O sinal tocou e eu não esperei duas vezes antes de voar para o fundo da sala atrás de Ino.

– pode ir falando – disse sem nenhuma cerimonia, a loira me olhou maliciosamente de um jeito que me fez arrepiar.

– você vai ter que virar homem – disse com a mesma facilidade que me cumprimentou naquela manha, mas que porra é essa? Ela não acha que eu vou mesmo me vestir de homem né?

– tá, valeu a brincadeira.

– não é nenhuma brincadeira – disse Tenten atrás de mim

– isso é serio? – ri pelo nariz, não achei que fosse verdade.

– claro. O que você acha? Vai querer ouvir? – disse a loira, o que eu faço? Escutar não mata ninguém, mas como estou lidando com a Ino é quase como aceitar qualquer plano maluco dela.

– fala logo antes que eu me arrependa – Tenten sentou do meu lado.

– é bem simples, você fala pro Itachi que vai estudar na minha casa, ai ele vai deixar você sair, ai lá você se veste de homem e sai com Sasori – ela acha mesmo que isso vai dar certo? Ou melhor, que Sasori vai concordar? Vão pensar que ele é gay saindo comigo vestida de homem, e como ela pretende disfarçar minhas curvas e meu cabelo rosa? Isso tem tudo pra dar errado.

– até parece que isso vai funcionar – dei uma risada sínica.

– Sasori já concordou – arregalei meus olhos, o que Tenten tá falando? Como assim Sasori já confirmou? Ela já falou com ele?

– como assim?

– você acha mesmo que eu ia falar alguma coisa pra você sem conversar com ele antes? – ela tem razão, falar comigo sem falar com ele é um NÃO alto e claro.

– eu não acho nada – ela rolou os olhos – ele não tem vergonha de ser visto com outro “cara”? – dei ênfase a ultima palavra, Sasori era um tanto machista, aposto que ele deve ter demorado um bocado pra aceitar isso.

– na verdade parece que não, ele aceitou qualquer coisa rápido sem nem antes me ouvir, parece que você conseguiu deixar ele caidinho por você hein testa – ela me cutucou com o cotovelo enquanto soltava outro de seus tão famosos sorrisos maliciosos.

– de qualquer jeito, como você pretende me transformar num homem? – eu realmente não acho que um homem de cabelos rosa vá agradar o ruivo.

– se você esta falando do seu cabelo é fácil – disse a morena do meu lado – é só por uma peruca, e de uma cor que não seja tão chamativa tipo castanho – hum, uma peruca de cabelos castanhos é... Acho que eu prefiro preto, mas a ideia até que não é mais tão maluca assim.

– não é má ideia.

– mas se o assunto é o seu corpo – disse a loira – ai o buraco é mais embaixo.

– como assim? – eu perguntei, e observava que as duas tinham expressões assustadoras.

– seus peitos são pequenos então não tem problema – a Tenten tá dizendo que eu sou uma taboa? Desgraçada – mas você tem um quadril bem grande, e rebola muito enquanto anda.

– parece que meu irmãozinho vai ter que entrar na brincadeira – a loira disse, mas espera, o que o Deidara vai fazer? Ele é o irmão mais velho da Ino e gerencia uma agencia de modelos, acho que ele pode ajudar bastante no visual, mas como ela vai convencer ele? Ate onde eu sei o relacionamento deles é bem complicado.

– e como você vai fazer isso? Posso saber?

– sabe... Alguns dias atrás ele me perguntou se você não faria uma seção de fotos – ela estava com uma expressão seria pela primeira vez no dia – você pode impor algumas condições.

– e quem disse que eu quero ser modelo? Sai fora – até parece que eu vou participar dessas coisas, mas... Deidara nunca pediria nada pra Ino que não fosse realmente importante, talvez eu consiga que ele nos ajude, acho que não custa nada.

– Sakura, você vai deixar essa chance passar? Pra ter Sasori só precisa tirar umas fotos – a morena disse irritada, acho que vou aceitar né? Fazer o que.

– mais tarde eu ligo pro Deidara pra acertar tudo – disse bufando, eu odeio a moda e tudo que é ligado a ela, mas se for pra ter o Sasori... Acho que não custa nada fazer esse sacrifício.

– EBAA – as duas vibraram em uníssono, foi como se elas tivessem ganhado na loteria. Depois disso o sinal tocou e eu voltei pro meu lugar, o resto das aulas passou voando, no meu caderno eu apenas escrevia algumas ideias que eu tive pro meu novo visual, já que eu me meti nessa porque não me divertir um pouco não é mesmo?

Quando o sinal tocou indicando que estávamos liberados eu arrumei meu material e me levantei, assim que olhei pra porta ele já estava me esperando novamente, Itachi, com as costas apoiadas ao canto da porta e os braços cruzados, seus olhos fechados diziam que ele já me esperava há um tempo. Chegando ao seu lado ele ainda não tinha sentido minha presença, cheguei bem perto de seu ouvido e berrei.

– ATÉ QUANDO VOCÊ VAI FICAR DORMINDO AI? – meu nii-chan deu um passo pro lado cambaleando e colocou a mão no ouvido, e fez uma cara de quem estava sentindo dor.

– caramba Sakura, entupiu meu ouvido – soltei uma risada, depois de um minuto ele pareceu ter melhorado, pegou minha mochila com uma mão e com a outra segurou a minha mão.

– vamos logo, Sasuke disse que queria levar a Hinata pra almoçar lá em casa e me pediu pra fazer uma torta pra sobremesa – eu disse começando a correr.

– e eu aposto que você nem comprou os ingredientes – ele disse com ironia começando a me acompanhar.

– não só não comprei como nunca fiz uma torta – disse orgulhosa vendo Itachi arregalar os olhos, não me segurei e dei uma risada.

– e você espera o que? Que eu te ajude? – ele retrucou voltando a sua forma fria de sempre.

– a não ser que queira ver o nosso otouto triste, sim você vai me ajudar – eu sei que ele vai, porque Sasuke é muito importante pra gente, e é claro que eu sei fazer à torta, mas sozinha não vai dar tempo, e irritar Itachi é um dom concedido a mim pelos deuses. Chegamos ao estacionamento e entramos no carro, cada um de nos olhava por uma janela, a paisagem passava como flashes de luz, eu estava com a cabeça nas nuvens até perceber que a limusine havia parado na frente da escola secundaria de Konoha, Sasuke e Hinata estavam sentados em um banco ao lado do portão principal conversando, eles não pareciam ter percebido o carro ainda então eu abaixei o vidro e chamei por eles.

– Sasu-chan, Hina-chan vamos – eles olharam pra mim e se levantaram Sasuke pegou a mochila dela e o motorista abriu a porta do carro, eles entraram e se sentaram á nossa frente, ficaram de mãos dadas.

– Konichiwa Sakura-san, Itachi-san – a azulada disse, não sei pra que tanta formalidade, ela já fazia parte da família praticamente.

– Yo, Hina-chan, como foram na escola? – Sasuke soltou um sorriso, tenho certeza que é o resultado das provas.

– eu e a Hina Ficamos em primeiro lugar da classe, de novo – também depois do tanto que esses dois estudaram, eles já são inteligentes e se esforçando desse jeito se tirassem notas baixas eu faria eles estudarem ainda mais.

– parabéns, eu sabia que vocês iam conseguir.

– bom trabalho otouto – disse Itachi dando um pequeno sorriso e bagunçando os fios rebeldes de Sasuke.

O resto do caminho até em casa foi tranquilo, apenas jogamos conversa fora, Itachi ficou quieto quase o tempo todo, Sasuke gostava de exibir tudo o que Hinata tinha de bom, e ela quase não se pronunciou, apenas ficava corada.

Assim que o carro parou na frente da mansão o nosso mordomo, Utakata abriu a porta e nos cumprimentou de um jeito bem formal como sempre. Entramos, Sasuke e Hinata ficaram na sala, eu e Itachi subimos e fomos para nossos quartos.

– se troca rápido, ainda tenho que te ensinar a fazer à torta – Itachi disse antes de fechar a porta do quarto dele que era do lado do meu quarto, eu não respondi, apenas entrei no meu quarto e tirei meu uniforme, só de lingerie eu abri meu armário e separei uma troca de roupa, (http://www.polyvore.com/cgi/set?id=75707191&.locale=pt-br) me vesti e desci, não estou a fim de irritar Itachi e ele se arruma muito rápido pra um narcisista.

Na mesa Sasuke e Hinata estavam conversando, fui para a cozinha, Itachi estava separando alguns ingredientes.

– sorte a sua, agente tem os ingredientes pra fazer uma torta de morango – disse Itachi, morango? Será que a Hinata gosta de morango? Melhor nem perguntar. Fui ate a geladeira e perguntei

– o que você precisa daqui? – ele me olhou e resmungou um ‘hm’.

– manteiga, leite e cinco ovos – ele se virou e foi para o armário, donde tirou algumas coisas, eu peguei o que precisava e coloquei no balcão.

– eu faço o recheio e a cobertura, você faz a massa – eu disse e o moreno que vinha na minha direção arqueou uma sobrancelha.

– achei que você não sabia fazer torta – ele disse e colocou os ingredientes no balcão.

– eu só não estava a fim de fazer tudo sozinha – disse pegando uma panela e colocando o leite condensado e o leite.

– porque não me pediu desde o inicio? – ele perguntou colocando em um recipiente a farinha, o sal, uma gema e a manteiga.

– porque é legal te irritar – dar, não é obvio, dissolvi o amido no leite.

– hm – odeio essas respostas monossílabas, nunca sei o que ele tá pensando, separei quatro gemas e as deixei levemente batidas, misturei com o resto do recheio, coloquei a panela no fogo e comecei a mexer.

– mudando de assunto, quantas pessoas você machucou hoje? – não há um dia a meses que ele não bate em algum garoto por minha causa, nada o faz parar, o mais impressionante é que até os professores tem medo dele, por isso ele nunca levou uma suspensão.

– tinha um grupo de garotos falando do seu cabelo, ai eu fiquei irritado e bati neles – meu cabelo está em 70% dos casos de agressão, até que faz sentido, ele é tão estranho.

– como eles estão? – desliguei o fogo e coloquei o recheio em uma vasilha de vidro.

– eu sei a hora certa de parar, eles só ficaram com a cara roxa – pelo menos uma noticia boa, ele esta conseguindo se segurar mais, antes alguns alunos até acabavam internados. Peguei outra panela e coloquei agua, gelatina e o polvilho dissolvido, coloquei no fogo baixo e deixei cozinhando.

– você tá conseguindo se controlar mais, parabéns – dei um sorriso, ele olhou surpreso e ficou levemente corado, estava fofo.

– o-obrigada – ele colocou a forma no forno e veio pro meu lado ver o que eu estava fazendo – já tá quase pronto, desligue o fogo.

– ok – eu desliguei e tirei a cobertura, fui até a geladeira e peguei um pacote com morangos – me ajuda a cortar enquanto a massa tá no forno.

– hm – ele pegou duas facas enquanto eu lavava os morangos, depois de lavados começamos a limpa-los – Itaí – olhei pra ele que soltou a faca e começou a segurar o dedo cortado.

– cuidado, me deixe ver – peguei a mão dele e vi que havia sido só um pequeno corte, coloquei seu dedo cortado na minha boca pra parar o sangramento, olhei pra ele e vi que ele estava vermelho – o que foi? Está com febre? – soltei a mão dele e coloquei a minha mão na testa dele, não está quente, acho que foi minha impressão, o fogão apitou e ele foi retirar a massa do forno, ele desenformou e colocou sobre um prato de vidro.

– eu termino de cortar os morangos, coloque o recheio e a cobertura – e ele assim fez, assim que terminei de cortar os morangos coloquei em uma vasilha e levei pro balcão junto da torta.

– agora é só enfeitar – assenti com a cabeça, juntos terminamos de enfeitar, ficou lindo, está quase pronto agora é só por na geladeira, coloquei, e depois de arrumar a bagunça fomos pra sala e sentamos à mesa, frente à Sasuke e Hinata.

– sobre o que estão falando? – perguntei sorrindo, o casal virou pro lado e ficou corado, o que eles estavam falando?

– sobre... Que nome nossos filhos teriam – o moreno mais novo disse e ambos ficaram ainda mais vermelhos, que fofos, não sabia que eles já falavam sobre essas coisas, será que eles... Já se beijaram?

– Sasuke – ele me olhou – você já beijou a Hina-chan?

– Sakura-nee – ele ficou ainda mais vermelho – a-ainda não

– serio mesmo? Hein? – perguntei, provavelmente com uma expressão bem maliciosa, porque até Itachi fez uma expressão estranha.

– Sakura-san – a Hinata se pronunciou dessa vez

– Sakura pare de por lenha na fogueira – disse Itachi bravo, fiz bico.

– não posso mais brincar? – Sasuke e Hinata riram, eu continuava encarando Itachi, esse maldito tá todo carrancudo, eu me preocupo com o Sasuke também não vou tirar a inocência dele.

– não com essas coisas, eles ainda são muito novos – eles têm onze e doze anos, não são mais bebes, mais cedo ou mais tarde eles vão acabar se beijando e Itachi não vai poder fazer nada pra impedir, e ele não precisa ser pervertido como o irmão.

– hi, hi – me levantei e comecei a subir as escadas.

– aonde você vai? – Itachi perguntou.

– pro meu quarto fazer lição.

– precisa de ajuda?

– sim – ele se levantou e me seguiu, chegando ao meu quarto ele se sentou na beira da minha cama, ao lado da minha escrivaninha, no lugar de sempre, peguei meu livro de física e me sentei na cadeira.

– e então, no que você tem duvida? – em quase tudo na verdade, nem prestei atenção na aula de hoje por causa do plano da Ino, abri o livro e apontei uma das questões mais difíceis da lição.

– não sei como resolver – ele pegou o livro e analisou, me explicou como fazer e eu entendi na hora, estava acostumada com ele me ensinando.

O resto do dia foi tranquilo, já de noite, coloquei minha camisola e fui me preparar pra dormir, acendi uma vela e coloquei na mesinha ao lado da cama, não consigo dormir no escuro, sempre tenho pesadelos. Deitei-me e fechei os olhos começando a esquecer de tudo e de todos.

 Estava chovendo, eu estava correndo em uma rua escura, fugindo de alguma coisa, não, alguém, ele era rápido estava começando a me alcançar, eu tropecei no meu vestido cumprido, cai, senti minhas costas latejarem e vi sangue começar a pingar no chão e se misturar com a agua da chuva formando uma poça negra.

– Sakura, Sakura – levantei ofegante, o que? Foi um sonho? Mas era tão real, eu estou suando frio – tudo bem? – Itachi estava do meu lado, ele me deu um copo de agua, eu estou... Tremendo, tremendo e chorando – Sakura, foi outro pesadelo, tá tudo bem eu estou aqui com você agora, está tudo bem – ele me abraçou, eu afoguei meu rosto no seu peito, eu estou com medo, não quero ficar sozinha, eu solucei respirando descompassada.

– I-I-Itachi f-fica aqui comigo, e-eu t-to com medo – ele me abraçou mais forte, e com cuidado me deitou na cama, colocou o copo na mesinha e deitou do meu lado, eu me abracei nele, ele nos cobriu e com o tempo eu parei de soluçar e chorar.

– você já tá melhor, eu vou pro meu quarto – ele se levantou, eu não quero que ele vá, se ele for eu vou ter outro pesadelo, eu segurei na sua calça o impedindo de andar.

– dorme comigo, por favor – ele sorriu e voltou a se deitar, me abraçou e dormimos em conchinha, a luz de velas.