POV MADALENA

E os dias foram passando naquele colégio tedioso. Nunca fiquei sabendo quem armou a suposta brincadeirinha dos ratos, que não teve minimamente graça nenhuma, mas suspeitei desde logo que fosse a vaca vagabunda.

Cheguei a falar pra Tiago essas minhas suspeitas e desconfianças e pela primeira vez a gente teve um exemplo de briga. Ele saiu defendendo aquela coisa com pernas tão brancas que se confundiam com folhas de papel A4, com dois metros de comprimento.

Ele a defendeu como se tivesse certezas que não foi ela, como se confiasse plenamente em Vanessa e o clima ferveu. Pois eu não entendia o porquê dele estar afirmando que ela não tinha nada a haver com isso!

Desde esse dia, não sei mas entre mim e Tiago as coisas não ficaram iguais, já não havia sei lá tanto fogo como no começo. E aos poucos fui sentindo ele cada vez mais distante.

Sem contar que vários acontecimentos seguidos e estranhos começaram acontecendo comigo, com meu quarto, com minhas roupas e com tudo o que pudesse estar ligado a mim.

É e o pior foi quando comentei com ele sobre Afonso. Aí é que a parada ficou feia. E não foi exemplo de briga foi mesmo briga. Ele defendeu o amigo, obvio, e eu apenas me limitei ouvindo coisas do tipo:

“ Tá louca, ele é meu amigo faz anos”.

“Nunca faria isso, e ele é apenas diferente, deixa de ser idiota.” Mas acabamos por nos resolvermos. Era incrível como de um momento pro outro no espaço mínimo de um semana aa gente já tinha brigado mais do que uma vez.

As aulas tinham terminado e eu fui até meu quarto pra pousar minha bolsa e depois descer pra almoçar alguma coisa, meu estomago estava tão fazia que eu podia afirmar que do outro lado do colégio se podiam ouvir seus gritos, pedindo por algum tipo de alimento.

Abri o roupeiro e peguei algum agasalho pois estava com frio e mal isso aconteceu deu um grito e me assustei. Mais uma brincadeirinha de mau gosto. Peguei a quantidade de bichinhos que lá tinha, curiosamente de plástico e foram diretos para a lixeira.

Chega, chegou no limite. Era hoje que aquela perua com cara de avestruz, com corpo de baleia e pernas de girafa ia ficar com o rosto mais deformado ainda e com o seu rico cabelo de princesa transformado em lã de aço.

Nem peguei o agasalho, apenas sai porta fora batendo ela com força e indo em direção á cantina onde aquela vadia com certeza estava comendo. E não me enganei lá estava ela acompanhada pela matilha com a perna cruzada devorando sua salada light e bebendo seu suco sem calorias. Eu que ia fazer ela perder calorias mas de outro jeito. Peguei um copo que um aluno que eu nem deu conta bebia, sem permissão e depois caminhei até Vanessa que estava de costas, logo facilitava as coisas. Virei todo o liquido que o copo continha em sua cabeça e ela curiosamente ficou ainda mais rosa do que é, tendo em conta que o suco era de morango.

_ Tá louca? – ela perguntou enquanto seu cabelo começava colando e ficando melado.

_ É hoje que eu acabo com você!

E depois disso ficamos as duas pegadas, esgatanhando uma á outra, puxando cabelo, batendo e só mesmo Tiago e Lucas pra nos separarem.

_ Me larga Tiago, é hoje que essa vadia vai ficar careca! Sonsa.

_ Vadia?  A quem você pensa que chama vadia? Eu sou Vanessa Sales!

_ Por mim até podia ser a Angelina Jolie! È cabra de todos os jeitos! Ou vou acabar com você!

_ Hey, Madalena. Calma! – Ouvi ele sussurrar em meu ouvido comigo aos prantos tentando tirar seus braços de minha cintura.

Fui arrastada por Tiago até seu quarto. Porque ele não deixava eu acabar com ela, hein!

_ Me larga Tiago!

Ele entrou e me empurrou fechando a porta e mostrando ar de cansado.

_ Madalena, que deu em você? Tá querendo o quê? Ser expulsa?

_ Estou cansada dessa garota! Agora á aranhas de plástico em meu quarto espalhadas pelo roupeiro. Qual é a dela? Primeiro ratos, depois vísceras, agora aranhas? Qual será a próxima? Vai montar um aquário e jogar as suas irmãos orcas e baleias lá dentro?

_E isso é razão pra partir assim, que nem uma desalmada pra cima da menina?

_ Tá defendendo ela?

_  E se estiver! – ri pelo nariz, nada contente com o que ele falou, e assentindo com a cabeça. Ele realmente muito me contava.

_ Se? Sério que tá defendendo aquela coisa, de novo? – fiz enfase em de novo, porque realmente Tiago agora só defendia ela. Qualquer coisa que eu falasse sobre ela lá estava ele me contrariando – Ela está constantemente armando pra mim, e você ainda fica do lado dela?

_ Claro que fico, Madalena… - ele juntou as mãos e levou na boca que nem um filosofo pensando. -  Tem provas que a incriminam do que fizeram em seu quarto?

_ E precisa de prova pra incriminar aquela víbora? – Gritei!

_ Tá sendo muito histérica!

_ Histérica? Nossa! Isso é tudo amor, por ela?

_ Você tá ficando louca! – ele afirmou do nada.

Tá bom, agora quem pisou a marca foi ele.

_ Ah, primeiro me chama de idiota, depois de histérica, agora de louca. Qual vai ser o próximo nome a verbalizar se referindo a minha pessoa?

_ Cansei, sabe, cansei! – ele passou a mão no cabelo. E nesse momento já estávamos berrando.

_ Cansou? Eu que tou cansada de tudo isso. Estou cansada dela!

_ Mas que mal ela fez pra você? Tá obcecada com ela!

_ Obcecada? Essa guria não me suporta e você sabe disso. Quem mais pode armar pra mim a num ser ela?

_ Muita gente! Todos as coisas ruins que te aconteçam não quer dizer que foi Vanessa que as causou! Cansei de toda a hora ouvir você rogando praga pra ela. Que tá dando em você?

Estava enervada e respirava fundo pra me controlar. E eu é que perguntava: Que tava dando nele!

_ Cansou? Eu estou cansada faz algum tempo, de te ouvir falando bem dela, defendendo, argumentando e apoiando ela. Eu que tenho razões pra falar que estou cansada!

_ Você tem sempre razão, os outros nunca, né! – ele arregalou o olho na minha direção e que nervos que eu tava naquele momento.

_ O que tá querendo dizer? – era bom que ele se explicasse, se não… Se não… Ah se não nada! Ou talvez tudo!

_ Não há um dia, uma conversa, um momento – ele começou levantando os dedos fazendo a contagem e movendo eles na minha frente. - em que você não fala nela. E sempre a incrimina, porquê que de tantas pessoas que existem nesse colégio ela é a má da fita?

_ Porque apenas ela tem razões pra isso! – será que isso ainda não tava mais que obvio. Ainda era necessário falar!

_ E quais são as razões dela?

_ Você! Ainda não percebeu que ela quer você, Tiago!

_ Então tudo isso é ciúme? Madalena eu curto ciúmes mas o que é em demasiado é erro. E eu agora, nem sei se você tá obcecada em mim se em nela!

_ Talvez minha obsessão por você seja mesmo um erro… - arrebatei, cruzando os braços contra o peito.

E mais uma vez essa garota era a protagonista de nossas brigas! Como eu a detestava ainda mais por isso.

_ Você é possessiva demais!

_ É pelo menos não vivo de fama, popularidade e sexo! – peguei pesado, eu admito mas ele provocou.

_ Madalena, esse ciúme está se tornando doentio pra você! Eu tou cansando!

_ Sabe porquê que eu tenho ciúme? Porque eu gosto de você! Porque eu quero você apenas pra mim. – ele estava de costas e perante minhas palavras se virou rápido falando mais alto e vindo em minha direção movendo as mãos no ar.

_ Tá vendo, é isso! É Isso mesmo, você não me deixa “livre”! – ele fez aspas com os dedos na palavra livre.

Eu não o deixava livre né! Suas palavras vieram a confirmar aquilo que eu já maturava á algum tempo. Tiago era mesmo assim, usava e deitava fora e eu nesse momento estava me sentindo assim. Que nem chiclete, que se prova, que se mastiga  e que depois se deia fora e se pisa. Era liberdade que ele queria? Então a teria!

Me encostei na porta, não valia a pena falar mais nada.

_ Eu tinha medo disso, sabe! – confessei.- Por isso que eu tenho tanto ciúme! Eu tinha medo de te perder.

_ Tinha? Já não tem? – ele perguntou confuso.

_ Não. Porque quem me perdeu foi você! Mas como falou que estava cansado acho que até te estou fazendo um favor, um grande favor. – custou tanto falar isso, mas as coisas eram desse jeito. – E você tinha razão. Eu que sou a idiota. Por me ter deixado levar, por ficar acreditando que isso tava dando certo, por me ter apaixonado, por te ter amado. Eu pensei que tinha visto a outra face de Tiago Vasconcelos, mas me enganei. – ele me interrompeu!

_ E viu!

_ Não. E para… - fechei o olho segurando o choro e tremendo com a voz. – Não se aproxima. Eu não vi o outro lado. Eu achei que vi! E eu garanti pra mim mesma  que não me apaixonaria por você! Mas depois minha mentalidade foi mudando e eu fui na onda! Que burra! Eu já devia saber que você era mesmo assim. Não era de uma mulher só. Que queria liberdade e curtir a vida. Eu sabia, eu sabia… mas eu acreditei que você estivesse mudado. Eu acreditei num Tiago que nunca existiu.

_ Madalena… - ele se foi chegando, mas eu recuei.

_ Chega Tiago! – sussurrei e dessa vez um fiozinho de água correu por meu rosto.

_ Como assim?

_ Me esqueça! Me deixa! Tudo o que a gente tinha, se tinha, né porque depois do que você falou e depois do que eu ouvi eu já nem sei o que pensar. Mas acabou. Se quer ser livre, então o seja! Se quiser estar com ela? Esteja. Mas nunca mais me dirija a palavra. Porque você podia ter feito tudo, menos ficar me fazendo acreditar numa coisa que nunca existiu! E isso eu nunca mais te perdoarei, nunca…

Foi a ultima coisa que eu falei, depois saí.

Não queria olhar  mais para o rosto dele. Como eu fui otária, burra, idiota! Como eu acreditei numa coisa que nunca existiu. Limpei um vestígio de lágrima que marcou meu rosto mas foi em vou pois logo outra deixo o rasto de seu traço.

Não queria voltar para o quarto, precisava de pensar de por as ideias em ordem. Caminhei pelos corredores do colégio e fui até ao jardim, sentando debaixo da árvore onde antes sempre me sentava lendo ou ouvindo música.

Mas a música já não tinha a mesma melodia, nem mesmo as palavras dos livros faziam sentido.

Senti uma mão pousar em meu ombro e simplesmente me virei pra vem quem foi a alma que interrompeu meu sossego ( que estava em agitação) ou seja meu não sossego…