Digamos que o que acontecia agora era tudo que o treinador Hedge esperava. Matar dúzias de monstros? Não podia haver diversão maior! Onde está meu taco de beisebol?

De modo geral, todos se divertiam. Fazia tempos que estavam no navio indo para a Grécia em uma viagem que parecia durar uma vida. Leo achava que já deveriam ter chegado, mas seus aparelhos lhe diziam que ainda havia muito mar (e monstros) pela frente.

Mas não era hora de se preocupar com a viagem, e sim com matar esses monstros. Eles deviam estar pirados quando resolveram desativar as defesas. Se Annabeth estivesse ali, teria um ataque cardíaco ao ver tamanha burrice. Porém o que está feito, está feito...

Argo II era bem grande, então espaço para lutar não faltava. Quando mais e mais monstros começaram a aparecer, é que foi ficando apertado. Leo queria queimar todos de uma vez, mas era capaz que colocasse fogo no navio todo. Piper chegou perto dele, e eles ficaram de costas um para o outro, numa posição que permitia que lutassem sem pontos cegos.

–Que tal uma ajudinha, Garoto dos Reparos?

–Seria ótimo, Rainha da Beleza.E o que acha de matarmos todos esses monstros imbecis juntos?

–Eu estava pensando na mesma coisa. E depois... a gente pode recomeçar de onde parou.

Leo engasgou com a própria saliva. O que ela quis dizer com isso? Afinal não estava lutando com todos esses monstros por Jason? Leo estava confuso, e só queria que esse momento chegasse logo para que pudesse esclarecer as coisas.  Ele não queria se iludir como um idiota, mas também não podia deixar de sentir uma ponta de esperança.

–Leo? Você está bem? – Piper transformou em pó um monstro aleatório pequeno que vinha em direção à Leo com sua adaga. – Isso é hora para engasgar? – Ela riu.

–Quando se é lindo como eu pode engasgar na hora que quiser que continua maravilhoso! – Leo matou um monstro com uma espada qualquer que achou no depósito de armas do seu navio. Ele costumava construir algo para que pudesse usar em combate, ou se adaptar à situação com seu cinto de ferramentas. Mas o caso não exigia muito, então ele lutou como todo mundo.

–Andou recebendo benção de Apolo? – Piper perguntou com uma expressão de deboche. Leo devolveu o olhar de desprezo, os dois riram, e continuaram lutando.  Era muito divertido finalmente fazer alguma coisa. Tem idéia do quanto é difícil ser um semideus e ficar parado?

Eles se separaram para rodear um monstro maior, dessa vez do tamanho da Senhora O’Lary, que lembrava uma mistura de serpente marinha com dragão. Esse era bem esquisito mesmo. Leo e Piper lutavam muito bem como uma equipe. Mas naquela equipe faltava um membro. Jason sempre esteve com eles, mas pelo menos por enquanto, só havia os dois. E como a boa equipe que eram sua sincronização em combate era perfeita. 

Leo pulou sobre o monstro, e cravou sua espada de bronze celestial no ombro do mesmo. Isso só o deixou mais irritado, então ele arrancou a espada e começou a o desmembrar. Ele tinha uns 20 membros, o que era muito nojento. Quando ele começava a se cansar, e o monstro se preparava para atacar, Piper o deu cobertura e depois passou para a linha de ataque. Eles se alternavam assim até que a criatura fosse morta.

Depois eles resolveram ajudar os outros, que enfrentavam suas próprias batalhas. Ainda havia vários monstros pequenos – esses eram derrotados com facilidade – mas cada vez mais apareciam monstros maiores, e isso estava começando a ficar um pouco perigoso. Eles precisavam que a górgona aparecesse logo.

Nico convocava esqueletos que davam conta facilmente dos mais fracos, enquanto ele e Hazel lutavam juntos com um maior, do jeito que Leo e Piper fizeram. Este tinha asas, e constantemente tentava ataques aéreos que estavam danificando muito o navio devido ao seu tamanho. Hazel ficou cheia disso, e convocou várias pérolas do fundo do oceano que vieram tão rápido que agiram como se fossem balas de um tiroteio. Ao ter seu corpo todo perfurado, o monstro caiu no chão do navio, causando grande estrondo. Todos pensaram que iria quebrar, e que Argo II afundaria. Felizmente, Leo o havia construído muito bem e por isso não quebraria tão fácil. Depois do susto, Hazel ergueu sua espata, e deu o golpe final.

Frank estava em sua forma de falcão, destroçando cabeças, arranhando, e arrancando membros dos adversários mais fortes, para que ficasse mais fácil para os outros darem um fim neles. A luta continuou e todos ficaram cansados, mas os monstros não paravam de chegar. Pareciam ser infinitos, e ficavam cada vez mais difícil de matar.

–Será que isso foi mesmo uma boa idéia? Podemos ficar aqui durante um século e pode ser que as górgonas não apareçam. Quer dizer, eram três, mas Percy matou duas. Então agora queremos que duas entre milhões de monstros que existem apareçam? Sem falar que estamos no mar, porque elas viriam até aqui? – disse Frank.

–É verdade, não sei por que chegamos a achar que daria certo... – disse Hazel, e os outros concordaram com a cabeça, menos o treinador Hedge que agora estava usando suas “habilidades mortíferas” enquanto gritava coisas como Não fuja, eu te matarei de qualquer jeito! Ou então É hora da porrada!

Como que por mágica, quando Hazel acabara de falar, apareceu mais um monte de monstros diferentes. Mas entre eles, Piper avistou uma górgona. Ela vinha voando com suas horríveis asas douradas. A semideusa a reconheceu na hora, por seus aterrorizantes cabelos de cobra e garras de ferro. Mas foi uma cena muito bizarra, pois a górgona estava vestida como uma turista de praia, com chapéu, carregando em uma das garras uma esteira, óculos de sol nos olhos petrificantes, chinelos Havaianas, e uma bóia colorida infantil na cintura.

 –Por favor, deixem ela comigo. – disse Piper, e saiu correndo em direção à górgona, que agora gargalhava pisando em Argo II.

–Olá menina.  Gostaria de comprar artigos de praia? Estamos em promoção, com até 70% de desconto para semideuses assados!

–Não, obrigada. Não estou interessada em artigos de praia, e adoraria desejar boa sorte para o seu novo negócio, mas tudo que preciso é seu sangue!

–Ah, que pena. Nesse caso, eu também quero o seu. Pensei que poderia vender, já que vocês estão se aproximando da minha loja. Os negócios nos Estados Unidos estavam péssimos, então eu pensei em abrir algo para os turistas que passam pela ilha das górgonas, minha terra natal.

Fazia sentido. Piper ouviu dizer certa vez que as górgonas são filhas de Ceto e Fórcis, e que viviam numa ilha no além-mar. O que Piper não sabia, é que essa ilha ficava no caminho da Grécia. Mas todo dia é dia de descobertas, e do mesmo jeito que o Olimpo mudou da Grécia para os Estados Unidos, a ilha pode ter se deslocado para a Grécia. Talvez seja pela forte peregrinação do mal para lá, com as forças de Gaia.

Contudo, não era hora de conversar, nem de questionar. Piper avançou para a górgona, evitando seus olhos. Apesar de estar de óculos escuros, nada garantia que ela os tirasse. Girou sua adaga em movimento para perfurar o braço da górgona. Esta se desviou e arranhou Piper com suas garras. A garota já estava cansada por ter lutado tanto por tanto tempo  –faziam umas 4 horas que estavam nessa–  mas ela estava determinada. Piper mataria a górgona e salvaria Jason, custe o que custar. Ela precisava fazer isso, ou jamais se sentiria em paz consigo mesma.

Piper lembrou-se de que Atena odiava as górgonas, e foi ela que as deixou feias desse jeito. Orou para a deusa, pedindo forças para matar esta última, que não conseguiria voltar do Tártaro, já que Piper pegaria seu sangue. Essa luta não exigia Inteligência demais, porém Atena também era uma das deusas da guerra, e seria bem útil para Piper ter sua ajuda.

Está bem, eu a ajudarei dessa vez. Mas mate essa górgona repulsiva para mim. Ela ouviu a voz da deusa em sua cabeça, e começou a se sentir cheia de energia novamente. E sua determinação a impulsionava cada vez mais.

–É melhor dar tchau para o mundo.

A górgona atacou voando sobre ela com suas garras em direção ao rosto de Piper.  Ela desviou e a apunhalou com a adaga nas costas. O corte não foi muito profundo, mas o monstro urrava de dor. Em seguida, Piper levou um chute na barriga, que a arremessou para o outro lado do barco. Ela estava se sentindo fraca, mas mesmo assim levantou ao se lembrar de seus objetivos. Seus amigos, que estavam lutando com outros monstros lançaram para ela um olhar de precisa de ajuda?

–Está tudo bem gente, estou quase conseguindo. –Ela disse com um sorriso no rosto.

–Eu sei que você consegue Pipes! –gritou Leo, que agora queimava um monstro muito feio.

A górgona se aproximava de Piper. Ela calculou seus movimentos, e percebeu o padrão de seus ataques. Realmente era muito útil ter a ajuda da deusa da sabedoria. A górgona veio voando a toda velocidade, planejando uma investida mortal. Mas Piper se desviou no último segundo, e ela caiu de cabeça em algumas caixas de madeira bem duras, que se quebraram com o impacto.  Piper se desviava de pedaços de madeira pesados que a górgona jogava. Quando eles acabaram, a semideusa atacou diretamente. A luta era equilibrada, mas ela tinha a vantagem. Começou a ferir a górgona com sua adaga. Esta, que ficou totalmente raivosa por estar perdendo, se jogou sobre a semideusa com muita força. As duas caíram rolando no chão.

A górgona começou a ferir o seu rosto com as garras, e Piper não estava gostando nem um pouco. Até que ela esperou que ficasse por cima da górgona e parou o rolamento com um impulso do pé. Ela estava em cima do monstro de modo que o imobilizava. Levantou sua adaga, e desferiu o golpe final.

O que antes a machucava, agora havia se tornado uma pilha de pó dourado com dois frascos de cerâmica.