Final Destination - Risk Of Death escrita por Paul Oliver


Capítulo 13
Favorite Song To Die


Notas iniciais do capítulo

Eae pessoal! :D

Desculpem mesmo pela enorme demora. Acho que vocês acabaram até se acostumando com o atraso dos meus caps... Enfim, eu sei que esse era pra ser o último capítulo da fic, como disse anteriormente, mas não, não é. É o penúltimo.
Acontece que eu sou a PIOR pessoa do mundo para organizar as coisas, é sério. Decidi que dois caps seria melhor para o final da fic ficar mais limpo e claro, não tudo amontoado em um capítulo gigante, sabem? (como se 7 mil palavras não fossem muito LOL)
Eu já adianto aqui em cima que o último capítulo está 98% concluído/revisado, darei mais detalhes nas notas finais...
Acho que é isso.

Espero que gostem desse capítulo, tenham uma boa leitura!



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Esse sentimento nunca o deixa em paz...

Angel sentia como se o seu corpo todo estivesse amortecido. Estava estática, com os seus grandes olhos azuis arregalados, encarando as diversas pedras e pó em cima de seu rosto e de todo o seu corpo.

Uma luz.

Em meio as pedras em volta de si, Angel pode ver uma pequena fresta de luz. Viu quando uma grande pedra foi retirada de sua frente, e então conseguiu ver o céu. As estrelas e a lua brilhavam intensamente naquela noite. Sentiu um adorável cheiro de chuva ao seu redor, enquanto mais pedras sumiam de sua vista. Foi quando então viu o rosto de um homem, ele usava um macacão de bombeiro. O homem colocou os dedos sobre o pescoço da loira, que continuava caída em meio aos escombros do prédio, com os olhos ainda arregalados.

Angel viu o homem gritar algo, fazendo um cone com a mão, mas não conseguiu escutar nada. Era como se tudo tivesse perdido o som. Em pouquíssimos segundos após isso, sentiu seu corpo sendo levantando por diversos braços, e pode perceber que agora estava em cima de algo. Percebeu também que estava em movimento, pois as estrelas no céu pareciam correr juntos com seu olhos.

Os enfermeiros e alguns bombeiros corriam com a maca onde Angel estava, tirando-a do meio dos escombros do St. Mary e a levando para longe dali.A rua em frente ao prédio estava em polvorosa, diversos curiosos vieram ver de perto a desgraça que acontecera novamente ao hospital. As pessoas olhavam atônitas sem entender nada, apenas apreciavam o espetáculo da nova tragédia.

Angel fechou os olhos. Foi quando sentiu algo ser colocado sobre seu pescoço, e mesmo não sentindo seu corpo completamente, conseguia sentir palpares de mãos sobre seu peito, cabeça, pernas e braços. Foi quando finalmente sentiu a dor.

Gritou.

A dor era maior do que qualquer outra que sentira em toda a sua vida. Angel não sabia de onde ela vinha, só queria gritar e desejava, mais do que tudo, que ela parasse.

Uma enfermeira de meia idade, pegou uma seringa e aplicou no braço da loira, ela ainda se sacudia, mas aos poucos foi diminuindo o ritmo. Com a ajuda de mais alguns auxiliares, a enfermeira conseguiu colocar a maca com Angel dentro de uma ambulância, enquanto checava se o colar cervical no pescoço da garota estava preso o suficiente.

Você puxa o gatilho sozinho... Você está escondendo em seu lugar seguro, escondendo com seus olhos bem fechados a caminho do hospital.A letra da música favorita de Angel viera novamente a sua mente. Era a única coisa em que conseguia pensar, a única coisa em que conseguia se concentrar:Agora você não descansará sua cabeça de novo. Você acaba se sentindo na maior parte morto. Fingindo ser o último, escondendo com seus olhos bem fechados a caminho do hospital.

Aquelas palavras... Angel virava a cabeça de um lado para o outro, como se algo estivesse a incomodando. A enfermeira se aproximou dela e tocou levemente sua cabeça, então pode ver em sua orelha o ferimento. Era mais grave do que parecia. Providenciou um curativo rápido para conter o sangue, e então gritou algo para seu assistente. O jovem enfermeiro bateu fortemente na lataria no carro, apressando o motorista.Porém, o aglomerado de pessoas em frente à entrada do grande portão do St. Mary, dificultava a saída das ambulâncias do local. Os bombeiros tentavam controlar os curiosos, mas como tinham achado um corpo recentemente em meio aos escombros, esperavam que pudesse haver mais. Então estavam divididos procurando mais vítimas, mesmo que parecesse impossível ter mais alguém no prédio. Já que ele estava em construção, e esta ainda interrompida pela tempestade.

Em meio aos diversos curiosos, Louise tentava abrir espaço para poder passar. Tinha recebido o telefonema de Oliver e saído no mesmo minuto em direção ao St. Mary, deixando seu pai no restaurante sem entender absolutamente nada. Tudo o que o namorado contara parecia não fazer sentido, mas Angel era a sua preocupação maior, tinha que encontrá-la. O trânsito que enfrentou naquele ponto da cidade estava um caos maior do que o costumeiro, isso a fez demorar para chegar ali. O susto foi grande ao ver o hospital em ruínas.

De novo...

Louise se sentiu exatamente como naquela manhã meses atrás, quando viu o prédio ruir diante de seus olhos. Por um momento pode sentir a presença de sua mãe, tocando sua mão novamente e dizendo que tudo ia ficar bem. A francesa sacudiu a cabeça. Deixou seus fantasmas e feridas de lado, tinha que saber se Angel estaria ali, e se ela estaria bem. Louise conseguiu ultrapassar a faixa amarela que continham os curiosos, foi quando um bombeiro a segurou pelos braços a impedindo de adentrar onde estavam as ambulâncias. A garota então se desvencilhou do homem com uma descarga de adrenalina, e então correu até uma das ambulâncias estacionadas no local. Seu corpo guiou-se para uma em especifico, era como se ela fosse um imã a atraindo ferozmente. Avistou dentro da ambulância, uma enfermeira fazendo um curativo em alguém numa maca, enquanto um outro enfermeiro a auxiliava.

— Pelo amor de Deus, eu tenho que saber se minha amiga está aqui! Pelo amor de Deus, eu tenho...

O jovem assistente correu até a garota próxima a porta do veículo.— Você não pode entrar aqui! — Disse repelindo Louise, enquanto mais alguns bombeiros chegavam próximo ao local.

Louise se esticou e apoiou seus braços na porta da ambulância e então pode ver o corpo na maca.— Angel!

A garota entrou de uma vez no interior da ambulância sem nem pensar duas vezes. E então segurou a mão de Angel fortemente enquanto chorava intensamente ao lado da maca. O enfermeiro ia tentar algo contra Louise, mas sua chefe o repeliu. Ela então fez um sinal de positivo com a cabeça, para os bombeiros que chegavam próximo ao veículo.

— Você conhece essa mulher, mocinha? — A enfermeira perguntou a Louise.

— Ela é minha amiga, por favor... Ela vai ficar bem? — A jovem dizia entre soluços.

— Nós temos que ir o mais rápido possível para o hospital! Eu ainda não tenho certeza, mas o caso dela é grave.

— Meu Deus, o que vocês estão esperando, então?! — Louise gritou enquanto tirava seus cabelos castanhos de cima de seu rosto. Estava com os olhos vermelhos e molhados, totalmente desesperada.

— Tem muita gente aqui em volta! Muita! Estamos tentando sair daqui o mais rápido possível. — O assistente disse um pouco rude, enquanto olhava o movimento das pessoas pela janela da ambulância. — Ei, é por isso que as pessoas estão tão agitadas... Acharam mais um corpo!

Louise sentiu seu coração gelar. E então soltou levemente as mãos de Angel e foi em direção a janela do veículo. Pode ver perfeitamente: Os bombeiros levavam mais um corpo em cima de uma maca, em direção a uma outra ambulância no local. O corpo estava praticamente todo dilacerado e ensanguentado, e mesmo de longe, Louise conseguiu ver quando um enfermeiro retirou o casaco amarelado do corpo da vítima, para poder examiná-lo melhor. Ele entregou o casaco para um dos bombeiros, enquanto checava o corpo. O enfermeiro fez um sinal de negativo com a cabeça, confirmando o que todos já sabiam. Louise olhava a cena ainda muito assustada, foi quando direcionou o olhar para o outro bombeiro, conseguiu ler o nome na parte de trás do casaco que um dos paramédicos ainda segurava.

Wen.

Fechou os olhos por um momento. Oliver realmente havia falado algo sobre Wen, mas Louise simplesmente não prestara atenção alguma. Estava tão focada em Angel...E então abriu seus olhos novamente. Olhou de novo para o casaco nas mãos do bombeiro, e então reparou na poça de água próximo aos pés dele. Ela refletia a gravura do casaco, e Louise leu o nome de novo.

New.

A ambulância deu um tranco, o assistente foi rápido ao fechar a porta do veículo, que agora, finalmente, já estava em movimento. A enfermeira e o jovem sentaram novamente em seus lugares, Louise fez o mesmo. A francesinha suspirou fundo, e tocou novamente nas mãos de Angel, foi quando foi surpreendida com a voz da loira:

— Antes que eu cruze meu coração e esperar morrer de vez, tire minha máscara e deixe as mentiras para os mentirosos...

A francesa a olhou ainda sem entender nada.

— Coitada, ela está delirando. — A enfermeira disse enquanto checava novamente alguns equipamentos envolta de Angel.

Louise olhou carinhosamente para a loira, tirou uma pequena mecha de cabelo dourada que caía sobre a testa da amiga, e apertou fortemente sua mão.

— O que quer que tenha acontecido no prédio... Deixa pra lá, Angel... Vai ficar tudo bem. Vai ficar tudo bem. — Louise forçou um sorriso e então Angel, que continuava com os olhos bem fechados, ainda delirava:

— Isso não costumava machucar antes, sentindo-se tão sozinha agora...

A francesa apertou novamente a mão da loira. E então voltou a chorar intensamente, ao ver a amiga naquela situação. Secou as lágrimas que caíam como uma cachoeira de seus olhos, e voltou o olhar para Angel.

Arregalou os olhos.

Sentiu um arrepio passar por todo seu corpo, como nunca sentira antes, não daquela maneira... Angel agora a encarava. Dessa vez ela estava com seus brilhantes olhos azuis abertos, suando muito, enquanto continuava a delirar:

— Engraçado como você deseja, de alguma forma, que você morra a caminho do hospital.

XX-XX-XX

O piso do chão do Hospital do Centro era tão branco, que refletia o rosto de Oliver nele. O garoto estava sentado em uma das cadeiras da sala de espera do hospital, Louise havia adormecido ao seu lado, com a cabeça sobre seu colo.

Oliver estava exausto. Os últimos três dias foram extremamente cansativos, tinha desacostumado a ter aquele sentimento de angústia diariamente. Isso desde a morte de seu pai e de Rosie. Mas então, a morte havia voltado, e tudo veio numa pancada só: Primeiro houvera o acidente no Pask Forest Castle, depois a morte de Shaniqua e agora tudo isso.

O garoto respirou profundamente e passou as mãos sobre seu topete bagunçado. Era inacreditável o fato do St. Mary ter desmoronado de novo, e justamente agora, quando estava sendo reconstruído. E ruído também, justamente na hora que Angel e Wen estavam lá... Oliver passou a mão sobre sua barba, esta começara a crescer mais do que o normal nos últimos dias. Na morte não há coincidências.

— O Kramer já voltou de lá de dentro? — Louise perguntou enquanto ainda despertava, e então colocou a mão sobre a do namorado. Repetiu a pergunta.— O Kramer já voltou de lá de dentro?

Oliver finalmente emergiu de seus pensamentos e respondeu, com a voz bastante embargada, um simples: "Não".

Louise sentiu seus lábios tremerem novamente, mas segurou o choro. Ela e Angel chegaram na ambulância há algumas horas atrás, a loira foi rapidamente levada aos médicos já que o estado dela era grave. Louise continuou na sala de espera e desde então não recebera nenhuma notícia da amiga. Ligou para Oliver para atualizá-lo de tudo, e ficou o esperando na sala de espera do hospital... Um pouco antes dele chegar, Kramer apareceu bastante atônito na recepção. A francesa não o conhecia pessoalmente, mas após ouvir seu sobrenome lembrou-se do que Oliver havia falado sobre ele pelo celular. A jovem contou o que podia para o homem, sem entrar em detalhes sobre a lista da morte e afins... Um tempinho depois, Oliver finalmente chegou e os três ficaram esperando por notícias, e torcendo para que fossem boas.

Agora, já fazia quase meia hora que Kramer cansara de esperar e tratara de entrar mais adentro do hospital, para procurar notícias de Angel. Estava de férias, mas trabalhava ali há muito tempo, então conhecia bem o lugar e em quem podia confiar... Só que ainda não havia voltado.

Louise e Oliver continuavam ali sentados nos bancos da grande sala de espera, estavam casados, com medo, sem nenhuma ideia do que fazer ou pensar. O garoto então quebrou o silêncio:

— Aquele corpo que você disse que viu, Louise... Era realmente o Wen? — Oliver perguntou enquanto fazia carinho na mão da garota.

— Eu acredito que sim... Mas não dá para saber o que aconteceu lá naquele prédio exatamente... Se a lista foi quebrada ou não... — Louise então sentiu um arrepio passageiro. — Pelo que sabemos era a vez dele... A Angel é a única que tem as respostas... Espera... Se ela...

Louise não completou a frase, mas Oliver entendeu no mesmo segundo. Abraçou fortemente a garota e pôs-se a fazer carinho em seu cabelo. Também não havia antes notado, o que a namorada acabara de perceber. Então se lembrou da teoria que passara por sua cabeça, sobre aquele jovem negro e a ruiva que supostamente morreram em seus lugares no acidente no acampamento. Mas negou a si mesmo a acreditar nisso, pois nunca teria certeza. Talvez o casal também morreria no acidente, e sua saída com Louise apenas fez que eles morrerem de uma forma diferente. Suspirou, e voltou a pensar em amiga: Se a Angel morrer... Nós nunca saberemos se a lista foi quebrada. Assim como não temos certeza sobre a teoria da morte do casal... Nós viveremos em um pesadelo eterno, essa angústia durará pra sempre!

Os olhos de Louise derramavam lágrimas e mais lágrimas, era como se ela estivesse ouvindo os pensamentos do namorado. A jovem estava completamente desorientada, então fechou os olhos. Naquele momento, mais que tudo, tinha que ter esperança.

De súbito, Oliver se desvencilhou da namorada rapidamente e se levantou da cadeira depressa. Louise não entendeu a princípio, mas então avistou Kramer surgindo de um dos corredores em direção a eles. A francesa também se levantou e ambos foram em passos rápidos em direção ao homem. As pessoas que estavam na sala de espera, pouco notavam o movimento dos jovens, já que diferente do St Mary, o Hospital do Centro era movimentado não importava o horário. Inclusive, e principalmente, na madrugada.

— Você tem alguma notícia da Angel?! Pelo amor de Deus... — A francesa perguntou sem nem ainda estar próxima a Kramer. O casal então chegou bem próximo do homem, e este tinha uma péssima expressão na face. Seus olhos estavam vermelhos enquanto algumas lágrimas caiam.Louise já se preparava para se entregar a dor novamente, Oliver apenas mordeu os lábios e apertou fortemente a mão da garota, também esperando pelo pior.

— A Angel... — Kramer secou as lágrimas que ainda caíam de seus grandes olhos castanhos. Não queria fazer um suspense com aquilo, não era sua intenção, somente... Era uma coisa muito difícil de contar. — Ela está bem. Na medida do possível, claro... Ela ainda corre riscos, mas... O que importa é que ela está viva.

Os olhos tanto de Louise quanto de Oliver se encheram de lágrimas, mas eram lágrimas de alívio. Angel estava viva e isso era maravilhoso! Louise até soltou um riso abafado pelo choro, mas Oliver ainda via pela expressão de Kramer, que algo estava errado.

— Ela passou por duas cirurgias às pressas, mas acreditem, ela deve ficar bem. — Kramer pela primeira vez sorriu. — Os médicos não vieram avisar nada para vocês porque vocês não são parentes, e eu já esperava isso... Mas enfim, eu consegui contato com uma das enfermeiras que ajudaram nas cirurgias, e ela me garantiu que foram um sucesso. Amanhã, se tudo ocorrer bem, poderemos falar com a Angel, mas somente amanhã... Quer dizer, daqui há umas cinco horas, mais ou menos.

Oliver ficou mais aliviado em ouvir tudo aquilo. Envolveu seu braço envolta dos ombros de Louise, a garota então recostou sua cabeça ali, suspirou fundo e simplesmente sorriu. Oliver colocou seu queixo sobre a cabeça da garota, e também sorriu.

Kramer não pode deixar de se comover com a reação dos garotos. Pensou em não contar o resto da verdade agora, mas seria injusto. Louise tinha feito amizade com a enfermeira da ambulância e uma hora ou outra descobriria. É algo inevitável. Algo que sempre estará ali, como uma lembrança dessa noite. Uma lembrança materializada.O homem secou mais algumas lágrimas que voltaram a cair de seus olhos, e então começou a contar:

— Eu não queria estragar esse momento, mas... A Angel parece que bateu fortemente a cabeça no desabamento, não houve estrago segundo os raios-X, mas... Pelo que me falaram, antes das cirurgias ela estava delirando muito, muito mesmo. — Suspirou bem fundo tomando fôlego. — A verdade é que... Ela pode ter perdido a memória, mas isso nós só teremos certeza quando ela despertar.

Louise e Oliver ficaram em choque com o que Kramer contara, e subitamente mudaram as expressões em seus rostos. O homem estava tão devastado com tudo o que estava acontecendo que não percebera o quão desesperados ficaram os jovens. Mas ele sabia que o fato de Angel poder ter perdido a memória, seria apenas uma das sequelas daquele acidente. E isso, ao menos, poderia não acontecer... Mas ainda tinha outra coisa, essa sim, estava decretada pelo destino.

— Eu sei que é muita coisa pra contar... E são notícias ruins e... — Kramer segurou o choro que quase o tomara completamente naquele momento, mas foi forte e continuou. Os jovens teriam que saber uma hora ou outra. — Não queria que tivesse, mas... Tem mais uma coisa.

XX-XX-XX

Já era praticamente de manhã e o Sol estava nascendo timidamente no horizonte.

Louise e Oliver estavam no topo do prédio do Hospital do Centro, já faziam algumas horas. Eles sabiam que falariam com Angel somente depois de um tempo, e claro, somente se ela se recuperasse bem das cirurgias da madrugada anterior... E se ela se lembrasse de tudo.

A francesa fora quem teve a ideia de esperarem ali em cima. Recordou que Angel havia contado que quando Carl havia sido internado às pressas, logo após seu desmaio próximo ao cemitério, ela subiu ali para espairecer a cabeça. Louise pensou ser uma boa ideia que ela e Oliver esperassem ali para se acalmarem, já que teriam a temida e necessária conversa em breve.

O casal estava sentado de pernas cruzadas, há seguros metros distante da beirada do prédio. Aqui é tão alto... A francesa então olhou carinhosamente o anel em seu dedo, este fora Oliver que a dera há meses, selando o namoro. Louise tocou o cimento abaixo de suas mãos e passou delicadamente os dedos sobre ele, como se fizesse carinho. De repente o Center Hospital virou o nosso novo St. Mary... Louise parou para pensar o quanto aquele lugar estava cheio de memórias dos últimos meses: A cirurgia em que Carl morreu fora feita ali; Angel havia conseguido desmascarar Dora, de vez, em um dos quartos do hospital; e Shaniqua morreu em frente à fachada dele. O nome deste hospital poderia ser ao menos mais bonito... Nisso, nem de longe se compara ao outro.

A perna de Louise balançava involuntariamente e Oliver havia percebido isso. O rapaz sabia que quando ela fazia esse movimento, era porque estava nervosa e ansiosa. Esse era apenas uma das manias que conhecia de Louise... Sorriu de lado, se tinha uma coisa boa que acontecera em sua vida nesses últimos meses, era ter a conhecido. De repente percebeu que se Carl não tivesse tido a visão, nunca chegaria ter conhecido a garota, nunca teria a tocado, nunca teria a beijado... De repente não podia mais desejar que nada disso tudo não tivesse acontecido, pois se tivesse morrido naquela manhã de Junho, jamais conheceria Louise a fundo... O garoto olhou no horizonte distante. Percebeu também que seu pai morreria, sem desabafar todos os motivos que o levaram a ter sido um pai tão ausente, e pior, morreria sem ter ouvido seu perdão. Oliver sorriu e deixou escapar uma única lágrima de seu olho esquerdo, de repente sentiu-se grato pela visão de Carl. Parece que eu ganhei uma nova chance, sim.

O casal continuava olhando para o horizonte e encaravam o nascer do Sol. Logo saberiam se a lista havia sido encerrada ou não... Ou talvez simplesmente não saberiam. Angel era a única que tinha a resposta, e tanto Oliver e Louise procuravam afastar de suas mentes, qualquer sentimento negativo. Só tinham que esperar para saber o que viria a seguir. Era a única coisa que poderiam fazer.

— Qual é a sua música favorita, Louise?

Oliver perguntou subitamente. Nem ele mesmo sabia direito por que havia perguntado aquilo.

— Como assim? — Louise virou para ele e fez uma careta, estranhando aquela pergunta que soava bastante boba.

— Eu não sei. — Oliver riu timidamente. — Você nunca me contou qual era e... Eu acho que é a única coisa que eu não sei sobre você.

— Bom, eu também não sei... — A garota colocou a mão sobre seus cabelos castanhos e tentou pensar um pouco, mas sem muita vontade. — Eu gosto de tantas músicas, de tantos estilos diferentes que... Acho que não tenho uma.

Oliver sorriu de lado, um pouco insatisfeito com a resposta. Depois de alguns segundos calado, o rapaz colocou dois dedos sobre seus olhos, tapando-os.

E começou a chorar.

Louise ficou sem reação ao ver aquilo, então simplesmente voltou a olhar novamente para o horizonte, sem saber o que faria. Oliver então a surpreendeu novamente:

— Coitada da Angel... Eu não acredito que ela vai ter que passar por isso toda a vida... Você ouviu o que o Kramer disse, Louise?! A Angel ainda pode ter perdido a memória, mas essa outra coisa... Ela terá que conviver com isso pra sempre! Não é justo! — O rapaz levantou do chão e colocou a mão sobre sua cabeça. — Eu estou tentando não pensar nisso, mas... Eu me sinto culpado por ter sido tão inútil ontem! Eu poderia ter ido até o St Mary ao invés de ter ficado em casa, torcendo pro maldito trânsito não atrapalhar você e o Kramer chegarem lá a tempo... Eu fui um completo idiota!

A francesa então também se levantou e finalmente percebeu o porquê da pergunta anterior de Oliver. Ele apenas estava tentando espairecer a cabeça, focar em outra coisa para parar de pensar no que aconteceu com a Angel, na lista... Afinal, foi pra isso que subimos aqui em cima. Oh, Oliver, me desculpe...

— E se a lista não estiver quebrada ou se a Angel não lembrar de nada, Louise?! Eu acho que... — Oliver suspirou profundamente enquanto ainda chorava muito. — Eu acho que não quero lutar mais, não quero, não vou conseguir...

Louise então olhou pro chão e pensou por longos segundos, enquanto Oliver ainda soluçava tentando esconder o rosto com as mãos, como era de seu costume. A francesa então voltou o olhar para o namorado.

— Eu não sei se é essa exatamente a minha música favorita, mas eu gosto dela. Me faz pensar em tanta coisa... — Louise sorriu e Oliver parou de chorar, então a garota se aproximou dele. — O nome dela é If I Die Young. É uma música linda e... Eu sempre gostei de country, então... Eu sempre escutava essa música, mas agora parece que finalmente posso entender melhor a sua letra.

— Sério que esse é nome da música? — Louise riu baixo com a pergunta do namorado. Ele secava os olhos, estava levemente mais calmo.— Eu não conheço...

Louise então se aproximou de Oliver, ficaram parados um olhando para o outro. O Sol finalmente havia terminado de nascer, e a claridade de seus raios iluminavam o rosto dos jovens e cada canto do alto do prédio. Louise segurou as mãos de Oliver e então começou a tentar cantar a canção, sua voz era fina e esganiçada mas era agradável de ouvir:

Se eu morrer jovem, enterre-me em cetim,

Deite-me em uma cama de rosas,

Afunde-me no rio ao amanhecer,

Mande-me embora com as palavras de uma canção de amor.

Oooh...

Louise sorriu e Oliver sorriu de volta, enquanto as lágrimas continuavam a cair de seus olhos. A garota continuou, sem dar a mínima para sua voz sem muita afinação:

A faca afiada de uma vida curta, bem...

Eu tive apenas o tempo suficiente.

Os olhos de Louise começaram a ficar marejados, então Oliver apertou mais forte sua mão. Louise suspirou e continuou:

E eu estarei vestindo branco quando entrar em vosso reino,

Estou tão verde quanto o anel no meu dedo mindinho frio.

Eu nunca tinha conhecido o amor de um homem,

Mas com certeza, pareceu bom quando ele estava segurando a minha mão.

Há um rapaz aqui na cidade que diz que vai me amar para sempre,

Quem teria pensado que o para sempre poderia ser interrompido pela...

A faca afiada de uma vida curta, bem...

Eu tive apenas o tempo suficiente.

Oliver então envolveu Louise em um beijo intenso e molhado pelas suas lágrimas, e depois repousou sua cabeça sobre seu ombro quente e aconchegante. A garota cantou em seus pensamentos os versos que vinham seguir, olhando para o horizonte distante.Então ponha sua melhor roupa, rapaz... E eu usarei minhas pérolas. O que eu nunca fiz, está feito.

XX-XX-XX

Louise finalmente estava com a mão sobre a maçaneta da porta do quarto de Angel, no Hospital do Centro. Hesitou em abri-la por longos segundos, sabia que os rumos que sua vida tomaria nos próximos dias, dependiam daquela conversa. Mas assim como Oliver, Louise também estava exausta. A verdade é que também não sabia o que faria, caso a lista ainda estivesse em aberto ou em caso pior, se Angel não pudesse lembrar de nada. Louise sentiu uma sensação estranha percorrendo todo seu corpo.

Angel...

De repente nada mais importava, somente queria saber se a amiga estava bem. Abriu a porta de súbito.Louise sorriu de orelha a orelha ao ver o rosto da amiga.

— Oi, Louise. — Angel disse com uma voz fraca, encarando a garota com um sorriso em seu rosto. A loira estava com o rosto um tanto inchado e pálido. Ele estava limpo, sem nenhuma maquiagem, Louise notou o quanto raro era vê-la daquela forma. Sorriu. A atadura atadura em volta de sua cabeça tapava parte de seus cabelos dourados, este estava amarrado em um simples coque. Seu olhar estava um tanto vago, mas a loira parecia estar bem. Quase como se nada tivesse acontecido.

— Meu Deus, Angel! — Louise correu até a cama da moça, uma enfermeira que estava próxima checando os diversos aparelhos envolta de Angel, saiu do quarto para deixá-las a sós. Louise tocou a mão de Angel e seus olhos encheram-se de lágrimas. — Você está bem? Eu fiquei tão preocupada!

— Eu estou ótima. — Angel respondeu da forma mais sincera do mundo. — Eu não tenho palavras para agradecer você, Louise... Uma enfermeira me disse que foi você que me acompanhou na ambulância... Já que eu não consigo lembrar de nada que aconteceu após... Eu matar o Wen.

Angel fechou o semblante por um momento, e antes que pudesse continuar, Louise a interrompeu. — Eu não quero saber disso agora, eu não quero... Eu só quero saber como você está! Eu não sei o que você sabe sobre...

— Eu sei. — Angel disse sorrindo de lado. — O médico me contou quando eu acordei a meia hora atrás. Ele pensou que eu pudesse ter perdido a memória também, acredita? — Angel riu, mas Louise não. Então a francesa abaixou a cabeça e não se aguentou, começou a chorar.

A loira suspirou profundamente. — Eu estou ótima, Louise! É o que importa, não é? Eu perdi uma orelha, mas ainda posso ouvir com a outra. E o médico disse que é possível viver normalmente assim. E bem, eu... Eu tenho meu castigo por ter matado uma pessoa já, então isso é justo. — Angel comprimiu os lábios.

Louise ainda chorava copiosamente. Diferente de Oliver, parecia que só agora estava realmente sentindo o que Angel estava passando, e o que ela passaria por toda a vida. Ver a mulher, que sempre pareceu tão forte, estar numa cama de hospital cercada por aparelhos... Era horrível, parecia uma miragem assustadora.

— Eu vou ficar bem, querida. E o mais importante... Você e o Oliver também, a lista foi quebrada! — Dessa vez foi Angel que tocou a mão de Louise, e subiu levemente a cabeça da francesa com a outra mão. — Acabou, Louise. Eu fiz o que tinha que ser feito, não foi como eu planejei, mas... Está feito. Eu salvei o Wen, a vez dele passou e matei ele quando era a minha vez na lista. Acabou.

A francesa não conseguiu ficar feliz, não parecia o certo. Angel logo percebeu a falta de reação da garota, que continuava a chorar intensivamente.

— Louise, não sinta pena de mim. Não sinta! Eu sou forte, eu sempre fui! Não vai ser isso que vai me derrubar, não agora... Não depois de tudo isso. — Angel olhava diretamente nos olhos da garota, eles também eram azuis como os seus. — Eu sei que eu tentei me matar várias vezes, mas eu nunca consegui, eu nunca quis conseguir! Eu quero viver, e agora eu posso! Tenho coisas para rever na minha vida... Eu tenho meus pais que eu não vejo há mais de 10 anos, e eu sei que não vai ser hoje, amanhã, ano que vem... Mas um dia eu revisarei meus pensamentos. Eu tenho muito pra viver, nada vai me parar! Nada!

Angel deixou algumas lágrimas caírem de seus olhos, mas não choraria. Estava realmente feliz, nada importava mais. Só tinha que aceitar seu destino, e se depois de tanta coisa ela estava ali, viva, era porque tinha que estar. Estava verdadeiramente grata por isso. Eu salvei o Wen de morrer esmagado por parte do teto do andar ontem, depois o matei quando era a minha hora na lista... Ele morreu no meu lugar, morreu fora da ordem. Acabou. Eu sinto em cada parte do meu corpo, realmente acabou.

— Vai atrás do Oliver, Louise. Vai contar logo a ele que tudo aquilo acabou, vai! — Angel falava sorridente enquanto ainda emergia de seus pensamentos. — Tudo vai ficar bem, Louise! Eu posso falar isso quinhentas bilhões de vezes se precisar! Até você acreditar!

Louise então finalmente sorriu. Tudo vai ficar bem... Foi o que eu disse pra você na ambulância...

A loira soltou a mão da garota e continuou. — Vai, Louise! Vai contar pro Oliver, logo! Eu nem posso imaginar a angustia que vocês passaram nas últimas horas. Sem saber se a lista tinha acabado e com a possibilidade de eu ter perdido a memória... Vocês precisam disso, precisam de paz! — Angel sorria enquanto praticamente expulsava a garota de sua cama. Tudo claro, com seu jeito descontraído de ser.

Louise assentiu. Estava totalmente surpresa ao ver o estado que Angel se encontrara, entrara no quarto esperando o pior, mas... Estava diante da antiga Angel, a mesma que a ajudou quando perdeu a mãe, a mesma que a divertia contando histórias engraçadas com Shaniqua, a mesma mulher forte de antes. A francesinha secou os olhos e então beijou o rosto da loira e abraçou-a fortemente. — Obrigado, Angel. Por tudo... Por tudo.

Uma energia incrível veio daquele abraço. Angel sentiu-se em um dejá-vu, mas não entendeu o porquê disso... Mas não importava, era uma energia boa. Mais do que boa. Simplesmente maravilhosa. Eu ainda tenho pessoas que me amam, eu tenho.

Louise então guiou-se até a porta do quarto, mas antes perguntou algo a Angel:

— O Kramer disse que ainda não veio falar com você, mas porque sentia que eu deveria vir primeiro. — Louise olhou pro chão e depois voltou o olhar a Angel. — Ele realmente não sabe nada dessa história toda?

Angel estranhou aquela pergunta. — Não... Não sabe.

— Você vai contar a ele, Angel? Ele se esforçou tanto para ir até você no St. Mary... Eu o Oliver e ele, fizemos de tudo para ajudar você ontem. — Louise voltou alguns metros próximo a loira.

— Não sei se devo contar à ele... Eu ainda não sei. — Angel não queria pensar nisso agora. Sorriu de lado. — Mas vai logo, Louise! Vai contar ao Oliver que tudo acabou, ele não precisa sofrer mais esperando!

Louise sorriu e voltou a se aproximar da porta, dessa vez a abrindo. A garota então saiu do quarto e quase no mesmo momento uma enfermeira entrou. A loira deitada na cama, ainda estava com a cabeça a mil e mal percebeu a presença da enfermeira ao seu lado. Kramer... Um dia você saberá de tudo, eu juro. Mas não agora.

— Você receberá mais visitas hoje, senhorita Caymon? — A enfermeira, uma jovem negra, a perguntou.

— Sim! Meu namorado deve ser o próximo. — Angel respondeu de súbito, saindo de seus pensamentos.Então arqueou uma de suas sobrancelhas ao perceber que tinha usado a palavra "namorado" para se referir a Kramer.

— Então ele deve estar muito feliz. — A jovem enfermeira falou checando algumas coisas em sua prancheta. — É inacreditável você ter sobrevivido aquele desabamento. Eu sei que você deve estar assustada pelo que o médico disse, mas... Nem tudo na vida é definitivo. E acredite, você é mais que uma sobrevivente, o que você passou foi digno de um milagre!

— Acredite... Sylvia. — Angel disse lendo o nome da enfermeira no crachá preso em seu uniforme branco. — Eu estou calma, eu sei que só o fato de eu estar viva, realmente é um milagre. É tudo no que eu vou me concentrar agora.

A enfermeira sorriu e saiu de perto da cama da loira. Ela me lembra a Shani... Angel pensou. Suspirou.

A enfermeira então leu novamente o nome de Angel em sua prancheta, em especial seu sobrenome, então olhou para a loira mais uma vez. — Angeline Caymon. Você trabalha aqui, não? Eu fiquei no mesmo turno que você durante uma semana, por isso te achava familiar...

Angel sorriu e assentiu, embora ela não se recordasse de Sylvia.

— Você é uma enfermeira também. — Sylvia disse sorrindo. — Olha como é a vida... Depois de ajudar tantas pessoas, chegou a sua vez de ser ajudada.

Um arrepio foi o máximo que Angel sentiu. A negra saiu do quarto e a loira teve mais um motivo para ficar feliz. De repente sentiu lágrimas caírem de seus olhos em direção ao seu sorriso torto. Fazia quase cinco anos que era enfermeira, diversas vidas passaram sobre suas mãos. Diversas delas, com sua ajuda, foram salvas. Angel olhou pro alto e lembrou-se do primeiro verso da bíblia que ouviu dos lábios de seus pais, ainda quando era uma garotinha.

"E não nos cansemos de fazer o bem, porque a seu tempo próprio ceifaremos, se não houvermos desfalecido. Gálatas, capítulo 6, versículo 9."

Pela primeira vez desde que havia despertado, Angel chorou. Chorou lágrimas de alívio, lágrimas de gratidão. Finalmente depois de vinte e sete anos, se sentia a pessoa mais amada do mundo.

XX-XX-XX

Oliver se levantou da cadeira em que estava e correu até o centro do grande salão de espera do hospital, ao ver Louise se aproximando. Kramer que estava ao lado do rapaz fez o mesmo. Ambos sorriram quando viram o semblante da francesinha.

— Apesar de tudo... — Louise parou de sorrir por um instante. Ainda estava confusa. — Ela vai ficar bem. Na verdade... A Angel está ótima!

Kramer não se conteve e saiu em direção aos corredores e rapidamente desapareceu entre eles. Louise ficou feliz ao ver a alegria do homem e então virou-se ao namorado. Oliver ainda estava tenso e Louise sabia o porquê, assim como ela há minutos atrás, ele estava visivelmente confuso sobre o que sentir. A francesa então acabou com a angustia do garoto com um simples sorriso. Oliver então também sorriu e tapou a boca com a mão, Louise pulou sobre ele e o envolveu em um forte abraço. Nem dali a um milhão de anos, sentiriam a mesma sensação de paz que estavam sentindo naquele momento. Aos poucos, ambos foram caindo sobre o chão do hospital, sem nem se importar com os olhares das pessoas ao redor.

Mais do que suas vidas, tinham de volta a liberdade de não saber quando morreriam...

E isso era indescritivelmente maravilhoso.

XX-XX-XX

Os cabelos cor-de-rosa de Kiara balançavam levemente com o vento.

A garota estava na varanda de sua casa, sentada na cadeira de balanço do quintal. Havia passado a madrugada toda, pensando e pensando sem parar. Os raios do Sol já chegavam até ela de maneira tenra, manteve seus olhos bem fechados enquanto sentia o poder que emanava deles. Seu violão marrom-claro fazia companhia ao seu lado, sentado ali como se fosse uma pessoa.

Se tudo aquilo que o Oliver disse a sua namorada na cabana, for verdade... Penny estava certa, o que ela teve foi uma visão.

Penny fora namorada de Kiara por longos meses, os melhores de toda a sua vida. Conheceu-a quando passava por um momento delicado... Tinha acabado de perder sua mãe, Lana Kane, após anos de uma luta inacabável contra um câncer. Kiara ficou apenas com seu pai, Ramon, com quem tinha uma péssima relação desde criança. A perda de Lana para ambos, pai e filha, foi recebida de forma esperada, mas não menos dolorosa. Kiara via diariamente o quanto a mãe sofria, acamada e sem forças para nada... E com ajuda de seus amigos mais íntimos, e principalmente de Penny, resolveu apenas focar em pensamentos positivos. Nas conversas que tinha com Penny, Kiara pôde aceitar que a morte veio como um anjo que tirou sua mãe do sofrimento, tirou toda sua dor e entregou-a paz.

Kiara pegou o vilão ao seu lado e colocou em seu colo. Passou levemente a mão sobre ele e suspirou. Ela me ajudou tanto, e eu simplesmente a enviei a morte.

Penny havia morrido. Completaria um ano de sua morte em janeiro do próximo ano, e Kiara podia lembrar perfeitamente daquele dia... Fora acompanhar a namorada em sua primeira apresentação televisionada. Penny estava nervosa, enfim havia sido chamada para ser a nova assistente de um famoso mágico da região. Ao contrário de Kiara, Penny já tinha a maior idade na época, tinha terminado os estudos e focado em sua carreira artística. Sabia que seria uma grande oportunidade de entrar no mundo artístico, estando com o mágico. Ele fazia diversas apresentações na TV, o que daria mais destaque e mais chances de seu rosto ser visto. Quem sabe algum figurão de alguma emissora a chamaria para algo? Um teste para uma série, um comercial? Penny queria ser famosa e ter seu nome nas revistas e na internet, tinha que tentar. Kiara entendia isso, já que também sonhava em ser uma cantora de sucesso...

Mas a vida é uma bitch.

Kiara pensou. E se viu se arrependo pela milionésima vez de não ter acreditado na namorada naquele dia...

Penny havia contado sobre o pesadelo que teve na madrugada anterior a noite da sua apresentação na TV. No pesadelo ela morria de forma horrível no meio da performance de mágica. Kiara não levou isso a sério, não tinha motivos para levar. Achava que Penny apenas estava nervosa com toda a pressão, e o resultado de um dia cansativo de ensaio com o tal mágico, trouxera consequências a sua subconsciência. Kiara então a incentivou, e chegou até a discutir com a namorada quando a esta quis desistir no último momento no backstage. Então Penny foi. Então Penny morreu.

Da mesma forma grotesca do seu sonho. Da mesma forma brutal. Ao vivo para que todos pudessem ver...

Kiara havia ficado sem chão nos dias seguintes. Sem saber o que pensar, sem saber como reagir. Por sorte, e para ter um pouco de paz, pouquíssimas pessoas de seu colégio sabiam de seu romance com a "Garota que morreu ao vivo na TV", como Penny foi chamada por algumas semanas pela mídia. Isso, até que outra tragédia grotesca acontecesse e tirasse sua fama. Ao menos, Penny conseguiu ter seu nome nos holofotes...

Os poucos amigos de verdade, de Kiara, a ajudaram em mais um momento difícil. E aos poucos ela foi superando e levando a vida... Como tinha que ser.

Mas a vida é uma baita de uma bitch.

Então o acidente do Park Forest Castle veio. E levou seus amigos: Esther e Luke. A jovem ruiva e seu irmão adotivo negro, eram os melhores amigos que Kiara tinha. Com Esther, havia rolado algo a mais que amizade nos últimos meses, mas nada muito sério. Isso não importa em nada agora... Eu acabei de terminar o colegial e... Não terei ninguém pra me acompanhar nessa nova etapa da minha vida. Ninguém.

A garota de cabelos rosas já estava anestesiava, pouco havia chorado pela morte dos amigos e... Então acabou por ouvir por acidente, a conversa de Oliver e sua namorada em um dos chalés do acampamento. Foi aí que sua cabeça girou.

Kiara não entendeu a parte que Oliver falava sobre "lista" e "ordem"... Mas ouviu claramente que Louise tivera uma visão, que ajudou ambos a se salvarem do desastre com o helicóptero. Uma visão da mesma que Penny tivera, com a única diferença que a dela fora em forma de um sonho enquanto dormia. Kiara queria falar com Oliver, confirmar aquela história, mas não teve coragem naquele momento. Ambos namoraram por muito menos de um mês na sétima série, quando Kiara ainda estava descobrindo sua sexualidade... Não tinham intimidade alguma agora. Mas pensou bem, e ao perceber que ainda tinha o número de Oliver em seu celular, ligou para ele na tarde anterior. Parecia o destino querendo ajudá-la... Ligou duas vezes. Esperou os longos segundos habituais, mas Oliver não atendeu.

A garota não poderia se sentir mais rejeitada e sozinha do que naquele momento. Sabia que Oliver uma hora ou outra retornaria a ligação, havia checado se aquele ainda era o número dele em sua conta no facebook, e era. E quando ele retornasse, resolvera em não dizer nada, inventaria uma desculpa qualquer... Foi isso que a fez passar a madrugada toda em claro, pensando.

Estava decidida.

Não queria saber a verdade sobre a visão de Penny. E poderia ser egoísmo de sua parte, mas não queria saber o que Oliver e a tal Louise estavam passando. Tinha dois velórios para ir, duas almas para orar... E não sabia como reagiria, caso descobrisse que a história da visão de Penny havia sido verdade, e não uma "absurda coincidência", como decidira chamar no decorrer do ano. Afinal, a visão a impediria de morrer, mas por sua causa não ocorreu. Seria um peso enorme que carregaria em suas costas, e não estava preparada para isso.

Kiara tocou levemente os dedos em seu violão, dessa vez numa gravura feita com um canivete na madeira do instrumento:

"From: P. To: K.

My sweetheart."

Ao ler o apedido que Penny costumava a chamar, Kiara desmontou. Lembrou-se de Esther e Luke. De sua mãe. Então não conseguia mais mascarar a dor, não conseguia mais ser aquela garota que todos os colegas do colégio amavam: A garota com seu inseparável violão, gírias e piadas prontas. Chorou como nunca antes em toda sua vida. Logo seu pai chegaria em casa depois de mais uma noite de bebedeira pelos bares da cidade, e então sua paz acabaria... Kiara então abraçou seu violão com toda a força do mundo, não o soltaria nunca mais.

A música e o dom de sua voz, eram as únicas coisas que ainda restavam para a jovem de cabelos rosa. Dedilhou as cordas do violão, enquanto suas lágrimas caíam nervosas entre seus dedos e sobre o esmalte azul claro, em suas unhas. Em segundos, uma melodia melancólica apareceu. Em minutos, um refrão libertador. E em uma hora, uma música inteira.

Kiara colocou seu violão ao seu lado de volta na cadeira de balanço, e pegou um pequeno bloco de notas em seu bolso. Puxou o pequeno lápis preso nele, e escreveu algo na pequena folha em branco:

"Favorite Song To Live”


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Notas finais do capítulo

Esse capítulo foi focado em concluir o assunto "lista". Não tenho muito o que falar sobre, pois acho que tudo ficou claro nas sequências. ^^
O foco em Louise e Oliver nesse cap, não foi premeditado. Apenas foi uma consequência do desenrolar das situações mesmo, então torço para que tenham gostado. XD
Sobre a Kiara... Pensei muito em contar tudo sobre ela em suas primeiras aparições, mas nunca achei o momento certo. Esse capítulo pareceu o momento perfeito. Tudo combinava. :)

Bom, o cap 14 (o último mesmo! LOL) será o final de "Risk Of Death". Dora, Kiara, Angel... Tudo será lembrado lá. Como disse lá em cima, ele está praticamente concluído. Então aguardem! ^^

Ah, kibarei na cara dura o Lerdog e o MV (quem acompanha as fics deles, entenderá), e deixarei os nomes e links das músicas que foram mencionadas no capítulo. São bem distintas, mas vale MUITO dar uma conferida:

If I Die Young - The Band Perry: https://www.youtube.com/watch?v=Aw8W6hYGZ0E&hd=1

Hospital - The Used: https://www.youtube.com/watch?v=hCeXK2Bvj9Y&hd=1

É isso, até breve! :D





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