Reveille escrita por MayaAbud


Capítulo 43
Possibilidades


Notas iniciais do capítulo

Fiquei feliz com Dusk, então vou dar esse capítulo pra vc's...
Esse banner quem fez foi a Lilian Oliveira, uma de minhas autoras favoritas aqui no Nyah.



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Ponto de vista de Renesmee

_Ideias?_ repeti.

_Um convite, quem sabe_ ele sorriu ao falar.

Um silvo baixo veio de onde alguns vampiros de manto escuro estavam ao lado direito dos tronos, viera dos lábios de Jane, a encarei sem querer demonstrar medo. Ela sorriu angelicalmente em resposta, e então eu gritei de dor, sentindo-me queimar. Meu grito foi muito alto reverberando pelas paredes de pedra do torreão. Eu estava de joelhos no chão e num arquejo expandi meu escudo, que é claro, sem que eu percebesse voltara à forma original. Coloquei-me de pé e apesar da raiva forcei meu melhor sorriso para ela, que rosnou fazendo-me mostrar-lhe os dentes.

O riso divertido de Aro interrompeu nossa contenda, ele parecia estar adorando nossa ceninha. Caius olhava com algum interesse e Marcus nem parecia ver.

_Incrível _ disse Aro caminhando devagar até mim_ perguntei-me se com o tempo seus talentos se desenvolveriam. _com um dedo branco como osso ele acariciou meu rosto do lado direito_ Não disse, irmãos? Un piccolo tesoro, ma prezioso_ ele sorriu para mim, mas pareceu triste, eu sabia que não podia confiar em como ele parecia, nem no que ele dizia.

_São tantas coisas, minha cara. Algumas me entristecem_ ele me estendeu a mão. As minhas se fecharam num punho estreito, hesitando, pois havia muitas coisas de que ele não poderia saber... As vidas que tomei, Christopher saber sobre este mundo, como me sentia sobre Jacob, como me sentia sobre tudo... Eu não queria que ele soubesse.

_Não há nada que eu não saiba, querida_ ele me virou as costas voltando a sentar-se, pensativo em seu trono_ Tomei a liberdade. Deve saber que a inconsciência a torna vulnerável_ e fez um muxoxo tristonho.

_ E o que quer?_ demandei sentindo-me frágil ali, percebendo que ele devia ter drenado minha mente enquanto eu estava desacordada, e já não havia nada que esconder.

_Por enquanto que não se canse, é mesmo exaustivo manter sua mente protegida, não? Jane, por favor, devemos deixar nossa convidada à vontade, sim?

_Sim, meu senhor_ respondeu com um olhar frio para mim.

_Acredito que pensaria diferente sobre nós se passasse um tempo conosco, afinal, você mesma cogitou a idéia, não foi mesmo?_ seu olhar para mim me deu calafrios.

_Acha que minha família vai apenas esperar que eu volte? Havia pessoas comigo, Edward verá. Ou não?_ senti-me a beira do desespero mais que antes ao pensar no que haveria ocorrido a Jade e Claire.

_Sim, ele verá, as humanas voltaram para casa. Não me canso de surpreender com a forma com que vivem, muito, muito interessante. No entanto há muito que ser discutido, algumas providências a serem tomadas, talvez uma ida a Paris_ sua pele poeirenta se crispou num dos lados da boca numa expressão pesarosa, eu tremi por Christopher. _ Ou... _ Ele sorriu e sua expressão mudou. _Você não teve muito tempo para apreciar suas acomodações. Será extremamente interessante tê-la como hóspede! Sinta-se em casa_ ele falava como um bom anfitrião.

_Há quanto tempo não estou em casa?_ perguntei-lhe a meia voz, ainda abalada pela iminente morte de Christopher.

_Vinte e duas horas. Alec e Chelsea a acompanharão_ o garoto de rosto infantil que obviamente era irmão de Jane deu um mínimo passo a frente junto a uma vampira baixinha de cabelos castanhos claros. _ Mande chamar Corin, Demetri. Ele também se encarregará da proteção de Renesmee.

Eu não sabia quem era Corin ou porque disso, mas eu não estava em condição de contestar demais, e na verdade eu pouco sabia do que estava acontecendo ali.

Os dois vampiros me acompanharam de volta pelos corredores, andando em velocidade humana como eu, Alec na frente como se me guiasse e Chelsea atrás. Assustei-me ao olhar para trás e ver duas, não uma forma me seguindo. Corin, imaginei.

_Este é Corin_ disse-me Alec, virando ligeiramente para mim.

Ao chegar ao quarto onde eu despertara, Alec abriu a porta e ficou ali enquanto Chelsea me seguiu para dentro, o outro vampiro também ficando de fora.

_Se vista como quiser_ disse-me ela em voz baixa, indicando o guarda-roupa_ Quer caçar agora?_ ela esperou minhas resposta como se de fato estivesse designada para me servir, eu a fitei por um longo segundo.

_Não, obrigada_ respondi, embora sentisse sede, ela se virou e saiu. Seus passos foram apenas até o lado de fora, eu ainda podia ouvir as respirações superficiais atrás da porta.

Eu estava um tanto atordoada, o bastante para não organizar meus pensamentos. Amedrontada com o futuro de Christopher, curiosa e também assustada com meu próprio futuro. Com o da minha família.

O sol se ergueu até estar a pino, e logo Alec entrou no quarto trazendo consigo um carrinho com comida como se serve em quartos de hotéis, julguei pelo cheiro.

_Comida humana. _ explicou deixando o carro e sentando-se no canto em uma das cadeiras revertidas de veludo_ O mestre quer que conheça alguém, quando terminar.

_Vai ficar aqui?_ indaguei nada intimidada pelo vampiro que na verdade não passava de um menino. Ele assentiu uma vez, com um sorriso tímido.

Eu comi, tentando me distrair o bastante para que a sede não incomodasse, sabendo dos outros dois do lado de fora da porta e ignorando Alec e seus olhos vermelhos.

Novamente fui levada pelos, já familiares, corredores e salas, com os dois vampiros as minhas costas e Alec quase ao meu lado. De volta ao torreão, dessa vez havia mais vampiros, todos vestidos de forma simples, alguns de mantos outros não. Notei um em especial, não era alto, mas magro e forte, os cabelos escuros e algo nele me era familiar, ele se virou para mim enquanto eu me aproximava, Aro estava de pé, e os outros dois na mesma posição em que os havia visto antes.

_Renesmee_ novamente Aro parecia satisfeito ao me ver. Notei também que os outros vampiros ao redor continuaram suas conversas murmuradas sem se importar com minha presença_ Quero que conheça Joham_ e então o homem diante de mim se inclinou cordialmente e me sorriu.

_ O pai de Nahuel_ disse Aro. Tirei os olhos do vampiro e fitei Aro friamente.

_Do que se trata isso, afinal? Não me trouxe aqui para que eu tirasse férias nem para saber o que fiz nos últimos anos_ demandei e a sala ficou silenciosa repentinamente. Aro riu e assentiu parecendo satisfeito.

_Certamente, minha cara, certamente. Mas como disse antes há muito que discutir. Você cometeu um crime. Sua família jurou que você cresceria anônima, no entanto convive demais com humanos, tanto a ponto de revelar nosso segredo, contou sobre nós_ fez um muxoxo.

Fiquei furiosa, que hipócrita! Como se ele não tivesse humanos em seu teatro ali.

_ No entanto, querida, muito me entristece a idéia de puni-la sabendo que se arrepende dos transtornos que isso causou a si mesma, embora se tenha que corrigir o erro, é claro_ novamente estremeci por Christopher_ Sabe, eu vejo além do que parece ser, e este homem também_ apontou para Joham_ Ah, Renesmee, sei como está infeliz! E é triste que assim seja.

Não gostei que ele estivesse falando aquilo com tantos outros ouvidos em volta. Aro avançou para mim tomando minha mão, a única reação que tive foi proteger minha mente, e vi a decepção em seus olhos escurecidos, ele me soltou. O zumbido de conversas voltou, embora eu pudesse ser o assunto.

_Você pode ter mais Renesmee, outras possibilidades... Ainda terá liberdade se quiser, mas pode se tornar uma Volturi, ter poder e nenhuma limitação_ eu não tinha certeza sobre nenhuma limitação_ E poderá esquecer o que não pode ter.

Jacob, ele falava dele.

_Há muitas coisas que quero. O seu nascimento trouxe-me muitos conhecimentos. Pergunto-me sobre o potencial de seus dons se fosse completa... Ou ainda, se pudesse gerar outro ser!

_Está querendo me usar para procriação? Isso não é possível, ou é?_ demandei incrédula, olhando para Joham. _ Eu estou congelada como uma vampira pura.

_É o que queremos saber_ disse ele pela primeira vez.

_Entendo que o método tradicional possa ser uma complicação, no entanto temos meios clínicos e alguém que sabe muito a respeito_ ele olhou para Joham.

_Está o que...? Pedindo meus óvulos?_ eu tive de rir, para minha própria surpresa. _ E as filhas dele?_ arrependi-me de imediato, porque a resposta veio com facilidade: elas não tinham dons extras, eram... Normais_ Por quê?

_Possibilidades... Mas o que me diz de ser completa? Não duas coisas, não estar presa ao que poderia ser, apenas ser? Estou lhe oferecendo o que lhe foi negado. Permita-me que eu faça um teste. Renata_ chamou ele. E uma vampira pequena e delicada, de cabelos negros saiu de trás dos tronos e caminhou elegantemente até Aro.

_ Venha até mim, Renesmee_ hesitei alguns segundos, mas fui. Parei a centímetros dele, os olhos da mulher pequena colada as suas costas eram enormes e espantados, até ultrajados.

_Renata é o melhor escudo que já encontrei, embora o de Bella seja um páreo duro, ainda não sei quem anularia quem_ disse ele como quem adoraria saber_ No entanto você, que nem mesmo é uma vampira, anulou Renata, assim como anula o de sua progenitora, você não deveria ter chegado a mim nem lembrar o que tentava fazer. Esplêndido!

Todos os outros pareciam tão impressionados quanto Aro, exceto Marcus, o que me deixou curiosa.

_Imagine todo seu poder ao se tornar uma vampira_ os olhos de Aro brilharam cobiçosos_ Não posso deixar de imaginar o resultado de um ser com o potencial de ambos os pais_ disse ele a Joham que permanecia quieto assistindo.

_ Pense, Renesmee, está tendo a chance de deixar para trás as possibilidades que não pode ter. Agora, a não ser que queira se unir a nós na refeição, você já pode ir_ disse-me Aro.

Sem dizer mais nada virei-me em direção a saída onde meus guardas me esperavam.

Ainda chocada com as propostas, desesperada ao ver uma saída para minha angústia e até um pouco ultrajada por Aro falar comigo como se entendesse minhas dores, resolvi que devia tomar um banho. Minhas roupas cheiravam a sal e maresia, como se houvessem secado no corpo (o que me fez perguntar a razão disso: viemos a nado?) e o tecido estava desconfortável na pele, ou talvez eu estivesse muito acostumada a certos confortos.

Alec me levou para o jardim, Corin e Chelsea sempre por perto, quase como as outras estátuas espalhadas, exceto o fato de que brilhavam ao sol. E o garoto sempre silencioso estava ao meu lado, mas eu já nem me importava com sua presença, era fácil esquecê-lo.

Sentei-me em baixo de uma árvore frondosa, cujo outono já levara parte das folhas, e até me senti em paz, confortável e vagamente feliz, embora isso parecesse deslocado, eu não me importei. Imaginei-me brilhando ao sol, imortal definitivamente e me perguntei o que diria minha família e o quanto isso devia importar para mim.

_Aro acha mesmo que os Cullen não farão nada sobre meu rapto?_ murmurei para o vampiro de pé, ao meu lado, mas fora de meu ângulo de visão. Para minha surpresa o garoto sentou-se ao meu lado.

_Sabemos que farão, por isso deve se decidir. Você terá tempo, treinamento para aperfeiçoar os dons antes de se tornar uma imortal ou mesmo de tentar as experiências de Joham, se optar por elas. Não terá que fazer nada de imediato, embora a decisão não possa esperar muito_ Alec falou calmamente. Era mais do que imaginei que ele fosse falar.

Então era muito natural que eu quisesse o bem de minha família, mas eu tinha direito de ter alternativas, não tinha? De não ter que ver Jake me deixar quando sua prometida surgisse. De não ter que conviver com a ânsia de tê-lo, de não magoar meus pais com minhas dores... Eu tinha esse direito.

_ O que seria feito se eu aceitasse... As experiências?_ perguntei, embora não tenha de fato cogitado a possibilidade. Era algo que parecia muito distante de mim, impensado, ser mãe. Tendo ou não algo sendo gerado dentro de mim. Ou fora, que fosse.

_ O material genético seria colhido de ambos os pais portadores de dons, bom qualquer vampiro pode ser o doador e você a doadora, a seleção seria feita de acordo com a possibilidade de combinação dos dons, e a fecundação seria feito como num laboratório humano. Claro que possuímos maior capacidade de fazer isso dar certo. _ senti-me satisfeita que ele estivesse me respondendo, mas achei tudo um absurdo.

_Bizarro_ falei, ainda me vendo incapaz de discutir ser mãe de seres multirraciais criados em série em um laboratório. Ele riu, e eu sorri, sentindo-me quase... Amiga dele. Era diferente do que imaginei que pudesse ser. Claro que isso não se aplicava a Jane, no entanto, seu irmão parecia muito mais pacífico, não o vampiro perigoso, a arma mais letal dos Volturi.

_É claro, que se pode esperar que a outra cresça.

_Outra?

_Sim. Há uma hibrida sendo mantida aqui, você a conhecerá logo. Não tem sequer uma semana de vida. A mãe era uma camponesa e o pai não sabemos, Joham diz não ser ele.

_E ela tem algum dom, eu suponho, se ela pode... Ser mãe_ ainda estava relutante em tratar o assunto com tanta frieza.

_Não é nada impressionante, ela parece sentir o perigo, não gosta da maioria de nós. Há uma humana cuidando dela, o próprio Aro não foi vê-la muitas vezes desde que ela chegou.

Deixei minha mente absorver aquilo por um instante, a idéia de um bebê hibrido, como eu fui um dia, me deixou pensativa e curiosa. A noite avançou, e o dia que fora longo demais acabou.

Mesmo apreensiva com tudo eu dormi, muito bem, surpreendentemente.

Pela manhã, Alec me trouxe café da manhã, bolos e doces, ainda seguido de perto de Corin e Chelsea. Eu vi o balançar suave de seus mantos quando ele abriu a porta, e podia ouvir suas respirações muito leves do outro lado da parede. Alec sentou-se ao meu lado na cama, e eu não me importei.

_Diga-me, porque Marcus parece sempre tão desinteressado?_ demandei, em voz baixa, embora os vampiros certamente pudessem ouvir.

_Não é algo de que se fale muito.

_Não vejo porque não posso saber, uma vez que me parece que ficarei por aqui. Você terá problemas com Aro se me disser?_ ele riu.

_Não, Aro não fará nada contra mim_ disse ele convicto_ Marcus ficou assim depois que sua esposa, Dydime, morreu. Nunca encontraram o assassino.

_Me surpreende que ele não tenha dado fim a si mesmo_ pensando no passado de meus pais, na vingativa Victória.

_Ele... É muito ligado ao Clã, sabe que seria ruim para Aro e Caius. _ e senti que a conversa se encerrava ali. _ Mas você sabe as mudanças que coisas fortes nos causam, são definitivas. _nesse momento ele me olhou intensamente por um tempo que me pareceu longo demais.

_O que há?_ imaginando se havia algo de errado naquela troca de olhar.

_Você é linda!_ murmurou ele_ Mesmo com sua parte humana_ não me ofendi, entendendo que a beleza humana para ele não passava de seus sabores, mas senti meu rosto aquecer um pouco, ainda fitando seus olhos injetados em sangue_ Isso também é lindo_ ele tocou minha bochecha.

_Você é só um menino_ falei. Alec sorriu, desviando os olhos dos meus por um instante.

_Tenho mais anos de existência que seu avô. Não sou apenas o que meu corpo parece, assim como você. Tem oito anos, não é mesmo?_ ele não perguntou por que queria saber, perguntou em provocação.

Revirei os olhos, por fim.

_Aro pediu que a levasse_ disse-me então.

Eu já estava de roupas trocadas, havia colocado um dos vestidos que havia na cômoda, era de flanela e casual, bem eram os que combinavam com meus coturnos de caminhada, não que isso fosse de extrema importância, mas talvez Alice tenha trabalhado à sua maneira em minha cabeça.

Não fomos para o torreão, como imaginei, a descida do elevador foi pouco mais longa, e não saímos em nenhuma recepção comum e não havia cheiro de humanos ali. Alec caminhou ao meu lado e, é claro, Corin e Chelsea atrás. Eles achavam mesmo que eu poderia fugir se não me mantivessem em vigilância? Quão poderosa Aro achava que eu era, afinal?

Essa outra sala não tinha muita iluminação, embora pudéssemos enxergar, haviam mais cadeiras dispersas, não muitas na verdade, e as paredes possuíam quadros, e uma das paredes tinha uma enorme estante repleta de livros e havia portas em três paredes . Havia vários imortais ali, e o zumbido de conversa era mais alto que na outra sala, como se algo os animasse, uma novidade. Alec me conduziu pela mão, em meio aos vampiros até que chegássemos ao meio, onde uma humana, uma jovem bonita de aparência moderna (provavelmente a serviço dos Volturi) segurava uma criança de expressão assustada.

Depois do primeiro segundo de choque ao ver uma humana e uma criança cercada de vampiros, pude perceber que a criança não era humana. Era adorável, possuía traços angelicais e parecia ter cerca de quatro meses. Sua pele era impecavelmente cremosa e rosada nos lábios redondos e bochechas. Seus olhos eram num tom peculiar entre verde e caramelo e a camada espessa, porém curta, de cabelos, era dourada.

_Veja, Renesmee, que preciosidade_ ouvi Aro dizer, meus olhos ainda fixos no lindo bebê. _ Você procura por anos no mundo todo e então encontra bem debaixo de seu nariz. _ ele riu.

_E a mãe?_ indaguei.

_Morreu, é claro. _ sua resposta me deu náusea _ Ela foi encontrada próxima ao corpo destruído da mãe, numa casa simples e isolada no campo.

_Ah_ foi o que respondi.

_Espero que esteja à vontade em seu quarto_ falou ele, de repente.

_Sim, estou bem.

_Renesmee, não quero pressioná-la, mas espero que entenda que preciso saber o que decidiu.

_Não é algo em que eu tenha pensado objetivamente, mas eu posso ver as vantagens, Aro_ tendo eu dito isso ele sorriu.


Sozinha, mas com três vampiros vigiando minha porta, eu pensava. Aro disse que eu ainda teria liberdade, e eu sabia que ninguém estava ali escravizado. Carlisle partiu quando desejou e ainda Eleazar foi deixado ir. De minha perspectiva era melhor que estar presa a algo que não se pode controlar de forma alguma, algo sem razão e inaceitável como o que eu sentia por Jake. Algo que não poderia ser. Que não devia. Claro, eu não seria nem uma espécie de máquina de fabricação de seres sobrenaturais, mas me tornar vampira não era algo como sair inteiramente de meu mundo. Não era muito pior do que Bella fizera, era quase como mudar a aparência, ou a forma como ia me vestir, talvez não tão simples. Ainda assim, por enquanto eu estava decidida, eu ficaria em Volterra.

Fiz uma nota mental de pedir a Alec caneta e papel, a fim de escrever para meus pais, perguntando-me o que eles estariam fazendo. Se eles viriam me buscar, como eu diria que não ia voltar, ao menos não agora...?

Passei toda a tarde ruminando essas angústias.

De repente, enquanto eu fitava os anjos desenhados no teto, Alec entrou no quarto sombreado por Chelsea.

_Os Cullen estão em Volterra, invadiram o castelo_ anunciou ele, fazendo um fio de gelo correr por minha espinha.


Ponto de vista de Jacob

A espera foi a pior parte, sem dúvida. Imaginar o que estaria acontecendo, como Nessie estaria, e pensar que eu mal a tive e já a perdera me corroia. Sentia-me mais quente de tensão, minhas mãos ameaçando tremer a todo instante.

_Seguiremos a pé_ disse Edward saindo do carro. Abandonamos os carros na estrada ainda há um quilômetro dos muros que cercavam a cidade. O plano até agora era que entrássemos pelo esgoto, Alice havia visto nos últimos minutos uma entrada que nos levaria direto a Aro, ela havia visto também que muitos dos sanguessugas estariam lá.

Caminhamos entre as pessoas, calmamente, como turistas, em grupos distantes, tentado não chamar atenção. Não demorou a noite a cair, ainda andávamos pelas ruas estreitas feitas de pedra. Até que Alice, no grupo com Carlisle, Esme, Jasper e Emmett, mudou de direção e sorrateiramente entrou num beco escuro e ainda mais estreito.

Quando todos já estávamos no beco, junto de um enorme ralo gradeado no chão, Alice falou:

_Iremos Edward, Carlisle, Jasper e Bella. Não precisamos mostrar que estamos dispostos a lutar. Jacob terá de ficar muito atento, ficará logo aqui em baixo, não avance, espere exatos cinco minutos depois que ouvir os Denali e as Amazonas se afastando, significará que vamos mesmo precisar de alguma intimidação.

Antes que eu reclamasse Edward falou:

_Vocês irem de inicio é uma afronta, eles dificilmente acharão pouco o fato de termos invadido. Os outros estarão perto o bastante para nos ouvir, e vocês para ouvi-los.

Assenti mesmo contrariado, afinal, nós tínhamos corações e não poderíamos ficar sem respirar por tanto tempo quanto eles, os vampiros eram menos perceptíveis.

Emmett agachou-se afastando a grade do buraco e desceu seguido pelos outros, silenciosamente.

Nós esperamos. Leah, Seth, Embry, Quil e eu. Esperamos ouvindo nada, apenas ao longe, acima de nós, o movimento normal de pessoas nas ruas, o vibrar de seus passos... E o silêncio mais adiante. Não sei quanto tempo passou até que houvesse passos quase inaudíveis adiante, e então eu contei cinco minutos, os cinco minutos mais longos que já vivi.


Ponto de vista de Renesmee

Foi estranho ver minha família “do outro lado”. A maior parte, pelo que pude perceber, dos guardas Volturi estavam ali. Os poderosos, ao menos. Mantive-me calma, enquanto explicava, surpresa, para minha família, os Denali e as Amazonas que ficaria em Volterra, desculpando-me pela perda de tempo.

Mesmo lendo minha mente aberta, Edward se recusou a acreditar que eu quisesse mesmo ficar fosse pelo que fosse. Bella implorou que eu voltasse para ela, e com resignação eu apenas disse que não poderia. Aro então os convidou a unir-se a ele, quem quisesse. Eu não queria que os Cullen nem ninguém se ferissem, então sabendo o que pensavam sobre a proposta falei antes de qualquer um:

_Eu vou ficar Aro, serei uma vampira, mas deixem que voltem para casa.

Os olhos do líder vampiro estavam fixos além de mim. Os Volturi agachados em posição defensiva. A minha direita, por trás dos guardas Volturi a humana ainda estava, apavorada, segurando a criança que se inclinava curiosa para ver melhor. Voltei-me para minha família e levei um susto ao perceber que o grupo que viera ao meu resgate ficara maior. Sobressaltando-se pela altura e pelas cabeças que pareciam cobertas por cetim negro, eles se espalhavam em volta da horda, apenas um caminhava pelo meio em direção onde Edward e Bella estavam.

Jacob. Jacob. Jacob!

O conforto quase alegre que havia se instaurado em mim se foi como o romper de um elástico, me enchendo de ânsia e calor. E então não importava onde estávamos, porque, ou quem estava também, a única coisa de que eu sabia é que não poderia fazer nada que o magoasse. A sensação era de que ser desleal a ele seria a pior coisa que eu poderia fazer na vida. Matar, beber sangue humano, ficar com os Volturi, magoar meus pais, nada seria tão grave, tão ruim. Como se as linhas em minha vida estivessem seguras por ele, presas a cadeados por suas mãos.

_Impossível_ a palavra intensa e baixa veio de algum lugar a minha esquerda.

Contra minha vontade desviei os olhos do homem há metros de mim, de relance vendo um sorriso no rosto de meu pai, e então fitando Marcus, que pela primeira vez tinha uma expressão no rosto de papiro, suas mãos nas de Aro. A tensão era uma bruma espessa na sala grande. Atordoada, dei um passo à frente, mas fui detida por mãos geladas e nada gentis. Rosnados de minha família e amigos encheram a sala.

_Aro, eu... _ Não sabia o que fazer. Olhei ansiosa para minha família, percebendo especialmente Rosalie, que era a única cuja expressão destoava, ela parecia interessada em algo entre os Volturi.

_Você disse que ela iria conosco se desejasse_ falou Carlisle, Ah, eu duvidava muito disso.

Em resposta a um sinal invisível os guardas Volturi (cujos rostos eu não reconhecia) avançaram para minha família, exceto os dois que me seguravam e Alec que me olhava suplicante.

Antes que eu pudesse formar um grito, eles foram arremessados de volta como se houvesse uma parede entre os dois grupos. Os Volturi estavam desorientados, confusos como eu. Aproveitei a distração e tentei correr, porém fui jogada para trás batendo o canto da testa no primeiro degrau de pedra dos três que levavam aos tronos, senti-me tonta com a dor, mas outra dor sobrepujou esta. Meu corpo queimava... Jane. No meio da dor mãos de ferro voltaram a me segurar e eu lutei sabendo que a ardência era só ilusão. No entanto, mais que qualquer coisa eu estava atordoada, não conseguia virar e ver o que acontecia, apenas ouvia o som, os guinchos e rosnados e os sons de aço sendo rasgado, a dor parou e vi Jane ser arremessada na parede. Percebi sangue escorrendo por meu rosto.

Fiquei estarrecida quando o vampiro que me segurava levou meu braço direito até seu rosto. Antes de sentir, eu vi e ouvi a mordida lacerante em minha pele dura, bem no pulso. Chocada, eu não emiti som algum. Alguém tocou minha perna, estendida diante da mim, e me apavorei ao ver outro vampiro se agachar, mordendo acima do meu joelho esquerdo. O vampiro que mordera meu pulso desceu, mordendo meu tornozelo direito. Tudo a uma velocidade nauseante.

Um uivo cortou o ar ao mesmo tempo em que meu grito, quando o pulso queimou. Sacudi a mão em vão tentando me livrar da dor. Eu sentia o veneno se espalhar fazendo esquentar e queimar por onde ele passava, parecendo embolar meu sangue em baixo da pele. Agora sozinha (eu não percebera ser deixada pelos dois vampiros) eu tinha a mão esquerda em garra arranhando o pulso e o braço, tentando aliviar o ardor, a dor do ferimento não existia em comparação. Mas logo eu me deixei deitar no chão, me debatendo quando o joelho também ardeu, juntando-se a isso o tornozelo, logo depois.

Senti algo grande sobre mim, um coração enorme, e abri os olhos, só então percebendo tê-los fechado. Jacob em forma de lobo estava debruçado sobre mim. Tentei falar que estava doendo muito, mas só choraminguei. Doía o bastante para eu não me importar com parecer uma criança medrosa, doía demais.

Jane não era dor suficiente, meu braço torcido muito menos, nada que tenha experimentado antes era pior que aquilo. Logo o fogo em minhas veias vedaria meu corpo e não haveria nada que não estivesse queimando.

Eu não conseguia respirar. Oxigênio se parecia mais com ácido em meus pulmões. Eu sabia que não estava só, ouvia murmúrios urgentes, alguns eu sabia que eram pedidos, destinados a mim, mas eu não conseguia entender nem responder. Minha cabeça parecia ferver, eu estava mergulhando para o fundo...

Eu havia ouvido muito sobre transformações, eu não devia estar tão fora da realidade... Meu coração batia tão rápido que acho que devia estar perdendo algumas batidas, ou estava mais devagar? Eu estava morrendo?

De repente eu entendi, e me pareceu muito mais justo que no fim eu pudesse entender o início, fazia mais sentido que uma retrospectiva da minha vida, cujo tudo eu lembrava... Eu vi o rosto feroz e revertido em ódio de um homem, que nesse instante se tornara tão presente embora eu não o conhecesse, ele era tão diferente dos outros rostos que eu vira... E seu rosto agora era doce, não havia nada além de bondade.

Era uma lembrança antiga, eu não tinha certeza se imaginava ou lembrava...

Eu queria estar morrendo. Um segundo viva, não valia aquela tortura... Eu gostaria apenas de dizer que na verdade, eu também o amava.

Jacob.



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Notas finais do capítulo

Muitas coisas acontecem nesse né? Acho que devia ter dividido ele em dois e aumentado o segundo...
Comentários?
A fic tá acabando e mais da metade dos leitores nunca deram as caras... =/
Que tal aparecerem agora?