That's what you get when you let your heart win
(É isso o que você recebe quando deixa seu coração ganhar)

Paramore – That's What You Get

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Era mais um dia comum, o centro da cidade estava cheio. O céu nublado denunciava que a chuva aproximava-se, mas não impediam as pessoas de continuarem a andar nas ruas, fazendo compras, passeando, algumas apressadas para chegarem aos seus respectivos compromissos, e outras vagando tranquilamente. Aomine poderia ser encaixado na última categoria. A mochila estava pendurada em seu ombro direito, enquanto girava uma bola de basquete com a mão esquerda.

O moreno havia acabado de sair do parque onde costumava matar os treinos da Gakuen. Desde que entrara no colégio, poderia contar nos dedos a quantidade de vezes que havia praticado com seus colegas de time. Nem os apelos desesperados de Sakurai eram capazes de fazer Daiki ceder. Ele achava que aquilo era uma total perda de tempo, suas habilidades no basquete eram incontestáveis, perder alguns treinos inúteis não atrapalharia seu desempenho nos jogos.

Nem que eu fique sem jogar durante anos, ninguém nunca conseguirá me ultrapassar. De certa forma, não era mentira. Aomine tinha um talento nato para o basquete, seus movimentos eram precisos, cada passo era bem aproveitado. Não importava a posição em que estivesse, arremessaria a bola para a cesta, e acertaria.

Todos os adversários que o moreno enfrentou, acabavam desistindo na metade do jogo, eram incapazes de competir com tamanha grandiosidade. Daiki no começo sentia-se desapontado, por mais que a vitória estivesse garantida, não lhe agradava ver jogadores desistindo tão facilmente. Aos poucos o sentimento altruísta, deu lugar à arrogância e ao egoísmo. Não adiantaria ficar lamentando pelos outros, jogaria apenas por si mesmo.

O primeiro a sentir o impacto das mudanças de Aomine, fora Kuroko. Os dois eram muito próximos, Daiki era a antiga luz do garoto de cabelos azulados. Aos poucos, o moreno cortou laços com quase todos, restando apenas ele mesmo, seu grande ego.

E Kise Ryouta.

Kise é o único que eu realmente tenho contato daquela época.

O relacionamento cômodo que eles levavam havia começado logo após o loiro entrar na Teiko.

Companhias nunca lhe faltavam, devido à pele de cor exótica e levemente escura, o porte atlético e a aura charmosa, garotas sempre o rondavam, esperando por alguma atenção a mais, um simples gesto que pudesse denotar interesse do mesmo. Porém, Kise era diferente. Além do enorme interesse que sentia por ele, Aomine o respeitava. Ryouta era um dos poucos que conseguia fazer o moreno sentir um pouco de diversão ao jogar basquete, os dois passavam horas na quadra, muitas vezes apenas conversavam sobre trivialidades.

Foi questão de tempo para que as coisas se ajeitassem. E mesmo depois de toda a conturbada reviravolta na vida do moreno, os encontros entre os dois eram uma constante.

O jogador da Gakuen não sabia explicar qual era o tipo de relacionamento que eles levavam. Os encontros eram casuais, não havia compromisso. Saiam, divertiam-se, beijavam-se, e faziam mais algumas coisas. Fazer sexo com aquele loiro é incrível.

Sua linha de pensamento foi cortada quando percebeu que começara a chover. Direcionou seu olhar para o céu, e viu que já havia escurecido demais. O céu nublado havia dado lugar ao céu noturno, ainda sendo possível avistar algumas nuvens carregadas. Conforme Aomine apertava o passo, a intensidade da chuva aumentava, chegando a machucar os ombros desnudos, tamanha era a força dos pingos. Merda, péssima hora para chover. O moreno entrou de baixo de um toldo qualquer, apenas para se proteger da repentina tempestade, assim como todas as outras pessoas que se espremiam no pequeno espaço coberto.

Tinham se passado apenas alguns minutos, quando permanecer naquele toldo se tornara insuportável. O jogador era espremido em todas as direções, literalmente.

– Merda! Porra, minha roupa está encharcada! – Seu corpo tremia violentamente a cada rajada de vento, fazendo com que o moreno soltasse palavras não tão bonitas.

Sua intenção era a de esperar a chuva passar, para conseguir chegar a sua casa tranquilamente e seco. Porém, a realidade era bem diferente. Cansado de ficar parado, acabou por sair na tempestade. Não demoraria muito para chegar à sua residência, porém, a chuva dificultava o caminho. O moreno não conseguia enxergar quase nada ao seu redor, e mesmo que morasse no bairro há um tempo considerável, Aomine cogitou a possibilidade de estar perdido. Que patético.

Quando o moreno avistou sua casa, os passos apressados tornaram-se uma corrida desesperada e desajeitada, tudo o que Daiki queria no momento era um banho quente.

O frio, o corpo molhado, e qualquer outra coisa se tornaram irrelevantes ao ver Kise em frente ao portão da sua casa. Merda, tinha me esquecido que tínhamos marcados de nos encontrar. O loiro estava vestido com o uniforme do colégio, a roupa estava impecavelmente seca, provavelmente ele chegara à sua casa antes da chuva começar.

– Yo, desculpa a demora. – Aomine já estava ao lado de Kise, procurando a chave dentro dos bolsos de sua calça para poderem entrar.

– Ie Aominecchi, eu cheguei faz pouco tempo. – A voz do loiro estava rouca e o belo rosto distorcido em uma expressão cansada, que não combinava nem um pouco com Kise. Mas seus lábios como sempre, sorriam alegremente, alheio a qualquer outra coisa, que não fosse oferecer seu melhor sorriso para o moreno. Esse idiota ficou nesse gelo mesmo estando resfriado? A admiração que o modelo tinha por Aomine não diminuiu, mesmo após estarem saindo. Sempre que o moreno o questionava do por que, ele sempre recebia a mesma resposta: Porque foi você que me apresentou e me incentivou a jogar basquete, acompanhado de um olhar cheio de determinação e carinho.

Assim que entraram na casa, os dois jogadores suspiraram. O calor que os envolvia era reconfortante, e foi responsável por fazê-los esquecer os minutos torturantes que passaram no frio.

Aomine estava tentando fechar a porta, quando sentiu Kise abraçar seu corpo, tornando qualquer movimento impossível de ser realizado. Seu rosto estava na curva do pescoço do moreno, exalando o perfume amadeirado, e seus braços estavam firmemente entrelaçados no tórax alheio, apertando a região fortemente. O moreno estava pronto para virar seu rosto para trás e ralhar com o modelo idiota, mas Kise fora mais rápido.

– Eu senti sua falta, Aominecchi. – Os braços ao redor de seu corpo afrouxaram-se lentamente, e o corpo magro iria de encontro ao chão, se o moreno não tivesse o segurado a tempo.

É um idiota mesmo. O moreno não percebeu que seus lábios sorriram durante todo o trajeto até seu quarto. Daiki colocou Kise deitado em sua cama, cobrindo-o com grossos cobertores, temendo que o resfriado do loiro piorasse.

Enquanto esperava Ryouta acordar, Aomine tomou seu tão esperado banho, cozinhando debaixo do chuveiro durante longos 20 minutos. Aproveitou para pensar nas palavras ditas a ele, repreendendo-se ao perceber que ficara feliz em escutar uma frase tão simples, mas cheia de significados.

O relacionamento entre eles não tinha espaço para saudades, eles se encontravam por mera conveniência, e cada um seguiria sua vida. Ultimamente, o moreno pensava de outra forma. Bem lá no fundo, Daiki sentia saudades do loiro, ansiava pela presença dele, e sinceramente, ele não conseguia mais imaginar uma vida sem que o idiota estivesse presente.

Depois de terminado o banho, Daiki rumou em direção ao quarto, atravessando o longo corredor que separava o banheiro do seu quarto rapidamente, andar apenas com uma calça moletom pela casa não era uma boa idéia.

Chegando ao cômodo Aomine precisou juntar todo seu autocontrole, ou acabaria bolinando um doente. O loiro estava totalmente descoberto e de bruços, abraçava o travesseiro de Daiki como se fosse um ursinho de pelúcia, enquanto murmurava constantemente o nome do maior. Foi com muito esforço e força de vontade, que o moreno resolveu acordar Kise.

– Oe, acorda Kise. – Sacudiu o corpo delgado com um pouco de força. Se ficasse mais tempo assistindo àquela cena, Aomine não responderia por seus atos.

– Hmm.. – O loiro mexeu-se preguiçosamente, mas sem demonstrar sinais de que levantaria. Devido à movimentação, o abdômen definido ficou à mostra, atiçando ainda mais os desejos nada castos de Daiki.

Ver Ryouta tão vulnerável e sensual fora mais do que o jogador da Touou Gakuen podia agüentar. Subiu felinamente na cama, projetando seu corpo para baixo, formando uma grade em volta do loiro. Seu corpo tornou-se subitamente quente, e seu baixo ventre formigava em excitação.

– Kise, é melhor acordar, ou vai perder toda a diversão. – O moreno sussurrou sensualmente na orelha do loiro e em seguida deu um suave beijo na região. Sentiu o corpo abaixo de si estremecer, Kise era extremamente sensível.

O loiro abriu os olhos, ainda sonolento. Percebeu que estava no quarto de Aomine, mas não fazia a mínima idéia de como havia chegado ali. As lembranças vinham em flashback, a última coisa que se lembrava, era de ter abraçado o moreno com todas as suas forças. Ao ver o mesmo, deitado sobre si, com uma expressão transbordando malícia e desejo, corou violentamente.

– A-Aominecchi! O-o que você está fazendo?

A resposta era tão óbvia, que o moreno nem se deu ao trabalho de verbalizar o que estava fazendo.

Aomine beijou os lábios do loiro, sentindo o gosto e a maciez daquela região. O loiro relutou no começo, empurrando fracamente o peito de Daiki, mas depois de alguns segundos, entregou-se àquele momento, entrelaçando seus braços no pescoço moreno.

As línguas encontravam-se desesperadas, desejando matar a saudade de quase uma semana sem nenhum tipo de contato. O ar se fez necessário, e mesmo a contragosto, o moreno apartou o beijo.

Kise respirava com dificuldade, seus lábios estavam entreabertos e o rosto incrivelmente vermelho, os olhos embaçados de prazer tornavam a visão ainda mais tentadora.

Ele é adorável.

O moreno direcionou sua atenção ao pescoço de Ryouta, deleitando-se em marcar a pele alva com mordidas e beijos. Os gemidos que chegavam aos seus ouvidos o excitavam ainda mais, contudo, Aomine sabia que não poderia ir além.

– A-Aominecchi. – A voz chorosa era apenas um fio, o corpo inteiro do loiro estava em chamas.

Aomine parou subitamente o que fazia, encarando o rosto do menor. Merda, me chamando desse jeito... Ele está me deixando louco.

Acariciou suavemente o rosto, passando o dorso da mão pelas bochechas rosadas de Kise. Aos poucos os corpos de ambos se acalmavam de toda aquela tensão, o silêncio que se instalara no cômodo não os incomodava, eles estavam apenas curtindo a presença um do outro.

O moreno deitou-se ao lado de Ryouta, cobrindo seus corpos com o cobertor. Sua cabeça usava os braços como apoio, observando o loiro ao seu lado fazer um bico de descontentamento. Tão adorável.

– Passe a noite aqui, se você estiver melhor, amanhã nós continuaremos. – Provavelmente, Aomine se aproveitaria do loiro mesmo que ele não estivesse melhor. A tentação de tê-lo em casa apenas para si era muito grande.

– Então você está preocupado comigo? – A voz de Kise soou brincalhona.

Antes que o sono o embalasse, Kise arrastou-se para mais perto do moreno, encostando seu rosto no peitoral forte, e abraçando o corpo moreno delicadamente. A expressão em seu rosto era de genuína felicidade, como o de uma criança quando ganha o presente que tanto desejava. Aomine afagou as madeixas claras, bagunçando ainda mais o cabelo de Kise.

Se sentir envolvido por aqueles braços novamente causava um turbilhão de sensações em Daiki.

Os sentimentos do moreno em relação à Kise ainda eram um mistério, jamais se sentira daquela forma. Por ora, apenas aproveitaria dos doces momentos ao lado do loiro idiota. Porque desde o início, Kise era a única coisa da qual Aomine jamais abriria mão.