Lucy's Pov

Estava na guilda, como sempre, entediada e debruçada no balcão encarando o além enquanto Mira limpava copos à minha frente, me observando.

- Ah que tédio – exclamei bocejando e esticando os braços para frente no ato de espreguiçar

- Porque não procura um trabalho? - Mira disse sorrindo simpática como sempre

- Bem que eu queria, apenas para diversão, mas não encontrei nenhum que me despertasse interesse – falei apoiando o queixo nas mãos apoiadas no balcão

- Mas e seu aluguel? – ela continuava a me observar

- Estou em dia com ele e ainda tenho para o mês que vem, a última missão que fiz com o grupo me rendeu bastante – falei sorrindo só por lembrar que não estava com a corda do aluguel no pescoço

- Aah... – Mira continuou a lustrar os copos e parou de me observar

Me virei no banco, ficando de costas para ela, e passei o olhar pela guilda, que anormalmente estava quieta e com poucos membros. Cana, como sempre, estava bebendo seu barril de saquê sentada numa mesa próxima à mim. Parei uns minutinhos para observá-la. Ela já faz parte da guilda há muitos anos e pelo que eu soube aprendeu a beber muito cedo, talvez por isso quase nunca fica bêbada.

Ainda divagando sobre as curiosidades dos membros da guilda, nem percebi que estava sendo observada.

- Yo Lucy! – Cana me chamou, me tirando de meus devaneios – Chega mais!

A olhei curiosa e me dirigi ate onde ela estava sentada.

- Quer aprender a beber? – ela disse com um ar risonho. Me espantei com a pergunta tão inesperada – vi que você quase nunca bebe e pensei que talvez seja por que não sabe direito como consumir o álcool sem ficar bêbada – ela disse simplesmente dando um gole no barril

- Bem, é verdade que eu quase nunca bebo, mas eu acho que é por preferencia mesmo... – falei enquanto me sentava enfrente a ela, que me dava um olhar de descrença – ou talvez por que o álcool não me atrai tanto... – ela revirou os olhos e suspirou

- Pega aí – ela disse me empurrando uma caneca gigante de cerveja – experimenta e me diz como você se sente

Peguei a caneca e bebi um gole generoso. O gosto era amargo e forte, mas não ruim. Como a bebida estava bem gelada, o álcool parecia quase inexistente. Cana me observava atentamente com uma expressão dividida entre divertimento e ansiedade. Bebi mais um gole generoso, acabando com dois terços da caneca e após acostumada com o sabor, a bebida parecia um refresco.

- Muito bem Lucy – Cana disse sorrindo – agora come um pouco desse bolo – ela disse me empurrando um bolo de laranja com coco – para diminuir a velocidade da absorção do álcool pelo seu organismo é bom comer alguma coisa.

Cortei um pedaço do bolo e levei a boca, o açúcar logo fez o seu efeito e senti a energia correndo pelas minhas veias. Terminei com o pedaço em segundos e já estava bebendo a cerveja, agora com um sabor completamente diferente, por conta do açúcar do bolo.

- Agora vamos mudar de bebida – Cana disse me empurrando uma caneca de vinho – beba devagar, apreciando o sabor característico da uva.

Bebi um pouco, sentido a diferença radical da cerveja para o vinho. Era um sabor mais forte e dava para sentir o álcool diretamente na língua. É realmente uma bebida para ser apreciada. Essa caneca eu demorei mais, pois o vinho era bom demais para acabar rapidamente como a cerveja.

Cana me acompanhava a cada nova bebida, sempre sorrindo divertida. Depois do vinho ela me apresentou a saquê, extremamente forte e quase dava para sentir o álcool pelo cheiro. Comi mais um pedaço de bolo e virei a caneca, sentindo o álcool entrar na minha corrente sanguínea, um prazer maravilhoso.

[...]

Acordei com calor, sentindo o sol batendo nas minhas costas. Assim que recuperei minha consciência, uma dor terrivelmente forte atacou minha cabeça. Abri meus olhos lentamente, sentindo como se eles pesassem toneladas. Olhei ao redor, estava em casa, deitada na minha cama e parecia que era de manhã. Ou será que era de tarde já?

Fiz um movimento para me levantar, mas parei no ato, sentindo um braço me segurando pela cintura. Olhei assustada para o braço e fui seguindo lentamente em direção ao corpo que se conectava ao membro adjacente. Congelei. O braço e o corpo abraçado ao meu era de ninguém mais que Natsu Dragneel.

Não era incomum Natsu dormir na minha casa, e na minha cama. O incomum era ele dormir tão agarrado assim comigo, como se a vida dele dependesse disso. Fiz novamente um movimento para tentar me levantar, sendo o mais cautelosa possível para não acordá-lo. Mas é como dizem: todo cuidado é pouco. Tinha finalmente conseguido me sentar quando ouvi um murmúrio rouco ao meu lado.

- Bom dia Luce – ele disse espreguiçando e se sentando sorrindo. O lençol da cama escorregou um pouco pelo seu corpo e percebi que ele estava sem roupa na parte de cima, corei um pouco ao observar rapidamente o abdômen tão definido que ele possuía e que curiosamente havia marcas de arranhões por toda a extensão do seu tronco.

- Bom dia Natsu – falei ainda com uma dor horrível na cabeça, parecia que alguém tinha arrancado meu cérebro, batido nele com um taco de baseball e jogado de volta para dentro do meu crânio. – Que dor de cabeça – murmurei para mim mesma, pressionando os dedos nas têmporas.

De repente senti um par de braços fortes me abraçando por trás e uma respiração quente e calma no meu pescoço, fiquei parada no lugar, estranhando tudo aquilo. Desde quando Natsu me abraça assim? Não que eu não estivesse gostando... mas é estranho. Afinal somos nakamas, e mesmo assim tem limites para contato físico entre nakamas. E isso com certeza ultrapassava esse limite.

- N-natsu? – falei tensa enquanto ele descia a cabeça em direção ao meu ombro, fazendo uma pequena trilha de beijos. Ok, isso esta ficando cada vez mais estranho e pior, desconfortável para mim. – Natsu! – o repreendi

- Luce? – ele disse me olhando assustado – Fiz alguma coisa de errado?

- Mas é claro! Desde quando você me abraça desse jeito e ainda beija meu ombro? O que deu em você?! – falei me virando para ele, porém me enrosquei toda no lençol e cai de costas no chão – ai minha cabeça! – falei colocando a mão na testa, a dor se intensificou com a queda

- Lucy! – Natsu exclamou – você está bem?

Foi quando eu percebi, terrivelmente tarde demais para meu orgulho, que eu estava nua. Exatamente, NUA. O que eu fiz? Gritei.

-AAAAAAAAAHHHHH NATSU OLHA PRA LÁ – falei extremamente envergonhada e corada da ponta dos pés até a raiz dos cabelos, tentando de todo tipo me cobrir com o lençol da cama.

Ele continuava a me observar, sorrindo de forma maliciosa, o que me deixava mais envergonhada.

- Eu falei para você parar me olhar!! – disse nervosa me enrolando em uma toalha que achei perto da cama

- Ah Luce deixa de frescura, até parece que não se divertiu noite passada – ele disse ainda com o sorriso malicioso no rosto.

- Hã? Como assim? – falei surpresa com essa nova informação – o que aconteceu noite passada?

A expressão dele mudou completamente, franzindo o cenho, sério.

- Você não se lembra? – balancei a cabeça negativamente – Nossa... Eu... Não sei... O que dizer – ele parecia lutar com as palavras, e sua expressão mudou novamente para decepcionado...?

- O que aconteceu noite passada Natsu? – falei me sentando na cama, o observando.

Ele estava olhando para baixo, quieto. Me aproximei e coloquei uma mão embaixo do seu queixo, o fazendo olhar para mim diretamente.

- O que aconteceu? – perguntei o olhando nos olhos, a curiosidade ardia dentro de mim, embora eu já tivesse uma teoria que eu implorava que fosse mentira.

Ele não tinha expressão que pudesse transmitir alguma mensagem para mim.

- Nós... – ele parecia um pouco constrangido, me fazendo acreditar cada vez mais na minha hipótese maluca de que nós – fizemos sexo Lucy – ele disse por fim

As circunstancias apontavam claramente para isso, mas mesmo assim foi um choque ouvir isso em alto e bom som naquele quarto estranhamente abafado e quieto. Abaixei a cabeça, forçando meu cérebro a lembrar alguma coisa da noite anterior, mas a única lembrança que ele conseguia me mostrar era da Cana me ensinando a beber na guilda.

- Oh meu deus – falei lentamente levantando a cabeça, Natsu me olhava com uma ponta de esperança – Eu... Eu... Cana sua maldita!! – exclamei alto, assustando Natsu

- Cana? O que ela tem a ver?

- Absolutamente tudo!! Ela me embebedou, aquela maldita!! – falei com as mãos na cabeça amaldiçoando eternamente aquela mulher alcoólatra – Natsu me desculpe!! Eu, eu... não sei o que posso fazer para me desculpar por tudo que fiz noite passada! Ai que vergonha kami-sama!!! – falei escondendo o rosto nas mãos

- Se desculpar? – Natsu tirou minhas mãos do rosto delicadamente e me fez olhá-lo nos olhos – Se desculpar pela melhor noite da minha vida?

Aquelas palavras ditas daquele jeito tão... carinhoso causaram uma série de acontecimentos no meu corpo: primeiro, meu rosto ficou em chamas; segundo, um arrepio desceu da minha nuca até meus pés; e terceiro, minha visão ficou embaçada por conta das lágrimas que se acumulavam.

- Lucy, embora você não se lembre, o que me deixa um pouco decepcionado, nós nos declaramos ontem a noite. – ele disse um pouco corado – Mas o que é dizer mais uma vez algo tão bonito de se falar? – ele tinha um lindo sorriso na face - Eu te amo Lucy.

Ainda em choque com essa declaração, apenas deixei as lágrimas rolarem pelo meu rosto. Senti seus braços me abraçando novamente, com força. Retribui o abraço, o apertando ainda mais, escondendo meu rosto no vão de seu pescoço. Minhas lágrimas escorriam do meu rosto para o ombro dele, enquanto ele acariciava meus cabelos.

Separei-me levemente dele para olhá-lo. Eu já sabia que tinha uma queda por ele, mas amá-lo? Acho que meu eu bêbada tem mais consciência dos meus sentimentos que o eu sóbria. Levei uma mão até seu rosto, acariciando levemente sua bochecha, ganhando em troca um sorriso aconchegante.

Aproximei nossos rostos até encostar nossas testas, ainda olhando fixamente nos olhos ônix dele. Suspirei pesadamente quando ele terminou com a distância entre nossos lábios com um beijo carinhoso e cheio de sentimento. Retribui com todo o entusiasmo do mundo, o fazendo rir e em seguida agarrar com ferocidade minha cintura, colando meu corpo ao seu.

Era tão maravilhosa a sensação de poder ter Natsu junto a mim, sentindo seus lábios macios contra os meus num beijo completamente apaixonado. Eu não conseguia mais negar, estava totalmente entregue a esse amor. Meu coração batia acelerado querendo pular para fora do meu peito, e ao mesmo tempo sentia o coração de Natsu batendo rápido em seu peito nu colado ao meu.

Mais cedo do que gostaria o oxigênio fez falta, e nos separamos com leves selinhos. Ele sorria como nunca o tinha visto sorrir, e como resposta automática sorri também.

- Eu te amo tanto Lucy, mas tanto que chega a doer – ele disse me apertando mais uma vez contra seu corpo

- Eu sei – falei ainda sorrindo – É como se meu amor por você não coubesse apenas nesse corpo pequeno e frágil.

- Lucy – ele se ajoelhou na minha frente, segurando minhas mãos entre as suas e me olhando intensamente – Eu juro amá-la e protegê-la por toda minha vida ou até que a morte nos... – o interrompi com um beijo rápido.

- A morte nunca vai conseguir nos separar – falei simplesmente – Você estará sempre aqui comigo – falei colocando a mão em meu peito – e eu sempre estarei aqui com você – falei colocando a mão em seu peito. Ele sorriu novamente e me beijou.

- Sendo assim, Luce você me aceita como seu legítimo namorado? – ele falou segurando meu rosto em suas mãos, eu não conseguia parar de sorrir e comecei a sentir meus olhos se enchendo de lágrimas novamente

- Sim, sim, sim, sim!! – falei pulando nele e beijando tudo que minha boca pudesse alcançar.

E assim, nossa vida começou.