da outra, sendo cada uma acompanhada por uma cortina que deveria ser para se ter privacidade, e uma pequena cômoda que permanecia quieta ao lado de cada cama.

Finn soltou a mão dela e andou na direção de um armário que estava encostado na parede, logo no começo do quarto. Ele tirou um saco e depois pegou duas pedras de gelo de um pote transparente, ele amarrou o saco e o jogou na direção de Katherine que não conseguiu pegá-los a tempo, mas conseguiu desviar deles, fazendo com que parassem intactos na maca ao seu lado.

– Você é muito lenta quando quer. - julgou ele.

– Eu não estava prestando muita atenção...

Ele não respondeu, mas pegou o saco de gelo de cima da cama, onde se sentou e indicou com a cabeça para que Katherine fizesse o mesmo. Ela se sentou e ele apoiou a cabeça dela em sua mão, colocando o saco de gelo em seu rosto.

– Obrigada. - ela corou e Finn riu.

– Parece que o tapa foi forte mesmo, seu rosto inteiro está vermelho.

Ela arrancou o saco de gelo de sua mão depois apoiou sozinha no próprio rosto.

– Engraçadinho. - ela revirou os olhos e ele parou de encará-la, mas continuou sorrindo.

Eles ficaram um bom tempo assim até que Katheirne resolveu quebrar o silêncio:

– Você não vai me dizer o que aquilo significa?

– Aquilo o que?

– A luz vermelha piscando no nosso braço, o que aquilo significa?

Ele deu de ombros.

– Significa que vocês são parentes.

O que?

– Exatamente o que você ouviu - afirmou ele - Você e Niah são parentes, e pela aparência eu diria que são irmãs. Gêmeas - acrescentou.

– Eu não tenho parentesco algum com aquele monstro.

– Monstro. - ecoou ele - Somos todos monstros, mas alguns são apenas mais bonitos que outros, não há muita diferença entre nós Katherine, vocês humanos e nós, apenas...

Ele mexeu com as mãos no ar como se aquilo explicasse tudo.

– Não foi isso que eu quis dizer. - se defendeu ela - Eu só não posso ser parente de um mons... de alguém como Niah, minha mãe teria me contado!

– Muita gente mente.

– Minha mãe não - ela soou fria. - Ela já sofreu muito, se tivesse perdido uma filha também... Ela não teria aguentado.

– Talvez ela não saiba. - tentou ele.

– Como assim?

Ele olhou para ela, como se tivesse tentando decidir se deveria contá-la ou não. No final ele apenas suspirou e contou:

– Niah está aqui mais tempo que todos nós - começou - Quer dizer, ela foi a que chegou mais nova no Inferno, dizem até que ela era um bebê quando veio para cá, mas isso não poderia ser possível, já que Colton, aquele homem que eu te falei que trás as crianças para cá, só trás adolescentes, ou pelo menos qualquer um que tenha a capacidade de formular um pensamento sozinho, e de preferência os ruins.

– Você está me dizendo que minha mãe largou Niah na rua, quando ela era um bebê, e que, acidentalmente, ela encontrou a entrada para o Inferno?

– Colton não traria uma ameaça como ela para cá se não soubesse o que estava fazendo...

– Você acha que minha mãe entregou Niah para esse Colton? - perguntou Katherine incrédula - Minha mãe não acredita em demônios, deuses ou qualquer outra coisa que pertença ao seu mundo!

– Não é isso que eu quero dizer, é só...

Ele não terminou, então Katherine se levantou e foi em direção a porta.

– Posso voltar para o meu quarto?

Ele abriu a boca, mas logo a fechou, como se estivesse prestes a dizer alguma coisa mas tivesse desistido. Ele caminhou na sua frente por todo o caminho de volta, e quando chegaram na frente da porta de seu quarto ele impediu sua passagem.

– Eu só quis dizer que tem muitos segredos nesse meu mundo, e as vezes é melhor não tentar decifrá-los.

– Eu não quero decifrar seu mundo - protestou ela-, eu quero decifrar a minha vida, e o que ela tem a ver com a de Niah!

Ele saiu da frente da porta e já estava na ponta da escada quando se virou e falou:

– Por mais estranho que pareça eu só estou tentando te ajudar. Algumas mentiras são feitas para encobrir a dor da verdade - ele a encarou - Quando você ligar o fogo, tome cuidado para não se queimar.



Ela já estava quase caindo no sono quando ouviu um ruído no canto de seu quarto.


Quando Finn a deixou na porta do quarto, ela entrou confusa enquanto se trocava para ir dormir. Ela não conseguia parar de pensar em tudo o que tinha acontecido só naquele dia: a caverna, sua luta com Finn, o monstro que a atacou, o baile, a floresta, a cachoeira, Niah...

Tudo não passava de um emaranhado de ideias que confundiam sua mente ao máximo, era possível sua mãe ter escondido algo tão grave assim?

Não, ela tentou se convencer, ela não faria isso...

Mas quanto mais pensava, mais essa questão parecia provável. E se tivesse sido por isso que seu pai tinha deixado as duas, porque sabia que sua mulher era um ser humano terrível, e que tinha deixado uma de suas filhas na beira da estrada. Mas esse não era o pior de seus problemas, se sua mãe deixou Niah de boa vontade com Colton, isso quer dizer que ela sabia para onde ele levaria seu bebê, mas como ela poderia saber?

Sua mãe era o exemplo perfeito de uma pessoa que não acreditava em nada, nem em coisas ruins, nem em coisas boas. Para ela a vida era uma ciência perfeita, e era essa ideia que ela passou para sua filha, que acreditava naquilo tudo fielmente.

Katherine se virou de lado e apoiou o cotovelo na cama, a porta estava entreaberta, e um vulto se estendia na entrada. Ela se encolheu no canto da cama, mas quando o vulto se aproximou, ela viu quem era.

Blake.

– Pelos Deuses - praguejou ela - Eu quase morri de susto!

Ele sorriu, e mesmo na escuridão, Katherine conseguiu ver seus olhos brilhando.

– Perdão - pediu ele - Desculpe te acordar assim, mas eu tenho um lugar para te mostrar, e eu tenho certeza que você tem mais perguntas.

– Onde nós vamos? - perguntou ela, já se levantando e colocando uma das jaquetas por cima do pijama (que para sua alegria era de calça comprida e manga longa).

- Você vai adorar! - ele abriu a porta. - Vamos?





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