Dias de chuva. Dias de chuva são muitas vezes vistos como algo ruim, aquilo que estragou uma partida de futebol, aquilo que estragou um dia na piscina ou na praia, aquilo que arruinou a pintura que você fez no muro.

Enfim, dias de chuva geralmente sempre são ligados a coisas ruins e azar, mas sinceramente, nem sempre é assim.

–Hoje não vai chover, olha como o céu está bonito e azul? - Pensou uma jovem de cabelos castanhos e olhos claros ao continuar caminhando pela floresta, saíra cedo para poder treinar seus pokémons e também o dia estava tão convidativo.

Assim que chegou em um campo mais aberto, com vista para aquele formoso céu, sentiu-se ainda mais animada, pegou uma pokébola da sua bolsa e a encarou por uns minutos.

Certo! Vamos lá! - E jogou a esfera para o alto, ela se abriu e com uma rajada de luz apareceu uma Flaaffy. - Pronta?

A Pokémon ovelha respondeu com pulinho.

–Então vamos lá! Use Thunderbolt! - Ao comando da sua treinadora, a pequena Pokémon produziu uma forte carga elétrica que atingiu a árvore mais próxima.

Pobre árvore.

–Oooh! - Mei exclamou. - Muito bom, você melhorou bastante. - Elogiou, fazendo carinho na Flaaffy que respondeu feliz.

Ela olhou para o céu.

–Certo! Vamos continuar!

O que a treinadora nem percebera foram as estranhas nuvens escuras que se aproximavam devagar.

***

–Agora, Flamethrower! - Comandou e o Pokémon com aparência de porco lançou uma ameaçadora rajada de fogo na direção de uma pedra, porém perdeu a força antes de chegar na mesma. O Pokémon sentou no chão, chateado.

Mei foi até ele e fez carinho em sua cabeça.

–Vamos não fique assim, você aprendeu esse ataque há pouco tempo. É só questão de prática. - Mas mesmo assim, Pokémon de fogo soltou um som triste. - Ai, ai.

Então, a jovem sentiu algo frio tocar o seu ombro.

–Eh?

Depois outro tocar seu braço.

–Ah, nã...

Ela olhou para o céu, antes azul agora estava cinzento e fosco.

E então começou a chover.

–Ah, não! Eu jurava que não ia chover! - Reclamou, colocando as mãos sobre a cabeça. Ah! - Mas mudou de posição, abraçando seu Pignite - afinal ele era um Pokémon de fogo - sem se importar com a chuva fria nas suas costas.

Até que parou.

–Hm? - E olhou para cima. Um garoto de cabelos espetados e escuros que usava uma jaqueta vermelha como seus olhos, segurava um guarda-chuva acima da menina e seu Pokémon, sem se importar com o ombro esquerdo descoberto.

–Se você não sabe Pignite é um tipo de fogo. Se ele ficar muito tempo na chuva, ele vai ficar doente ... E você não é um tipo de água também, Mei.

Ah.

A jovem soltou seu Pokémon e sorriu.

–Obrigada Hyuu.

O jovem olhou para o lado.

–Você não tem jeito, vai acabar ficando doente.

–E-ei! - Ela estufou as bochechas. Não parecia que ia chover, tá bom? E...

Ela espirrou.

–Aí, não falei?

Antes que ela pudesse dar uma resposta, sentiu algo quente alojar-se nos seus ombros. A jaqueta do jovem.

–Hm? - Ela olhou para ele confusa.

–P-pode usar ela. - Falou, olhando para o outro ponto, um tanto corado. - Vai ser problemático se a minha rival ficar doente. Não vou ter ninguém para derrotar.

A jovem ficou com uma gota, mas sorriu.

–Que gentil da sua parte, Hyuulk.

Ele a encarou.

–Não me chama assim.

–Ué, tô errada?

–Claro!

–Ah, agora eu estou bravo. - Exclamou, fazendo uma imitação mal feita do jovem, ou nem tanto.

–Mei!

Ela riu, mas logo depois espirrou outra vez.

–Ainda estou certa, hehe.

–Só vamos sair logo dessa chuva. - Resmungou, a jovem ajeitou a jaqueta e recolheu seu pignite.

–Não está com frio? - Perguntou, puxando a camisa do jovem para chamar sua atenção.

–E-eu estou bem. Vamos. - E saiu andando com Mei ao seu lado, ainda não convencida.

–Tem certeza? - Tornou a perguntar.

–Eu tenh- ATCHOO!

Ela olhou para ele, ele desviou o olhar.

–Não importa, a jaqueta não é para dois e... - Parou quando a jovem abraçou seu braço, de repente.

–Vai ser problemático se o meu rival ficar doente. Não vou ter ninguém para derrotar. - Falou ela, sorrindo. O jovem tentou parecer bravo, como sempre aliás, mas estava visível o vermelho de suas bochechas.

–V-Vamos de uma vez! E seguiu andando, com a garota ainda abraçando o seu braço e sem intenção de soltar.

***

Sabe qual é a pior parte de estar em uma floresta e chovendo? Falta de visibilidade.

Ou seja, quando todas as árvores parecem iguais e você não tem mais noção do que é esquerda ou direita.

–Tá, eu desisto. - Falou o jovem. - Estamos andando em círculos!

A jovem olhou em volta. Realmente, ela tinha a sensação de já ter estado ali umas 5 vezes. Ao olhar em volta com mais atenção percebeu uma pequena construção de madeira há alguns metros de onde estavam.

–Hyuu! Olha! - E apontou. Ele olhou na direção e fez uma careta.

–Hm... Parece suspe...

–Certo! Vamos lá! - Segurou a mão do jovem e saiu correndo na direção da casa.

–EH??! ESPERA AÍ! MEI! MEI!

Mas claro, sem sucesso, quando aquela garota coloca uma coisa na cabeça, sem chance de tirar.

–Ah, até que é bonitinha. - Exclamou quando estavam perto o suficiente. Era uma casa de madeira velha, parecia ter sido abandonada.

–B-bonitinha? - Ele levantou uma sobrancelha.

–Chuva ou casa. Pode escolher. - Falou ela e ele percebeu que suas bochechas estavam avermelhadas.

...

–Ok, casa.

–Yay! - Ela andou até a porta e girou a maçaneta. - Ah, está aberta.

–Mei, espera aí! - Exclamou, mas ela já havia entrado. Ele suspirou e a seguiu.

A casa era velha sim, mas não parecia ter goteiras, era pequena como um chalé, tinha uma cama mais ao fundo, uma pia e um fogão que pareciam não funcionar há um bom tempo, um banheiro talvez e uma mesa sem cadeiras no centro. Enfim, uma casa pequena e comum.

–Viu? Sem problema. - Falou vitoriosa.

–Tá, tá. - Resmungou, fechando o guarda-chuva. - Deve ser o suficiente até a chuva passar.

–Isso. Hehe. - Concordou a jovem, vermelha, balançando um pouco. Ele levantou uma sobrancelha.

–Mei?

–Eeeu. - Cantarolou.

–Tá tudo bem? - Perguntou, indo até ela.

–Claaaro. - Riu e fez sinal de continência.

–Hm... - Foi tudo que disse, então segurou a cabeça da jovem com as duas mãos e encostou a testa dele na dela.

–Ah, perto, perto. - Murmurou ela com os olhos semi-cerrados.

–Sabia. Você tá com febre. - Afirmou ao se afastar. - Não devíamos ter ficado rondando pela flo...

A jovem fechou os olhos e caiu nos braços do rival, literalmente.

–M-Mei-san?! - Exclamou, corado, usando um sufixo sem perceber. - E-ei!

A garota estava com as bochechas muito vermelhas e respirava com dificuldade, o garoto deixou a vergonha de lado e levou a jovem até a cama. Era velha, mas ia ter que servir, por sorte tinha um lençol em cima dela. Ele deitou a jovem e cobriu-a com o tecido.

Ela abriu os olhos com dificuldade.

–H-Hyuu?

Ele suspirou e sentou no chão.

–Mas você hein. - Falou, afagando os cabelos da garota. - Por que não falou logo que estava se sentindo mal?

–D-Desculpa. - Deu um sorriso fraco. Ele suspirou, outra vez e se encostou na parte de madeira da cama.

–Tudo bem.

–Hyuu...

–Hm? - Virou a tempo de ver a treinadora colocar parte do lençol sobre os ombros do mesmo.

–Ele é grande. - Sorriu, vermelha. - Dá para nós dois.

Hyuu ajeitou o lençol a sua volta e olhou para a jovem.

–Obrigada.

–Heh. - Ela sorriu e voltou a deitar no colchão.

Silêncio se seguiu, o único barulho eram os pingos de chuva batendo sem parar no telhado da casa de madeira e o vento forte passando pelas árvores. O treinador olhou pela janela e chegou a sua conclusão de que aquela chuva não acabaria tão cedo e esperava que sua irmãzinha não acabasse ficando preocupada.

Seus pensamentos foram interrompidos quando sentiu uma mão quente afagar o seu cabelo espetado.

–Hyuu. - Mei murmurou sem parar de passar seus dedos pelos fios. - Seu cabelo parece um Qwilfish, sabia?

Ele ficou com uma gota.

–Como é que eu posso esquecer? Você vive me lembrando disso. - Resmungou e a garota ainda brincava com o seus cabelos. - Cabelo de rosquinha. - Acrescentou se referindo ao penteado da jovem. Ela riu.

–Eu gosto de rosquinhas, você não?

–Ah, eu gosto. - Concordou e como a jovem não parava de afagar sua cabeça, resolveu falar. - Ei, Mei...

–Mas sabe? Eu gosto muito dele assim. E é macio. - Sorriu, sua respiração começando a melhorar. - Então não mude, tá bem? - Finalizou apertando de leve o nariz do garoto com os dois dedos.

Ele assentiu, vermelho como seus olhos. Ela sorriu mais e finalmente caiu no sono, soltando seu nariz. Ele balançou a cabeça, mas deu um pequeno sorriso.

–Boa noite, Mei.

***

–UAAAAH!! - Exclamou a jovem, se espreguiçando e olhando para o céu. - Sol, que saudade!!

O garoto atrás dela terminava de fechar a sua jaqueta e olhou para a jovem pelo canto do olho.

–Você parece bem...

Ela se virou para ele e sorriu.

–Hunf! Nada que uma boa noite de sono não pudesse resolver. - Afirmou, radiante como sempre costumava estar. O garoto deu um sorriso pequeno.

–É, ainda bem que a Mei voltou ao normal e não está mais balbuciando coisas estranhas.

–Ei! - Ela exclamou vermelha. - C-Como assim?

–Nada, nada.

A jovem estufou as bochechas, apesar da febre, ela se lembrava vagamente da noite anterior, mas achou melhor não comentar nada e nem continuar o assunto.

Mas...

–Ei, Hyuu!

–O que fo...

Ele sentiu algo macio e quente tocar-lhe a bochecha, a jovem se apoiou no ombro do mesmo e ficou na ponta dos pés. Por que ele tinha que ser mais alto que ela?

Ao soltá-lo, olhou nos olhos do mesmo e sorriu, sem ligar para as bochechas levemente rosadas.

–Obrigada. - E se afastou, ainda com um sorriso no rosto, mas de costas para ele não perceber.

Já o jovem, ficara tão vermelho quanto sua jaqueta e olhos.

–D-De nada. - Murmurou, colocando a mão no lugar onde ela beijara.

Hm, é. Dias de chuva não são tão ruins assim.