Final Destination - Risk Of Death escrita por Paul Oliver


Capítulo 9
Unbroken


Notas iniciais do capítulo

Eae! Mais um cap pra vocês!

~Não acreditem no contador de palavras do Nyah! O contador do Word deu 9999 palavras nesse cap!

Ah, algumas coisas que eu descobri escrevendo esse capítulo:
1 - Aprendi a escrever Madison Square Garden.
2 - Notei que uso muito isso pra começar parágrafos: "Sem dúvidas..."
3 - Descobri que tenho MUITA preguiça para escrever, por isso demoro mais que o normal para terminar um capítulo.
Não que eu não goste de escrever (o que eu estaria fazendo aki então né????), eu AMO! Somente que... Ah, esquece, vcs entenderam. :P

Bom, aqui serão apresentados o restante do cast da fic então deem uma olhada novamente:


https://pauloliverfd.blogspot.com/2018/04/personagens-final-destination-risk-of.html

Seria interessante vocês verem para ter uma ideia da aparência deles. ^^
O cap está CHEIO de referências aos capítulos passados, então espero que vocês lembrem de tudo. XDD

Tenham uma boa leitura!



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Dezembro de 2012.

O último mês do ano se iniciava, era exatamente 1 de dezembro. E toda a loucura na vida de David Urban, continuava.

Sem dúvidas, sua vida tinha tomado um rumo totalmente diferente do que sempre imaginou. Seus sonhos de quando era criança não poderiam mais se realizar, seu desejo de ser um engenheiro agrícola ou de casar e ter uma bela família, não iria mais se realizar. Não depois do que fizera. A culpa é minha, toda minha..

Sabia que foi decisão sua se entregar para a polícia no lugar de sua irmã Dora, há mais de sete anos atrás. Seu medo e zelo para com a irmã mais nova era maior que tudo, na epóca não ficou arrependido de tal ato. Sempre protegeu Dora na cidadezinha em que moravam, fazia de tudo para que seus pais nunca soubessem o que sua irmã aprontava pelas ruas da cidade. Eram velhinhos e doentes para entender a índole da filha. Tentou por diversas vezes mudar o jeito de sua irmã, dava conselhos, arrumava emprego à ela, mas nunca deu certo. Perdeu diversos amigos e namorados por proteger sua irmã. O que mais sentia falta era de um turista estudante de medicina, que conhecera em sua cidade. Seu apelido era Jeff.

David abriu os olhos.

Não queria ter lembrado dele. Então deu um rasante no helicóptero que pilotava, tinha que desviar dos tiros vindo de um outro helicóptero atrás do seu. Estava mais uma vez fugindo da polícia, aquele jogo de gato e rato se estendia desde que fugiu do presídio de Starlike, no começo do ano. David era o último dos fugitivos, estava cansado, exausto, pronto para jogar a toalha e se entregar. Nada mais valia a pena agora, tudo estava perdido.

Já fazia quase três meses que soube da prisão de Dora. Soube também que ela havia confessado a culpa que antes era dele, mas sabia que não poderia voltar para a sua vida de sete anos atrás. Essa vida não existia mais. Seus pais estavam mortos já fazia quase três anos, isso foi um choque pra ele. Sentia raiva de Dora nem sequer informá-lo sobre isso na prisão, na verdade, Dora nunca foi visitá-lo na prisão.

David já não sabia mais o que sentir ou pensar sobre a irmã. Ela não mudou com a segunda chance que eu a proporcionei, ela simplesmente piorou e muito.

Mais um rasante.

O painel do helicóptero piscos por três vezes, aquela estava sendo uma fuga difícil. Tivera a sorte de quando era adolescente, um fazendeiro amigo de sua família o ensinar a pilotar helicópteros. Mas mesmo assim, não imaginara estar conseguindo fazer manobras tão bruscas sem perder o controle da aeronave.

Voltou seus pensamentos a Dora, já não sentia no direito de julgar os rumos que a vida de sua irmã havia tomado. Já que a sua própria vida estava um caos. E mesmo que por sobrevivência, desde a época da rebelião e da sua fuga até aquele primeiro de dezembro, perdera as contas dos crimes que havia cometido. Começou quando matou um guarda no dia da rebelião, depois foi ficando mais fácil e as situações mais oportunas. Sem falar dos roubos. Não lembrava direito da ordem dos acontecimentos, mas tinha uma singela lembrança de quando tentou roubar um caminhão, em um hotel no centro da cidade próxima ao presídio. Ele chegou a ligar o veículo no estacionamento, mas não conseguiu roubá-lo. Se impressionou com um adesivo de uma santa colado no painel do rádio, e mesmo sem ser um católico convicto não conseguiu mais roubar o caminhão.

St. Mary...

Recordava de que levara um susto quando ouviu barulhos de uma pessoa chegando e correu dali no mesmo minuto, deixando o caminhão ligado e com os faróis acessos. Dias depois soube que o caminhão se chocou contra a parede do estacionamento. Lembrava de ter ficado feliz que ninguém havia se machucado.

Suspirou profundamente. Olhou pelo espelho do helicóptero e pôde ver os dois helicópteros ainda o seguindo, não atiravam mais, a munição devia ter sido esgotada.

Suspirou novamente.

Então passou a olhar seu reflexo no pequeno espelho. Seus olhos e cabelos eram da mesma cor que os da sua irmã, ambos castanhos, com certeza era muito parecidos. Não sabia como estava Dora agora, mas sabia que a sua aparência refletia muito bem como estava se sentindo. Completamente vazio.

Já pensara em se suicidar. Essa ideia ficou ainda mais forte em sua mente, após descobrir sobre a morte dos pais e a prisão de Dora. Se não fossem seus companheiros, teria dado um fim a sua vida ali.

Alex, Devon, Rivero, Thompson, August... Como vocês fazem falta.

Alex e Devon foram seus companheiros de cela por todos seus sete anos de prisão, foram presos por roubo e estelionato, não eram bandidos agressivos e David agradeceu muito por isso. Ambos acabaram morrendo no mesmo dia da rebelião, então David se juntou a outro grupo de fugitivos, ficou meses escondido com o grupo nas montanhas perto de um famoso parque florestal. Esse foi o erro, já que em pouco tempo a polícia federal acabou achando todos, e apenas ele e mais três escaparam.

Jorge Rivero, Pierre Thompson e August Cooper, eles os protegiam de tudo. Eram bandidos com uma ficha mais extensa e ensinaram tudo o que David precisava aprender para sobreviver nas ruas. E ele aprendera. Era questão de vida ou morte.

Morte...

Já fazia três meses que Rivero e Thompson foram mortos pela polícia, desde esse dia David estava sozinho. Não soube dizer o porquê, mas lembrou claramente do dia em que August morreu.

Já fazia mais de cinco meses, ele, Thompson e Rivero haviam saído do esconderijo arranjar comida, porem o plano saiu do controle e a polícia deu início a uma perseguição. Então roubaram um caminhão de fogos de artifícios para fugirem. David dirigia ferozmente pelas ruas da cidade, haviam conseguido despistar os tiras e então iriam direto para o esconderijo no subúrbio da cidade. Mas ao passar pelo cemitério no centro da cidade, acabou perdendo o controle do veículo e acabou por entrar em contramão batendo o veículo contra uma cabine telefônica, onde estava um rapaz. Um táxi ao desviar dele, fez o mesmo. As pessoas se amontoaram em cima do acidente e por imensa sorte fugiram dali. Mas não conseguiram voltar no mesmo dia ao esconderijo onde August estava os esperando, foi no dia seguinte que ouviram pelo rádio que o local havia pegado fogo graças a um vazamento de gás, e matando um homem que estava lá. Ele, Rivero e Thompson não puderam deixar de imaginar que se não fosse o acidente com a cabine telefônica, teriam morrido junto de August.

David engoliu em seco.

Nada adiantou, eles morreram também... Só eu que não. Se eu tivesse morrido ali, não teria feito a pior coisa que fiz na vida. Que eu me arrependo mais que tudo.

— Eu matei o Jeff.

Seus olhos se encheram de lágrimas. Sua cabeça doeu fortemente, e sua mente voltou a rebobinar como uma fita cassete. A imagem de Jeff na sua frente naquele restaurante, depois de anos sem se ver não saia de seus pensamentos. Então sua mente o fez voltar no tempo, se viu entrando no restaurante Le Cafe Miro 81 novamente, escolher uma mesa e vítimas para seu roubo, não soube porque mas decidiu escolher a mesa de dois homens muito bem vestidos, pareciam bancários ou algo do tipo. Primeiro falou com eles, e mostrou a arma embaixo de seu casaco preto. O homem moreno preparava o dinheiro para entregar, foi quando David notou que já o conhecia, era Jeff, seu antigo namorado. Ficou estático, e então ouviu uma mulher no fundo do restaurante gritar, e Jeff pulou em cima dele, e por reflexo disparou. Ficou breve segundos olhando nos olhos dele, e então pôde perceber que no último suspiro de vida do médico, ele o reconheceu. David fugiu do local, mas desde esse dia nunca mais foi o mesmo. Não tinha com quem desabafar. Seus atuais companheiros, Thompson e Rivero, nem suspeitavam de sua sexualidade, ainda eram desconhecidos para ele na época. Levava a dor de ter matado a pessoa que amava, sozinha dentro de si.

David sentiu um nó na garganta. Naquele momento desejou que pudesse voltar no tempo e nunca ter se entregado no lugar de Dora. Ou então não ter fugido no dia da rebelião. Nada mais adiantava.

Apertou as mãos no volante do helicóptero, mas de repente duas luzes forte o deixou zonzo. Eram mais dois helicópteros da polícia, ele estava cercado, sem escapatória. Então fez um rasante para cima, mas algo deu errado. O painel do helicóptero apagou por completo. Era uma pane.

Então a aeronave foi indo em direção ao chão. Cada vez mais e mais para baixo, em direção as árvores. David nem sequer notou que essas mesmas árvores foram seu primeiro refúgio quando saiu fugiu da cadeia. Fechou os olhos, sabia como aquilo ia acabar.

Suspirou aliviado.

XX-XX-XX

Treze horas antes...

Os óculos de Louise estavam postos sobre o criado-mudo próximo a uma cama de casal. A garota estava sentada na beirada dela, usava um pijama curto que deixava boa parte de suas pernas a mostra. Passou as mãos sobre seus cabelos castanhos e suspirou.

Sorriu.

Olhou para o outro lado da cama, Oliver ainda dormia. O garoto estava sem camisa e com lençóis o cobrindo da cintura pra baixo. Louise tocou levemente seu peito, e olhou carinhosamente para seu rosto. Mais uma vez sorriu, lembrando da maravilhosa noite que passaram juntos. Desde o jantar preparado por eles mesmos, passando pelo filme que assistiram juntos e depois a noite de amor. Essa não fora a primeira noite do deles. Simplesmente havia sido mais uma das maravilhosas noites que passaram juntos.

Já fazia quase cinco meses da morte de Rosie e Leonel, havia sido um baque e tanto para os jovens, mas a vida teria que continuar. Os primeiros meses foram os mais torturantes de toda a vida dos garotos, mas o tempo era como um remédio que ajudava a cicatrizar as feridas. Porém, mesmo o tempo fazendo bem para eles, era difícil suportar a saudade.

O tempo é como um remédio ruim.

Louise levantou da cama e guiou-se ao banheiro do quarto. Estavam na casa de Oliver, sozinhos. Não moravam lá, mas sempre que podiam iam até suas antigas casas, tudo ainda estava como antes, do jeito que seus pais deixaram.

Oliver praticamente morava na casa de um amigo do colégio, e Louise também, só que na casa de uma amiga. A família de Oliver era pequena e moravam distante demais da cidade em que viviam, vieram apenas para o funeral de Leonel. Um tio propôs para o garoto morar com ele e com os primos, mas Oliver não aceitou. Não podia deixar Louise sozinha.

A francesinha não tivera apoio de nenhum dos parentes que moravam na Itália. Simplesmente nenhuma tia de Louise viera no enterro de Rosie, nem sequer seus avós. Aquilo a deixou ainda mais abalada. Não tinha noção de quanto sua mãe era rejeitada pela família, ainda pelo episódio da gravidez precoce. Pensou que talvez Rosie mascarava a relação com a família, para parecer estar tudo bem.

Tudo estava sendo tão doloroso, e essa atitude de seus familiares só piorou a situação. Se não fosse seu pai vir dar seu apoio, Louise não sabia se aguentaria tudo sozinha.

O pai de Louise viera ao enterro e em outras ocasiões, nenhuma das vezes a convidou para morar com ele. A garota também não aceitaria, ele morava em New York e era longe demais da cidade em que estava. Louise não queria perder contato com Oliver, já que com o passar dos meses criaram uma relação muito forte.

Mais que uma simples amizade.

O celular de Louise tocou e vibrou no criado-mudo, próximo aos seus óculos. Estes acabaram caindo no chão e fazendo uma das lentes se rachar. Louise saiu depressa do banheiro, mas o aparelho já havia parado de tocar. Então parou por alguns segundos fitando o objeto no chão, na lente rachada Louise podia ver o reflexo do ventilador girando no teto, logo acima dela.

Pegou os óculos.

— Droga... Quer saber? Acho que não quero mais usá-los!

A garota guardou-os na gaveta do criado-mudo, próximo a um caderno. Então notou que era seu diário, não podia deixá-lo ali. Antes de pegar o tal caderno, se assustou quando o celular tocou novamente, e então esqueceu de pegar o objeto. Atendeu rapidamente o aparelho para que Oliver não acordasse.

— Alô? Quem é?

— Alô, é a Angel, Louise! Bom dia!

— Oh, Angel! Bom dia, querida. Desculpa, não vi o seu nome no identificador...

Louise saiu lentamente do quarto, Oliver ainda dormia profundamente.

— É hoje que você e o Oliver vão lá naquele lance... Aquele lance do passeio?!

— Sim, o passeio de formatura. — Louise riu, ainda estava se acostumando com o jeito de Angel. — Vamos sim, nós vamos pegar o ônibus ás seis da tarde. Foi realmente muita coincidência as nossas escolas se juntarem nesse passeio! — Sorriu.

— Pois é, gata. Fico muito feliz por vocês! Só sinto que vocês não poderão vir aqui na alta da Shani, que vai ser no sábado. Foi por isso que eu liguei, pra confirmar.

— Sábado nós ainda vamos estar lá, vamos voltar somente no domingo. — Fez uma pausa. — Ai, fiquei triste agora queria tanto estar com vocês nesse momento.

— Eu também queria! Você sabe o quanto as visitas de vocês pra Shani fizeram bem à ela. Ajudou muito na recuperação daquela bitch!

— Angel! — Louise gargalhou, e Angel também. — Imagina, visitar a Shani também ajudou muito eu e o Oliver a nos recuperarmos da morte dos nossos pais. Foi uma troca positiva.

— Com certeza. Bom vou desligar, tenho que ir na delegacia ainda hoje. Resolver aquele lance chato... Enfim, boa viagem! Se cuida, hein?

— Obrigada Angel. Manda um beijo pra Shani.

— Ok... Manda pro Oliver também! Beijo linda. Tchau!

— Beijo. Tchau.

Desligou.

Era incrível como Louise, Angel, Oliver e Shaniqua haviam ficado próximos naqueles últimos meses. Tudo havia começado quando Angel os ajudou logo após as mortes de Rosie e Leonel. Louise lembrara de como as longas conversas com Angel, a fazia bem. Desde então eram quase que diárias as visitas que ela e Oliver faziam para Shaniqua no Hospital do Centro. A negra ainda se recuperava lentamente do acidente de carro, não que ainda estivesse em estado grave, mas foram inúmeras cirurgias que a enfermeira tivera que passar. A grande maioria estéticas, tudo para que seu maxilar ficasse como era antes do acidente.

Louise desceu as escadas, e ao passar pela a sala da casa, viu um retrato de Leonel pendurado na parede. O falecido médico estava muito bem na foto, Louise pôde sentir uma imensa tranquilidade ao visualizar a imagem.

Nosso herói.

A garota sorriu. Por um breve momento lembrou dos gritos que ouvira no dia da morte dele, ainda não entendia o porquê daquilo. Mas logo essa lembrança fugiu de seus pensamentos. Para ela esse pesadelo tinha chegado ao fim, e nada mais daquilo importava agora.

Se lembraria apenas dos momentos bons de seu passado, assim como sua amada mãe queria que fizesse.

XX-XX-XX

Os olhos de Shawnee transmitiam uma imensa fúria.

A jovem asiática estava sentada na cadeira dos réus na grande sala do Fórum da cidade. A sala estava relativamente cheia, mas aos poucos já se esvaziava. O veredito já havia sido tomado há alguns minutos atrás.

Kramer estava sentado ao lado do advogado de acusação, com um imenso sorriso no rosto. Não poderia estar mais satisfeito, a justiça havia sido feita.

A asiática estava sendo ancorada por dois policiais, não que precisasse, pois estava aparentemente calma. Usando um típico uniforme laranja, a jovem de vinte e cinco anos seria levada diretamente a prisão feminina de Starlike, uma cidade próxima. Ela fora sentenciada à 27 anos de reclusão, não apenas pelo erro na cirurgia de Carl. A jovem ainda tinha ligações com uma famosa rede de tráfico de drogas nos EUA.

Os envolvidos com essa rede de tráfico se denominam: Thanatos. Vários deles já haviam sido presos, mas sempre aprecia um ou outro, parecia não ter fim.

A jovem asiática não havia falado tudo que sabia sobre os Thanatos, em uma ocasião riu quando a chamaram assim. Muita coisa ainda estava escondida ali, e Shawnee não abriria o jogo. Não podia e não queria.

O médico ainda sorrindo, viu Shawnee se aproximar com os guardas. Ele era a grande testemunha que havia feito a pena da garota aumentar ainda mais. Estava absurdamente contente com aquela situação, e não conseguia esconder.

Ver Shawnee naquela situação era gratificante. A jovem passou por ele e lançou um olhar de fúria para Kramer. Ao se aproximar, esbarrou propositalmente nele. Os policiais logo deram-lhe um safanão, mas antes ela conseguiu sussurrar na orelha do médico:

— Não acaba aqui.

XX-XX-XX

Angel saiu da delegacia, desceu alguns degraus e entrou em uma calçada movimentada. Seu carro já havia saído da oficina há meses, mas a loira havia pegado o hábito de andar á pé.

Por um instante Angel xingou mentalmente o delegado, com quem acabara de ter uma longa conversa. Isso por causa da enorme demora do julgamento de Dora. Realmente estava demorando demais, parece que depois de ser presa a jovem havia recebido muitas outras acusações de pequenos golpes. Todos eles em parceria com Kurt. Isso tudo, somado a diversas outras circunstâncias só atrasaria o seu julgamento, mas o delgado prometera que antes de 2013, o julgamento aconteceria.

A loira suspirou suavemente.

Não tinha motivos para ficar estressada. Todos os últimos meses haviam sido ótimos, tudo estava dando certo. Dora estava presa sem a menor chance de sair, Oliver e Louise já haviam superado a morte dos pais, Shaniqua estava noventa e nove por cento recuperada e até emprego a loira conseguira. Devido as constantes visitas ao Hospital do Centro, Angel havia ficado amiga dos funcionários e então assim que abriu uma vaga no corpo de enfermagem de lá, ela entrou. Trabalhava no período noturno, o único disponível. Foi se adaptando com a nova rotina, de dia passava a maior parte com Shaniqua e a noite trabalhava. Era cansativo, porém a felicidade de tudo estar dando certo, anestesiava tudo.

— Angel!

A loira se assustou com um homem que colocara a mão sobre seu ombro. Mas depois sorriu após ver quem era.

— Kramer! Tudo bem? Faz bastante tempo que não te vejo.

Ele então a cumprimentou com um beijo no rosto. Já fazia um certo tempo em que eles não se viam, Kramer havia tirado férias do hospital a alguns meses e então pouco se encontravam.

— Como anda o hospital? — O homem passou acompanhar Angel pelas ruas.

— Bem, tudo anda muito bem.

— Err... Eu vi você saindo da delegacia. Eu estava conversando com meu advogado em frente ao fórum e corri ver se te alcançava. — Sorriu de lado.

— O que você queria falar comigo, Kramer?

O médico fez uma careta.

— Me chama de Scoot, não estamos no hospital, Angel!

A loira riu.

— Eu juro que vou tentar, é difícil pra mim, desculpe.

— Então Angel, eu queria te convidar pra tomar um café agora, pra botar o papo em dia. Se você não tiver ocupada, claro.

Dessa foi Angel que fez uma careta.

— Err... Eu ia visitar a Shani agora e... — A loira mal começou a falar e o médico abaixou a cabeça frustrado. Qual é, Angel! Esse cara é afim de você desde que te conheceu! E você sempre não aceita seus convites, supera garota! É apenas um nome. Disse pra si mesma.

— Quer saber? Acho que a Shani não vai se importar de eu atrasar um pouco.

Kramer abriu um sorriso de orelha a orelha. Até que enfim ela aceitou.

— Bom, então vamos? Eu conheço uma cafeteria ótima!

Eles então deram meia volta e mudaram o rumo.

XX-XX-XX

Shaniqua olhava com seus grandes olhos pretos para um espelho em suas mãos. Tocava suavemente a região do seu maxilar, exatamente sobre as diversas cicatrizes ali presentes. Estas eram leves e quase não pareciam, mas o tom da pele da moça naquela região era mas clara que o resto de seu rosto e chamava certa atenção. Era o resultado do enxerto de pele.

Ela não ligava nem um pouco para aquilo, sabia que somente o fato de estar viva era importante. Então pouco se importava com sua aparência, continuava se achando linda e ainda além disso, se achava uma mulher mais forte que antes.

Não fora nada fácil enfrentar todas aquelas cirurgias, a negra tentou lembrar a quantidade mas se perdeu nos números. A recuperação só não fora mais difícil, pois teve grande ajuda de Angel e de outros amigos, como também de sua família que periodicamente vinham de sua cidade e passavam o dia todo com ela.

Aqueles meses passaram depressa.

Do acidente, Shaniqua apenas se lembrava de brigar com Dora minutos antes de Kurt perder o controle do carro. Depois só fora tomar consentimento de tudo, semanas depois. Já que havia sido levada a coma induzido após as principais cirurgias para a reconstrução de seu maxilar. Depois de finalmente despertar, fora Angel que a contara sobre tudo. Desde a história da lista, passando pela morte de Kurt, Carl, Jeff, Leonel, Rosie, até a prisão de Dora. Shaniqua havia ficado completamente chocada com toda a história, e extremamente abalada com as mortes, em especial de Carl e Jeff.

Estava sensível e isso a ajudou a acreditar em cada palavra da amiga, e foi um alívio descobrir que todo aquele pesadelo havia acabado. E assim como Angel, se sentiu no direito de conhecer e dar apoio ao filho do herói que salvara suas vidas. E como em conjunto conhecera melhor Louise, e ambas ficaram amicíssimas. Shaniqua costumava brincar que Louise era sua favorita, e Angel costumava dizer que seu favorito era o Oliver.

Sem a menor sombra de dúvidas, receber a visita de pessoas jovens a animou bastante em sua recuperação. O que mais marcou-a nesses últimos meses, eram das pequenas festas que eles preparavam no quarto de hospital. Era uma loucura! E eu adoro uma boa loucura!

A negra sorriu enquanto olhava seu reflexo. Não importava se por fora não estava quebrada, o importante é que por dentro o seu coração estava intacto.

Batidas na porta do quarto, interromperam seus pensamentos. A negra então colocou o espelho sobre a mesinha próxima a sua cama e disse que podiam entrar.

Era um homem.

Por apenas um segundo não o reconheceu, mas logo no segundo seguinte já sabia quem era. Abriu a boca, em choque.

O homem segurava lindo buquê de rosas vermelhas nas mãos, estava de em frente a porta. Dando um largo sorriso.

— Wen?!

XX-XX-XX

Oliver desceu as escadas de sua casa com um caderno rosa em mãos. Ainda estava sem camisa, mas dessa vez usava um shorts azul escuro.

— Esse é seu diário, Louise?

A francesa estava sentada no sofá da sala de estar, arrumando diversas malas para a viagem que fazer iam no fim da tarde. Ao ver Oliver com o diário, deu um pulo do sofá.

— É sim, me dá!

Oliver puxou o objeto pra si novamente.

— Nossa, pra que tanta pressa? Têm alguma coisa aqui que eu não posso ler?

Louise sorriu.

— Não é isso... É que é pessoal, entende?

— Não muito... Mas vou respeitar sua privacidade.

O garoto riu e então Louise se aproximou e deu um rápido beijo nele. Aproveitou e pegou seu diário. Oliver agarrou em sua cintura e ambos vieram andando até próximo as malas no chão da sala de estar.

— Já arrumou tudo? — Oliver perguntou olhando as malas.

—Se você me ajudasse estaria tudo pronto, Oliver. Eu também não sei porquê que deixamos tudo isso pra última hora! São quase duas da tarde!

Oliver se abaixou próximo à uma mala vermelha no chão, ela estava aberta.

— Relaxa, a gente têm até as cinco pra arrumar tudo.

— Como se isso fosse muito tempo, né? Você sempre com essa mania de deixar tudo pra última hora, e eu acabo indo na sua!

Louise suspirou e passou a mão entre seus cabelos, colocou o diário em uma mala, e então voltou seus olhos para Oliver. O rapaz estava com um objeto em mãos, provavelmente havia encontrado junto as bugigangas de uma das malas.

— Essa mala aí eu não vou levar não, obviamente. — Riu. — É só algumas coisas que acabei encontrando esses dias em casa, só que a mala é muito boa então vou esvaziá-la e usar pra...

A garota fora interrompida pelo zumbido que o objeto nas mãos de Oliver emitiu. Louise só então percebeu o que era.

Um gravador.

— É seu Louise?

A francesa se manteve em silêncio, então sentiu um forte arrepio passando por cada milímetro do seu corpo. Apenas uma palavra veio a sua mente.

Carl.

— Carl... A última vez que usei esse aparelho foi com ele. Na entrevista que ia usar em um trabalho do colégio...

Louise sentou ao lado de Oliver no chão. Oliver ainda a olhava esperando mais algum comentário.

— De repente... Eu senti uma coisa estranha, Oliver. Uma sensação ruim.

Oliver se manteve inexpressivo.

— Como assim?

— Me lembrei do Carl. De como a morte dele foi cruel e de como ele era jovem, assim como nós. — Engoliu em seco. — Ele passou por tanta coisa difícil e morreu. Eu senti que... A verdade é que era pra estarmos mortos também... Assim como aquela recepcionista, aquele médico, o irmão do cadeirante, os nossos pais e o Carl!

Oliver bufou.

— Louise... — Tentou ser cuidadoso com as palavras. — Eu não quero ser insensível mas, a gente já conversou sobre isso milhares de vezes. Meu pai nos salvou, ele conseguiu pular a vez dele na lista e morreu quando era a nossa vez. Morreu fora da ordem, a lista não era inquebrável! Eu sinto muita, muita, muita falta dele, mas a vida continua! Ele e a sua mãe devem estar felizes de nós estarmos vivos. Não têm porque ficarmos pensando assim.

Louise olhou pro chão e sacudiu a cabeça.

— Você têm razão. Nem sei porquê eu falei isso... Mas esse gravador trouxe algumas lembranças...

Oliver então apertou o play do aparelho sem querer, então um ruído foi emitido. E logo depois algumas vozes seguidas de gritos e muito barulhos ao fundo:

— O que houve Angel?!

— Eu não sei!

POW!

Essas foram as únicas frases que Louise e Oliver puderam identificar. Logo após elas, podia-se ouvir muito barulho e gritos. O casal ficou em silêncio até a gravação se encerrar. O rapaz olhou no gravador, ela durou exatamente 13 segundos.

— Era a voz da minha mãe e da Angel, Oliver. Eu tenho certeza. — Louise afirmou com segurança.

— Como você têm tanta certeza... Pera aí, Louise! Você disse que a última gravação nesse gravador era a da entrevista com o Carl! Mas que porra é essa?

Louise sentiu um forte sensação. Por um momento sentiu seu corpo flutuar.

Fechou os olhos.

Então se viu correndo ao lado da mãe nas escadas do St. Mary, naquela fatídica manhã. Rosie estava com seu gravador em mãos, então a garota pode ouvir sua mãe dizer:

— Angel! Você não pode levar um paciente pra fora desse jeito!

Então ambas chegaram próximas a loira e Carl.

— O que houve Angel?!

— Eu não sei!

POW!

Após o grito da loira um estrondo ecoou pelo estacionamento do St. Mary, assustando as pessoas ali presentes. Louise junto da mãe, Angel e Carl correram mais adiante no local e então puderam perceber que o barulho viera do alto do prédio do hospital, tentavam visualizar algo.

Louise ajeitou os óculos, e então viu o gerador se movendo lentamente.

Abriu os olhos.

Oliver estava na sua frente novamente.

— Só treze minutos gravados. Mas você não me respondeu, que porra é essa Louise?

A garota se levantou um pouco assustada, passou as mãos sobre os cabelos.

— A... Minha mãe gravou isso quando saímos do St. Mary no dia do acidente. Eu não lembro direito o porquê, eu acho que era por causa da Angel ter levado o Carl pra fora do prédio daquela forma bruta. Ela acabou conseguindo gravar o começo daquele tumulto... É isso.

Oliver arqueou as sobrancelhas e maneou a cabeça positivamente.

— Entendi.

Então o rapaz deu o aparelho nas mãos da namorada e deu um beijo nela. Passou a mão sobre seu rosto delicadamente.

— Vai tomar um banho Louise, relaxar um pouco. Eu sei que o que passamos foi difícil, mas temos que continuar. A gente estava indo tão bem esses meses! — Sorriu. — Até fazíamos visitas a Shani! Pra ajudar ela a se recuperar. Olha só, nós que ainda estávamos tristes ajudamos uma pessoa a ficar bem! Irônico não?

Louise sorriu de leve.

— Você têm razão. Eu quero estar bem nessa viagem, ela marca o fim de uma etapa nas nossas vidas, o ano que vêm começaremos outra. Não dá pra levar o passado pro futuro. Principalmente quando ele é ruim.

Oliver assentiu e beijou sua testa.

— Vai relaxar um pouco, eu termino de fazer as malas.

Louise sorriu e deixou o gravador sobre a mesinha de centro, e então subiu as escadas. Oliver sentou-se no sofá. Mudou totalmente o semblante.

Ah Louise... Eu não consigo te contar, não consigo! Não vai dar pra eu ir junto com você pra New York para fazer faculdade, não vai dar...

O garoto passou as mãos sobre a testa. Aquela era uma situação chata, suas notas em seu colégio não haviam sido suficientes para que ele pegasse seu diploma. Ele teria que repetir todo o ano letivo novamente. Ficara sabendo disso na última semana de aula, mas Louise já havia programado muitos planos para os dois, ele não conseguia criar coragem para contar à ela. Mas sabia que uma hora isso viria à tona.

Está decidido, eu irei contar á ela depois da viagem. Daí eu vou tentar encontrar uma vaga em um colégio em New York pra podermos ficarmos juntos, só tenho que rezar pra ter vagas.

Recostou a cabeça do sofá, tinha que ser otimista. Se levantou e abaixou-se para pegar um objeto qualquer de baixo da mesinha de centro, mas quando foi colocá-lo em cima da mesinha acabou derrubando acidentalmente o gravador. A batida fez o aparelho ligar, mas as falas estavam saindo rápidas demais, era impossível entendê-las.

— Que ótimo agora quebrei esse negócio...

Oliver deu pequenos tapinhas nas costas do gravador, e então o som voltou ao normal:

— Destinado à morrer... Sempre em risco de morte.

O garoto congelou ao ouvir a voz de Carl. Rapidamente deu stop no gravador e o colocou sobre a mesinha.

Respirou fundo.

— Não... Não estamos mais em risco, Carl.

XX-XX-XX

— Cara, o dono dessa cafeteria deve ser milionário! Vejo, essas cafeterias por toda a cidade!

Angel disse rindo olhando o nome da cafeteria no vidro: Death By Caffeine.

Kramer estava sentado na sua frente e riu com o que a loira dissera. Já fazia quase dez minutos que estavam conversando ali, suas bebidas já haviam sido servidas e Kramer tomou um gole da sua.

— Então Angel, você disse que o julgamento da Dora vai demorar?

— Oh, sim! Parece que não têm previsão, mas vou torcer pra que seja o quanto antes. — Angel então tomou um gole de sua bebida. — E o julgamento daquela mulher que... Matou o Carl.

A loira disse um pouco receosa. Sendo arquitetado pela morte ou não, foi ela que causou a morte do Carl, isso foi sim. Angel continuou. — O julgamento demorou muito? Eu nunca fui em um...

— Não, não demorou tanto como eu pensei, mas enfim... Agora ela está presa e é isso que importa.

O médico sorriu, olhando diretamente nos grandes olhos azuis de Angel. Como é linda. Poderia ficar olhando pra você o dia todo.

Angel ficou um pouco acuada com o olhar do médico, então rapidamente mudou de assunto.

— Me conta mais sobre você, Kram... — Angel se interrompeu. — Digo, Scoot.

O homem roçou a mão sobre sua barba, pensativo.

Oh, meu Deus! Ele realmente é uma delícia. Angel pensou e tomou mais um gole da sua bebida.

— Bom, meu nome é Scoot... Não é Kramer!

Angel riu, e o homem continuou.

— Meu nome é Scoot Kramer, eu tenho 39 anos...

A loira quase cuspiu um pouco da bebida da boca, se assustou após ouvir a idade do homem.

— O quê houve, Angel?

— Meu Deus! Você parece muito novo pra ter essa idade, cara. — Limpou sua boca com um guardanapo. — Você é uns 13 anos mais velho que eu!

— Obrigado, mas porquê essa comparação entre nossas idades?

Angel se calou por um momento, seu rosto ficou um pouco vermelho.

— Err... Ah, sei lá! É que você sempre me chama pra sair e...

— Você nunca aceita. — Kramer completou.

— Mentira, eu tô aqui. Olha! — Angel riu, e apontou pro seu rosto.

Kramer mordeu os lábios, e fechou os olhos por alguns segundos.

— Eu gosto muito de você, Angel. Muito mesmo. Desde que eu te vi naquela situação difícil com o Carl, eu nunca te esqueci. Eu só não entendia porquê você nunca aceitava sair comigo, e sempre me chamava pelo sobrenome... Parecia que não gostava nem um pouco de mim.

— Não é isso, Kramer. É que eu...

— Viu só! Kramer de novo! Meu nome é Scoot, você já sabe disso desde que foi trabalhar no hospital há meses. Não é possível que seja involuntário, eu sempre estou lembrando você do meu nome!

O médico ficou visivelmente frustrado. Angel então decidiu contar.

— Meu pai se chama Scoot.

Kramer ficou em silêncio, depois de alguns segundos pareceu entender a situação sem ao menos Angel continuar a contar.

— Creio que você não deva ter boas lembranças dele, não é?

Angel assentiu e tomou mais um copo da bebida.

— Eu sei que é só um nome, mas... É difícil, o que eu passei com a minha família e especialmente com o meu pai... Não foi fácil.

Kramer tocou a mão da loira suavemente.

— Não precisa contar se não quiser, eu entendo.

Angel sorriu.

Ela pode sentir todo o calor vindo da mão de Kramer, por um momento se sentiu conectada com o homem. Nunca havia sentido algo assim antes, por ninguém.

O médico tirou a mão de cima da mão da loira levemente. E tomou um gole de seu café. O que foi isso?

— Bom... Acho que eu estava contado mais sobre mim. — Riu um pouco e continuou. — Meu nome é Kramer. Apenas Kramer!

Angel não se conteve e deu uma gargalhada, o médico também.

— Você não têm namorada então, Kramer. — Angel perguntou já esperando pela resposta negativa.

— Na verdade, eu sou casado e tenho três filhos.

A loira paralisou.

— O-o quê?

— Tô zuando!

Ambos riram.

— Falando sério... Seus pais moram na cidade? Têm irmãos?

— Não e não. — Respondeu secamente, e antes que a loira dissesse algo, Kramer se apressou a explicar melhor sua situação.

— Eu sou órfão, Angel. Minha mãe me entregou num orfanato, assim que eu nasci.

Kramer disse normalmente, aquele era um fato já superado pelo médico.

— Eu acho que foi por isso que eu me apeguei ao Carl, as histórias são um pouco parecidas.

Angel ficou pensativa e apenas maneava a cabeça enquanto o médico continuava contado mais detalhes dessa história. Estranhamente, a loira então se lembrou de Selly.

Selly? Ela teve um filho... Um filho que ela usou pra enganar a morte, pra quebrar a lista. Meu Deus, porque isso veio na minha mente agora?

Angel arregalou os olhos, o médico continuava a contar sobre sua vida. Angel não prestava atenção nas palavras do homem, e naquele momento não se preocupava com isso. A dúvida que sua própria mente implantou parecia ficar cada vez mais forte.

Será que o filho dela... É o Kramer?

XX-XX-XX

Wen estava sentado num pequeno sofá próximo a cama de Shaniqua, que estava sentada na beirada dela. As rosas vermelhas estavam postas na mesinha ao lado.

Já fazia alguns minutos que começaram a conversar. Shaniqua ainda estava se adaptando a ideia de ver Wen sem as cadeiras de rodas.

— Meu Deus, Wen! É impressionante! Olha só, você pode andar agora!

A negra não conseguia se conter, Wen se levantou do sofá e chegou próximo a ela.

— A recuperação da cirurgia não foi fácil, mas mesmo não tendo ninguém comigo, eu consegui aguentar firme. — Wen então olhou com mais atenção para o rosto de Shani. — Você deve saber bem como é isso.

Shaniqua sorriu.

— Sim, mas eu tive tanta ajuda! Se eu soubesse que você iria fazer essa cirurgia, eu teria dado um jeito de ir até você. — Shaniqua fez uma pausa. — Bem, eu acho que eu não poderia... Sabe que eu comentava sobre você com a Angel? Mas ela nunca tinha notícias.

— Ela te contou do dia que ela me salvou no estacionamento?

— Sim... — Shaniqua mudou o semblante. — Toda aquela história da lista, é realmente... Arrepiante.

Wen riu.

A negra olhou torto para o rapaz. Esqueci que ele não acreditou nessa história.

— Eu nunca acreditei nisso. Mas peço desculpas pela risada, se você acredita... Eu respeito.

Shaniqua voltou a olhá-lo de modo carinhoso.

— Agradeço, mas enfim né? Isso também acabou.

Um longo silêncio invadiu o quarto. Wen se aproximou mais ainda de Shaniqua, que continuava sentada na beirada da cama. Segurou sua mão, a princípio a negra se assustou com o gesto do rapaz.

— Shani, eu sei que nos conhecemos muito pouco. Acontece que se teve uma coisa, além da lembrança do meu irmão, que me fez ser forte o suficiente pra aguentar... Toda a cirurgia, a recuperação lenta, a fisioterapia... Foi você.

Shaniqua se surpreendeu com o relato do rapaz, deu um risinho meio sem graça e abaixou a cabeça. Wen foi rápido e tocou o queixo da moça, o erguendo.

— Eu gosto demais de você, Shani. Eu não quero parecer precipitado mas... Eu te amo. Eu tenho toda a certeza disso.

O rapaz então se inclinou para beijá-la.

Shaniqua recuou.

— Wen...

A negra levantou da cama, Wen ficou visivelmente frustrado e colocou a mão sobre a cabeça.

— Eu não sei direito o que dizer pra você, mas... É muito repentino isso pra mim, entende? Até a um minuto atrás eu te via como um amigo, uma pessoa que eu ajudei em um momento difícil e que eu sinto orgulho agora! Não te via como um homem pelo qual eu me interessaria. Desculpe, mas eu não me vejo ficando com você.

Wen ficou calado por alguns segundos.

— Você tá me dispensando, Shaniqua!? Se eu estou andando agora, é por você! Você não ouviu o que eu te disse agora à pouco?!

Shaniqua se assustou com o tom de voz do rapaz.

— Calma Wen! Eu me sinto lisonjeada por ser sua... Inspiração. Mas acontece, que eu quero ser sua amiga. Apenas isso.

— Você gostava de mim antes! Você foi na minha casa depois que meu irmão morreu, cuidou de mim... Mesmo eu sendo grosso com você! Agora que eu estou sendo legal e você não me quer?

— Cara, você confundiu as coisas... — Shaniqua se aproximou do rapaz, e antes de concluir aquele pensamento, logo um click surgiu na sua cabeça. E então a negra fez uma careta.

— Peraí, Wen... Você não gosta de mim, você quer que eu cuide de você. É isso? Como o seu irmão fazia! — Shaniqua deu um risinho estranho. — Mesmo você não precisando mais de ajuda, você me quer como um segundo Phil!

Wen ficou confuso, mas depois deu sua versão.

— É óbvio que não! Eu amo você, eu gosto de você como mulher! Você que não entendeu.

Shaniqua respirou profundamente.

— Eu sei que esses meses não foram fáceis, nem pra mim e nem pra você, Wen. Nesse sábado eu finalmente vou poder sair deste hospital! — Shaniqua apontou sua bochecha. — Debaixo, da minha pele têm metal, Wen! Toda a vez que eu falo eu sinto o movimento disso aqui, eu tento me acostumar, é realmente... Difícil.

A negra secou uma lágrima que caiu de seu olho, e continuou.

— Eu estive entre a vida e a morte, eu quero sair daqui e aproveitar tudo mesmo. Tudo, tudo, tudo! Não é a hora de um relacionamento agora. Me desculpe se estou sendo insensível, mas é um momento delicado na minha vida. Você, mais do que todos, têm que entender! Você também está passando por uma e-nor-me mudança! — Disse pausadamente. — Você está andando, Wen! Aproveita tudo o que você deixou de lado quando ficou sem andar, você deve ter sonhos que agora você pode realizar. Viva, Wen!

O rapaz engoliu em seco e olhou pra baixo. Então dessa fez foi Shaniqua que pegou em seu queixo e o ergueu.

— Eu não estou te rejeitando, fofo. Desculpa o que eu falei do seu irmão, acho que isso nem tem haver com tudo isso... A verdade é que eu nunca gostei de me prender a homem nenhum, e...

— Eu também. — Wen a interrompeu. — Antes de ficar paraplégico, eu tinha uma namorada, mas ela me deixou depois do acidente.

Shaniqua comoveu-se com o relato, então tocou o rosto do rapaz carinhosamente.

— Ela com certeza perdeu um grande cara. — Sorriu. — Só quero que você entenda que não é o momento, Wen.

— Momentos vêm e vão, Shani. — Wen abriu a porta do quarto. — Você disse pra eu aproveitar a vida... Mas eu queria fazer isso com você.

Wen tentou esconder algumas lágrimas que insistiam em cair.

— Até mais, Shani.

Wen saiu do quarto, Shaniqua fechou a porta lentamente. Ficou por alguns segundos parada no meio do quarto, e então pegou o buquê de flores que estavam na mesinha. Mas não notou que aquele movimento fez o espelho ficar bem na beirada do imóvel.

Não era pra eu me sentir assim, culpada. Não podia dar falsas esperanças pra ele. Mas uma coisa ele estava certo... Momentos realmente vêm e vão. Será que eu deixei escapar um?

O espelho em cima da mesinha caiu no chão. A negra não se assustou tanto, pois não fizera quase que barulho algum. Se aproximou do objeto a ponto de conseguir ver seu reflexo nele, então notou que o vidro do espelho estrava trincado em quatro partes. Pegou o objeto e colocou em cima mesa.

XX-XX-XX

Louise e Oliver já estavam dentro do ônibus a caminho do acampamento, esse era o tão esperado passeio promovido pelas escolas de ambos. O acampamento duraria dois dias, e eles iriam embora somente no domingo a noite.

Pela janela do veículo, Louise podia ver a paisagem das ruas de sua cidade. Oliver estava sentado ao seu lado, conversando com um amigo que estava em pé próximo ao seu banco. Uma das monitoras veio até eles e pediu para que esse garoto sentasse.

— Vai sentar no seu lugar, garoto! Se acontecer um acidente você voa desse ônibus e quebra todas as suas costelas, menino.

A senhora de meia-idade disse em tom autoritário, o garoto deu um tapinha nas costas de Oliver e seguiu para o fim do ônibus.

— Olha Oliver, o St. Mary!

Louise disse cutucando o namorado, e apontou com o dedo o prédio em reconstrução. Ele estava bem em fase inicial mesmo, estava sendo construído completamente do zero. Mas a sua estrutura com os diversos ferros e vigas já desenhava o novo prédio.

— Eu sabia que o prefeito havia ordenada a reconstrução... Mas ainda não tinha visto.

A garota ainda olhava o prédio, enquanto aos poucos ele foi desaparecendo de suas vistas e o ônibus seguindo seu percurso.

— Eu ainda não entendi porquê o prefeito autorizou, você disse que sua mãe falava que ele meio que gostou que o prédio caiu, não é?

— Pois é. — Louise parou de olhar a paisagem pelo vidro. — Eu também não entendo direito. Acho que o prefeito deve ter percebido que a população da cidade, não queria que no lugar do hospital fosse construído um estádio ou shopping... Não poderia ir contra todos.

Oliver concordou.

Em pouco tempo o ônibus já chegara no local combinado. O veículo estacionou em frente a entrada de uma grande parque florestal da cidade. Tinha uma enorme faixa na entrada: Forest Park Castle.

Os alunos e monitores começaram a descer do ônibus. Logo outros dois ônibus chegaram. O parque florestal era enorme, tinha diversas cabanas e chalés e diversas áreas de atividades nele. Mas elas só poderiam ser utilizadas no dia seguinte. Os garotos e garotas foram rapidamente separados em chalés, com seus respectivos monitores. Iriam se preparar para as atividade noturnas.

Oliver deu um beijo em Louise, e foi em direção ao seu grupo de amigos. Louise fez o mesmo, enganchou-se em duas amigas e seguiram uma monitora. Enquanto caminhava, a moça olhou para o horizonte e acima das montanhas, o Sol estava quase se pondo. E pensar que acima daquelas montanhas foi o local que a minha mãe e o Leonel morreram meses atrás... Acho que nunca chegamos tão perto daquela casa novamente.

XX-XX-XX

Angel estava dentro do elevador do seu prédio, estava arrumada e pronta para o seu turno no Hospital do Centro. Já fazia algumas horas que saíra do encontro com Kramer, a sua ideia de que talvez ele poderia ser o filho de Selly, a impediu de que conversassem melhor. Seria muita coincidência... Tipo, muita mesmo!

Mesmo assim, Angel prometera a si mesma que falaria melhor com o médico sobre isso. Não poderia deixar de lado essa dúvida.

Um pouco antes da porta do elevador se abrir, Angel viu uma pequena mancha em seu uniforme branco. A porta se abriu e Angel saiu do elevador, ainda olhando e tentando limpar a pequena mancha. Então não viu um homem e esbarrou nele.

— Por que você não olha por onde anda, garota?

Wen disse rispidamente, e então Angel percebeu quem era, parecia não acreditar.

— O que você disse?! — Deu uma longa pausa olhando o rapaz de baixo a cima, ele fez o mesmo com ela.

— Angel.

— Wen... Você tá andando. Isso é... Incrível! Mas, o que você faz aqui no meu prédio?

O rapaz sorriu.

— Eu me mudei pra cá, o outro apartamento era grande demais ó pra mim... Ah, me desculpe ter sido ríspido com esbarrão, não vi que era você... É que eu não tive um bom dia, hoje. — O rapaz se referia ao encontro com Shaniqua, ainda não se lembrava da proximidade da negra com Angel.

Angel fez um careta, confusa. Cara, você está finalmente andando depois de anos! Como ainda pode estar reclamando?

— Bom, Wen... Foi um prazer. Eu tenho que trabalhar agora. — A loira apertou sua mão. — Espero que aproveite sua vida... Agradeça ao Leonel.

Angel deu as costas ao rapaz, Wen se calou por breves segundos.

— Agradecer ao homem que me dizia que eu nunca iria andar?

Angel se virou de volta ao ex cadeirante.

— Não por isso, Wen... Eu sei que você nunca acreditou, mas acontece que você, eu, a Shani, o Oliver e a Louise... Só estamos vivos por causa dele. Ele morreu e salvou a todos nós!

— Então ele morreu... — Wen disse sem expressar nenhuma reação com a notícia, e então continuou. — Menos um médico ruim no mundo.

Angel não se aguentou e desferiu um forte tapa no rosto de Wen, o rapaz se surpreendeu com a atitude.

— Sabe, Wen... Eu nunca fui com a sua cara! Você pode fazer o que quiser com essa sua vidinha de merda, eu não ligo! — Angel se aproximou dele. — Mas nunca mais ofenda o Leonel na minha frente! Graças a ele você está andando por aí com essas perninhas tortas. Devia estar grato!

Wen encarava a loira, começou a sentir muita raiva dela.

— Não me dê ordens! Não é porque você me salvou naquele dia do estacionamento, que você manda em mim!

Angel riu sarcasticamente.

— Não me faça me arrepender do que eu fiz! Nada me tira da cabeça que eu podia ter ficado no hospital e impedido o Carl de fazer aquela cirurgia e ele estaria vivo agora! — Angel respirou. — Você é o pior tipo de pessoa no mundo... Não valoriza as pessoas que te fazem bem, não dá a mínima! Eu tinha pena do seu irmão...

— Não fala do Phil! — Wen apontou o dedo na cara da loira, que não se intimidou.

— O que adianta você andar agora, Wen. Se seu coração ainda estiver paralisado no passado? — Angel ajeitou a manga de seu casaco. — Eu tenho que ir agora.

Enquanto Angel se virava para sair do hall do hotel, Wen se despediu em tom sarcástico.

— Até mais... Anjinha.

Angel apenas virou os olhos para trás e parou por alguns segundos. Logo voltou a andar para fora dali.

XX-XX-XX

A noite chegou rapidamente no acampamento, agora grande parte dos alunos estavam em uma clareira em meio a mata. Diversas barracas estavam armadas pelo local, e bem no meio desta clareira, uma grande fogueira iluminava os rostos dos alunos sentados em pequenos troncos em volta dela. Somente naquela noite dormiriam ali.

Louise estava dentro de uma das barracas procurando algo. A francesa então pegou um violão e entregou para uma garota de cabelos rosas, que estava esperando fora da barraca.

— Ué, Lise? O que você ainda está procurando aí? — A jovem de cabelo rosa perguntou, percebendo que Louise ainda estava na barraca.

Louise saiu da barraca com seu diário em mãos, e o mostrou pra garota.

— Era isso que eu aproveitei pra procurar... E meu nome é Louise, ok Kira! — A francesa errou o nome da garota propositalmente.

A garota sorriu.

— E o meu é Kiara Kane, melhor não esquecer! Um dia você irá no meu show no Madison Square Garden!

Louise riu. — Só te dou um desconto porque acabamos de nos conhecer... Aliás, faz muito tempo que você conhece o Oliver?

Kiara examinou as cordas do violão, fazia isso enquanto conversava com Louise.

— É, a gente já ficou.

Louise ficou em silêncio, que logo foi quebrado pela espontaneidade de Kiara.

— Relaxa, gata! Faz muuuuuito tempo.

Então as duas riram e começaram a andar em direção ao grupo na fogueira, estavam um tanto longe.

— Você deve tá odiando ter que dividir a barraca comigo e não com suas amigas, né?

Louise foi educada ao responder, mas estava um pouco chateado mesmo.

— Imagina, você parece ser uma garota legal. Eu vou curtir!

Kiara então parou de andar por uns segundos, e apontou para o diário na mão de Louise.

— É sério que você têm um diário? Por que você não têm um twitter como todas as pessoas normais? — Perguntou segurando o riso, Louise levou na brincadeira.

— Sim, o que têm?

— Nada, é que sei lá... — Kiara passou as mãos sobre seus cabelos coloridos. — É que hoje em dia, se você quer desabafar você atualiza o status no facebook, ou twitta... Diário é um tanto antiquado, né?

Louise sorriu, a pergunta não era um deboche.

— Eu gosto. É uma forma de eu poder desabafar sem precisar dividir isso com o mundo. Eu me sinto leve após escrever nele.

— Você é muito fofa! — Kiara disse apertando as bochechas de Louise, que ficou um pouco sem graça.

— O Oliver mudou de estilo mesmo, hein? Olha você e olha pra mim, somos completamente diferentes!

A francesa e riu e avistou Oliver chegando próximo à elas.

— Olha, falando no demônio... Ele aparece! — Kiara riu dando um tapinha nas costas do rapaz.

Ele a cumprimentou e então a moça deixou o casal sozinho. Kiara foi em direção ao grupo na fogueira, levantou o violão com as mãos e todos na roda gritaram.

— Eu devo sentir ciúmes dela? — Louise perguntou fingindo que a pergunta era séria, mas Oliver percebeu a brincadeira.

— Sim, muito ciúmes! Eu ainda sou completamente apaixonado por essa doida de cabelo colorido! — O rapaz apontou pra moça e riu.

— Ela me parece ser legal, um pouco feroz... Mas legal. — Louise disse e colocou as mãos sobre os ombros do namorado.

— Ela é, na verdade ela têm esse visual por fora, mas é bem frágil... Só canta música melosa.

— Então vamos logo, que eu adoro música assim!

Louise enganchou em Oliver, e ambos caminhavam até o local da fogueira. Mais algumas pessoas se aproximavam do local também. Na roda dos alunos, Kiara começava a cantar e tocava algumas notas em seu violão.

Skies are crying

I am watching

Catching teardrops in my hands

Only silence, has it's ending

Like we never had a chance...

Oliver tropeçou em uma pinha no chão e então percebeu que seu cadarço estava desamarrado. Parou por um momento para amarrá-lo, Louise esperou o rapaz. A garota então olhou pro céu, pensou ter ouvido algum ruído, mas a imagem da Lua a fez esquecer. O astro brilhava no céu, Louise não se lembrara de ver a Lua tão brilhante como naquela noite.

— Vamos? — Oliver deu uns tapinhas por cima de seu tênis, estava um pouco sujo de terra. Louise olhou pra baixo e viu o namorado limpar por cima da logomarca do calçado: Reyals.

Kiara ainda cantava, com sua suave voz. Alguns alunos a acompanhavam na canção.

As the smoke clears

I awaken and untangle you from me

Would it make you feel better

To watch me while I bleed

All my windows, still are broken

But I'm standing on my feet...

— A Lua tá linda hoje, né Louise? — Agora fora a vez de Oliver reparar, olhando no céu. — Eu já te disse que meu pai me contou naquele dia, que ele falava que minha mãe era a Lua dele?

Louise sorriu e assentiu.

— Ele dizia que ela era brilhante e iluminava a vida dele.

Ambos foram chegando ainda mais próximos do grande grupo em volta da fogueira. Kiara continuava a cantar...

Go run, run, run

I'm gonna stay right here

Watch you disappear, yeah

Go run run run

Yeah its a long way down

But I'm closer to the clouds up here...

O casal se aproximou de um dos troncos, que parecia ter lugar para ambos sentarem. Assim que sentaram um outro casal chegou no local, próximos a eles. Um rapaz negro e uma garota ruiva.

— Vocês iam sentar aqui? — Oliver disse sem jeito.

— A gente arranja outro lugar. — O negro disse e puxou discretamente a ruiva ao seu lado, dali.

Oliver colocou o braço em volta de Louise, e a francesa colocou o diário que estava em suas mãos no colo do rapaz. E assim como os outros na roda, o casal passou a olhar para Kiara que continuava cantando do outro lado da fogueira. Ela estava um tanto distante deles, mas ambos conseguiam ouvir sua voz.

You can take everything I have

You can break everything I am

Like I´m made of glass

Like I´m made of paper

Go on and try to tear me down

I will be rising from the ground

Like a skyscraper

Like a skyscraper

Like a skyscraper

Like a skyscraper

Like a skyscraper!

Assim que Kiara encerrou a canção, todos se levantaram para aplaudir. Louise e Oliver fizeram o mesmo. Foi quando de súbito, todos puderam ouvir um forte estrondo vindo ao redor da clareira. Louise, Oliver e os outros olharam para trás, foi quando rapidamente o impacto se iniciou.

O helicóptero veio por meio as árvores em direção a roda em volta da fogueira. A aeronave capotava e rolava no chão com toda a força da queda. Tudo acontecia muito rápido, mas mesmo assim os alunos que seriam os primeiros a serem amassados pelo grande objeto puderam correr, incluindo Louise e Oliver.

A francesa corria o mais depressa possível, Oliver estava um pouco atrás próximo a fogueira, com o diário em mãos. Foi quando o garoto tropeçou em uma pinha no chão. Quando ainda estava se levantando, o helicóptero passou por cima de seu corpo. Fazendo com que seus ossos se desprendessem de seu corpo, e por rápidos segundos a aeronave passou em cima dele por completo. Fez com que seu braço com o diário em mãos, se desgrudar e cair dentro da fogueira.

Louise continuou a correr sem se dar conta que Oliver havia morrido. Então por algum motivo parou e olhou para trás. Tudo ficou em câmera lenta por alguns segundos.

O helicóptero continuava a quicar no chão enquanto vinha cada vez mais perto para a direção da dela. Nas vezes que a aeronave quicava e ficava por milésimos segundos no ar, Louise pôde ver, de relance, o corpo de Oliver próximo a fogueira. Ou o pouco que sobrou dele. A garota sentiu sua coração doer, enquanto via diversos ossos e pedaços de carne do que costumava ser seu namorado.

Então tudo parou de passar em câmera lenta.

Viu o helicóptero passar por cima de mais algumas pessoas, e também viu o corpo do piloto cair da aeronave, estático no chão. O helicóptero quicou pela última vez, e deslizou no chão para perto de Louise. Então a parte de trás dele bateu na garota, a arremessando longe. Louise sentiu seu corpo se chocar contra algo duro. A francesa sentiu todos os ossos de seu corpo trincarem como se fossem feitos de vidro. Depois sentiu seu corpo ficar leve e cair no ar, no pé de uma grande árvore.

Sua vista escureceu.

— Vamos? — Oliver deu uns tapinhas por cima de seu tênis, estava um pouco sujo de terra. Louise olhou pra baixo e viu o namorado limpar por cima da logomarca do calçado: Reyals.

A francesa desviou o olhar, estava com os olhos arregalados. E então olhou para roda dos alunos em volta da fogueira. Kiara cantava:

As the smoke clears

I awaken and untangle you from me

Would it make you feel better

To watch me while I bleed

All my windows, still are broken

But I'm standing on my feet...

— A Lua tá linda hoje, né Louise?

Louise colocou a mão sobre a boca, olhando o namorado admirar o céu.

— Eu já te disse que meu pai me contou naquele dia, que ele falava que minha mãe era a Lua dele? — Oliver perguntou.

Louise olhou pro chão assustada. Então completou a fala de Oliver. — Ele dizia que ela era brilhante e iluminava a vida dele.

O rapaz encarou a namorada.

— Nossa! Você até decorou, devo ter contado muitas vezes mesmo!

Oliver então percebeu rapidamente que Louise não estava bem.

— O que houve?

Louise olhou pra fogueira, e ouviu Kiara cantar.

Go run, run, run

I'm gonna stay right here

Watch you disappear, yeah

Go run run run

Yeah its a long way down

But I'm closer to the clouds up here...

— A gente têm que sair daqui agora, Oliver! Um helicóptero vai cair aqui e vai nos matar! Eu vi tudo, eu vi tudo! Eu não sei como mais eu vi, eu vi! — Louise apontava para a fogueira.

Oliver arregalou os olhos vendo o desespero da namorada. E então se lembrou rapidamente dos gritos que Louise previu naquela ocasião da morte de seu pai. Ela também têm visões, como o Carl? Ele também teve uma visão sonora uma vez, na morte do carinha no cemitério...

O rapaz pegou o braço de Louise e correu para longe dali. Ambos começaram a correr no sentido oposto da fogueira.

— Nós temos que avisar eles, Oliver! — Louise gritava enquanto o garoto puxava seu braço.

Um forte estrondo foi audível. Oliver pegou Louise no colo enquanto a garota continuava a gritar. Mas a única coisa que vinha em sua mente, era uma ordem que seu pai lhe havia dito no dia de sua morte. Se for algo perigoso, quero que pegue a Louise e corra o mais longe possível!

Enquanto estava por cima das costas de Oliver, a francesa ainda segurando seu diário nas mãos, pôde ver ao longe o helicóptero capotando por entre a clareira. Ver os alunos correndo desesperados, só fez pensar que tudo aquilo era pra ela e para Oliver, não para eles. Viu quando a aeronave passou por cima do rapaz negro da sua visão, o que iria sentar no lugar dela e de Oliver na roda. Ele foi esmagado exatamente no mesmo lugar que Oliver morrera na visão, próximo a fogueira. Ainda ao longe, viu a garota ruiva que estava com o negro, ser jogada contra uma árvore pelo impacto da traseira do helicóptero.

A cabeça de Louise voltou a doer.

A lista... É inquebrável. Inquebrável!


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Notas finais do capítulo

...





A única coisa que posso falar aqui nas notas finais é que obviamente a lista continua, e que o cap 10 vai levar a fic pro final...

Bom, sério, não sei mais o que escrever aqui...

Abraços e témais! :)