-Não adianta tentar Bella...- disse Edward se aproximando de mim.

Ele iria me matar. Eu precisava achar uma saída. Tentei abrir cada porta e cada janela do quarto em que estávamos, mas no exato segundo em que eu ia tocá-las, elas simplesmente desapareciam. O desespero tomou conta do meu corpo. Minhas mãos tremiam, as lagrimas saiam em enxurradas e eu respirava tão rapidamente que mal sentia o ar em meus pulmões.

-Eu já disse. Você não vai a lugar algum.

O som mortal na voz de Edward trocou meu desespero por puro medo. Sua voz ecoava em minha mente, prolongando minha agonia. Este vampiro misterioso e sombrio seria a causa de minha morte. Em poucos minutos suas mãos estariam sujas com o meu sangue. E eu sabia que isso era tudo o que ele queria. Edward caminhou lentamente ate mim, observando meu medo crescer a cada passo. Tentei me afastar, mas minhas costas encontraram a parede. Não tinha pra onde correr.

-O que foi Bella? Estar do outro lado da situação não é tão legal quanto imaginava?

Assim que me encurralou entre seus braços, senti todo o meu corpo tremer. Não pude conter o soluço que escapou por meus lábios assim que os dele beijaram suavemente meu pescoço.

-Você não passa de uma fraca. Isso é o que você sempre foi.

Edward segurou meu rosto e o virou, para que eu pudesse ver a menininha no canto do quarto. Ela estava abraçando os joelhos contra o peito, totalmente aterrorizada, e seus olhos estavam inchados de tanto chorar. Demorei alguns segundos para reconhecê-la. Essa garotinha era eu.

-Porque esta fazendo isso?- sussurrei a ele. Minha voz sumindo a cada palavra.

Edward riu sombriamente em meu ouvido. Ele estava adorando me ver assim. O que era mais divertido do que observar sua presa se afogar no próprio sofrimento e depois ainda ter o prazer de matá-la?Seus olhos vermelhos esbanjavam uma diversão sem tamanho, e a cada vez que meu desespero aumentava, seu sorriso fazia o mesmo.

-Me deixe em paz...

-Paz? E o que você sabe sobre isso? Você vive em sua própria versão de inferno. Sua alma morreu na mesma noite que sua família. Você vive por obrigação. Respirar não faz mais sentido pra você Bella. Mas eu posso te ajudar. Com a morte.

Fechei meus olhos esperando o pior, mas nada aconteceu.

-Olhe para mim.- disse segurando meu queixo.

Abri os olhos lentamente, e quem estava prestes a me matar, não era quem eu estava esperando. Não era Edward.

-Durma bem abelhinha.

Em um golpe rápido, ele enfiou sua faca em meu pescoço, dilacerando minha garganta.

ooooooo

Acordei com um solavanco, sufocando o grito que nunca saiu. A claridade invadiu meus olhos, deixando minha visão embaçada. Precisei piscá-los varias vezes para poder me acostumar. Passei as mãos pela testa, tentando me acalmar. Nunca tive um sonho parecido antes. Um sonho que fosse tão real. Olhei ao redor para ver onde eu estava, já que da ultima vez estava sendo sugada por um vampiro. É um quarto estranho. De um lado, há vários livros, dvds, cds e de outro, equipamentos médicos. Que tipo de doido tem um quarto assim? Não faço a mínima idéia de onde estou. Nem de como ainda estou viva. Posso ver muitas arvores pela janela, e nenhuma delas está coberta de neve. Sei que não estou mais no Alasca. O céu está completamente cinza, derramando uma fina garoa sobre a vegetação, o que é uma surpresa, já que nessa época do ano chove raramente. Tentei me levantar, mas meu corpo inteiro protestou com dores por todos os cantos, principalmente em minha perna, graças ao miserável Edward Estripador Cullen.

-Estava tendo um pesadelo?- perguntou uma voz suave e masculina.

Apoiei-me em meus cotovelos para poder ver a quem a voz pertencia. Ele não havia participado da confusão de noite passada. O vampiro era alto, vestia um jaleco branco e possuía os cabelos loiros impecavelmente penteados para trás.

-Quem é você?- perguntei enquanto procurava algo que eu pudesse usar como arma.

-Eu sou Carlisle Cullen,muito prazer Bella.

Prazer? Um vampiro tendo prazer em me conhecer? Ele não deve saber exatamente quem eu sou, ou melhor, o que faço.

-Estou cuidando de seus ferimentos. Peço desculpas pelos atos de meu filho. Edward só fez aquilo para se defender.

-Você o que?

Eu não estou entendendo mais nada. Um vampiro se desculpando pelos atos de outro? Ainda mais quando eu quase matei quem me feriu? Ele deveria ter dito Não sei porque não esquartejaram você,e não pedido perdão. Que droga está acontecendo aqui? Isso está errado! Muito errado. Essa espécie não age assim. Não faz parte da natureza deles. Eles só matam, sem dó, sem misericórdia. Carlisle pegou algumas coisas em sua gaveta e veio andando até mim com uma pequena bandeja prata.

-Fique longe!!- disse instantaneamente, mas ele me ignorou -Fique longe ou eu mato você!!

Claro Bella, com suas unhas,pensei.

-Eu não vou te machucar Bella.- disse levantando as mãos em rendição.

Carlisle se sentou ao meu lado, já que não pude impedir. Ele limpou os ferimentos em meu rosto, fazendo um curativo logo em seguida. Durante todo o processo, pensei que iria morrer, e que toda essa historia de não vou te machucar, fosse pura piada. Mas não, ele realmente cuidou de mim. Depois de tantos anos, alguém estava cuidando de mim, e esse alguém era aquilo que eu matava. Irônico não?

-Esse é o ultimo.

-Porque está cuidando de mim?

-É meu dever Bella.

-Vampiros não fazem isso...Eles matam e sempre mataram humanos.

-Você é uma menina bem teimosa, mas eu entendo. Sei pelo que você passou. Mas com o tempo vai perceber que somos diferentes. - me dando um sorriso acolhedor, Carlisle deixou o quarto.

Isso só pode ser um sonho. Devo estar em algum universo paralelo, onde exterminadoras recebem cuidados de médicos vampiros. Se eu sair viva daqui, Max vai me pagar muito caro. E dessa vez não vamos conversar pelo telefone, faço questão de que seja pessoalmente. Por mais que Carlisle pareça simpático e tenha cuidado dos meus ferimentos, tenho certeza de que isso é um truque. E tudo que vem a minha mente nesse exato momento é tortura. Por qual outro motivo me deixariam viva? Eles estavam apenas esperando os ferimentos se fecharem para abri-los novamente quando eu acordasse e pudesse gritar de dor. As vozes do outro lado da porta despertaram meu instinto de fuga. Abri a janela do quarto e...Meu Deus, como é alto. Se eu sobrevivesse a queda, acabaria ficando sem as pernas. O que eu faço agora?!

-O que pensa que está fazendo? -olhei rapidamente para trás. Fui descoberta.

Edward estava parado ao lado da cama, com uma bandeja de café da manhã nas mãos, olhando atentamente para mim, pronto para impedir qualquer movimento meu.

-Olha quem está andando de novo. - disse zombando dele.

Assim que sai do beiral da janela, seu rosto relaxou. Com cuidado, ele depositou a bandeja na cama, sentando logo em seguida.

-Poderia dizer o mesmo de você. -disse retribuindo na mesma moeda. Que os jogos comecem Cullen?

-Você deveria estar me agradecendo. Se não fosse aquela loira azeda eu teria arrancado seus pés e feito de fogueira, para queimar o resto dos seus membros. Um por um. Como se fossem marshmallows.

Edward poderia até tentar esconder olhando para outro lado, mas eu podia ver que estava se divertindo.

-Voce não ia fazer nada disso Bella.- e sem mais nem menos,ele começou a gargalhar.

Eu podia sentir meu sangue ferver. Tenho que admitir, esse Cullen me tira do serio. Como ele se atreve a rir de mim? Ainda mais quando estou tentando deixá-lo acuado.

-Qual é a graça?! gritei a ele. - Edward!!

A raiva em minha voz o fez rir ainda mais. Eu não estou de brincadeira. Já passei por muita coisa ontem, e alem disso, ele havia me mordido E esfaqueado. Chega de bancar a Bella boazinha. Já está mais do que na hora de liberar a exterminadora, mesmo que isso acabe me matando. Marchei até seu lado e virei a bandeja de café da manha em sua roupa, que provavelmente deveria ter custado mais do que meu carro com minhas armas dentro, o fazendo levantar rapidamente, avaliando os estragos que causei.

-Você ficou louca? Eu trouxe isso pra você! É assim que me agradece?!

Assim que Edward me olhou, não consegui pensar em mais nada. Que...Que olhos eram aqueles? Como eu não reparei nisso antes? Eu sei que ele ainda estava berrando comigo, já que sua boca se mexia incontrolavelmente, mas eu não conseguia ouvir nada. Seus olhos eram bem diferentes de qualquer outro que eu já tenha visto, ou seja, não eram vermelhos. Eram de um simples e puro dourado, quase angelical. Eu poderia olhá-los o dia todo. Eram simplesmente hipnotizantes. Lembravam ouro liquido. Acho que Edward percebeu que havia algo de errado comigo, já que parou de falar, me olhando curioso, quase preocupado.

-Bella...Está tudo bem?

-Seus olhos...Eles...Eles não são vermelhos...

-Pela surpresa em seu rosto, posso ver que nunca se deparou com nenhum vampiro que fosse como nós.

Sacudi a cabeça em negação, incapaz de pronunciar qualquer coisa no momento.

-Somos diferentes dos outros Bella. Escolhemos ser. Fizemos escolhas que consideramos nos tornar...Melhores.

-Que escolhas?

-Caçamos somente animais. Não tomamos sangue humano.

Já é a segunda vez que entro em choque em menos de dois minutos. Como eles podem sobreviver somente se alimentando com sangue de animais? Como se Edward tivesse lido minha mente, ele respondeu:

-O sangue animal não se compara ao humano. Isso é verdade. Mas conseguimos sobreviver somente com o sangue animal. É como uma pessoa se alimentando de tofu. Você tem o suficiente para continuar forte, mas nunca está realmente satisfeito.

-E como eu posso acreditar nisso? Mato vampiros a não sei quantos anos, acho que já teria visto alguém como você. Isso tem a ver com aqueles poderes, não tem? Tipo o choque de Kate.

-Não Bella,eu já disse. O sangue animal, depois de um tempo, deixa essa coloração em nossos olhos.

-Então acham que caçando veados, se tornam menos desprezíveis? Ainda são criaturas grotescas. Duvido que não matam um humano de vez em quando. Isso se o que você me contou for verdade. Vocês vão sempre ser monstros.

Edward caminhou lentamente até mim. Tentei me afastar, mas minhas costas acabaram encontrando a parede. Edward me encurralou entre seus braços e segurou meu queixo, me fazendo olhar para ele. Espera...Isso já não aconteceu antes?

-Eu nunca desejei ser assim Bella, acredite. Sei que o que sou nunca vai mudar. Mas...eu posso pelo menos tentar ser melhor. Agir de uma forma melhor.- Edward suspirou - Você tem uma idéia errada de nós. Pelo menos de minha família e meus amigos. Não viramos animais selvagens, que só pensam em matar. Ainda decidimos. Ainda temos escolha. Considerei-me um monstro por muito tempo, mas depois percebi que não precisava agir como um. E hoje eu sou assim. Sou só um humano em um corpo mais forte e veloz. Ainda sou Edward Masen aqui dentro. -disse pegando minha mão e a colocando em cima de seu coração -Ainda sou...bem...eu. Pense melhor sobre isso, por favor. Ontem você matou vampiros que eram bons. Nem todos são iguais Bella.

Só depois de parar de olhá-lo, percebi que estava chorando. Suas palavras me afetaram bem mais do que eu gostaria. Por mais que matar por vingança fosse bom, o buraco em meu peito continuava o mesmo. Depois de tantos anos, ainda era o mesmo. As palavras de Edward acabaram, de algum modo, ressaltando isso. Talvez porque no fundo eu acreditasse no que ele dizia. Eu podia ver em seus olhos, que partilhávamos o mesmo sentimento, dor. Ele também possuía cicatrizes na alma. Esse foi o máximo de reconforto que recebi pelo que aconteceu com a minha família, saber que alguém já sofreu tanto quanto eu. Já que no orfanato eu levava surras por estar chorando. Eu sempre era reprimida por sentir. Foi fácil me transformar nessa pedra que sou hoje. E não vai ser uma simples conversa que vai mudar isso. Minha tristeza foi substituída por raiva.

-Eu sei pelo que você passou Bella.

-E como você sabe disso?! Você não sabe de nada!- limpei minhas lagrimas e o afastei de mim.

-Sim eu sei Bella. Até mais do que gostaria.

Parei subitamente com o surto que estava prestes a ter. Ele sabe de alguma coisa. Alguma coisa que tenho certeza de que é muito importante. Ele ficou nervoso de repente, não para de apertar os dedos e passar as mãos pelos cabelos. Será que ele tem a resposta que procuro a anos? Talvez ele saiba quem matou minha família.

-Antes que pergunte, não vou contar o que sei. Não agora. Há coisas que você precisa ver, fazer...

-Preciso ver?- perguntei confusa.

-Mais tarde você vai entender.

-Olha...se vão me matar,porque não fazem isso logo?

-Porque,em primeiro lugar,embora você seja uma humana sanguinária- disse ele rindo- somos diferentes. Não matamos humanos. E segundo, ela não deixaria que fizéssemos isso com você.

Ela? Ela quem? Porque alguém que eu nem conhecia iria proibir alguém de me machucar? E vou ter que esperar para receber as respostas, pois pelo jeito, tudo será revelado no tempo que Edward achar melhor.

-Eu passei minha vida inteira procurando as respostas que você tem. Não faz idéia de como é estar tão perto e tão longe ao mesmo tempo.

Edward abaixou a cabeça, como se estivesse se sentindo culpado. O silencio tomou conta do quarto por vários minutos, e quando ele me olhou novamente, sabia que este assunto estava encerrado. O que ele está escondendo de mim? E se eu quisesse as respostas, teria que esperar.

-Você precisa comer. Ainda está fraca. Vamos -disse abrindo a porta- Eu preparo outra bandeja dessa para você.

-Eu não estou com fome.

-Isso não é um pedido Bella.

-Ahh,então quer dizer que...

Edward veio velozmente até mim e me colocou sobre seu ombro. Demorei alguns segundos para perceber o que tinha acontecido, já que foi imensamente rápido.

-Edward!! Me põe no chão!! Agora!!

-Só na cozinha. -eu podia nao estar olhando para ele,mas sabia que estava sorrindo.

Atravessamos um corredor longo. Os socos que eu dava em Edward, só o faziam rir cada vez mais de mim. Eu batia o mais forte possível, mas ele parecia estar é sentindo cócegas. Assim que chegamos na beira da escada, ele me colocou no chão, e pude ver o que me aguardava. Uma sala com sete vampiros que não deveriam ter planos tão amigáveis em relação a mim. Pensei em correr para o quarto, mas as mãos de Edward se fecharam como algemas em meu pulso. Mesmo não querendo, fui obrigada a descer as escadas, devido a força dele. Assim que desci o ultimo degrau, Kate e Irina se aproximaram, me queimando viva com os olhos.

-Temos um acerto de contas Isabella Swan.- Kate

Eu não tenho o que fazer. Sou um fantoche nas mãos deles. Eles podem fazer o que quiser comigo. E as duas não irão poupar imaginação. Ainda tenho esperanças de sair viva daqui, mas sei que a minha morte está à espreita. Talvez bem mais perto do que imaginava.