Lily estava numa parte afastada na biblioteca, onde se encontravam os livros de literatura bruxa, ela os amava. Passava o dedo por cima de uma lombada redonda, verde, quando sentiu seu cheiro: hortelã, grama cortada, um aroma fresco. Sentiu seu cheiro antes que pudesse vê-lo.

– James – sussurrou contendo o sorriso. Sem virar, a mão ainda sobre a lombada.

– Ruiva – ela sentiu sua a voz dele contra seu pescoço e seus braços enlaçando sua cintura.

Ambos haviam engatado um namoro a poucas semanas, dois meses, no máximo, mas evitavam aparecer juntos em público para evitar fofocas. É óbvio que não adiantara, algumas pessoas os viram de mãos dadas e no dia seguinte o boato era que eles estavam se agarrando num armário durante a ronda. Patético, eu sei. Mesmo assim, continuavam evitando fazer muito estardalhaço.

Lily se virou e disse, timidamente:

– Estamos na biblioteca, Jay. – Ela mordeu o lábio inferior. – Tem gente olhando. – Ela acenou discretamente com a cabeça para um garoto lufa-lufa que se aproximava “disfarçadamente” do casal.

– Existe um feitiço, Lil’s, que se chama “Obliviate”, um maneio de varinha e...

– James! – Ela repreendeu tentando conter a risada. – Isso é errado. – Ele enrolou uma mecha do cabelo ruivo da menina no dedo, distraidamente. A outra mão ele retirou da cintura dela e apoiou todo seu peso na estante de livros, Lily encostou-se nela também.

– Sabe, gata, - brincou James sorrindo, Lily tapou a mão com a boca para não fazer barulho com a gargalhada que estivera prestes a sair da sua boca. – Eu estava morrendo de saudade e pensei em dar uns amassos por aí.

– Saudade, é? – Perguntou, olhando pelo canto do olho, mais dois curiosos se aproximavam. – Amassos...

– É, saudade e amassos. O que acha? – Ele parou de encaracolar seu cabelo e alisou seu braço.

– Me parece promissor, gatinho. – Ela piscou o olho, como se flertasse com o outro. – Quando e onde? – James fez força para não bufar, sempre a mesma pergunta, tudo precisava ser minuciosamente planejado. Como se ninguém tivesse ouvido os boatos. Hoje seria diferente, ele esperava.

– Que tal... aqui e agora? – Lily também queria isso, mas... era difícil.

– Estamos numa biblioteca e não quero madame Pince me expulsando dela e...

– Madame Pince não está na biblioteca, deixou um corvinal cuidando do local e ele está estudando na primeira mesa a direta, aquela que fica do lado da porta, sabe? – Lily abriu a boca em um “o”, mas ficou feliz, queria aproveitar do seu namoro com James o máximo possível, seus lábios estavam particularmente provocantes e tentadores hoje. Mesmo assim, ela disse:

– Tem exatamente sete pessoas nos encarando descaradamente. OK, uma delas está olhando por cima do livro de modo disfarçado, mas está olhando. – Ela disse checando pelo canto do olho.

Ele pensou em dizer que eles haviam acabado de presenciar uma baita cena e que um beijo não faria diferença nenhuma naquele momento. Mas achou melhor esticar a mão apoiada na prateleira e pegar um livro branco. Ele abriu-o e o pôs na lateral do rosto de ambos, escondendo os perfis, que era a única coisa que os curiosos poderiam ver.

– Mas o que...?

– Não estão mais. – Foi a única coisa que disse antes de se inclinar para beijá-la.