Aro Volturi

Pela quinta vez naquela semana, a bela e jovem Cynthia tentava me convencer a destruirmos Carlisle. Mas eu sabia que na realidade ela não se importava nem um pouco comigo ou com a visão dela, e que de fato queria dar cabo de Alice.

– Pense bem, senhor. - ela persistia - Fazer isso resolveria todo o problema.

– O que você define como ''problema'', querida Cynthia? - perguntei calmamente, os argumentos dela me entertiam, o que não significava que eu mesmo não tivesse ficado intrigado com a visão

– Algo que deve admitir é que os dons da família de Carlisle em geral, são excepcionais e ninguém na guarda faz algo parecido com o que eles podem fazer. E outra coisa que também deve admitir é que sabe que nenhum deles irá se unir a nós enquanto a família existir. E matar apenas Carlisle os faria revoltados e não aliados. De uma forma ou de outra eles são uma ameaça. Eles podem saber o que estamos pensando, podem prever nossas decisões, podem se imunizar de nossos ataques. Isso sem contar os aliados que eles possuem. O clã Denali, Amum e seu clã, entre outros.

– Como sabe de tudo isso? - arqueei uma sobrancelha mas logo respondi minha própria questão - Imagino que deva ter conversado muito com os outros por aqui.

– Sim.

– Bom, com eles você pode ter ficado sabendo de muita coisa mas tem algo que apenas eu, Caius e Marcus sabemos. Além de nossas esposas, é claro. Algo que assegura que os Cullen não têm acesso aos nossos planos desde aquela manhã de natal.

– Algo? - ela repetiu, em forma de dúvida, meu tom de voz

– Seria melhor usar a palavra ''alguém'', nesse caso. - me corrigi - Alguém garante o sigilo de todos os nossos planejamentos. Não pense que sua visão não me preocupou, mas digamos que seria impossível Carlisle chegar até mim. E mesmo que ele estivesse planejando isso, teria que dar um jeito de saber sobre nossas reuniões, nossas defesas e tudo mais. Mas esse ''alguém'' impede isso.

– E quem é esse alguém? - perguntou ela inocentemente, obviamente eu jamais responderia

– Niklos! - a voz estridente e furiosa de Caius invadiu o ambiente e o olhei ao mesmo tempo em reprovação e com raiva

– Caius! - eu o repreendi - Como você entrega a identidade dele dessa forma? Isso nunca foi revelado a nenhum de nossos guardas.

– Isso não importa agora. - ele ignorou minha bronca - A questão é que ele passou dos limites. Usou de seu poder para descobrir informações em nossas memórias e em seguida ...

– Basta! - interrompi e dessa vez ele não prosseguiu - Cynthia, se retire por favor.

– Mas eu...

– Se retire. - enfatizei o pedido, o transformando em uma ordem, ela assim o fez e então fitei Caius - Você sabia que era ela quem estava aqui, por que pronunciou o nome dele? Por que falou dos poderes dele? Sabe muito bem que essa garota não é confiável ainda. Se nem mesmo nossos guardas mais fiéis sabem disso, ela é a última quem deveria ter acesso a esse tipo de segredo.

– Me desculpe. - ele foi sincero - Pensei que depois do que ela te mostrou, tivesse ganhado nossa confiança. Cuidamos dela mais tarde. Agora você deve saber o que Niklos fez.

– Prossiga.

– Ele fez com que a filha de Bella... - Caius pensou, reformulando as palavras - ... ele interferiu no processo de desenvolvimento dela. Ele o acelerou, fez ela se desenvolver rapidamente. Ela está pronta. Evoluída.

Minha boca formou um ''O'' e meus olhos se arregalaram. Eu esperava realmente que aquilo fosse uma brincadeira de péssimo gosto de meu irmão. Mas não era.

– Como sabe disso? - foi o que consegui pronunciar

– Eu fui ver ele, apenas por rotina, para saber se estava tudo bem com a proteção que ele lançou sobre nós. E antes que percebesse minha presença, eu vi ele conversando com alguém sobre isso. Voltei para cá imediatamente. - falou e pacientemente esperou minha resposta, vendo que eu digeria aquela informação com calma

– Irmão, quero que traga ele aqui. - pedi - Diga que quero apenas conversar com ele, o mesmo de sempre. Traga ele.

– Você sabe que ele pode descobrir que isso é uma farsa.

– Ele consegue apenas invadir sua memória, nesse caso leve Afton contigo. A barreira que ele produz não é tão eficiente quanto a de Bella mas é o suficiente para driblar Niklos. Parta agora, não podemos adiar isso. De modo que seria bom alguém fazer uma breve visita a Carlisle, uma visita amigável, saber como a criança híbrida está.

– Pois bem, eu irei. - ele assentiu - E levarei Afton comigo. Peço que espere até eu voltar antes de mandar alguém para a América, creio que Afton deve ir lá também.

Estranhei a facilidade com que Caius concordou uma visita amigável aos Cullen mas preferi não tocar no assunto. Antes que continuássemos com as decisões um barulho ganhou nossa atenção e logo Marcus adentrou a sala trazendo alguém a força consigo, Cynthia. Ele a carregava pelo braço. Até que se juntou a nós e praticamente a jogou no meio do triangulo que formamos para cercá-la.

– Ela estava encostada na porta. - Marcus disse serenamente, sua voz monótona e tediosa - Com certeza ouviu tudo.

Eu olhava para ela desacreditado.

– Um ato corajoso demais. - Caius meditou - Ou estúpido demais. O que faremos com você.

– Eu não tinha intenção... - ela tentou se defender

– Calada! - Caius vociferou dando uma bofetada na face da jovem imortal que se assustou porém permaneceu firme - Aro, decida. Ou eu mesmo o farei.

– Você já sabe demais, Cynthia. - iniciei - Se te matarmos, seria uma baixa sem tamanho para nosso clã. Mas se formos deixar você viver, o adequado seria que soubesse da história toda e compreendesse tudo.

– Mas irmão...

– Não se preocupe, Caius. - o tranquilizei, seguro do que falei - Cynthia está do nosso lado. Ela apenas está curiosa.

– Mas nenhum dos outros nunca quis saber tanto. - ele rebateu

– Nenhum dos outros nunca soube de Niklos, mas já que Cynthia sabe sobre a existência dele. Nada mais justo que saiba tudo afinal.

A jovem pareceu gostar de ouvir aquilo, ao contrário de Caius. O triângulo em volta de Cynthia foi desfeito, ela não mais seria destruída por nós. No minuto seguinte, Marcus já não estava conosco, afinal a história de nada interessava para ele, pois já sabia de tudo.

– Pois bem, Cynthia. - a olhei nos olhos - Niklos é um dos primeiros imortais que se tem notícia. Bem mais velho do que qualquer um de nós.

– Um vampiro mais velho do que vocês. - ela exclamou surpresa

– Eu não disse que ele é um vampiro. - corrigi ela e a garota ficou séria, agora prestando o dobro de atenção no que eu dizia - Niklos é um bruxo muito antigo e igualmente poderoso, para se ter ideia, é possível sentir a energia emanando dele apenas de estarem no mesmo ambiente. Não é correto dizer que ele trabalha para nós mas é uma espécie de troca de favores.

– Favores?

– Desde que fomos á América no ano passado, muita coisa mudou no nosso mundo. Temos de admitir que depois daquele dia, nossa credibilidade não é mais a mesma, então tivemos de arrumar um modo de nossas informações estarem mais seguras e com isso, fortalecer nossas defesas. Para impedir que os Cullen saibam nossas decisões, Niklos usa sua bruxaria para nos proteger. É quase cem por cento de certeza que a proteção não pode ser driblada. Mas enfim, ele faz isso para nós e em troca nós não matamos a família dele.

– E por que fariam isso?

– Da mesma forma que os lobisomens... - Caius se intrometeu - ... os bruxos também apresentam uma ameaça para nossa espécie. Os lobisomens nós quase extinguimos, devem restar uns poucos pelo mundo apenas. Já os bruxos são muito raros. A família de Niklos é uma das poucas que sobreviveu ao tempo... e a nós.

– Mas e quanto ao que ele fez com a criança híbrida dos Cullen? Por que isso foi errado?

– Veja bem, minha querida, quando Bella finalmente se tornou uma de nós. Mandamos a ela um presente, uma pequena joia, um pingente. Porém esse pingente um dia já foi de Niklos. Provavelmente foi através dessa joia que ele conseguiu exercer influência sobre o desenvolvimento de Renesmee.

– E o que ele ganha com isso?

– É o que vamos descobrir. - Caius falou - Aliás, estou indo fazer meus preparativos e comunicar Afton.

Caius fez um aceno de cabeça á mim e se retirou.

– Bom, senhor. Eu não vi Meg o dia todo, se me dá licença eu vou procurar por ela. - Cynthia disse - Mas não se preocupe, não contarei nada do que me foi dito aqui.

– Perfeito, querida, pode ir. - aquiesci e logo ela desapareceu

Permaneci sozinho ali pelos minutos seguintes, pensando em tudo o que aconteceu em menos de uma hora. As coisas podiam estar fora do meu controle a essa altura. Niklos, Cynthia, Carlisle... pelo o que eu saiba.

– Preocupado? - a voz doce de Meg cortou o silêncio - Devia mesmo estar.

– Devia? - repeti a palavra

– É claro. Todos devemos ficar preocupados, você não sabe o que se passa longe de você. Não sabe que planos os inimigos tramam contra você e as vezes o seu pior inimigo é aquele de quem você menos desconfia. Aquele que você jamais imaginaria que seria capaz de fazer algo terrível apenas por poder.

– O que quer dizer com isso, minha jovem? - me aproximei vagarosamente dela, que não recuou um passo

– Quando eu e Cynthia chegamos, você tocou ela e descobriu que ela tem um dom, mas nem ao menos se interessou em saber se eu possuo algum. - ela sorriu brevemente ao notar que havia ganhado minha atenção - Eu sou capaz de descobrir os segredos mais profundos de alguém, apenas em olhar nos olhos da pessoa. E você, Aro, possui um segredo muito, muito profundo. Um segredo obscuro do seu passado que apenas você e sua esposa sabem... e agora eu e claro. Um segredo que seria desastroso se mais alguém tivesse conhecimento dele. Como Marcus por exemplo, não acha?

Ela sabia. Centenas, milhares de anos escondendo esse fato do passado e devido a esse dom, com um olhar ela descobriu tudo. Eu não tinha outra escolha, ela era um perigo viva. Minha intenção de decapta-la ali mesmo foi arruinada antes mesmo de se concretizar. Demetri invadiu o salão.

– Mestre. - ele disse com emergência - Cynthia... ela fugiu.

ESTA É MEG