Renesmee Cullen's POV

Jacob largou meus braços em volta de si e me puxou para sua frente outra vez, me apertando suavemente entre os braços, o queixo pousado sobre o alto da minha cabeça.

Me senti como se tivesse alguns dias de vida, quando ele me embalava em seu colo e me fazia dormir. Eu me lembrava daqueles momentos com perfeita exatidão.

- Nessie... – sua voz rouca soou baixa como um sussurro.

Ele ergueu meu queixo com as pontas dos dedos, olhando em meus olhos.

- Não chore... Vai ficar tudo bem – ele passou as costas da mão em volta dos meus olhos, secando as lágrimas.

- Não vai – minha voz tremia. – Não vai ficar tudo bem enquanto eu não estiver com você.

Ele suspirou e piscou os olhos devagar.

- Eu vou ligar para você todos os dias. Você vai me contar o que aconteceu em cada minuto do seu dia.

- Não é a mesma coisa.

- Eu sei. – sussurrou – Eu sei.

O rosto de Jacob estava tão apagado e sem vida como o meu devia estar.

Ele tentava me passar confiança em suas palavras, e estava lutando com isso. Mas seus sentimentos me atingiam muito mais do que as palavras. Eu não podia me fortalecer vendo-o daquele jeito.

- Mas ouça – continuou. – Tudo pode parecer estar desmoronando, pode parecer que é o fim. Eu posso não estar perto de você, mas meu coração é seu, e isso ninguém pode mudar, nem tirar de nós. Eu amarei você para sempre qualquer que sejam as circunstâncias, mesmo que a distância queira nos separar.

Meu coração começou a saltar rapidamente em meu peito.

Agora as palavras dele eram tão sinceras e tão profundas que uma força repentina e intensa surgiu de algum lugar dentro de mim.

Jacob estava me fazendo forte mesmo quando ele não estava.

- E a vida faz o amor parecer difícil... – eu disse com a convicção que acabara de receber – Os riscos são grandes, as águas agitadas... Mas este amor é nosso.

De repente, sua testa franziu-se levemente, depois um meio sorriso surgiu no canto da sua boca.

- Está citando uma letra de Taylor Swift? – perguntou.

Senti meu rosto corar.

- Não sei falar bonito como você.

Ele riu de minha resposta, e eu não resisti a sorrir também.

Seu rosto agora iluminava-se por trás dos olhos ainda sombrios.

- Não gostou? – minha expressão agora relaxava com a pequena distração da conversa.

- Gostei. Foi muito bonitinho.

Seu sorriso abriu-se levemente um pouco mais.

Logo ficamos em silêncio. Ele afastou-se para trás, deitando a cabeça no travesseiro, e eu me apressei em aninhar-me em seu peito. Eu não queria perder nenhum minuto sequer.

Talvez passaram horas. Não me preocupei em contar o tempo. Aos poucos, meu corpo foi relaxando cada músculo, em contato com sua pele quente, e enfim consegui dormir.

Quando acordei, percebi que estava na mesma posição em que dormira. Meu braço esquerdo estava tão dormente que eu não conseguia movê-lo.

Tentei tirá-lo do lugar e levantei a cabeça.

Jacob abriu os olhos lentamente, parecendo não se assustar quando me mexi.

- Bom dia – sussurrou.

Inclinei-me e beijei sua bochecha.

- Bom dia.

Após alguns minutos silenciosos, depois de começar a senti meu braço, Jacob saiu do quarto para que eu me vestisse, mas me prometeu que não iria embora.

A chuva estava violenta naquela manhã cinzenta de Forks, o ar gelado me fazia tremer.

Me enfiei em uma camisa de algodão de mangas compridas e num casaco azul escuro cujos punhos passavam de minhas mãos.

A calça não combinava nada com o look -  como dizia tia Alice -, mas eu não planejava vê-la hoje, e eu não estava querendo receber dicas de moda no momento.

Mas ela também não estava no clima. Ou melhor, ela respeitou o meu clima de reflexão e aproveitamento máximo do meu tempo com Jacob.

Fui até a cozinha e parei subitamente na porta quando o vi.

Jacob estava ao pé do fogão mexendo ovos em uma frigideira enquanto descansava o peso do corpo sobre os pés de um lado para o outro, em um ritmo compassado.

Encostei-me na parede à minha esquerda e enfiei as mãos nos bolsos do casaco.

Aquela cena fez meus olhos brilharem e minha boca abrir-se em um sorriso.

Imaginei-me alguns anos depois, casada com Jacob – a palavra fez meu coração acelerar e o sangue esquentar em meu rosto -, morando em uma casa só nossa – poderia ser até um chalé como este -, nossos filhos correndo pela casa, enquanto ele preparava o café da manhã. Uma ideia perfeita para uma vida de felicidade.

Eu ri de meus pensamentos. Era muito estranho imaginar um futuro normal para mim.

Jacob ouviu minha risada abafada e virou-se em minha direção, um meio sorriso repuxado nos lábios.

- O que foi? – disse voltando a mexer nos ovos.

- Nada. – sacudi a cabeça enquanto puxava a cadeira para sentar.

Ele separou uma parte da omelete para mim e o resto – todo o resto – para ele.

- É mesmo uma fome de lobo! – exclamei enquanto ele sentava ao meu lado.

Jacob riu e deu de ombros.

- Onde está a mamãe e o papai? – perguntei.

- Eles saíram cedo para ir falar com Carlisle. – disse, e depois abaixou a voz – Você sabe porquê.

Eu suspirei. Meus devaneios de felicidade se esvaindo no vazio.

De repente, lembrei-me de Billy. Não que eu tinha esquecido dele, mas minha cabeça estava atordoada demais para pensar em tantas coisas ao mesmo tempo. Este detalhe importante ficou um pouco de lado. A expressão preocupada de Jacob fez-me lembrar da questão.

- Como está Billy?

- Melhor... eu acho. – disse ele em uma voz monótona.

Eu o analisei. Seu rosto estava pacífico, porém seu texto trincava-se em uma tensão visível.

- Por que não vai vê-lo? Acho que a mamãe irá vir antes de papai.

- Não. – balançou a cabeça, empurrando a tigela já vazia – Vou ficar com você.

Assenti devagar. Eu não iria mais insistir, até porque eu não queria que ele fosse embroa.

Deixei metade da porção da omelete. Meu estômago recusava-se a ingerir qualquer coisa.

Levantei-me e abracei Jacob pelas costas, envolvendo meus braços pelo seu pescoço. Deixei meu rosto colado no dele, sua pele ardendo sobre a minha.

Ele afagou meu braço com as mãos, e pude ver seus olhos fitando o vazio de maneira tensa.

Ouvi passos aproximando-se de nós, e meus pais apareceram na cozinha, os dois com a mesma expressão nos olhos.

Eu sabia o que eles queriam dizer, porém não falaram nada, sabendo que as notícias da data e hora da viagem que haviam decidido com Carlisle iria nos machucar ainda mais.