A Primeira Família de Esther escrita por Giullia Lepiane


Capítulo 12
Complicações


Notas iniciais do capítulo

Dedico este capítulo ao Marco Aurélio, que recomendou a história.
Boa leitura!



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- Céus, Mandy, como você está pesada! – Riu-se Geraldine, a avó das crianças, quando tentou dar um giro segurando Mandy e quase caiu com ela, assim que Leon, Mandy e Esther foram em direção a ela e o marido no aeroporto.

- É que eu já estou grande. – Explicou a menina, sorrindo imensamente, o que só fez Geraldine dar mais risada ainda.

- Sim, você está enorme.

- Oi, vó. – Cumprimentou Leon, também abraçando-a, depois de já ter abraçado o avô, mas ela o soltou bem rapidamente.

No momento em que viu Esther, a garota por quem estava ansiosíssima para conhecer, ela teve de ir abraçar a ela no mesmo instante, se desvencilhando do outro neto.

- Então você é a Esther. Prazer em conhecê-la.

- O prazer é todo meu. Espero que os próximos dias aqui sejam bem agradáveis. – Respondeu a garota, com um sorriso, deixando a senhora um pouco chocada com a formalidade dela.

- Também espero, meu bem.

- Privet, Esther. – Disse Roland, o avô, num russo risível. Ele não sabia falar algo da língua além desta palavra, e ainda pronunciava errado, como se a sílaba tônica fosse o “pri”, e não o “vet” como realmente era.

- Privet. – Ela respondeu, da maneira certa, indo abraçá-lo também.

- Ou isso. – Ele retrucou.

A família terminou de se cumprimentar, e logo seguiram para o estacionamento, pegar o carro para poderem ir para a casa do casal.

Geraldine foi na frente com Esther, e atrás vieram Roland com Leon e Mandy. E ele ainda se certificou de que estivessem atrás o suficiente para não serem ouvidos quando ele se virou para os dois e perguntou, fazendo graça:

- Ela sempre se veste dessa maneira?

- Sim, sempre. – Respondeu Leon, revirando os olhos ao pensar nos hábitos de vestimenta da garota.

- Por que vocês falam como se as roupas dela fossem feias? Eu gosto. Elas são fofas. – Disse Mandy.

Roland e Leon se entreolharam. Ambos sabiam que era perigoso falar esse tipo de coisa perto de meninas de oito anos.

- Eu também gosto. – O avô consertou. – Eu e o Leon estávamos brincando.

- Ah. – Ela pareceu convencida.

Mesmo assim, eles continuaram até o carro e de lá, até a casa de Roland e Geraldine, tomando cuidado para manterem o assunto bem longe deste.

Aquele dia foi bem agradável, como Esther dissera que esperava. A casa deles tinha três quartos vagos, que sempre eram ocupados pelos Sullivan quando eles iam viajar para lá. O casal preparara o quarto em que Eliza e Rick sempre ficavam para Esther, e Leon e Mandy ficaram, cada um, com o que eles estavam acostumados.

Roland perguntou para Esther pelo menos mais quinze vezes como se falava determinadas palavras em russo, repetindo-as de maneira errada depois, fazendo todos rirem, menos a própria Esther, que se limitava a sorrir de maneira educada.

Eles também permitiram que as crianças ficassem acordadas até depois da hora que os pais delas definiam sem possibilidades de alteração. Leon e Mandy se animaram com isso, mas Esther se recolheu no horário certo, dizendo que estava muito cansada para ficar até mais tarde naquele dia. Ninguém deu muita importância para isso, exceto talvez Leon, que a olhou de maneira aflita enquanto ela saia da sala, onde eles estavam, e ia para o quarto. Mas, como todos já haviam reparado, ele a olhara assim o dia inteiro.

Roland e Geraldine pensaram em lhe perguntar o porquê, depois que a menina saiu do aposento, mas algo lhes disse para não fazerem isso.

O que não impediu Mandy de fazê-lo, no dia seguinte.

Leon, que tomara o café da manhã rapidamente, estava indo buscar algo no quarto dele, enquanto os outros estavam terminando de comer. Se os avós, que os viram no dia anterior, estavam curiosos para saber o motivo do olhar estranho que Leon lançava para Esther, Mandy, que já estava reparando nisso havia dias, estava muito mais.

Ela se levantou da mesa, sem dar explicações, e foi atrás do irmão mais velho.

- Leon! Leon!

- Eu. – Ele parou na metade do caminho, e se virou.

- Quero te perguntar uma coisa. Promete que vai responder?

- Depende. Para de me fazer prometer as coisas, Mandy, que coisa chata.

Ela olhou em volta, para se prevenir de que Esther não estava parada lá perto, e então falou, quase num sussurro:

- Por que você tem olhado para a Esther estranho, esses dias?

- Não tenho, não. – Ele imitou o tom dela.

- Tem sim.

Foi a vez dele de olhar em volta.

- Certo, talvez eu tenha, mesmo. Mas eu não vou te contar o porquê, Mandy, e algum dia você vai me agradecer por isso.

Leon estava quase certo de que a culpa por Mandy ter tropeçado no skate dele e se machucado foi de Esther. E de que a morte de Ashley também o foi, e John Murray não teve algo a ver com aquilo. Mas não tinha coragem de contar a alguém, nem à irmã menor. Ele sentia que colocaria a pessoa em sério perigo, se contasse a ela, e já bastava a sensação que ele constantemente tinha de estar, ele mesmo, em apuros.

- Conta. Por favor!

- Não.

- É porquê ela parece estar por perto toda vez que alguém próximo morre?

Leon ficou completamente boquiaberto com a conclusão dela.

- Você também reparou?

- O Brian foi a primeira pessoa a morrer. E ele tropeçou na mochila da Esther. E a Ashley foi assassinada no quarto dela. – Ela falou, lentamente.

- Ah! Você reparou mesmo! – Exclamou, ao mesmo tempo preocupado e aliviado. – Por que parece que só o papai e a mamãe não reparam?

- Talvez seja porque eles querem acreditar que foi aquele homem.

Leon não tinha parado para pensar nisso. Mas, realmente, os pais deles acreditavam piamente que John Murray havia matado Ashley, e esse era o fator mais incriminador de todos. Sem ele, era mais difícil ligar os pontos que mostravam Esther no meio de tudo isso.

- É verdade. Então, Mandy, vamos guardar isso para nós dois, tudo bem? Até descobrirmos o que podemos fazer, não vamos contar para alguém. – Ele falou. Tinha medo de que Esther fizesse algo contra eles, caso descobrisse que eles estavam a dedurando para alguém.

- O que vocês dois não vão contar para alguém? Eu gostaria de saber.

Os irmãos gelaram ao ouvir a voz.

Esther caminhava na direção deles pelo corredor, séria e com o olhar muito frio. Em sua mão direita, ela carregava uma pequena lâmina que cintilava sob a luz do dia, que invadia o corredor pelas janelas por lá espalhadas. Um estilete.

Leon estava surpreso por ter sido pego no flagra por ela, mas Mandy estava surpresa porque, mesmo desconfiando levemente de Esther, nunca a imaginara assim. E a garota que brincara com ela durante vários dias? E a irmã que ela amava?

Certamente ela era bem diferente da menina que agora parava diante deles, apontando-lhes um estilete. Mandy soltou um gritinho abafado, e correu até o irmão, ficando ao lado dele.

Esther esperou por mais alguns segundos, mas por fim falou, impaciente e com a voz rascante:

- Eu fiz uma pergunta.

Como novamente não recebeu resposta, num movimento rápido, brusco e forte, ela pegou o braço de Mandy e puxou-a para si, pressionando a lâmina ao lado do pescoço delgado da criança, que começou a choramingar baixinho, mas sem fazer um barulho muito alto com medo de irritar Esther e fazê-la mostrar que não estava blefando.

- Solte-a! – Exclamou Leon, chocado, sem saber ao certo o que fazer para socorrê-la. Olhou de uma para outra várias vezes, sentindo o coração bater como um tambor em seu peito.

- Só depois que você responder.

- Responder a quê? – O susto o fizera parar de raciocinar direito. A pergunta saiu antes que ele pudesse impedir.

Esther olhou-o como se ele houvesse acabado de contar uma piada irritante e sem-graça, e pressionou o estilete com mais força no pescoço de Mandy, ainda sem chegar a realmente cortar, mas já bem próxima disso. A menina fechou os olhos.

- Não! – Leon fez um sinal frenético balançando as mãos, pedindo para ela parar.

- Até onde vocês sabem? – Rosnou Esther. – E se eu fosse você, pulava a parte em que você finge não saber de nada, porque minha paciência para com vocês já se esgotou.

- N-Nós achamos que tudo de mal que tem acontecido recentemente é culpa sua. – Ele avaliou, apavorado, a expressão dela, que não se alterou. Mesmo que a resposta tenha sido muito resumida, era a verdade.

- Especifique.

- A morte de Brian. De Ashley. Tudo. – Leon fez uma pausa, mas depois acrescentou, desesperado: - Mas não vamos contar a alguém! E era justamente isso que estávamos combinando quando você chegou!

- E como posso ter certeza?

- Por favor. – O garoto estava, ele mesmo, quase começando a choramingar. E aparentemente Esther só dissera aquela última pergunta almejando aquela reação dele, porque se deu por satisfeita com seu mero “por favor” e soltou Mandy, que correu, chorosa, até os braços do irmão.

Esther ficou parada olhando para eles por mais um curto tempo, e depois guardou o estilete no bolso do vestidinho azul-marinho e começou a se afastar, possivelmente de volta para a cozinha terminar o café.

Mas ao vê-la indo embora, não mais segurando uma arma e de costas, Leon não aguentou. Impulsionado pela raiva que vinha depois do medo, ele soltou Mandy, correu até Esther e a empurrou com força ao chão.

Ela caiu de bruços no chão de madeira, com um estrondo. Sua mão correu até o bolso onde estava a lâmina, mas Leon a segurou para que não a pegasse.

- Leon, para! – Berrou Mandy, ainda mais amedrontada.

- Leon, está machucando! Por que você está me batendo? Para, para! – Gritou Esther, de volta com sua voz meiga e infantil, e a mudança deixou Leon confuso, fitando-a sem entender.

Mas o motivo disso, na verdade, estava de pé bem na frente dele em forma de sua avó, olhando-o horrorizada e perguntando:

- Leon, o que deu em você? Solte-a imediatamente!


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Notas finais do capítulo

Até o próximo capítulo!