Momento Infernal escrita por Elizzabeth Haaps


Capítulo 7
Capítulo 02 (parte 2) — Aquela missão.


Notas iniciais do capítulo

Bem vindos ao final do capítulo 02 de MI. Agora, iniciaremos a caçada dos Caçadores de Assassinos em busca desse serial killer que tanto está apimentando as coisas.
Enfim, espero que gostem *-* E os reviews sempre bem vindos né amores...

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Recebida as instruções, a equipe Alfa seguiu para o vôo que os esperava: a primeira capital do Brasil. A cidade onde o axé e a cultura da África estão inseridos fortemente. Salvador, Bahia, onde os casos recentes foram detectados. Em um avião de pequeno porte, comprado pelo governo para fins, digamos que ocultos – desde a criação dos CA’s até os dias de hoje, o poder público investira secretamente nessa organização, financiando todos os custos, desde o levante das paredes da mesma até os armamentos usados em suas missões –, a equipe seguiu. Durante a viajem todos comentavam sobre essa oportunidade de reviver o passado; de como estavam ansiosos para finalmente “por a mão na massa” – nesse caso seria uma bala no cérebro de alguém pra ser mais preciso. E entre uma conversa e outra a vida pessoal dos integrantes do grupo A veio a ser o assunto.



— Ela se chama Lorena — Disse Ricardo pegando uma foto de sua filha de cinco anos que estava em sua carteira, e mostrou para o resto da equipe. Cabelos tão pretos e pele tão branca como o do pai, os olhos eram castanhos como os da mãe.


— Se eu me lembro bem, e me lembro, teve alguém, para ser direto mais um tal de Ricardo Santos, que jurou que viveria livre.

— Bem meu caro Henrique, coisas mudam, pensamentos evoluem. — Com essa resposta todos se olharam e riram. — Podem rir — Continuou Ricardo — Mas aposto que todos aqui guardam fotos na carteira e tiveram que contar uma mentira atrás de outra para estar aqui hoje. Confessem!

— Posso confessar que sim, mas ainda não tenho filhos nem nada. Fizemos um ano de casados. — Lucas Leal foi o primeiro a dizer depois do ultimato do seu colega. — Júlia o nome dela, mas não tenho nenhuma foto na carteira ou em qualquer lugar.

— Manuela o nome da minha esposa e, eu também não tenho nenhuma fotografia — Leonardo disse — E você também não deveria Ricardo, já pensou se você perder? Isso seria uma excelente arma contra você.

— Esse é o ponto onde queria chegar. — Disse Henrique Cabral interrompendo aquele momento família feliz — Diferente de vocês, sou um homem livre, não crio laços, até porque de uma forma ou de outra é o que esse trabalho exige de você, é o preço que você paga.


Dito isso, todos tentaram encontrar uma posição mais confortável e se entregaram ao sono, ou pelo menos fecharam os olhos procurando se concentrar. Leonardo por outro lado estava ansioso por esse trabalho, ele fazia-o lembrar da sua primeira missão de alto escalão: um assassinato sob encomenda para o até então candidato à presidência da república, Rodolfo Santos Carvalho – você ainda ouvirá alguma coisa sobre ele –, o dito acabou por ganhar as ultimas eleições e concorria novamente nesse ano, felizmente tudo ocorreu bem e os CA’s conseguiram fazer o seu trabalho. Mas agora não era uma encomenda, mas sim uma pessoa que agia sem pensar, ou até pior, pensava demais, planejava seus passos com extremo cuidado... Essa missão exigiria muito de Leonardo e ele sabia disso.



Já a caminho do hotel onde se hospedariam em Salvador, Leonardo procurou manter-se focado nas instruções passadas pelo líder Alfa; buscara lembranças de todos os seus treinamentos quando mais jovem; todas as instruções que o levaram a ser um dos melhores; das noites em claro em que ficou estudando, memorizando coordenadas... Não demorou muito e eles já estavam no hotel indicado – por voltas das nove da manhã, e diferente do clima de São Paulo, na Bahia tudo era mais quente –, preparavam-se para iniciar de fato a missão. Cada um tinha em mãos um envelope com o dossiê que a organização tinha conseguido e individualmente, cada um em seu quarto, estudavam com mais cuidado aquelas informações. Leonardo examinou com o devido cuidado aquelas palavras; tentava criar um padrão através das mesmas, queria compreender a cabeça daquele psicopata; entender como ele agia, como escolhia suas vítimas, e o motivo de tudo isso. Porém, para ter essas respostas ele tinha que descobrir primeiro quem de fato era esse homem, saber mais sobre seu passado, sua história.



Os três nomes dos assassinos contidos naquele dossiê eram: Otávio Lopes – condenado por doze anos na prisão pelo assassinato de Camila Soares. Nesse caso em questão, digitais de outras duas possíveis vítimas foram encontradas no local onde a policia encontrara Camila, no interior da Bahia, mas os corpos das mesmas nunca foram encontrados. O meliante foi encontrado na fronteira do estado com Minas Gerais.


O segundo nome: Olavo de Lima – preso (dispõe de regime semi-aberto atualmente) por tirar a vida de três adolescentes em um sítio nas redondezas da capital da Bahia. Amélia, Joana e Clarisse, tendo quinze, doze e oito anos de idade respectivamente. As vítimas foram encontradas no porão desse sítio, todas sem as mãos e os pés, a identificação das mesmas foi feita pela arcada dentária. Olavo foi denunciado pelo seu parceiro, o menor Igor Bastos, que o fez por saber as reais intenções do seu colega. A participação de Igor no caso se deu devido ao que seria um sequestro, mas como ficara mais complexo, digamos assim, ele fez a denuncia. Pelo menos é o que se encontra em seu depoimento. O menor encontra-se detido na Casa para Menores Infratores.

Terceiro nome: Orlando Lemmes – assassinou mãe e filha na residência das mesmas. Passou-se por eletricista, depois de ter cortado os fios que conduziam eletricidade para a casa em questão, bateu na porta e disse que a companhia elétrica o tinha mandado para resolver o problema. Rapidamente nocauteou a mãe e amarrou a filha de cinco anos. Esperou a mulher acordar e matou com um tiro na cabeça sua filha diante de seus olhos; com o grito da mãe um vizinho foi ver o que acontecia, dá janela entre aberta viu partes do homem e rapidamente chamou a polícia. Porém já era tarde demais, as duas vitimas estavam mortas e o assassino que tentava fugir pelos fundos da casa fora pego. Hoje encontra-se livre, pois pagou sua divida com a sociedade.


Leonardo ainda estava preso nas informações daquele dossiê, quando uma batida na porta interrompe o seu raciocínio; ele se levanta para abrir a porta. Era a equipe A. Todos tinham feito a mesma coisa que ele e reunir-se-iam para decidir quem ficaria com quem.


— Eu gostaria de ficar com o tal de Orlando não sei de quê. Só de pensar que aquela criança tinha a idade da minha filha... Mas ajudaria mais se ficasse aqui monitorando vocês. — Disse Ricardo quando todos já estavam sentados na cama de solteiro que ficava no lado esquerdo do quarto. Alguns quadros abstratos nas paredes, uma janela, na parede em frente à porta, com uma cortina escarlate cumprida, as camas, ambas de solteiro, cobertas por lençóis brancos de algodão puro.

— Orlando fica sob meus cuidados então. — Disse Leonardo.

— Otávio Lopes fica comigo. — Lucas disse rápido.

— Eu até ficaria com algum desses caras, mas não sou disso, sabe? — Henrique disse levando em conta as escolhas dos colegas e rindo sozinho de sua piada sem graça. — O que foi? Não podem rir mais? — Ninguém respondeu — Tudo bem, eu vou investigar o caso desse tal de Olavo.

— Está decidido. Aqui tem algumas micro-câmeras — Ricardo pegou algumas caixas pequenas da bolsa que trazia em mãos e distribuiu. — Assim poderei filmar a conversa de vocês com os assassinos. No final da tarde todos aqui para eu coletar as imagens e tirarmos uma conclusão. Antes que saiam, fiz uma pequena pesquisa rápida e encontrei os endereços dos dois últimos criminosos, o que já está em liberdade e o outro que dispõe do regime semi-aberto. Leonardo e Henrique aqui estão os endereços e adicionei algumas informações também. — Ambos pegaram o pedaço de papel da mão de Ricardo e se direcionaram para a saída assim como Lucas, este iria para a penitenciaria, onde encontraria seu escolhido.


Leonardo, assim como os outros, pegou um táxi e se dirigiu ao seu destino. A câmera escondida que Ricardo instalara estava no bolso do seu terno; no outro, o pedaço de papel com o endereço residencial de Orlando Lemmes. Ele em liberdade há seis meses, trabalhava como autônomo numa borracharia própria situada nos arredores da cidade; não tinha família; pouquíssimos amigos; em geral estava sozinho o tempo todo, e poderia sim em suas horas vagas matar uma ou outra pessoa tranquilamente.



Pegar um táxi em plena orla não era coisa muito fácil. Muito movimento, muitas pessoas andando de um lado para o outro, principalmente para Leonardo que nunca estivera naquela cidade, não a conhecia muito bem. Finalmente um homem até mal encarado aparece gritando “táxi” e foi com ele que o leão saiu em sua busca. Cerca de meia hora depois de Leonardo ter entrado no táxi ele para.


— Tem certeza que o endereço é esse senhor? — Diz o taxista com o tom de voz meio amedrontado. Parece que de mal encarado só o seu rosto mesmo, porque de resto...

— Não deveria?

— É que os comentários não são bons sabe... Esse tal de Orlando ai, o dono da borracharia, já matou, ele é um assassino.

— Que pagou sua divida com a sociedade e é livre. Algum problema com isso?

— Ah... Não... Não... O senhor é policial?

— Pareço estar querendo algum tipo de conversa? Seu trabalho já está feito, agora pode ir.

— Tudo bem. — Então Leonardo pagou ao taxista, que numa arrancada só partiu dali com toda a velocidade.


O local onde era o estabelecimento de Orlando não tinha muitas casas ao redor, estas eram pequenas, com rebocos a olho nu, algumas com grades nas portas e janelas; a iluminação era pouca; algumas árvores frutíferas, mangueiras e bananeiras; o movimento de pedestres era quase nenhum – poderiam estar trabalhando, não se sabia ao certo. O calor estava ficando cada vez mais insuportável e Leonardo se arrependia a cada minuto por não ter mudado de roupa, colocado algo mais esportivo.


Orlando encontrava-se sentado numa cadeira, ao lado de um balcão de madeira muito velho, perto de uma estante com algumas peças de carro ou moto e uma bomba de ar, daquelas que enchem pneus rapidinho. Mastigava há muito um pálido de dente, e parecia olhar para o nada.


— Orlando Lemmes? — Leonardo perguntou quando avistou aquele homem.


— Quem quer saber?

— Responda a pergunta.

— Que pergunta? — Orlando disse terminando de mastigar um palito que estava em sua boca e o cuspiu fora.

— Serei direto. O que você sabe sobre essa onda de assassinatos que cerca a cidade...

— Ei cara — Orlando disse interrompendo Leonardo — Se você tá falando sobre aquela parada do passado, eu já paguei. Tô livre.

— Uma personalidade interessante a sua. — Disse Leonardo ignorando a auto defesa de Orlando — Ficou preso durante quatorze anos por assassinar duas pessoas, sendo uma delas de apenas cinco anos de idade; não teve nenhuma visita durante o tempo que ficou hospedado na cadeia; está livre tem seis meses; não cultiva muito a amizade e pelo que sei... Poderia muito bem ser o autor desses outros assassinatos.

— Sabe, me pergunto como vocês aguentam caminhar por ai nesses ternos. Isso faz mal cara, muito mal. — Leonardo chegou mais perto de Orlando, poucos centímetros de sua face na verdade, o encarou por alguns segundos; ele, Orlando digo, não parecia se importar ou estar intimidado com a presença de Leonardo no recinto, muito pelo contrário, até sorria.


— Você quer falar por bem ou prefere...


— Você não é como os outros tiras — Orlando disse interrompendo novamente Leonardo —, geralmente eles não ligariam para alguém como eu, não me procurariam, sabe? Já que paguei minha sentença e estou livre. Sabe, livre, livre para fazer o que eu quiser.


No momento em que Orlando fechou a boca, Leonardo o derrubou da cadeira – num gesto rápido com uma das pernas –, colocou sua mão esquerda no pescoço dele apertando-o, deixando um pequeno espaço aberto, suficiente para que uma mínima quantidade de ar pudesse entrar nos pulmões. Ele até tentou tirar a mão de Leonardo dali puxando-a para trás, mas seu gesto foi inútil; a cada frustrada tentativa mais depressa ele ficava sem ar.



— Uma coisa interessante sobre essas bombas — Leonardo agora estava com o cabo daquela máquina nas mãos, observando atentamente —, é que elas conseguem encher completamente um pneu de caminhão em meio minuto.


Orlando tentava falar alguma coisa, gritar por ajuda talvez, mas não podia. Estava ficando cada vez mais sem ar; a pressão que o Sr. Dawson estava fazendo contra a epiglote de Orlando estava chegando ao limite. Ele não aguentaria muito mais.

— Desculpe, você quer falar alguma coisa? — Leonardo apertara ainda mais sua mão no pescoço de Orlando, forçando ao máximo a pressão que uma garganta poderia suportar. Ficaram encarando-se por um pequeno espaço de tempo; o Sr. Lemmes já apresentava sinais óbvios de sufocação: dilatação das pupilas, respiração ruidosa, tosse e cianose na face (a tonalidade azulada na face). — Talvez um pouco de ar em seus pulmões resolva.


Então, Leonardo arrastou um pouco o assassino pelo chão para poder alcançar o botão para ligar a máquina. Com a mesma já ligada, pegou a mangueira que servia de canal para entrada do ar nos pneus e colocou-a na boca dele; diminuiu a pressão sob a garganta e pressionou o dispositivo que ficava abaixo da boca da mangueira e o ar começou a sair. Com a entrada de ar exagerada nos pulmões de Orlando, ele começara sentir uma falta de fôlego, uma dor torácica, um choque em seu corpo. Como Leonardo sabia que ele desmaiaria em qualquer momento, parou. Ainda não tinha as respostas que queria e não podia simplesmente matar alguém por não responder suas perguntas, embora quisesse.


Retirara a mangueira da boca de Orlando e o deixou respirar normalmente pouco, porém com sua mão no pescoço dele ainda. O ar entrando e saindo, o oxigênio voltando para o cérebro, os batimentos cardíacos voltando ao normal... Com esse espaço em seu favor Orlando apressa-se em criar um movimento que sua perna colidisse a de Leonardo, assim desequilibrado, ele veio a cair no chão, e aquele assassino até correria se pudesse, claro. Antes dele correr – o que era o seu plano na verdade –, aquele intitulado de leão agarra em sua calça e o puxa com força; rapidamente se posiciona. Leonardo agora tinha o seu cotovelo direito pressionando a garganta de Orlando, com força, sem qualquer piedade.


Desesperadamente tentando tirar aquele peso de cima dele, Orlando começa a chutar as costas de Leonardo e tentava arranhar seu braço. Porém isso nada fazia a Leonardo. Depois que foi irritado ele não sentia mais nada, não via outra coisa além do seu alvo e não se deixava abater. A cada segundo que se ia, aquele que matara duas pessoas ficava sem ar, roxo, lutava por sua vida. No outro lado da situação, aquele fora intitulado leão, pressionava mais a garganta do outro, mais forte, ele estava concentrado... E até que num lampejo de sobriedade invadi Leonardo que lembra-se de algo pequeno e muito útil que encontrava-se em seu bolso esquerdo: um isqueiro.



Leonardo acendeu o isqueiro e começou por queimar os cabelos de Orlando como primeiro ataque. O outro se debatia a fim de sair dali, mas seus esforços eram sem sucessos. O cheiro de cabelo queimado começara a invadir o estabelecimento, amedrontando Sr. Lemmes se apressa mais em querer sair dali, mas aquilo estava apenas começando... Depois que quase metade do cabelo tinha sido queimado Leonardo para e observa. Orlando descansava suas mãos no chão – antes ambas tentavam fazer com que aquele peso saísse de cima dele –, tinha a respiração alterada, olhos esbugalhados. Pensava que tinha acabado. Todos estavam calados. Todos estavam apenas olhando um para o outro. Então um dos dois sorriu; e aquele que estava por cima agora colocava o isqueiro perto da roupa do outro. O fogo logo faz o seu papel de se alastrar pelo finito caminho feito de pano. Orlando se desespera mais ainda; grita; se debate. E quando as chamas seguiam por um caminho imutável para aquele que estava sendo queimado, Leonardo habilmente abafa o fogo com um tapete velho que estava atrás deles.



— Você... é... louco... cara... — Depois de muito ansiar por falar, finalmente Orlando o faz.


— Prefere responder a minha pergunta agora ou precisa de ajuda novamente?

— Não sei de nada. — Disse com muito pesar. Orlando ainda sentia a pressão em sua garganta e sua carne ardia, queimava, ele não estava conseguindo produzir pensamentos muito lógicos.

— Acho que refrescar a memória seria a escolha correta. — Leonardo pegou de novo a mangueira; a colocaria na boca de Orlando se ele não tivesse gritado.

— Não!

— Então você tem alguma coisa para mim, certo?

— Errado. Mas posso falar quem sabe. — Leonardo não disse nada, apenas esperou que Orlando dissesse um nome — Mas me pergunto o que eu ganharia com isso...

—Você certamente tem duas opções. Opção a: Você me fala um nome e não morre agora. Ou opção b: Você fala qualquer palavra que não seja o nome que procuro e esmago seu cérebro com sua bota.

— A primeira opção.

— Boa escolha.

— Mas eu ainda fico aqui, confiando que a sua palavra será cumprida e que poderei viver livremente.

— Entre a minha e a sua palavra, qual você acha que é confiável?

— Eu diria que a mi... — Nesse momento Leonardo pressionou sua mão no pescoço de Orlando com força, o mesmo assustou-se.

— Olavo... Olavo...

— Olavo de Lima? — Quis saber Leonardo. Orlando balançou a cabeça positivamente. — O que tem ele?

— Eu não sei ao certo. Quando tramamos os assassinatos ele veio falando de um mestre... Ninguém tinha ouvido falar de alguém assim...

— Mestre? Que mestre?

— Eu não sei. Eu juro. Só sei disso cara, juro. Juro.

— Se não houver verdade no que falas, nem se dê ao trabalho de correr ou se esconder, pois te caço até no inferno.


Depois dessa conversa entre irmãos, amigos, colegas, Leonardo chamou um táxi – que demorara um pouco até de chegar, deixando ele ainda mais irritado – e se dirigiu para a delegacia mais próxima. Ainda tinha algum tempo até o final da tarde (eram quatro horas da tarde), quando se encontraria com o resto da equipe, o gastaria atrás de mais informações sobre Olavo de Lima – embora Henrique fosse conversar com ele, informações sobre o que a mídia escrevia sobre esses assassinatos, sobre os assassinos, depoimentos, sempre era bom... O trânsito estava um pouco congestionado, então Leonardo teve tempo de pensar sobre o que fazer para descobrir quem estaria por trás de todos esses assassinatos. Com certeza não será ninguém como Orlando Lemmes, mas sim alguém mais forte, inteligente e que tinha o pensamento frio, agia com cautela, não tinha medo ou remorso. Depois de identificar o psicopata, Leonardo e a equipe teriam que reconstruir os passos do mesmo, tentar entender a sua mente, embora fosse complicado decifrar os códigos de uma mente tão perturbada. Ainda no táxi, o telefone celular de Leonardo toca, era uma mensagem de texto de Ricardo: “456 Delegacia de Salvador”.



Quarenta e sete minutos depois o táxi para em frente à Delegacia de Salvador – um prédio de três andares coberto por azulejos na cor azul, porta de vidro na entrada, algumas janelas espalhadas pelos andares. Dentro da estrutura que guardava toda a papelada, entre outras funções de deveres policiais, havia uma pequena recepção e uma recepcionista (claro) de aparência velha, algumas rugas e expressões em sua face mostravam que, provavelmente, sua aposentadoria estava chegando.

Vestida com uma blusa branca e uma saia social preta, Dolores Alves Correia (seu nome estava escrito em várias correspondências que estavam ao lado do computador meio velho e da flor num jarro improvisado), estava sentada falando com alguém no telefone, e Leonardo não pôde deixar de perceber também que uma repórter e o seu colega, que manuseava a câmera, aguardavam no local apropriado de espera.

Logo quando ele entra no local todos olham. A repórter logo levanta-se e vai a sua direção com um sorriso no rosto; ela acreditava que Leonardo era quem ela estava aguardando, o delegado encarregado do caso que amedrontava toda população baiana, o caso do “açougueiro de Salvador”. A repórter, que por acaso se chamava Aline Sampaio – trajando uma blusa vermelha e uma saia preta (flamenguista?), já estava com o microfone em mãos e pronta para abordar o homem que era, mas não quem ela pensava ser.


— Com licença. — Disse Aline olhando bem para cima, já que era de estatura pequena, diferente de Leonardo. Ele apenas olhou para ela, mas nenhuma palavra pronunciou. Estava ocupado tentando captar todos os detalhes que aquele primeiro ambiente poderia lhe proporcionar logo de chegada. Não havia mais flores, além da que estava na mesa da recepcionista Dolores; não havia nenhum guarda de prontidão na entrada ou mesmo na recepção, e um buchicho na sala ao lado ficava cada vez mais alto.

— Poderia lhe fazer algumas perguntas Sr. Ribeiro? — Leonardo não respondeu, então a repórter continuou a falar: — É verdade que houve mais um caso do açougueiro de Salvador na noite passada? — Leonardo então olhou para a menina ao seu lado. Eles, já estavam em frente à mesa da recepção sendo olhados por Dolores.

— Ontem?

— Certamente. Estou aqui para ouvir seu depoimento de confirmação. Alguns moradores dizem ter encontrado um décimo corpo, e que bate com as características de uma garota desaparecida há uma semana. Seu corpo sofreu vários cortes, perfurações.

— Bem...

— O senhor não acha que esse caso se prolongou demais? Quer dizer, já são dez vítimas, sendo nove confirmadas, a população anda amedrontada... É assim que a segurança da população é empregada? Seremos meras vítimas de um sistema falho e de policiais incapacitados, quiçá ignorantes, que não dão conta do seu trabalho? Teremos que regredir aos tempos onde não havia lei ou regras, onde a justiça se fazia com as próprias mãos, onde era apenas cada um por si e Deus por todos?


Com esse turbilhão de perguntas, Aline conseguiu ganhar a atenção de Leonardo, que apenas a olhou por um momento; vendo aqueles olhos ansiosos por um furo de reportagem, algo exclusivo, bem polêmico onde ela poderia usar da sua arma preferida: o sensacionalismo. Leonardo poderia responder todas aquelas perguntas, mas preferiu ignorá-la novamente, e é claro que isso atiçou ainda mais a curiosidade de Alice, porém, antes de outro turbilhão de perguntas surgisse do nada como o outro, a porta dos fundos da delegacia bate com força, e logo depois: gritos.



— Não importa! — Gritos vindos do fundo do corredor chegaram à recepção, e a cada momento se aproximavam mais. — Temos que fazer alguma coisa contra esse maldito! Aposto que ele ri da situação, se vangloriando, quando sabe que está um ou dois passos na nossa frente. Maldito! Maldito!


— Acalme-se Sr. Ribeiro, é só uma fase. Essa fama que o açougueiro tem, logo, logo vai passar, acontecerá alguma coisa maior e logo a população se esquecerá. Não fique aflito com isso. Vamos resolver.

— Maior? O quê pode ser maior que um serie de corpos espalhados pela cidade?! — Gritou — O que pode ser maior que a noticia de um psicopata solto por ai matando a torto e a direito? — Não houve respostas para todas as perguntas anteriores, então o Sr. Ribeiro continuou, mais falando (gritando na verdade) para si mesmo do que para Roberto Gouveia, seu assistente. — Resolver? Esperar? É só isso que venho fazendo. Estamos de mãos atadas Roberto! Atadas! E não gosto disso. Não gosto.


É claro que a repórter Aline Sampaio não perdeu a oportunidade de conseguir esse furo de notícia. E por falar nisso, mais tarde naquele mesmo dia, a matéria já estaria no jornal, no portal na internet, no noticiário: “Açougueiro de Salvador: Delegado Ribeiro de mãos atadas. Se correr o bicho pega, se ficar o bicho come”. Dizem as más línguas, que o delegado mexeu seus pauzinhos e fez com que demitissem a repórter Sampaio, mas esse é um assunto que trataremos mais tarde, por hora falaremos de Leonardo.



Os gritos, do delegado Ribeiro, Carlos Ribeiro, se aproximava da recepção e ao término de sua (civilizada) conversa com o seu assistente, estava ele enfeitando aquela sala com sua presença. Leonardo e ele se olharam por um instante e logo a feição do delegado mudou. Talvez alívio ou mesmo espanto inundaram sua face naquele momento.


— E você? — Disse o delegado perguntando para Leonardo, mas ele não respondeu. — Quem. É. Você? — Insistiu mais pausadamente Ribeiro.

— Sou o nitro que faltava para a sua corrida.


Por um instante nem assistente nem delegado compreenderam o que Leonardo tinha falado, mas depois, Carlos sorriu e fez um gesto para que o “nitro de sua corrida” se dirigisse para sua sala. Quando todos, – assistente, delegado e Leonardo –, estavam dentro da sala pouca arejada, com apenas uma mesa e algumas cadeiras dentro, Carlos convidou Leonardo para sentar-se.



— Diga-me. Porque você seria o nitro para minha corrida? Que corrida você está falando?


— Você deve ter ouvido falar num tal de açougueiro...

— O quê você sabe sobre esse caso?! — Exclamou o delegado imediatamente. — Quem é você afinal?

— Pertenço à organização CA...

— Nunca ouvi falar. — Disse o Sr. Ribeiro.

— E nunca ouvirá. Estou à procura desse assassino e quero pegá-lo tanto quanto você. — O delegado assentiu e Leonardo continuou — Recebi informações de que deveria vir aqui coletar as informações que vocês já obtiveram do caso, relacionar com as minhas e se possível enfiar uma bala no cérebro desse maldito logo.


Carlos parou um pouco para pensar em tudo aquilo. Até poderia passar mais informações do sujeito em questão – o que ele não sabia quem realmente era; tudo não passava de suspeitas e depoimento de quintos e sextos... Nada se tinha de concreto realmente... E alguém propondo ajuda assim do nada, era de se desconfiar? Poderia ser ele o assassino? Se fosse, era muita audácia... Mas a ajuda em si, não poderia ser em momento melhor. A pressão da imprensa e da população a qual o departamento policial estava sofrendo era muita, e não se tinha respostas que suprisse a necessidade de todos – principalmente a imprensa é claro; sempre querendo saber mais, buscando o sensacionalismo. E o que melhor que um serial-killer ativo para aguçar a curiosidade de quem quer que seja?



— O que você realmente quer?


— Ajudar.

— Ajudar? Como?

— Três letras. C. E. M.

— C. E. M.? — Carlos perguntou levantando a sobrancelha esquerda.

— Caçando. Encontrando. Matando.


Com aquela definição o delegado sentou-se. Roberto, seu assistente, rapidamente começou a procurar pelos papeis que continham as informações necessárias para mesclar ambos os lados. Despejando na mesa algumas pastas amarronzadas e outras folhas soltas, Roberto deu o que Leonardo desejava. Ali havia várias noites em claro, muitos goles de café forte, raiva, desapontamento e muita pressão. A equipe de policia de Salvador estava há exatos três meses em alerta amarelo, laranja, vermelho... Procurando uma falha, um descuido, um deslize daquele que intitularam “açougueiro”. Porém, todas as pesquisas não tinham dado em resultados satisfatórios; tudo o que eles sabiam era: O “açougueiro” tinha uma ligeira queda por mulheres solitárias e gostava de decapitá-las e desmembrá-las em seu tempo livre. Não havia registros de assassinatos com tamanha precisão naquela cidade desde... Desde sempre.



Tudo era mais simples, e eles, a força policial de Salvador digo, não estavam, não estão, preparados para enfrentar tamanha complexibilidade. E o porquê da CA pegar esse caso? Simples. Eleições presidenciais chegando, como já foi dito, e o Presidente da República Rodolfo Santos Carvalho, não queria que essa história se manifestasse pelo país. Por isso, rapidez é um elemento insubstituível.



— Não me lembro de ter pedido qualquer tipo de auxilio.


— A situação falou por si. — Disse Leonardo começando analisar as folhas soltas.

— E a sua pessoa... Como devo me referir a ela? Qual seu nome?

— O que você precisa saber é que eu tenho, sou, a solução para seus problemas. E enquanto ao meu nome pode me chamar de leão.

— Leão? Como o rei da selva? — Carlos riu.

— Leão como aquele que estraçalha seu amigo se for preciso. — Fez-se um momento de silêncio. Roberto e o delegado se olharam; Leonardo por outro lado ainda estava analisando as informações contidas naquelas pastas, sem parecer se importar com o tom, o impacto, que sua ultima frase passou. Apenas ficara lá, analisando aquelas folhas, tentando encontrar algo que eles não conseguiram, alguma pista sobre alguém, qualquer um...


— CA... Essa organização é especializada alguma coisa? Assassinatos talvez... — Disse Carlos interrompendo o raciocínio do leão.



Leonardo não respondeu; ele nem se que olhou para o delegado que, por alguns minutos continuou a querer saber mais informações sobre essa organização secreta, nova, desconhecida. Leão apenas respirou fundo e continuou o que estava fazendo. Ribeiro queria se interar de tudo que lhe era permitido, mas o que ele não sabia era que não lhe era permitido nada. Nenhum nome, ou o que quer que fosse... Ninguém falava mais nada naquela sala, apenas conversavam entre um olhar e outro, o delegado e seu assistente, digo.


Depois de analisar uma boa parte das informações, Leonardo levantou-se e começou a recolher as pastas que estavam ali. O delegado rapidamente colocou sua mão sobre a pilha de pastas, o empatando de levá-las.


— Se você está pensando que vai chegar aqui, me falar que é de uma tal organização de não sei do quê, pegar todo o arquivo do açougueiro e ir embora, esta muito enganado. Em primeiro lugar quero estar interado de tudo o que esta acontecendo, quero saber quais são as informações que você tem e quem é você.


— Lamento, mas não poderei responder essas perguntas. — Leonardo disse calmamente.

— Lamento, mas não poderei deixar você sair dessa sala vivo. — Disse sacando a arma.

— Um desafio?

— Uma afirmação. Quero saber mais, tenho o direito.

— Perdestes o teu “direito” — Leonardo fez aspas no ar sem ligar para o que estava apontado para ele. — quando deixou sua incompetência guiar-te. Quando tua irresponsabilidade, e o teu ego, ficaram na frente de vidas inocentes; quando dez jovens foram decapitadas e desmembras; quando três meses depois do primeiro assassinato ainda não descobriram nem se quer um nome, sobrenome; quando o que vocês sabem, é o que o próprio assassino deixou em suas vítimas, apenas duas letras: O e L. E não me surpreenderia se nem isso vocês soubessem.

— Temos consciência da gravidade da situação — Ele abaixou a arma. —, e por isso estamos em alerta vermelho desde cedo. — Defendeu-se o delegado — Você, leão, ou seja lá qual for seu nome, pode pensar o que você quiser de nós, mas não pode negar o quão hábil é esse sujeito. Você não sabe, mas aqui em Salvador temos muitas casas abandonadas, depósitos, algumas matas densas, e estamos com vigilância 24 horas onde os corpos já foram encontrados antes; qualquer movimento saberemos. Estamos tentando. O nosso pessoal é pouco, e a maioria teme que algo aconteça a eles ou com sua família. Pra você, que certamente é solteiro, não tem ninguém o esperando na noite em casa; alguém com quem se preocupar, um amor recíproco, deve ser fácil, mas trabalhar sob pressão não é a minha opção. Na verdade, quais são as opções que temos aqui a não ser esperar o próximo passo do açougueiro? Esperar que ele cometa algum deslize...

— Podemos agir. — Disse Leonardo — Você certamente sabe caçar um animal ou já ouviu falar como se faz. Aqui é a mesma coisa, mas com a diferença: esse, é um animal que sabe como agir, pensa com frieza, calcula seus passos.

— Mas como pegar um animal que possui tais habilidades?

— Sendo o melhor animal.


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Notas finais do capítulo

Ai está a ULTIMA parte do capítulo 02 de MI. Espero que vocês gostem *-* E deem reviews amores... Tenho que saber o que acham né...
Mas e ai... Acham que Leonardo encontrará Oliver? Que vão conseguir impedir mais um assassinato?
Não percam em breve o capítulo 03 de MI!
Comentem amores... Preciso saber que acham :/

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