Minha cabeça doía.  Rolei na cama tentando achar uma posição melhor, mas sem sucesso.

Espera, quando eu vim parar na cama?

Abri os olhos rapidamente e tentei acostumá-los a claridade. Pus as mãos na cabeça e respirei fundo e então me dei conta de onde estava. No quarto de Daron.

Levantei-me rapidamente, andei até a porta e desci as escadas. Ouvi um barulho vindo da cozinha e fui para lá.

— Acordou, Aurora? — A voz de Jess invadiu meus ouvidos.  Ela estava com uma pose relaxada sobre a mesa enquanto tomava um suco.

 — Aurora? — Esfreguei os olhos e peguei um copo com água.

— É o nome da Bela Adormecida. Sua sem cultura. — Revirou os olhos.

— Onde estão os seus pais? Eles já deveriam ter chegado. E que horas são? — Disse de uma vez.

— São 10:40. Meus pais estão na casa de praia dos amigos deles, algo que você saberia se não estivesse se pegando com o meu irmão no quarto dele... — Ela me olhou repreensiva.

— O QUÊ? — Quase engasguei. — Eu não estava... Ah! Não fiquei fazendo nada com o seu irmão. — Pelo menos não que eu me lembre.

—Não, só estavam em cima da cama fazendo coisinhas. — Ela riu maliciosamente.

— Eu não estava fazendo nada! — Cruzei os braços.

— Você está na defensiva. — Cantarolou.

Revirei os olhos e bufei.

— Tudo bem, tudo bem! — Ela ergueu as mãos se rendendo. — Tem mais uma coisinha: — Eu a olhei pelo canto do olho. — você cozinha.

~●~

Depois de estar devidamente arrumada, desci para fazer o almoço. Não era a melhor coisa do mundo, mas também não era a pior. Organizei o material necessário na bancada, procurei as panelas e lavei as mãos.

Estava cantarolando uma música qualquer enquanto despejava o molho de tomate em uma vasilha quando senti que alguém estava me observando. Virei-me lentamente e encontrei os olhos azuis do garoto perto da bancada.

— Spittle. — Disse seca.

Ele não disse nada. Mas o silêncio que ele fazia me deixava incomodada. Não gostava que as pessoas ficassem me vendo cozinhar.

— Você pode parar com isso? — Virei-me para ele.

— O que eu estou fazendo? — Ergueu uma sobrancelha.

— Saia daqui. — Respirei fundo. — Por favor.

Mas de nada adiantou. Ele continuou lá. Com aquela boca provocante que ontem mesmo beijou a Vanessa.

Mas ele não teve culpa, ela quem o beijou.

Não! Ele não fez nada para impedir, então ele tem culpa.

Afinal, culpa de quê?

Sem querer, a vasilha caiu de minha mão e derramou o molho de tomate no chão, sujando, também, meus pés.

— Ah, droga! — Exclamei.

— Sabia que uma hora isso iria acontecer. — Ele deu um risinho de canto.

Revirei os olhos.

— Se você não ficasse me desconcentrando isso não teria acontecido.

— Eu não fiz absolutamente nada. — O sorriso dele aumentou.

Bufei.

— Como você é chata, Megan. — Daron se aproximou, ficou na minha frente e abaixou-se para que seu rosto ficasse da altura do meu. — Vá limpar os seus pés. Eu cozinho — Ele olhou por molho no chão. — e limpo isso.

Cruzei os braços e saí batendo os pés.

Depois de limpar meus pés, desci e encontrei Jess e Anna na sala.

— Pensei que havia dito que você iria cozinhar. — Jess disse sem tirar os olhos da televisão.

— Hm... — Joguei-me na poltrona perto delas.

— E ai? Como foi a noite de vocês? — Ann inclinou-se para frente e colocou as mãos no queixo demonstrando interesse.

Respirei fundo.

— Foi ótima! Perfeita! Melhor impossível.

— Uau! Foi boa mesmo. — Anna riu e bateu as mãos.

— Não percebeu o meu sarcasmo?

— E você não percebeu o meu? — Revidou.

— Você não estava sendo sarcástica, Annie. — Usei a alcunha que ela mais detestava: Annie. O ex-namorado dela a chamava assim e desde que ela o pegou beijando uma menina no vestiário – e consecutivamente terminou o namoro -, odeia que a chamem assim.

— Argh! Não me chame de Annie! — A última palavra foi pronunciada com certo nojo.

— Annie, Annie, Annie! — Levantei-me na mesma hora que ela e ficamos cara a cara.

— Parem vocês duas! — Jess nos afastou. — Estão parecendo duas crianças. — Ela nos olhou séria.

Afastei-me e voltei a sentar na poltrona.

— Desculpe. — Murmurei.

— Tudo bem. — Ann saiu andando em direção à escada.

— Maggie, você sabe que isso ainda é um assunto muito sensível para ela. Poxa! A garota viu o namorado no maior amasso com uma garota. Isso a machucou muito, e você sabe. — Depois de dizer isso, Jessica subiu.

— Acho que você não deveria ter dito aquele apelido. — Daron disse, enquanto se aproximava.

— Alguém pediu a sua opinião? — Retruquei.

— Tudo bem, senhorita mal-educada. — Ele ergueu as mãos. — Só acho que você não deveria ter feito isso só por causa de uma pergunta besta. — Me virei pronta para sair dali, quando senti o hálito de Daron na minha orelha. — Diga a elas o que querem ouvir. Diga que nós nos divertimos muito. — Ele soltou um risinho e depois beijou meu pescoço delicadamente. Estremeci com o toque.

— Daron...

Ele continuou dando beijos em meu pescoço, virou-me e beijou minha bochecha e, logo em seguida, o canto de minha boca. Afastei-o rapidamente.

— Não faça isso. — Disse séria.

— Eu sei que você quer.

— Não. Ontem mesmo você beijou a Vanessa.

— Então é isso mesmo? Você está com ciúmes? — Corei.

— N-Não é isso! — Gaguejei.

— Então o que é? — Ele ergueu uma sobrancelha.

— Só pensei que... Ahn... Você gosta dela? — Eu perguntei isso mesmo?

— Por quê?

— Ahn... Você não deve fazer isso a não ser que você goste da pessoa.

— Isso não é verdade. O jogo da garrafa está de prova.

— Então quando você me beijou não significou nada? — Acho que eu só queria soltar essa pergunta e não ouvir a resposta.

Ele ficou calado por um tempo.

— Foi o que eu pensei. — Suspirei.

— Megan. — Olhei diretamente para aqueles olhos azuis intensos. — Com você tudo é diferente. Você é chata, teimosa, irritante, estressada e, sinceramente, muito ruim brigando.

— Isso é pra me deixar feliz? Porque você só está listando o que há de ruim em mim.

— Você vê isso como defeitos, mas eu vejo como as suas melhores qualidades. Sem contar que é divertido ver quando você se estressa comigo. Todas as vezes em que eu me aproximo e você fica vermelha, como agora. — Instintivamente coloquei a mão no rosto. — E quando você gagueja quando tenta desmentir algo. Até mesmo quando você fica na defensiva.

— Ahn...

— Eu acho que você é meio lerda também. — Acrescentou.

— Obrigada! — Disse com sarcasmo.

— Preste atenção: — Ele segurou o meu rosto de modo que a distância entre nós era mínima. — Eu... — Ele se interrompeu.

— O que foi?

Ele soltou uma risada curta.

— Eu gosto de você, Megan.