Penumbra

Acordei ciente de que algo estava diferente. Algo estava fora do lugar essa sensação não saiu de mim. Caminhei até a varanda do pequeno apartamento que dividia com a minha tia em São Bernardo do Campo (Zona Sul de São Paulo). Olhei pelas grandes janelas do prédio e vejo a penumbra ainda dominar os céus. Estranho a Avenida Anchieta está completamente vazia! - Penso com meus botões. Forço a minha vista e não consigo enxergar o letreiro escrito “EXTRA” (O supermercado do meu bairro na Paulicéia).

Vou até a cozinha ciente que não irei mais dormir, pois o sono havia acabado e eu senti que foi uma longa noite de sono, mas fiquei feliz por acordar na madrugada. Assim não irei me atrasar novamente na escola. Entro na cozinha rezando para não fazer nenhum barulho que possa despertar minha mãe, ando cautelosamente e vejo no microondas o horário.

-Vivo dizendo para minha mãe não mexer nos aparelhos elétricos! – Resmungo. Pego meu celular para ver as horas certas e concerta-lo quando vejo milhões de mensagens e o horário. Era meio dia e três. Exatas horas que marcavam no relógio do elétrodo.

Tudo era muito óbvio. Hoje o sol não apareceu! Corro para o quarto de minha mãe.

-Mãeeeeee acorda! – Grito com felicidade.

Vocês podem me chamar de louca, mas para quem leva uma vida chata e entediante como a minha uma ‘mudança de rotina’ como essa era extremamente agradável.

-O que foi? Aconteceu alguma coisa? – Perguntou preocupada.

-Sim! Hoje o sol não apareceu. – Digo ainda feliz ela me olha como se eu fosse louca e liga a televisão, a repórter estava no centro de São Paulo coberta com roupas de frio.

                “... Hoje para toda a parte sul do mundo o sol não está radiando nos céus, pois ele ainda se encontra na parte norte do mundo. Os cientistas do mundo inteiro estão tentando explicar esse fenômeno e pedem para que ninguém saia se suas casas...”

A moça continuou falando mais eu deixei de prestar atenção assim como a minha mãe.

-Deus, o mundo vai acabar! – Ela constatou assustada.

-Se ele vai acabar tem que ser com estilo! – Falei ainda contente. Minha mãe olhou para mim ainda assustada e eu enviei mensagem para geral.

“Vão esperar o mundo acabar em suas casas dormindo? Que tipo de jovens vocês são ein? Vamos morrer com estilo! Festa na praça ao lado da escola!” – Enviei para todos os meus contatos que se resumia na escola inteira!

-Vamos mãe, não vamos ficar aqui dentro de casa esperando o mundo acabar. Vou te levar para uma festa inesquecível. – Gargalhei alto igual a uma louca, mas se o mundo acabasse mesmo isso não faria muita diferença.

Fiz minha mãe dirigir até lá para poder levar o som do porta-malas e coloquei meu pen drive nas melhores musicas de balada. A galera curtiu o som e ninguém estava ligando se dançava bem ou não todos estavam olhando para o céu esperando algum sinal do sol que simplesmente nos ignorou.

-Gostei da balada! – Comentou Vinícius se aproximando por causa da música alta.

-Valeu Vinny. – Agradeci sorrindo igual a uma idiota.

-Sabe, se o mundo realmente acabar não quero deixar de fazer isso... – Disse me pegando pela cintura e me lascando um beijo de tirar o fôlego. Na boa mundo, você bem que podia acabar antes não é?