Coração Vago escrita por KatherineKissMe


Capítulo 10
Capítulo 9


Notas iniciais do capítulo

O capítulo de hoje saiu um pouquinho maior que o normal. Espero que gostem.



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"Oh, my beautiful mother
She told me, son, in life you're gonna go far
If you do it right, you'll love where you are
Just know, wherever you go
You can always come home"

93 Million Miles - Jason Mraz

No outro dia pela manhã, Fatinha terminava de se arrumar para deixar o hospital. Ela analisava o seu reflexo no espelho do banheiro procurando sinais da gravidez. Inicialmente o próprio reflexo foi uma surpresa. O cabelo estava mais curto e mais claro do que ela se lembrava, a cintura mais fina e os seios maiores.

Sinal da gravidez ou só o tempo agindo? –Ela pensava.

Eram em momentos como estes que ela pensava no quanto estava perdendo por não se lembrar dos últimos dois anos.

–Maria de Fátima, está precisando de ajuda? –Vilma perguntou, preocupada com a demora da filha.

–Não mãe! –A garota rapidamente vestiu a blusa, e saiu do banheiro. –Estou pronta. Por mim podemos ir.

–Então minha querida, era exatamente sobre isso que eu queria lhe falar. –A mãe começou. –Você vai com o Bruno.

–Eu já imaginava. Ele não chegou ainda?

–Não, ele provavelmente está a caminho. As suas coisas já estão no apartamento, mas deixei pra você organizar da maneira que preferir.

–Ok.

–E eu vou voltar para Carambolas.

Por um instante, Fatinha pensou que não tivesse escutado direito. Como assim a mãe estava voltando para Carambolas?

–O que?

–Minha querida, infelizmente eu não posso continuar no Rio. Eu tenho responsabilidades, incluindo o seu pai.

–Mas eu também sou sua responsabilidade. –A garota disse sentindo os olhos arderem.

–É claro que é, e continuará sendo, mas você já sabe se virar sem mim.

–Eu pensei que a senhora fosse ficar comigo.

–E eu vou. Sempre que possível eu venho te visitar, e além do mais, você sempre pode me ligar.

–Mãe, eu não conheço ninguém aqui.

Nesse momento as lágrimas já escorriam sem o menor controle.

–Ei, você conhece sim. Aos poucos você vai se lembrando de todos. E tem o Bruno também, você viu como ele é bacana?

–Eu conheço ele a dois dias mãe! Não é possível que a senhora confie totalmente em um cara que engravidou a sua filha!!!

–Quer saber, eu confio mesmo. E isso graças a tudo que a senhorita já me falou a respeito dele. Você o amava Maria de Fátima, e pra mim isso é mais do que suficiente.

–Não! Eu quero ir pra Carambolas com a senhora. Não me deixa aqui sozinha, por favor! –Ela implorava aos prantos.

Se o choro era graças aos hormônios ou não, Fatinha não sabia. Mas ao ouvir a mãe dizer que estava indo embora, ela sentiu como se o chão tivesse desaparecido de repente. Um sentimento de angústia, misturado com um “quê” de desespero se apoderava dela. Ela estava sendo abandonada.

Para Fatinha, este foi um sentimento familiar. Não que ela soubesse o porquê, mas ela tinha a certeza de que não era a primeira vez que ela se sentia assim. Agora seria ela contra o mundo.

–Maria de Fátima, o que eu vou te dizer não vai fazer muito sentido agora, mas eu preciso que você se acalme e me escute. Além do mais, estresse não faz bem para o neném.

Aos ouvir o que a mãe disse, Fatinha se desesperou.

–Como eu vou criar esse bebê? Mãe, eu não me lembro sequer de dar comida pro Garfield, imagina cuidar de uma criança? Eu preciso da senhora! Não vou conseguir fazer isso sozinha.

Vilma abraçou a filha enquanto ela chorava. Por alguns minutos, tudo o que a mãe fez foi acariciar o cabelo da garota, esperando a mesma se acalmar.

–Ei, já está melhor? –A mulher perguntou olhando para Fatinha.

Algumas lágrimas teimavam em escorrer pelo rosto da garota, mas ela estava mais calma.

–Minha filha, eu me arrependi muito por não ter ficado do seu lado quando você precisou. Eu deveria ter me imposto diante do seu pai, mas não tive forças o suficiente. Me vi obrigada a voltar para Carambolas com o coração na mão, sem a certeza de que você teria onde dormir e até mesmo o que comer. As únicas notícias que eu tinha, eram vindas do diretor Mathias, o que não era nem de longe o suficiente. Por meses eu fiquei na incerteza, rezando para que você estivesse bem. Com muito custo consegui te visitar, e foi com muito orgulho que eu vi todas as suas conquistas. Eu nunca te disse isso antes minha querida, mas eu me orgulho de ser a sua mãe. E foi por isso, que eu prometi a mim mesma, que eu te apoiaria em qualquer circunstância, que eu nunca te abandonaria. E eu não vou. Pode ter certeza que mesmo morando em outra cidade, eu ainda estarei com você. Qualquer coisa é só você me ligar e eu venho correndo.

–Você promete? –Perguntou Fatinha, insegura.

–Eu prometo. Você é minha filha Maria de Fátima, e logo você descobrirá que esse tipo de amor é incondicional. –Vilma disse com a mão sobre a barriga da filha.

É preciso dizer que a loira se debulhava em lágrimas? A única diferença é que dessa vez, as lágrimas vinham acompanhadas de um pequeno sorriso.

–Mãe, eu vou precisar e muito da senhora. Promete que vai me ligar todos os dias? Eu vou morrer de saudades. –Fatinha abraçou a mãe.

–Todos os dias, sem falta!

–Bom. Agora para que eu deixe a senhora ir embora tenho uma condição.

–E qual é?

–Eu quero que a senhora prometa que vai fazer de tudo para conseguir que o papai me perdoe.

–Não vai ser tão difícil quando parece. Seu pai é orgulhoso e está magoado, mas isso é passageiro. Logo ele estará aqui babando pelo netinho.

–Netinho é? Você já escolheu o sexo? –Fatinha perguntou rindo, enquanto limpava o que tinha sobrado das lágrimas.

–O sexo já está mais do que definido minha querida. Vai ser um menino robusto, e sinto lhe informar filha, mas ele não parecerá nem um pouquinho com você.

A garota começou a rir e disse:

–Você sabe muito bem como é isso, não é mãe? Afinal, eu me pareço mais com a vovó do que com a senhora, e o Francisco é um cópia exata do papai.

O sorriso da mãe se transformou em uma careta típica de pessoas que tentam esconder a tristeza. Fatinha nem percebeu a mudança, pois Bruno tinha acabado de chegar.

–Bom dia! Estou interrompendo alguma coisa?

A loira abriu um sorriso largo, contrastando com o rosto inchado pelas lágrimas.

–Não está interrompendo nada. A dona Vilma estava me preparando para algumas frustrações da vida. E eu tenho que dizer, depois dessa eu estou mais do que pronta para sair deste hospital.

–Vou atrás do doutor Lorenzo para resolver isso. –Vilma disse saindo da sala.

Fatinha foi ao banheiro para lavar o rosto, enquanto Bruno falava sobre o apartamento. Ela estava mais do que empolgada, pois finalmente teria um cantinho só seu. Bem, o quartinho no Hostel era um cantinho só dela, mas creio que vocês compreenderão. E tem também o fato de que tecnicamente o cantinho não seria só dela... Ah! Tentar entender a mente de uma pessoa com amnésia é mais difícil do que parece.

Lorenzo chegou depois de alguns instantes, e fez o anuncio mais aguardado:

–Você está oficialmente liberada!

A garota deu um gritinho de felicidade e correu para abraçar o médico.

–Finalmente! Já não aguentava mais ficar presa aqui. Agradeço por tudo doutor Lorenzo!

O médico começou a rir, achando engraçado a felicidade dela.

–Falando assim você até parece com a Lia.

–Lia, a sua filha? –Fatinha perguntou.

–A própria. Pelo visto alguém vai recuperar a memória mais rápido do que eu pensava.

Depois dos agradecimentos e recomendações, Maria de Fátima deixou o hospital acompanhada da mãe e do Bruno.

–E é agora que nós nos despedimos. –Vilma disse para os dois.

–Mas já? –Fatinha perguntou fazendo manha.

–Meu ônibus sai em menos de uma hora, e o seu pai deve estar a ponto de ter um ataque sem mim por lá.

–Se você quiser, eu te deixo na rodoviária. –Bruno ofereceu.

–Agradeço, mas é desnecessário. A rodoviária é no sentido contrário ao que vocês tem que ir, eu pego um taxi aqui e rapidinho estou lá.

–Ah mãe, vou sentir saudades da senhora! –Fatinha disse abraçando a mãe.

–Você diz isso agora. Daqui a pouco você vai implorar pra que eu pare de te ligar, e que faça visitas com menos frequência.

–Bom mesmo! –A garota tentou fazer uma cara de séria, mas não resistiu ao sorriso.

Vilma foi até Bruno para se despedir com um abraço. A mulher aproveitou a deixa para dar um alerta ao moreno:

–É melhor você cuidar direitinho da minha filha, rapaz. Do contrário, esse filho que ela está esperando vai ser o único que você vai ter.

Depois dessa, Bruno ficou sem reação. Vilma chamou um taxi como se nada tivesse acontecido, deu um beijo na testa da filha e assim foi embora.

–Bruno? –Fatinha chamou o rapaz pela segunda vez.

–Oi? –Ele respondeu saindo do transe.

–Vamos? –Ela sugeriu, meio sem graça.

–É claro.

O moreno a ajudou a colocar as coisas no carro, e logo eles estavam a caminho da nova casa.

(...)

–Não estou acreditando nisso! –A loira dizia abismada.

Para alguém que visse de fora, a cena era até engraçada, pena que Fatinha não podia dizer o mesmo. Ela estava sentada no chão do próprio quarto, rodeada por roupas minúsculas.

Até aquele momento a garota estava mais do que feliz. O apartamento era pequeno, mas adorável. E o quarto dela era bem básico, mas aos poucos ela organizaria tudo isso. A grande surpresa dela, foi que ao guardar as roupas no armário, ela percebeu que TODAS eram de tamanho impróprio. Até o uniforme de trabalho dela mostrava a barriga!

–Algum problema Fatinha? –Bruno, que tinha ouvido o que a garota disse, resolver averiguar o que estava acontecendo.

–Todos os problemas do mundo, Bruno. Eu simplesmente, não tenho nenhuma roupa adequada!

–Como assim? –Ele perguntou confuso.

–Olha isso. –Ela falou segurando uma blusa rosa cheia toda furada. –Esta é a única blusa que eu tenho que não foi cortada a ponto de aparecer a barriga! E as saias, eu nem tenho como comentar. Esta aqui, por exemplo, -Fatinha pegou uma saia de couro super curta. –de normal ela já é curta. E alguém, que eu me recuso a acreditar que fui eu, usou fita crepe para deixar a saia mais curta ainda!

Bruno não conseguiu conter o riso, enquanto via a indignação da garota mostrando a customização improvisada.

–Você ri porque não é quem vai ter que andar por aí usando esse tipo de coisa. O que eu vou fazer? –A garota se perguntava em desespero.

–Olha, o que você vai fazer eu não faço nem ideia. A única coisa que eu sei é que a geladeira está vazia, e nós precisamos ir às compras agora se quisermos algo para o almoço.

–Certo. Me dá cinco minutos pra tomar banho? –Ela pediu.

–Cinco minutos. –Ele cedeu.

Por fim, foi preciso vinte minutos para sair de casa. Fatinha demorou, mas achou uma blusa que ao desamarrar ficava no comprimento normal e colocou uma calça jeans. O supermercado era perto, então eles foram a pé.

Sabe o que é interessante? O tanto que você passa a conhecer uma pessoa a partir das compras de supermercado. Bruno descobriu que a loira era apaixonada por todos os tipos de frutas, e adoradora de leite de soja. Fatinha por sua vez, percebeu que o moreno era viciado em massas e café.

–Bruno, precisamos comprar creme dental. –Ela o lembrou.

–Boa. Fica naquele corredor ali, vai pegando enquanto eu tento me lembrar qual a marca do macarrão que eu compro.

–Certo. –Ela concordou, rindo da indecisão do rapaz.

Ao se deparar com as várias opções de creme dental a garota ficou estupefata.

Meu Deus! Quando surgiu toda essa variedade de creme dental? Dentes sensíveis, branqueadores, total 12... Era tão mais simples quando eu só precisava escolher se queria o Tandy de morango ou de uva. –Ela pensava.

–Olha só quem eu encontro aqui. –Um rapaz que ela lembrava de ter visto nas fotos, disse. –Maria de Fátima dos Prazeres! E eu que pensei que você estivesse desmemoriada em um hospital.

–É, oi. Eu estava no hospital sim, mas tive alta. –Ela explicou desconfortável, pois o garoto a estava filmando. –Qual o seu nome mesmo?

–Álvaro Gabriel, ao seu dispor. –O garoto fez uma reverência exagerada. –Ou se preferir, Orelha, o apelido que você inventou. Então é verdade que você não se lembra de nada?

–Mais ou menos. Eu me lembro de tudo, até dois anos atrás.

–E como você está fazendo? Ouvi boatos de que você finalmente conseguiu prender o Bruno. Me disseram que tem até um bebê a caminho. Conte tudo aqui, para a nossa querida TV Orelha.

Fatinha estava assustada com os comentários do garoto. Ela olhou para os lados procurando algum sinal do Bruno.

–Vai Facinha, não fique tímida com a câmera justo agora. Logo você que já é tão intima dela.

–Você me chamou de que? –A garota perguntou assombrada.

–Ué, de Facinha. É o seu apelido, lembra? Ah, mas você não lembra né?! Afinal eu te dei esse apelido no inicio do ano passado. –O tal Orelha disse, irônico.

–Meu apelido? Por que? –Fatinha perguntou, com medo da resposta.

–Simples: porque você é a garota mais rodada de todo o Quadrante!

–Você perdeu a noção? Eu não sou obrigada a ficar escutando essas bobagens.

A loira pegou um creme dental aleatório e deu as costas para o garoto.

–Ei, Facinha. –Orelha chamou, segurando o braço dela. –Já que você não consegue se lembrar do nosso beijo, eu posso repetir o feito para refrescar a sua memória.

–Pois eu dispenso. Agora será que dá pra soltar o meu braço? –Ela pediu.

Naquele mesmo instante Bruno apareceu.

–Algum problema Fatinha? –Ele perguntou se aproximando.

Orelha soltou o braço dela.

–É só um idiota me incomodando.

–Então os rumores são verdadeiros. –Orelha disse apontando a câmera para o casal. –Quem diria, que um truque tão velho quanto esse daria resultado... A cada dia que passa você consegue me surpreender mais Fatinha, não esperava que você usasse o golpe da barriga pra segurar homem.

–Olha garoto, se você não tem nada útil a dizer é melhor ficar calado. –Bruno disse nervoso.

–Vamos Bruno? –Fatinha chamou o moreno, tentando evitar uma briga.

–Vamos. –Ele pegou a mão dela e a levou até onde o carrinho estava.

Orelha continuou filmando a cena, dando um close nas mãos dadas do casal.

–Tudo bem? –Bruno perguntou quando eles já estavam no caixa.

–Tudo. O atestado que o doutor Lorenzo me deu vai até que dia mesmo?

–Acho que ate domingo. Ele disse que você poderia voltar às aulas e ao trabalho na segunda.

–Ainda bem que hoje é quinta-feira. –Ela disse sorrindo.

Sinceramente, só espero que os outros alunos do Quadrante sejam mais legais. Do contrário não sei o que eu vou fazer.


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Notas finais do capítulo

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