A Dustland Fairytale escrita por Olivia Hathaway, Laradith


Capítulo 1
I - Out where the dreams are high


Notas iniciais do capítulo

Ok, aí está a short fic! Eu já tinha planos de escrever uma desde que aquele conto saiu, porque faltaram muuuuuuuuitas coisas! A Bia me ajudou a escrever, então eu acho que vocês irão amar ♥ Tentamos deixar o romance na medida certa (mesmo que tivesse partes em que a gente queria "intensificar" mais haha), bem ao estilo de Rose e Dimitri!

Playlist:

♥ U2 - With Or Without You

♥ Brandi Carlile - The Story

♥ The Killers - A Dustland Fairytale



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Eu não esperava estar na Rússia tão cedo. Não depois de tudo o que aconteceu.

Voltar lá era como enfiar uma faca na minha mente e desenterrar todas as memórias doloridas que eu tinha lutado para reprimir. Afinal, eu estive lá com um propósito muito diferente do que eu tinha hoje, que era cumprir uma promessa - uma que eu não me perdoaria caso não cumprisse. Eu tinha ido lá para encontrar e matar o homem que eu amava. Porque ele tinha virado um monstro imortal, e matá-lo era a única maneira de libertar a sua alma que estava presa naquele estado - pelo menos era o que eu acreditava naquela época. E nesse processo eu meio que acabei ficando cara a cara com a morte muitas vezes, fora ter sido sequestrada e mantida confinada por vampiros. Mas a minha memória mais dolorida daquele país foi quando eu fui obrigada a olhar nos olhos dele e enfiar uma estaca no seu peito.

Mas não, eu não o matei naquela noite. Depois de uma série de acontecimentos – envolvendo cartas ameaçadoras, invasão de uma prisão de segurança máxima e uma estaca encantada por espírito que minha melhor amiga, Lissa, havia empunhado - ele havia voltado ao seu antigo estado. Não havia mais olhos vermelhos, nem presas e muito menos aquele pesado ar gelado e sinistro que me cercava quando eu estive com ele na Sibéria. Ele exalava vida, calor e a sensação maravilhosa que me dizia que eu não estava sonhando. Que aquilo era muito real. E ele estava de volta.

Dimitri parecia ansioso em sua poltrona quando a aeromoça informou que teríamos que apertar os cintos para pousarmos. Eu meio que tinha uma teoria sobre ele estar desse jeito, fora o fato de estarmos prestes a visitar uma cidade que significava muito para ele. Estar de volta na Rússia devia ser tão fácil para ele quanto para mim. Porém, nós dois sabíamos o quanto essa viagem era importante. Além do fato de que quase nunca podíamos passar tempo juntos na Corte, era necessário visitar a família de Dimitri novamente – só que dessa vez, as notícias que eu estava trazendo eram muito melhores.

Havia outro motivo, é claro. Eu queria deixar tudo que havia acontecido na Sibéria para trás, e começar de novo. Parte de mim tinha certeza que essa viagem era a forma de fazer isso. Visitando Moscou como um casal, e enfrentar todos os desafios que isso pudesse ocasionar, era necessário para que Dimitri e eu seguíssemos em frente com as nossas vidas. Eu já o tinha perdoado há muito tempo por tudo que ele me fez quando era Strigoi, mas no fundo, ele precisava mais que isso. E eu estava disposta a dar isso a ele.

Dimitri pareceu hesitante quando eu contei a minha idéia, mas conforme os dias foram passando, ele foi percebendo que realmente teria a chance de visitar sua família de novo. E isso, por incrível que pareça, o mudou. Quando estávamos planejando a viagem, ele parecia esperançoso, e agora, a bordo do avião que nos levara para o outro lado do mundo, ele estava ...bem, não exatamente radiante, mas estava perto. Eu podia ver como essa experiência seria revigorante para ele.

A companhia foi cruel ao jogar um homem do tamanho dele para uma poltrona perto da janela, de modo que ele estava apertado lá. Mas Dimitri não protestou nem uma única vez. Nunca.

"Pena que não vamos passar muito tempo aqui." Moscou era apenas um aquecimento para o que estava por vir. Os cinco dias iriam passar tão rápido que eu tinha certeza que não teríamos a chance de conhecer pelo menos um quarto da cidade.

"E é por isso que teremos que aproveitar ao máximo," disse ele, com um daqueles sorrisos que faziam meu coração palpitar. Ás vezes eu esquecia o quão lindo ele era, especialmente quando sorria.

Eu me remexi na minha poltrona. "É. Mas antes, nós precisamos de um bom descanso. Ou isso, ou eu não vou conseguir andar nem um quarteirão."

Acabou que pegamos um táxi e fomos diretamente para o hotel, que ficava perto da Praça Vermelha, um dos principais pontos turísticos da cidade. Não era um daqueles hotéis super luxuosos que eu tinha me hospedado em São Petersburgo - aqueles que pareciam caber dois hotéis apenas no loft - quando estive a sua procura, mas ainda era um bom hotel. E o luxo não importava quando você buscava por praticidade, ainda mais quando você estava acompanhada pela pessoa certa.

Quando estávamos na privacidade do nosso apartamento, eu me joguei na enorme cama kingsize e fechei os olhos. Meu corpo praticamente gritou de alívio. "Finalmente!"

Senti Dimitri sentar ao meu lado e tirar uma mecha do meu cabelo do rosto. "Você quer pedir alguma coisa para jantar? Ou prefere ir no MC Donald’s do outro lado da rua?"

Eu abri meus olhos. Por mais que a comida do MC Donald’s estivesse me tentando um bocado, eu não tinha forças para ir até lá. Isso mesmo eu estando com muita fome naquele momento, já que aqueles lanches servidos pelas comissárias não eram lá aquelas coisas. Foi por isso que decidi ficar com o serviço de quarto.

"Vamos ver se a comida deles é boa," falei. "E eles devem ter sanduíche também. Não custa nada tentar." Sorri. "E você pode matar a saudade da culinária russa."

"Só se você comer também," Propôs ele. Eu ri e beijei sua mão.

"Desde que não envolva caviar, eu aceito."

Depois de Dimitri fazer o pedido, eu fui tomar um banho rápido. Quando saí do banheiro, encontrei-o na sacada, observando as luzes da cidade. Uma brisa gelada me fez tremer por alguns segundos. Era o final do verão, e mesmo assim as noites eram frias o bastante para te obrigarem a usar um agasalho. Dimitri estava usando seu sobretudo de couro, a sua marca registrada.

Eu me aproximei dele e envolvi meus braços ao redor da sua cintura. Dimitri prontamente relaxou e me puxou para ele, esmagando seus lábios nos meus, com extrema urgência. Calor se propagou e foi como se todo o cansaço da viagem tivesse sumido apenas com o toque dos seus lábios nos meus. E de repente eu não queria mais dormir, mas sim estar com ele. Quando suas mãos foram para debaixo da minha camiseta e tocaram a minha pele, eu sabia exatamente o que queria.

Então, cedo demais, ele interrompeu o beijo.

"Tudo isso é animação?" provoquei, tentando me recuperar.

Ele abriu um sorriso radiante. "Isso," Seus dedos enrolaram uma mecha do meu cabelo. "É porque eu estou feliz. Por estar aqui e com você. Faz tanto tempo desde que estive aqui, e em Baia. E também porque bem... você estar aqui comigo só deixa as coisas melhores, Roza."

“E o fato da Rússia ter uma das melhores arquiteturas do mundo não é um fator positivo?” brinquei, e Dimitri sorriu lentamente, e pressionou um único beijo contra o meu pescoço, no local mais frágil. Ele então se ergueu completamente – deixando mais evidente nossa diferença de altura – e me virou em seus braços para que ficássemos encarando a varanda.

"E falando em arquitetura..." Ele apontou para algo atrás de mim. Seus olhos brilhavam, extasiados "Olhe aquilo, Rose."

"Eu detesto interromper tudo isso, mas é-" Eu olhei para onde ele apontava e esqueci tudo o que eu estava prestes a dizer."Wow!"

Era a Catedral São Basílio. Eu já tinha visto em fotos como ela era, mas não a noite, quando ela estava bem destacada por causa das luzes. Parecia o castelo da Cinderela, só que com domos coloridos que lembravam um amontoado de bombons em uma loja de doces. E muito mais bonito. O da Disney ficava no chinelo perto desse.

"É...é lindo."

"Espere só quando estivermos lá amanhã," disse ele, em um tom exasperado. "Você vai ficar sem fôlego."

“Eu já fico sem folego quando estou com você, camarada.”, eu disse, com um tom brincalhão.

Ele balançou a cabeça, um sorriso jovial em seu rosto. “Você não tem jeito, não é?”

“Nunca. Você sabe muito bem disso.”

Dimitri olhou para a cidade, e seus olhos ficaram distantes. “Só você seria capaz de me trazer aqui depois de tudo que aconteceu.”

Segurei sua mão e trouxe-a ao meu rosto. “Pelo o que eu me lembre, foi uma decisão mutua.” Respirei fundo, e falei em voz alta algo que estava me incomodando desde que saímos do avião. “Você acha que vai se arrepender de estar aqui?”

Ele colocou as mãos na minha cintura, e ficou perdido em seus pensamentos por um momento. Eu queria saber o que estava passando pela sua cabeça, mas sabia que era algo que ele precisava responder ser nenhum tipo de pressão.

E então, depois de quase dois minutos de espera interminável, ele olhou para mim, e foi como se só existisse eu no mundo. Como se eu fosse o centro do seu universo. “Estou do outro lado do mundo” ele começou, me envolvendo com uma mão e brincando com o meu cabelo com a outra, “sem nenhuma preocupação, sem a realeza... e com a mulher que amo. E tenho uma chance única de colocar todo o meu passado atrás de nós. Eu nunca me arrependeria, Roza”

Uma alegria indescritível me encheu, e em um impulso, o beijei, me pressionando contra ele e passando uma mão no seu cabelo. Ele me levantou e me segurou contra a parede da varanda. “O que está fazendo?” ele perguntou, com um sorriso.

“Quero ter certeza de que não se arrependerá” eu respondi, minha voz mais rouca que o normal. “O serviço de quarto precisa ser completo”

Vi o momento exato em que ele percebeu o que eu estava falando, mas antes que ele pudesse me levar de volta ao quarto, escutamos uma batida na porta.

Era a nossa janta.

***

"Erga a casquinha só um pouco mais" ordenou Dimitri, sem conseguir esconder um sorriso.

Eu tinha terminado de tomar meu sorvete quando eu tive a brilhante idéia de tirar uma foto como se um dos domos da Catedral fosse o meu próximo. Era algo bem ridículo, eu admito, mas engraçado. E tínhamos a sorte a nosso favor, já que éramos apenas mais dois turistas se divertindo, então ninguém iria nos achar loucos. E bem, os turistas geralmente fazem coisas loucas quando estão visitando o mundo.

Aquela era apenas mais uma foto. Tínhamos tirado muitas antes, quando visitamos o Jardim Alexandrovsky, o Kremlin, onde eu fiquei completamente boquiaberta quando vi o Palácio Terem e o Museu das Armas - eu não era muito fã de museus, mas depois que visitamos aquele eu comecei a mudar de idéia. O que tinha restado das gerações de czares estava por lá: tesouros, roupas, esculturas e até mesmo antigas carruagens.

Dimitri estava certo. Eu estava sem fôlego e totalmente encantada. Nunca tinha visto tanta beleza em toda a minha vida. E eu não era uma apreciadora de arquitetura, mas eu tinha que admitir que a russa era magnífica. Era viva, alegre, rebuscada. No inverno elas destacavam ainda mais as construções e davam à cidade um ar mais alegre.

"Isso aqui parece o Mundo dos Doces. Ou algo do tipo," Eu tinha dito a Dimitri depois de ter ido até o centro da praça. "E o Kremlin parece ser o centro de tudo."

"Funciona mais ou menos assim." Ele riu e me deu um beijo na testa. "Eu não te disse que isso aqui se parecia como algo que foi tirado de um conto de fadas?"

Sorri. "Ou como se eu estivesse vivendo um" Essa era a visão que eu tinha de tudo aquilo. De finalmente estar vivendo o meu final feliz como nesses contos em um lugar bonito com o meu príncipe encantado.Isso se um dhampir russo completamente foda pudesse ser considerado um príncipe encantado. Sinceramente, acho que príncipe era algo fraco para defini-lo.

Ele entrelaçou nossas mãos. Seu rosto mostrava uma serenidade que eu quase nunca via, o que deixava suas feições já bonitas com um aspecto divino. Aqueles maravilhosos olhos castanhos que enxergavam a minha alma se encontraram com os meus. "Sim, Roza. Nós estamos vivendo um"

Nós continuamos a nossa exploração por aqueles lugares, indo até o GUM, onde compramos alguns souvenires - eu não resisti quando vi uma caixinha de música com uma miniatura da Catedral e um daqueles gorros legais de pele. Mais tarde, antes de voltarmos para o hotel, fomos visitar o Teatro Bolshoi.

E Dimitri como sempre contava a história do lugar, soando quase como um guia, mas eu mais prestava atenção na maneira animada que ele falava do que o que ele falava. Eu sabia que aquilo não era apenas mais um ponto turístico para ele. Aquilo era a cultura de seu país, algo que ele admirava e achava lindo. E para mim, nada mais importava a não ser que eu estivesse com ele.

Nós exploramos a cidade nos dias que se passaram. Toda noite saíamos para jantar em restaurantes com comida russa. Eu já conhecia alguns pratos, como caviar e borscht, que era uma espécie de sopa de beterraba. Só para registrar, eu achava caviar nojento, mas Dimitri parecia gostar. E depois, nós saíamos para dançar.

Estar nos braços de Dimitri ao som de músicas clássicas em um terraço onde vários outros casais também dançavam era uma das coisas mais perfeitas da minha vida, e eu não queria de jeito nenhum sair de seus braços. Não apenas por causa do delicioso cheiro da sua loção pós-barba que me intoxicava, nem pela maneira que ele me abraçava, mantendo nossos corpos colados e a minha cabeça encostada no seu peito ouvindo sua respiração, enquanto seus dedos faziam círculos nas minhas costas, provocando arrepios pelo meu corpo. Era por causa daquela sensação de se sentir completa, de ser amada. Vida, uma vida de verdade. E por simplesmente estar lá com ele. Eu poderia dizer que naqueles curtos instantes eu me sentia verdadeiramente em paz, como se apenas ele fosse o meu mundo. Não havia Strigoi para matar, um Moroi para proteger e nem um passado obscuro para nos assombrar.

Era engraçado, pois quando eu estive aqui no começo do ano, eu jamais imaginaria que iria estar com ele de verdade fazendo isso, e muitas outras programações românticas. Eu me sentia dilacerada, minha alma estava em cacos. Eu vivia o pior pesadelo da minha vida quando andei pela primeira vez em Moscou. E por mais que tenha sido apenas por algumas horas, já que eu e Sydney tínhamos que pegar um trem para a Sibéria, eu tinha imaginado como seria se Dimitri estivesse lá, comigo. Tinha imaginado que iríamos conhecer todos aqueles pontos turísticos, andar pela cidade e que ele me explicaria o que era cada uma daquelas construções e discutiríamos sobre a arquitetura da cidade. À noite iríamos sair para dançar e eu usaria um daqueles vestidos de marca que usei quando estive a sua caça em São Petersburgo.

Nesse momento, tudo isso estava acontecendo de verdade. E mil vezes melhor do que eu tinha imaginado. Toda aquela tristeza, aquele ardente vazio que meu coração tinha foram substituídos por uma alegria que eu nunca fui capaz de pensar que poderia sentir.

Eu finalmente estava completa.

***

No nosso último dia em Moscou, quando voltamos ao hotel, Dimitri me falou que tinha me preparado uma surpresa no restaurante em que jantaríamos.

“Que tipo de surpresa?” perguntei enquanto vasculhava minhas roupas. Como era a nossa última noite, resolvi usar um dos melhores vestidos que tinha - mas uma rápida olhada no meu guarda-roupa me deixou com poucas opções. Acabei escolhendo um vestido que Abe - surpreendentemente - havia me dado de presente. Comparado com o que já tinha usado na viagem, esse vestido era muito comportado. Sem mangas, de seda, e sem decote. O único atrativo era o fato de que era justo na cintura, e caia até os joelhos em uma saia godê. Um amontoado de cristais formava um design moderno que ia da minha cintura ao meu quadril, e embora fosse um vestido bonito, não era lá essas coisas. Não comparado ao que eu estava planejando usar anteriormente.

“Não seria uma surpresa se eu te contasse antes da hora, não é?” Dimitri perguntou, com um tom relaxado em sua voz. Revirei os olhos, mesmo não olhando pra ele.

“Bem, você não é o único que tem uma surpresa pra essa noite,” eu murmurei. Peguei o vestido e entrei no banheiro para me trocar antes que Dimitri pudesse vê-lo. Ele estranharia o fato de eu não me arrumar na frente dele, mas era necessário para o efeito surpresa.

Cinco minutos depois, sai do banheiro e fui recebida com um longo olhar, tomado por admiração e é claro, aquela fome. “O que aconteceu com o vestido preto?” perguntou ele.

“Incapacitado,” eu respondi.

Dimitri ergueu uma sobrancelha – um truque que eu ainda não tinha aperfeiçoado. Suspirei, exasperada.

"A não ser que você queira que eu ande por ai com uma marca enorme no meu pescoço, sugiro que se acostume com esse vestido, camarada."

Ambos sabíamos que eu estava brincando – afinal de contas, o vestido não era de freira - e que a 'marca enorme no meu pescoço' não era uma mordida de Strigoi.

Eu podia jurar que Dimitri segurou um sorriso presunçoso.

“Não vai falar nada?” Eu perguntei, inclinando a cabeça e me aproximando dele.

“O que você quer que eu fale?” Ele perguntou, colocando as mãos na minha cintura e me puxando para perto dele. O cheiro da sua loção pós-barba com o seu perfume tomaram conta da minha mente.

Fiquei na ponta dos pés e sussurrei no seu ouvido. “Que isso não vai acontecer de novo?”

Senti seu sorriso contra a minha pele. “Desculpe, Roza” ele respondeu, sua voz rouca. “Não posso prometer isso”

***

Dessa vez o restaurante ficava no outro lado da cidade, e por isso tivemos que pegar um táxi. Durante o percurso eu ficava olhando o movimento e as luzes da cidade pela janela, surpresa em perceber como Moscou era uma cidade encantadoraa noite. Eu sentiria falta desse lugar, que era tão mágico. Tão diferente dos EUA.

Depois que o recepcionista confirmou nossa reserva, ele nos conduziu para o outro lado do restaurante, um onde havia pouquíssimas pessoas. Mas nada me surpreendeu tanto quando eu vi para onde estávamos indo. Havia uma mesa para dois com uma toalha de linho branca - que constratava com a mesa preta e o papel de parede vermelho estilo imperial. Duas velas acesas deixavam o clima mais ainda romântico.

Dimitri fez questão de puxar minha cadeira para eu sentar - um gesto de cavalheirismo da parte dele que não passou despercebido. Não era nenhuma surpresa ele conseguir atrair muitos olhares de mulheres por onde passávamos por causa da sua personalidade e da sua aparência impactante: um macio cabelo castanho escuro que ia até a altura dos ombros, olhos misteriosos e sedutores igualmente castanhos e um corpo alto que marcava presença.

"Então essa era a sua surpresa?" perguntei, tentando erguer uma sobrancelha. Eu provavelmente só consegui enrugar meu rosto como resultado.

Dimitri pegou o menu e me olhou por cima das velas. "Você esperava algo mais?"

"Você sabe" eu murmurei "um SPA, um clube, uma casa de jogos... qualquer coisa. Um jantar romântico nunca passou pela minha cabeça."

Ele arregalou os olhos exageradamente, entrando na brincadeira. "Sério?"

"Não" respondi, rindo. Na verdade, um jantar romântico era exatamente o que eu esperava que Dimitri planejasse. Eu só não esperava que fosse em um dos restaurantes mais caros da Rússia.Só estava preocupada porque ele deveria estar gastando muito com essas mordomias. Segundo Dimitri, eu só merecia o que Moscou tinha de oferecer de melhor. Eu havia revirado os olhos com a sugestão, mas por dentro, meu coração bateu mais forte com suas palavras.

O garçom apareceu um pouco depois e anotou nossos pedidos. Ele disse algo em russo para Dimitri que o fez sorrir e responder de maneira amigável, descontraído. Ele ainda sorria quando o garçom se afastou e me estudava atentamente, com aquele seu olhar todo-poderoso. Para ser sincera, toda vez que ele fazia isso eu me sentia arrepiada. A maneira que ele me olhava era quase como se eu fosse alguma deusa para ele.

"O que ele disse?" perguntei, em uma tentativa de desviar a sua atenção.

"Que este era o melhor lugar do restaurante," um sorriso brincalhão tocou os seus lábios. "E que eu tenho uma esposa muito bonita.” Ele se inclinou para frente.“E eu estou de acordo com a última parte."

Senti meu rosto flamejando. "Nós nem usamos alianças. E nem somos casados!"

"E qual é o problema?" ele perguntou, intrigado.

Falei a primeira coisa que me veio à cabeça. "Esse garçom é cego!" Me revirei na cadeira, me sentindo nervosa ao ver o rumo que a conversa levava.

Quando nosso ilustre garçom trouxe nossos pratos, fiquei surpresa por ele não ter trazido sopa de abóbora ao invés de caviar. Sinceramente, como alguém não percebia uma aliança?

Dimitri percebeu como fiquei encarando o garçom, e riu enquanto remexia sua comida. "Ainda brava por causa do garçom?"

"Não, apenas especulando."

A noite estava fria o bastante para me fazer tremer quando saímos do restaurante. Arrepios percorreram meus braços, e eu os esfreguei para aquecê-los. Dimitri tirou seu casaco e eu o coloquei, agradecida. Sendo russo, ainda mais da Sibéria, Dimitri tinha mais resistência contra esse tipo de coisa. Ou assim eu achava.

As ruas estavam relativamente vazias, e andamos de braços dados, juntos contra o frio. Várias vitrines se estendiam a nossa volta, uma mais rica e criativa que a outra.

“Não queria ir embora” eu suspirei “Moscou é a cidade dos sonhos”

Dimitri apertou nossas mãos. “Sempre podemos voltar aqui na nossa lua-de-mel”

Quase tropecei, e foi só quando o vi sorrindo que percebi que ele estava brincando. Bati no seu braço de leve, segurando o riso. “Muito engraçado você, camarada.”

Dimitri gargalhou, e o som da sua risada me envolveu. Eu nunca cansava de ouvir a sua risada. Era em momentos como esse – tão completamente sem preocupações – que eu me sentia feliz. Meses atrás, se alguém me dissesse que eu estaria em Moscou dando uma caminhada romântica com Dimitri, eu o socaria. Mas aqui estávamos nós, de mãos dadas, apaixonados e jogando indiretas sobre casamento.

Comecei a rir pensando no quão louco era tudo isso, e Dimitri olhou para mim. “O que é tão engraçado?”

“Nada” respondi. “Só pensando em como nossa vida mudou nesses últimos meses. Uns cinco meses atrás, quem ia imaginar que estaríamos juntos assim?”

Dimitri ficou pensativo por um tempo, e quando olhou para mim novamente, vi algo indecifrável nos seus olhos. “Eu” ele respondeu baixinho, parecendo escolher melhor as suas palavras. “Desde que percebi e aceitei como me sentia por você... bem... vamos dizer que eu nunca tive intenção de ficar separado de você”

“Mas depois do que aconteceu em Novosibirsk-“

“As coisas mudaram, sim. E eu abandonei esse sonho... mas isso não quer dizer que ele não me assombrava. Te ver com Adrian, e saber que eu nunca poderia ser seu futuro...” ele deixou a frase inacabada no ar, e senti como se estivessem rasgando o meu coração. E o tirando do meu peito.

Dimitri nunca tinha dito isso para mim, em todos esses meses que estávamos juntos. Parei de andar, e fiquei frente a frente com ele. Coloquei uma mão no seu rosto, e quando ele se inclinou para perto dela, sorri. E quando ele colocou as mãos na minha cintura e me colou ao seu corpo, simplesmente me entreguei ao que estava sentindo.

Ele me beijou breve e lentamente, mas depois do que tinha acabado de revelar, foi como se tivesse aberto uma corrente de emoções. “Eu amo você” ele murmurou, e antes que eu pudesse responder, me pegou no colo e me rodopiou no ar, rindo como se fosse Natal. Eu ri junto com ele, e lá estávamos os dois, ele me segurando e me girando no ar, e eu dando risada como uma boba.

Ver Dimitri assim, livre e solto, nunca deixava de me surpreender. “Roza...” ele disse quando parou de rodar, com os olhos brilhando. Eu ainda estava nos seus braços, e naquele momento, nunca tinha me sentido mais segura na vida. Ele me beijou, e eu coloquei os braços ao redor do seu pescoço.

“Acho que você bebeu vodka russa demais, camarada” eu zombei, e ele riu.


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Notas finais do capítulo

Então, o que acharam? Estamos no caminho certo? Contem pra gente, assim como as idéias que vocês têm a respeito do reencontro do Dimitri com a família dele - que será no próximo capítulo :)

Sei que há algumas cenas que são "cortadas" meio que do nada, mas é porque passamos meio que por cima por causa do próximo capítulo.

Espero que tenham gostado ^^

— Anita H.