Era realmente boa a sensação de pisar na areia fofa. Leo amava muito seu navio, afinal, ele mesmo o criou. Mas estar em terra firme de novo depois de tudo o que aconteceu não tinha preço. Ele correu à frente de todos, que ainda estavam saindo dos botes, e deu uma olhada no lugar. Era uma ilha bem agradável, muito bonita. Decidiu que seria totalmente ilógico se não fosse, já que era a terra natal da deusa da beleza.

Aparentemente, seus amigos não ficaram menos felizes de estarem em um meio mais sólido. E depois de o alcançarem, ficaram resmungando algo sobre Leo ser apressado demais. Ele não ouviu direito, por que o pensamento que invadiu sua mente era de que estavam no território de Gaia. Sim, mesmo com toda aquela água em volta, estavam pisando em Gaia, estavam vulneráveis. E o perigo descaradamente valia a pena.

Mortais levavam sua vida tranquilamente e pareceram não perceber que eles estavam ali. Provavelmente chegavam turistas de todos os lugares, então alguns jovens de camiseta laranja de um acampamento qualquer não seriam uma mudança brusca no que estavam acostumados. Eram em sua maioria pescadores e caiçaras, mas via se também turistas que queriam aproveitar a praia ao máximo nas suas férias. Leo gostaria de saber que dia era hoje, e quanto tempo se passou desde que descobriu ser um meio-sangue. Ele não poderia diferir um semideus entre aquelas pessoas, e esse semideus poderia nem mesmo ter conhecimento de que era um. Mas haveria sim algo desse mundo que ele conheceu recentemente, tinha que haver, e ele só podia esperar que não causasse muitos problemas. O que era uma ilusão, porque se em outro lugar comum apenas um meio-sangue atraia uma penca de monstros, imagine seis, e ainda mais na Grécia, o lugar onde eram mais fortes. Um pensamento positivo veio: Aqui também era onde os deuses eram mais fortes, portanto, eles também.

Eram palmeiras e coqueiros bem espalhados que davam uma sombra confortável, e a temperatura estava um tanto quente com um sol lindo, perfeito pra nadar. Surfistas tentavam pegar a onda perfeita, mas para sua frustração o mar ali era bem calmo. Um deles chamava bastante a atenção. Parecia uma pessoa comum, mas tinha um ar... diferente. Olhos verde-mar, um físico de dar inveja. Seus cabelos negros um tanto compridos estavam balançando com um brilho. Mas quando Leo reparou melhor, percebeu que eles não estavam molhados. Percy? Não, não pode ser.

–Pessoal, vem comigo! –Ele gritou pra o grupo de semideuses que já estava bem à frente. Pelo jeito ficou tempo demais divagando, já que eles o ultrapassaram tanto.

–Mas não era você que estava com pressa? –Hazel disse bufando. –Anda logo, temos que começar a explorar esse lugar.

–Mas é importante, venham!

Eles começaram a andar em direção à Leo, e chegaram rapidamente. Não estavam muito longe, tanto que gritando dava pra se ouvir daquela distância.

–Qual o problema cara? –Jason perguntou. Estranho. Ele não costumava falar muito depois de tudo o que aconteceu.

–Não é bem um problema, é só... Ah, vejam por si mesmos! –Apontou pra o mar, na direção do surfista. –Ele não parece...?

Não teve tempo de completar a frase. Todos saíram correndo e gritando “Percy” e “Meus deuses!”. Ele fez o mesmo, então não se importou muito de ter sido ignorado. Quando iam chegando perto do rapaz, uma onda gigante se formou apenas no lado onde ele estava. Ele foi majestosamente fazendo várias manobras, finalizando com sua entrada num tubo que se fechou no momento em que saiu dele. Parecia que o mar fazia parte de si.

Uma aglomeração de pessoas que estavam mais próximas se formou. Todos estavam hipnotizados por ele, que apenas sorria e respondia perguntas e elogios. Os semideuses se misturaram a multidão, e foram andando em direção ao surfista. Se estavam empurrando todo mundo no caminho? Bem, se seu amigo tivesse caído no Tártaro e reaparecesse surfando numa ilha onde você tinha uma missão que poderia ajudar a salvá-lo, acho que tentaria chegar até ele o mais rápido possível.

Jason e Nico foram à frente. O loiro sempre rivalizou com Percy, mas gostava muito dele. Já Nico era amigo do filho de Poseidon bem antes de todos os outros sonharem em serem semideuses. Mas quando chegaram à distância de uma conversa normal com o surfista, perceberam que ele não era Percy. Sim, era muito parecido com ele, mas não era.

–Crianças! Quanto tempo! –O surfista fez menção de dar um abraço, mas não o continuou por não ser retribuído. Os meninos estavam pálidos (se é que é possível um Nico mais pálido) e imóveis. E os seus amigos os alcançaram. Hazel ficou branca, e Frank mais branco ainda. Se não fosse por seus vívidos cabelos, qualquer um juraria que todo o grupo era de fantasmas.

–O que você...? –Piper enfim conseguiu dizer.

–Ah, não me reconhecem? Sinto-me ofendido...

–Percy, é você? –Leo perguntou com medo da resposta, e na mesma a multidão se dissipou, e as pessoas voltaram a fazer o que estavam fazendo antes, deixando-os a sós com a figura.

–Por favor... não me confundam com meu filho! –Ele abriu um grande sorriso, e sua forma tremulou, e ele ficou mais velho, do jeito que eles se lembravam. –Eu só estava com saudade de ser mais jovem. Mais especificamente a forma em que eu conheci Sally. Nós deuses podemos assumir a forma que quisermos, como vocês bem sabem, mas eu quis ter uma aparência de alguém da idade dela, e fui “envelhecendo” conforme ela. E agora eu estou com um pouco de saudade disso... –Ele foi saindo do mar, que estava na altura de seus joelhos, e os semideuses o seguiram. –Mas o que fazem aqui?

–Estamos em missão, pra achar o cinto de jóias de Afrodite. Acreditamos que o poder dele somado ao meu pode nos ajudar muito para resolver aquilo que não pode ser resolvido com força bruta. –Respondeu Piper. O grupo ia andando, se afastando da praia, em direção ao centro da ilha, onde estava a cidade.

–Huh, é, pode ser uma boa. Mas você tem noção do poder que ele tem? E dos problemas que pode te causar se não tomar cuidado?

–Sim, eu sei, mas se posso ajudar de alguma forma eu o farei. E algo me diz que isso será muito importante pra nossa vitória. Eu fui escolhida para os sete, uma filha de Afrodite, em uma batalha contra forças primárias com poderes inimagináveis, e tenho que acreditar que isso tem uma explicação. Afrodite não luta bem como os outros deuses, ou tem grande inteligência, ou controle sobre os elementos. Ela tem a sua persuasão, a capacidade de induzir as pessoas a fazer aquilo que ela não possa fazer. O que significa que através disso, ela pode fazer tudo. Eu preciso explorar isso o máximo que conseguir, porque pode ser a diferença entre a vida e morte de alguém, e eu preciso do cinto pra conseguir. –Dizia essas palavras mais para si mesma do que para o deus. Ela queria acreditar nisso, foi o que seus amigos lhe disseram, o que sua mãe lhe dissera em sonho, e o que era. Mas sempre tinha os “e se” na sua cabeça. “E se não der certo?” “E se o cinto não tiver poder comigo?” “E se quem eu precisar influenciar conseguir um jeito de se proteger?” “E se eu estiver calculando errado e acabar fazendo meus amigos se matarem por mim?” Eram todas hipóteses cabíveis, e mais provavelmente alguma delas aconteceria invés de dar certo. Mesmo assim, ela precisava tentar.

Parecia um diálogo apenas entre Piper e Poseidon, que discutiam sobre o cinto, explanando suas idéias sobre ele. Poseidon dizia que era perigoso, e que quando Afrodite o usou, tudo que conseguiu foi uma guerra entre os deuses por ela. E que uma guerra entre eles não seria exatamente o que precisavam. Ela sempre rebatia dizendo que poderia aprender a controlá-lo, e persuadir as pessoas para que fizessem apenas o que ela queria. Poseidon dizia mais coisas que podiam dar errado, e ela argumentava contra elas, sempre fazendo parecer que tudo estava mais do que sob controle. Depois que Poseidon finalmente se convenceu de que tudo daria certo (ou pelo menos fingiu que estava convencido) Nico se atreveu a dizer:

–Senhor Poseidon... Você... Você sabe o que aconteceu com Percy?

As alegres feições do deus, antes sorridentes e simpáticas, se fecharam como um mar revolto em suas tempestades. Nico pensou que ele tinha ficado com raiva de sua pergunta, mas percebeu que aquilo o havia deixado profundamente triste.

–Sim, todos os deuses sabem. E por mais que alguns tenham suas desavenças com meu filho, todos ficaram tristes com isso. Eu... Eu estou tentando esquecer esse fato, e acreditar que ele foi um ótimo herói, fiel como ninguém, e que viveu sua vida plenamente. Mas não deixa de me doer não o ter mais comigo.

–Mas senhor... –Leo interveio. –Ele não está morto. Annabeth também não, nós vamos tirá-los de lá, nós vamos sim. Ainda não sabemos como, mas vamos.

–Ah criança, eu não vejo por que se encher de falsas esperanças. Como dois mortais poderiam sobreviver e sair do Tártaro, sendo que titãs e as mais fortes e vis criaturas estão lá aprisionados durante todas essas eras?

–Mas eles não são mortais. Nas suas veias corre também sangue divino. Eu acredito com todas as minhas forças que isso os salvará da morte, e que depois os salvaremos do confinamento. Depois que conseguirmos o cinto, estamos indo em direção à Casa de Hades, vamos conseguir respostas e fechar as Portas da Morte! E depois os salvaremos, e vamos todos comemorar a nossa vitória contra Gaia juntos. –Hazel disse, com plena convicção.

–Por favor, nos ajude! Não sabemos por onde começar a procurar, e você conhece
Afrodite muito bem! Eu tento falar com ela pra perguntar onde o cinto está, mas não consigo. Parece que perdi a conexão com minha mãe, a última vez que falei com ela foi muito rápido, só ouvi a sua voz me dando conselhos. Mas nada que me ajudasse a encontrar o que procuro, e agora ela não me responde mais.

Um raio cortou o céu.

–À noite conversaremos. Entrem nessas bolhas, elas vão te levar à um lugar onde podem ficar o tempo que precisarem pra dormir ou outra coisa. Eu tenho que ir agora, o dever me chama. Quando eu puder voltarei para ajudar vocês. Deuses e semideuses trabalhando juntos, certo? –De suas mãos saíram seis pequenas bolhas que foram aumentando de tamanho até serem grandes o suficiente para caber uma pessoa em cada uma. Ele evaporou como água.

–Bem, acho que pelo menos vou realizar um dos meus sonhos de infância! Sempre quis viajar numa bolha de sabão! –Leo foi o primeiro a entrar na bolha, e nem ouviu direito quando alguém resmungou que não era de sabão, e que ele precisava estudar mais sobre os deuses ou mesmo voltar pra o primeiro ano de ciências já que não sabia nem reconhecer água.

Mas tudo apagou por um segundo, e quando viram a luz novamente, as bolhas estouraram e eles estavam em frente a um lugar impressionante.

Hotel Águas Paradas. 5 Estrelas do Mar.

Não podiam esperar outra coisa de Poseidon.