O clima estava pesado na cabine onde os dois exorcistas estavam. O ar parecia estar cheio de uma tensão invisível e ao mesmo tempo coberto por uma nuvem magnética que atraia os olhares um do outro, impedindo que se desviassem. O silêncio reinava no recinto até que um deles resolve quebrá-lo de uma maneira, no mínimo, inesperada.

- Moyashi, você tem pernas grossas. - Comentou o samurai depois de muito tempo secando o albino com um olhar pensativo.

- K-K-Kanda! Enlouqueceu? - Exclamou Allen tentando disfarçar o quanto ficara vermelho com aquelas palavras. Impossível, o pequeno mais parecia uma cereja.

- Hmmm... Senta aqui. - Falou simplesmente e Allen teve que se controlar para não ter uma síncope e cair durinho no chão.

- O QUÊ?! - Surtou se levantando do lado de Kanda, mas este o puxou de volta, derrubando-o sobre seu colo.

- Não assim. Com uma perna de cada lado. - Continuou o moreno, arrumando a posição do albino sobres suas pernas como se aquilo tudo não fosse nada demais para si.

Na verdade era, era mais do que o garoto de cabelos cor de neve podia imaginar.

- O q-que quer comigo afinal? - Perguntou o pequeno sentindo seu corpo esquentar com o toque firme de Kanda nas suas coxas.

- Provar uma teoria. - Respondeu aproximando-se dos lábios do menor.

- Que teoria? - Indagou sentindo seus lábios roçarem levemente nos de Kanda, como da última vez...

- Que eu deveria ter feito isso há muito tempo... - Sussurrou rapidamente, para logo em seguida selar os lábios de ambos em um beijo ardente, porém calmo.

- - - - - - - - - - - - Uma semana atrás - - - - - - - - - - - - - - - - - -

Kanda saia de dentro do prédio tropeçando nos próprios pés e enxergando cores que não deveria. O mundo a sua volta rodopiava e ele não sabia se sentia seu corpo quente ou frio.

"Merda, aquele Usagi filho da puta batizou minha bebida."

Komui havia decidido dar mais uma daquelas festas irritantes, de botar a ordem abaixo e de fazer todo mundo acordar de ressaca no dia seguinte. Mesmo assim, segundo o supervisor, era necessário que todos tivessem uma ocasião para relaxar, ou iriam acabar surtando.

Kanda só tinha ido por causa da bebida, odiava comemorações de qualquer tipo, e odiava mais ainda comemorações que não tinha o que comemorar. Ele não tirava a razão do supervisor, e embora não admitisse, até mesmo o exorcista de gelo precisava de uma folga.

Sem conseguir manter-se de pé decentemente, o moreno se deitou em um banco qualquer da praça externa da ordem - que ficava no meio de um bosque -  observando distraidamente as árvores coloridas que pareciam dançar a sua volta. Ele realmente deveria estar muito chapado. Poderia jurar que haviam pontinhos brilhantes saltitando pelo ar noturno.

Suspirando pesadamente ele começou a prestar atenção nas cores vivas e variadas das folhas que flutuavam com o vento. Valia a pena pensar em qualquer coisa que não fossem aqueles olhos prateados que não desgrudaram de si a noite inteira.

Ah, como queria aquele pequeno... Desejava-o, e desejava insanamente. Mas sabia que iria continuar desejando, o pirralho só mostrava interesse pela Lenalee, e assim continuaria sendo ao ver do samurai. Kanda não era do tipo que conseguia ser especialmente próximo de ninguém, e quando queria ser, como nesse caso, escolhia ficar ainda mais longe. E as circunstâncias o ajudavam ainda mais na tarefa.

"É incrível, eu fico tentando não pensar nele, e quanto mais tento menos consigo. Que bruxaria é essa?"

Imerso nos próprios pensamentos, o moreno caíra no sono sem nem ao menos perceber que aqueles olhos prateados ainda o observavam.

Era fácil para Allen perceber que Kanda estava dormindo. Seu rosto estava extremamente calmo, transbordando uma serenidade que combinava com o local escuro e silencioso.

Os dedos do pequeno passeavam suavemente pelo rosto do moreno, ora brincando com a sua franja, ora desenhando o contorno de seus lábios. Para Allen era quase um sonho ter Kanda tão manso assim ao seu lado.

E era uma chance que não podia, nem queria desperdiçar.

Talvez fosse culpa da não tão grande quantidade de álcool que ingerira, ou só o desejo que vinha reprimindo dentro de si desde a primeira vez que pusera seus olhos no exorcista de cabelos longos... Não sabia dizer. Não importava.

Sem hesitar, Allen subiu no colo de Kanda, acomodando-se com uma perna de cada lado, para depois se inclinar sobre o corpo do maior, roçando levemente seus lábios, apenas sentindo a textura do outro.

Allen tinha que concordar que Kanda era suave demais para ter o temperamento que tinha. Seu rosto tinha traços longos e delicados, seus lábios eram macios... Era difícil acreditar que algo tão belo era um verdadeiro demônio quando acordado.

O coração do britânico batia descompassado, e o desejo parecia se intensificar a cada toque. Seu interior, sua alma, ansiava pelo moreno a sua frente, queria, ou melhor, precisava tocá-lo mais profundamente.

Ainda se controlando, o albino passou a língua de leve pelo lábio inferior do maior, aproveitando cada segundo, para depois mordiscá-lo suavemente, com medo de acordá-lo.

Estava indo tudo bem, até sentir umas certas mãos subirem pela sua coxa e praticamente lhe arrancarem um suspiro de deleite que com certeza seria ouvido se tivesse alguém nas proximidades. Tocar um Kanda inconsciente era bem diferente de ser tocado por ele.

Avaliou rapidamente a expressão do moreno e percebeu que este estava apenas minimamente consciente, mas que poderia acordar a qualquer momento. E se isso acontecesse, ele estaria morto.

Porém, mesmo assim, não pode segurar a vontade de ousar um pouco mais, inclinando-se novamente e roubando um beijo dos lábios de Kanda. Um beijo que nunca imaginara que iria ser correspondido.

“ Nunca pensei que ia ficar tão feliz descobrindo que o BaKanda é sonâmbulo..."

- Hmmmm... - Kanda gemeu manhosamente, aprofundando o beijo, subindo as mãos pelo corpo do menor até alcançar sua nuca, fazendo um breve carinho ali que Allen adorou.

Suas línguas se tocavam gentilmente, as mãos de Allen que antes se espalmavam no peito do moreno, agora deslizavam pela sua cintura, sentindo a pele quente por baixo a camisa social escura, fazendo o moreno se arrepiar.

Se dependesse apenas de si, Allen nunca mais sairia dali, jamais abandonaria aquele doce sonho, mas uma voz cada vez mais próxima o fez encerrar aquele beijo tão desejado.

- YUUUU-CHAAANN! CADÊ VOCÊ? - Lavi estava tão perto dos dois, que se estivesse completamente sóbrio, os veria facilmente através da folhas. O que não era o caso.

Percebendo que Kanda começara a despertar com o barulho, Allen saiu rapidamente de cima do maior, sussurrando um "eu te amo" no ouvido do samurai antes de sumir pelo bosque.

E Kanda acordou logo em seguida, ainda ouvindo a voz do pequeno em seu ouvido, e envolto na doce lembrança de um sonho que pareceu um tanto real demais.

- - - - - - - - - - - - - - -  Agora - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - -

As roupas de ambos jaziam espalhadas pela cabine. Mesmo estando na Rússia, onde fazia um frio terrível no inverno, só precisavam do calor do corpo um do outro para se manterem aquecidos.

Havia sido uma longa viagem, que fora muito bem aproveitada diga-se de passagem, e agora Allen queria apenas adormecer naqueles braços fortes que o envolviam de maneira tão aconchegante.

Não havia a mínima dúvida de que nasceram um para o outro, se completavam em todos os sentidos possíveis ao mesmo tempo em que tinham muito em comum.

- Kanda... Quero ficar mais assim com você... - Murmurou o pequeno se encolhendo mais contra o corpo do maior.

- E nós vamos... - Respondeu o moreno fazendo um carinho nos cabelos alvos como neve. - Ainda tem o hotel, e a longa viagem de volta, e a ordem...

Só de imaginar as possibilidades, Allen sentia o corpo ferver. O que não passava despercebido por Kanda que tinha o corpo colado ao seu.

- Que Moyashi mais ninfomaníaco você é... - Sussurrou o moreno, mordendo carinhosamente o pescoço do menor que se arrepiou dos pés a cabeça.

- Algum problema com isso? - Retrucou Allen com um olhar travesso, deslizando tortuosamente pelo corpo do maior até alcançar seus lábios.

- Absolutamente nenhum. - Respondeu com as orbes negras ainda mais escuras de desejo antes de puxar o albino para um beijo de tirar o fôlego.

Toda história tem um começo, por mais confuso que seja, um meio, geralmente turbulento, e um fim.

Eles estavam cientes disso.

Mas quando se tratava de um casal tão teimoso e apaixonado como esse dois, após o fim com certeza teria uma continuação...