"O som de Nirvana abafava os estalos das garrafas de vidro batendo contra o mármore da pia e os gritos altos femininos e masculinos...

Desde que Ann foi embora eu me sinto vazia, ainda mais do que já me sentia, e meus pais simplesmente enlouqueceram... Eu sou praticamente invisível nessa casa, exceto quando faço algo que os irrita, mas o fato é que eles encaram nossa Ann como o pilar da família, e agem como se ela tivesse morrido.

Eu sei que ela vai voltar, porque ela me ama... Mas não consigo imaginar quanto tempo tenho que continuar firme.

Uma buzina alta e irritante, provavelmente de uma moto, gritava na frente de casa, e eu podia imaginar ser Amitiel montado em sua moto meio vintage. Harley Davidson.

Corri e desci as escadas antes que ele alertasse meus pais, mas quando abri a porta minha oportunidade de sair daquela casa e espairecer as ideias em cima da garupa de Amitiel foram destruídas por um cara vestido de amarelo.

– O que você quer?

– Tem alguma Verônica aí?

– Sim, sou eu.

– Carta.

E ele simplesmente jogou a carta em cima de mim e foi embora. Quando li o nome Antonella no remetente uma onda de alivio tomou meu corpo. Eu voltei pra dentro de casa e subi as escadas, calmamente, diferente de como fazia sempre... Adentrei meu quarto com suspiros profundos e acolhedores. Sentei na minha cama e abri a carta.

“Queria desesperadamente poder realizar sua vontade e retornar sem pensar duas vezes. Porém, mais do que eu, você sabe quantos obstáculos existem para minha volta imediata, antes que esses 7 dias passem.

Minha aceleração cardíaca foi diminuindo a medida que meus olhos percorriam as palavras que escrevestes e até que o significado delas fizessem sentido para mim. As inúmeras possibilidades que atravessam minha mente sobre o real motivo de tanta angústia me assustam. Por que você sempre foi a mais forte de nós duas, e a remota probabilidade de que alguém está invadindo a grande fortaleza que você sempre manteve intacta, tira minha paz mental, física e emocional.

A maior parte das nossas cartas descrevem claramente os meus sentimentos pelo Amitiel, então acho desnecessário repetir o que você certamente está ciente. É esmagadora a ideia dele conseguir fazer você pensar inverdades sobre sua capacidade. Verônica, VOCÊ É UMA BOA MULHER. Esse simples papel parece inadequado para enumerar todas as coisas que comprovam o quanto você é BOA. Por favor, aguente firme. Vou precisar de você quando descobrir o motivo de sua revolta com o Miguel. Vou precisar da segurança dos seus olhos, do seu abraço brusco e reconfortante, das suas palavras impensadas e do seu modo único de me fazer entender a seriedade da situação.

Eu estou com medo. Sei que é horrivelmente monstruoso te dizer isso agora. Mas, eu estou com medo Verônica.”

O papel molhou um pouco... Molhou de fraqueza... A fraqueza que eu não podia deixar tomar minha alma e muito menos meu corpo.

Ela estava com medo... E eu estou aqui para defendê-la... Protegê-la... E é isso que farei.

“Não se preocupe. Não tenha medo. Eu sou forte por mim e por ti. Apenas volte... É só a saudade que falou mais alto, fique calma... Você sabe como sou exagerada... Só te quero perto de mim de volta.”"