Mais um ano havia se passado para Harry Potter. O rapaz de verdes olhos, cabelos pretos e extremamente rebeldes, possuidor de uma cicatriz em forma de raio na testa estava em seu quarto na Rua dos Alfeneiros esperando que outro dia tedioso passasse direto e ficasse mais próxima sua ida à escola. Não agüentava mais morar com seus insuportáveis tios. Pelo menos não tinha que aturar Duda, seu primo, visto que este nem se dava mais ao trabalho de aparecer em casa, hábito esse que deixava tia Petúnia num estado de nervos terrível. Mesmo sendo ainda três da tarde, o dia estava custando a passar. Gostaria de estar com seus companheiros no Lago Grimmauld, rir com eles, estar com quem lhe queria bem. Tinha saudades de todos, principalmente de Sirius Black. O padrinho prometera-lhe que assim que a guerra terminasse iriam morar junto. Uma perspectiva muito boa, por sinal, mas ainda distante no mínimo uns dois anos. Resolveu então dar uma volta para espairecer. E, repetindo o primo, sumiu da residência sem se importar. “Como se alguém lá se importasse comigo”, pensou.

Andou tranqüilo, sem rumo, até chegar a um pequeno parque perto de onde morava. Estava uma tarde bonita, com várias crianças brincando, babás as vigiando, cachorros dormindo ao sol. Deitou-se na grama e ficou a mirar o céu azul. Era bom estar ali sem se preocupar com Voldemort. Este, sem motivo aparente, andava quieto, provavelmente planejando... Não deveria estar nada satisfeito depois do ocorrido no Ministério da Magia, perdendo preciosos aliados e principalmente a Profecia, a qual não conseguira ouvir. Teve seus pensamentos subitamente interrompidos por algo duro. Sentou-se e olhou em volta, encontrando uma bola.

- De quem é isso? - Perguntou irritado.

- Minha. - Respondeu uma voz suave às suas costas. Ele virou-se e deu de cara com um par de grandes orbes negros e longos cílios. Um rapaz aparentemente de sua idade, trajando um agasalho fino, calça e um velho boné azul, todo desbotado, virado ao contrário, o olhava sorrindo.

- Olá. - Disse o garoto sorrindo. - Desculpe o acidente. Pode me devolver? - Apontando a bola.

Harry bufou. - Ora essa, era só o que me faltava, usarem minha cabeça como alvo. Quem você pensa que é? E que boné mais feio é esse? - Perguntou arrancando o chapéu do rapaz, só para irritá-lo mas se deparou com a maior cascata de cabelos negros que já vira, ainda maiores que os de Cho. O que antes era um homem, agora lhe olhava com olhos de garota e estavam irritados.

- E se eu não quiser? - Falou grosseiramente.

- Eu pego à força. - Ela retrucou sem se importar com o tom dele, arrebitando o nariz pequeno e bem feito.

Harry sorriu, só podia ser brincadeira. Estava sentado mas percebia-se claramente que a garota era no mínimo 10 centímetros menor que ele. Queria ver se ela ia ficar tão petulante assim quando ele estourasse a bola na sua cara.

- E então, pode me dar de volta? Eu pedi desculpas. - Esticando os braços para a esfera.

Harry simplesmente se levantou com a bola embaixo do braço e, erguendo-a acima da cabeça, tornou-a inalcançável para a menina.

- Ora, por que faz isso? - Ela cacarejava tentando pegar a bola de qualquer jeito, pulando feito uma pulga, os braços finos agitando-se no ar. O bruxo apenas ria da cena, olhando para a garota.

“Belos atributos”, pensou, vendo os seios da trouxa balançando sob a roupa que vestia. “Deve ser estrangeira”, conjeturou reparando na tez morena da pele. Ela agora já tinha o rosto afogueado do exercício que ele maldosamente lhe impingia.

- Custa muito você me devolver a bola? - Brava. A pergunta fez o rapaz sorrir. Sorriso este que não agradou muito a garota.

- Custa sim... - Passando os dedos da outra mão em seu rosto e se demorando nos lábios.

- Ah tá, se é assim que você quer... - A resposta à provocação dele veio em forma de uma dentada certeira em seu indicador, fazendo Harry urrar de dor.

- AAAAAAAAAHHHHHHHHHHHHH! SUA LOUCA! - Ele balançava o dedo e o assoprava sem parar.

- E aí, vai devolver? - Rindo e limpando um filete de sangue que escorreria pelo canto da boca, uma fileira de dentes brancos e perfeitos se mostrando através dos lábios zombateiros. O garoto a olhou com ódio.

- Nem em um milhão de anos! - Andando displicentemente pelo parque, em direção à saída.

- O QUÊ? Não pode fazer isso, é roubo. - Ficando desesperada.

- Pensasse nisso antes de acertar minha cabeça com ela.

- AFE! Como se atreve? - Bufando de raiva. - Em que escola você estuda? Eu, Sofia, juro por Deus que vou atrás dela de qualquer jeito!

O bruxo então parou e virou a cabeça para trás, sorrindo sarcástico. - Eu adoraria vê-la fazer isso.

- E qual o nome da escola?

- Hogwarts.