Máscaras Caem escrita por LiilyW


Capítulo 1
One-shot


Notas iniciais do capítulo

Oii...
Já faz um tempo que não escrevo mais yaoi, mas agora deu vontade. Então espero que gostem ^^
Boa leitura...



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Assim que terminei de atender meu último paciente, peguei um cabriolé para ir até a Baker Street visitar meu amigo, Sherlock Holmes. Chegando lá, bati na porta e fui recebido pelo próprio, que afinava o violino.

Olhei bem para o seu rosto, dentro de seus olhos cinzentos, tentando regravar suas feições em minha mente. Da última vez em que o vira, parecia mais corado e não tão magro. A falta que esse homem me fez foi tão avassaladora, que uma noite, enquanto pensava em como faria para aceitar que ele tinha morrido, comparei-me a um viciado que não sabe viver sem seu ópio; viver sem sua abstinência. Agora que sei que Holmes está vivo e bem, minha felicidade não poderia estar mais que completa.

— Gostaria de me ouvir? – perguntou-me com um brilho no olhar.

— É claro. – respondi, sentando-me na poltrona próxima a ele.

Holmes, certamente não havia perdido sua virtuosidade para a música. A melodia soava delicadamente, movendo-se entre tons graves e agudos, me levando a um êxtase extremamente impressionante. Apenas ouvi-lo tocar novamente é um presente que jamais pensaria que fosse receber, pois quando todos pensaram que ele havia morrido, inclusive eu, oh! Deus, aquilo foi demais para mim. Porém algo me dizia que não era verdade, e mesmo quando minha esposa insistiu para que eu parasse com as buscas incessantes por ele, eu, simplesmente não conseguia parar de pensar naquele detetive arrogante, e hoje, após três anos sem ter qualquer notícia sobre esse homem, aqui está ele, com seu velho hábito de tocar violino.

— No que tanto pensas, meu amigo? – perguntou-me assim que terminou a sinfonia.

— Em como estou feliz por vê-lo novamente.

— É muita gentileza de sua parte.

Ainda não sei como Holmes ficou sabendo da morte de minha Mary, mas fiquei agradecido por ele se preocupar comigo, com minha sanidade e com meu bem-estar. Mas dessa vez, suas palavras não foram as que mais me consolaram, mas os seus atos, que com certeza, me surpreenderam. Ele foi prestativo, ouviu o que eu tinha para desabafar e cedeu seu ombro para algumas lágrimas solitárias que necessitavam ser desafogadas. Eu sempre soube que ele não apoiava meu casamento, porque achava que eu estava indo para a forca e acabaria me tornando um homem infeliz, mas depois que ele conheceu Mary um pouco melhor, sua opinião mudou. Outro motivo, pelo qual resolvi me casar é porque eu não queria mais continuar admirando alguém que jamais estaria ao meu lado. Por que eu continuaria a sofrer em silêncio por alguém que me vê apenas como um ajudante, ou melhor, apenas uma pessoa que faz o relato de seus casos mais bem-sucedidos e ainda não fica feliz com o que escrevo? Oh, não. Eu queria alguém que me fizesse mais que apenas companhia; alguém que me entendesse e me apoiasse em qualquer decisão; que fosse o meu porto seguro, e mais que tudo, que me amasse de verdade, que sentisse desejo por me ver, quisesse tocar e ser tocado por mim, e, às vezes, também poder trocar olhares apaixonados, que transmitiria todos os sentimentos, sem nem mesmo sussurrar “eu te amo”.

E com Sherlock jamais seria assim.

— Sei que o silêncio é um de seus fortes e esse é um dos motivos, pelo qual aprecio sua amizade, mas hoje, você está tão enigmático, e parece tão absorto em seus pensamentos que eu até estranho. O que houve, meu amigo? – disse, após deixar o violino de lado, se ajoelhando em minha frente, também colocando as mãos magras e compridas sobre meus ombros e olhando-me com seus olhos inquisidores e curiosos.

— Por que você faz isso comigo, Holmes? – perguntei baixinho, mais para mim mesmo do que para o detetive a minha frente. – Eu não compreendo e não sei se algum dia serei capaz.

— Perdão? Se você se refere a eu ter fingido de morto durante três anos, sem dar-lhe qualquer sinal de vida...

— Não é isso. Eu entendo sua decisão; fico feliz por ter conseguido prender o Coronel Moran e evitar sua... morte – falei rapidamente, interrompendo o homem a alguns centímetros de mim.

— Então...? Sinto que desta vez não conseguirei deduzir o que está se passando por sua mente, doutor. – respondeu-me com um sorriso estranho no rosto. Seus olhos brilhantes me mostravam uma mistura de confusão e curiosidade, e, ao mesmo tempo, indicava para que eu continuasse.

— Eu não tenho palavras para explicar, Holmes! Ou melhor, não sei por onde começar! – praticamente explodi. Minha voz saiu um pouco mais alta do que eu queria, mas Sherlock não se moveu um milímetro sequer. Continuou me olhando, tentando entender o que eu estava tentando dizer. Mas, como eu ia falar que gostava desse metido e teimoso, sem assustá-lo? Como eu poderia me declarar a ele, dizer tudo o que está preso e enclausurado em minha garganta, sem saber o que ele vai achar? Sinto-me um idiota completo. É bobagem falar com Sherlock sobre amor, eu já deveria saber. Ele, com certeza, rirá de mim, fará com que eu me sinta um tolo, e pior, machucará ainda mais meu âmago. – Perdoe-me pela indelicadeza.

— Sem problemas. Sabe, Watson, normalmente o vejo como um livro aberto. Normalmente. Mas hoje, você está pior que senha de loteria. E olha que eu sou muito bom com deduções. – disse-me ironicamente, tentando me animar e eu desviei o olhar, virando a cabeça para o lado. Quando tornei a olhar para Holmes, ele estava impaciente, com a máscara fria de sempre, e ainda me encarava.

— Holmes... – sussurrei baixinho e levei uma das mãos, que trepidava um pouco, sobre seu rosto, sentindo a pele fria e com a barba feita a menos de dois dias. Eu estava suando de tão nervoso, podia sentir o suor gélido escorrer pela minha nuca. Meus olhos praticamente gritavam as palavras que minha voz não conseguia soar e meu rosto deveria estar pálido e corado somente nas bochechas.

De repente, foi como se ele tivesse compreendido e não conseguisse acreditar. Não, como se não quisesse. Os olhos confusos deram lugares a olhos assustados, suas sobrancelhas se arquearam e seus lábios se comprimiram ferozmente. Pensei em um pedido de desculpas, mas não havia mais tempo, e na precipitação, minha mão foi para a parte de trás de sua cabeça e iniciei um beijo terno, porém desesperado. De início, achei que ele iria me repelir, me empurrar, e depois começar a rir e queixar-se de minha imprudência, mas, pelo contrário, meu toque foi recebido sem protestos. Ficamos nos olhando enquanto eu o beijava, porque Holmes mais parecia uma estátua de mármore, e seus lábios macios continuavam frios e rígidos sobre os meus.

Separei-me dele com temor, com medo de sua reação. Nossos narizes ainda se tocavam e eu custava a acreditar no que tinha feito. A atitude que eu havia tomado não tinha sido correta, pois nós somos homens. Homens. E se por algum descuido, uma mera falta de atenção, alguém descobrir o que foi que eu fiz, não só minha carreira como médico, mas também a de Holmes estará arruinada. Mas eu não consigo me arrepender do que realizei. Oh, céus! Foi melhor do que eu achei que seria. Finalmente pude sentir, tocar os lábios daquele que mais confio e que me desperta um desejo pecaminoso.

— Holmes, eu... – não sabia o que dizer. As palavras me faltaram, assim como o oxigênio embaixo d’água. E enquanto eu pensava em algo condizente, afastei meu rosto do dele, deixando minha mão despencar na altura de seu ombro. Ao mesmo tempo, suas feições faciais se transformaram. Digo isso porque vi com meus próprios olhos a máscara fria cair e aparecer um rosto suave, mais humano e que demonstrava emoções que eu seria capaz de jurar que Holmes não conhecia.

— Sabe, Watson, você é a pessoa em quem eu mais confio, e depois de agora – as palavras me feriram por dentro de alguma forma. Eu já não queria mais ouvir qualquer coisa que saísse da boca dele. Eu preferiria não saber o que ele tinha a me dizer, pois certamente seria algo que deixaria sequelas, feridas que jamais se cicatrizam. Penso que o melhor a se fazer é ir para casa, ou voltar para o meu consultório em Kensington, e esquecer de que isso aconteceu –, nada mudará. Eu ainda te tenho como meu confidente e único amigo. Penso que a ideia de te agarrar, tomar-te em meus braços nunca tenha se passado por sua mente, e eu nunca o fiz por respeito a sra. Morstan e também porque eu não tinha certeza de como reagiria. Você deve estar confuso, se eu estivesse em seu lugar também ficaria, mas eu já tinha uma leve impressão de que você sentia algo mais que amizade por mim. Do contrário, por qual outro motivo as pessoas viriam até a mim para pedir conselhos, ajuda ou a resolver problemas que nem mesmo a polícia consegue? Se bem que com o Lestrade... enfim. Nos conhecemos há anos e é só agora que você tem coragem para me dizer alguma coisa, ou melhor, para demonstrar o que sente. Ora, Watson! O que houve? Está em choque? Não era essa a resposta que estava esperando? Será que você será a quinta pessoa que me engana?

Pisquei algumas vezes para ver se não estava sonhando, e comprovei que tudo era real. Holmes sorriu para mim de um jeito que eu nunca tinha visto. Esse simples ato conseguiu fazer meu coração dar pulos e piruetas. Como ele conseguia fazer eu me sentir um tolo? Suas mãos deixaram meus ombros e puxaram minha mão livre, trazendo-a para mais perto de seus lábios. Mais uma vez, ele conseguiu me surpreender, mas desta vez, foi de uma forma especial.

— Holmes, eu confio e amo você – essas palavras apenas resumem uma pequena parte do que sinto por este homem.

— Shhh... não diga isto ainda. Acompanhe-me. – Holmes me silenciou com um leve encaixar de lábios, depois se levantou, estendendo a mão para mim. – Vamos para o meu quarto, quero por uma teoria em prática. Será algo de que jamais se esquecerá, e se ao fim do experimento ainda estiver disposto a dizer estas mesmas palavras, prometo que farei o mesmo.

Pude distinguir a excitação e a malícia em sua fala, mas também um pouco de romantismo. E logo já me encontrava em seu aposento, com as costas prensadas contra a parede, sentindo o gosto de Holmes em minha língua: uma mistura de uísque, tabaco e algo doce, muito doce, que conseguiu tirar-me o fôlego e incitou meu corpo a continuar a responder aos seus toques e provocações.

Essa noite, certamente, será longa e memorável. 

{Fim}


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Notas finais do capítulo

O que acharam? Por favor me digam, nem que seja para reclamar!



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