Pouco tempo depois de eu ter cruzado a porta de entrada do apartamento, Naruto chegou atrás de mim.

- Sakura, deixe-me explicar.

- Existe alguma explicação que não seja uma nova mentira? – gritei.

Eu estava bem irritada.

- Sakura...

- Não diga nada! – disse apontando o dedo em sua cara.

- Mas...

Eu gesticulava enquanto falava.

- Eu não preciso que me conte nada, eu já entendi. Você estava indo se divertir naquele bar de estrangeiros, bom, pelo visto arrumou até uma companhia bem bonita...

- A Hinata?! – Naruto fingiu-se de desentedido.

- Hinata, bem – eu o cortei – esse é o nome dela? Mas isso não me diz respeito, não é mesmo?

- Sakura me escute – Naruto insistia em querer se explicar.

Eu respirei fundo.

- Naruto, você teve a chance de me contar, e não o fez. Agora não preciso ouvir suas explicações.

Naruto andou em minha direção. Eu recuei dois passos para trás, senti meu calcanhar encostar à borda inferior do sofá. Coloquei minhas mãos espalmadas em seu peito a fim de evitar que Naruto se aproximasse demais de mim.

- Não se aproxime mais! – ordenei-lhe.

Naruto segurou em meus pulsos, e me empurrou fazendo-me cair em cima do sofá. Ele segurou meus pulsos acima de minha cabeça e colocou um joelho de cada lado de meu tronco cobrindo meu corpo.

- Solte-me – ordenei-lhe enquanto me debatia.

- Sakura, eu te amo, e não é mentira!

Eu parei de me debater e senti meu corpo perder as forças. Virei meu rosto para o lado.

- Quem eram aquelas pessoas? – perguntei.

Repentinamente eu quis saber o que Naruto me escondeu todo esse tempo. As palavras de Naruto me fizeram ceder em minha raiva e irritação.

- Elas estão ajudando na missão.

Voltei meu olhar surpreso para Naruto. Pessoas ajudando na missão?!

- Por que não me contou sobre elas? – perguntei num tom mais calmo.

As mãos de Naruto, que seguravam meus pulsos, afrouxaram, e ele desviou o olhar para a lateral.

- Eu não quero envolvê-la mais nessa missão – me disse num tom baixo de voz.

Eu coloquei minha mão sobre seu abdômen.

- Eu sou sua parceira, não sou?

Naruto olhou para mim e vi espanto em seu olhar que em seguida ficou calmo; ele me sorriu.

- Sakura, eu... – Naruto colocou a mão direita sobre meu rosto – eu não quero que se machuque.

Naruto puxou meu tronco para cima agarrando-o firme contra seu próprio tronco.

Nossos lábios se tocaram com suavidade e aos poucos o beijo aconteceu.   

Usando minha mão afastei o corpo de Naruto do meu.

- Não! – empurrei para o lado e saí rapidamente debaixo dele - é um erro nos amarmos. E o que aconteceu essa noite só prova que isso é verdade.

- Sakura...

Eu levantei-me do sofá.

- Não pode existir amor quando há mentiras!

Em meio a mentiras é perigoso se deixar levar por sentimentos. Essa era uma lição a qual eu custava aprender.

Dirigi-me ao quarto e parei a soleira da porta.

- Sakura, espere!

Virei-me para olhá-lo.

- Quem é você, Naruto?

A pergunta falava por si. Naruto ficou surpreso com a minha pergunta, ele nada disse, apenas virou o rosto para o lado. Eu entrei no quarto e bati a porta com força.

Deitei-me na cama, meu corpo estava agitado e meu coração disparado em meu peito fazia-me ter falta de ar. O sangue corria rápido demais por minhas veias e isso esquentava meu corpo a ponto de quase fazer-me ter febre.

Sentei-me na cama e voltei a ficar em pé.

Eu estava agitada demais para conseguir relaxar. Em minha cabeça milhões de pensamentos iam e viam sem que eu pudesse analisá-los, eu apenas pensava.

Fui até porta, eu estava decidida a voltar para sala e terminar a discussão com Naruto. Eu queria enfrentá-lo, queria fazê-lo falar mais sobre o que ele tanto me escondia. No entanto, acabei tirando a mão da maçaneta antes mesmo de girá-la; eu queria fazer Naruto falar, porém eu tinha medo de escutar suas explicações... mas por que eu tinha medo?

Sentei-me na cama. Eu me sentia uma idiota. Como eu podia ter me entregado a alguém que eu não conhecia? Por amor? Seria isso justificável... será que é certo nos entregarmos a um desconhecido por amor? E que sentimento é esse que vem nos deixa tão vulneráveis?

Amor... Eu me entreguei a ele por amor... Não, eu me entreguei a Naruto por solidão.

Essa era a verdadeira razão por eu ter me deixado levar suas palavras afetuosas e seu cuidado... eu estava sozinha há muito tempo.

Deitei-me sobre o macio colchão e encolhi minhas pernas até que meus joelhos ficassem próximos ao meu peito, eu uni minhas mãos a altura do peito; eu queria que alguém pudesse me abraçar naquela hora. Lembrei-me dos braços quentes de Naruto que me envolveram na noite passada... será que eu poderia ignorar tudo apenas para poder sentir novamente os braços fortes de Naruto envolta de meu corpo? Não... eu não podia faze-lo, por mais que desejasse ser abraçada novamente, eu não podia correr mais riscos ao lado dele.

Eu não conseguia entender porque Naruto estava com aquelas pessoas? Ele disse que elas estavam ajudando na missão, mas eu não as conhecia; eu nem sequer sabia que havia mais pessoas envolvidas nessa missão além de mim e do Naruto, claro que havia

Tsunade e Jiraya também... Tsunade e Jiraya, os agentes da KGB. 

Escutei a porta de entrada bater forte. Sentei-me na cama imediatamente.

Naruto havia saído de casa... novamente ele teria ido para aquele estranho lugar?

Levantei-me e abri a porta do quarto. Minhas pupilas dilataram e meu coração pulsou forte em meu peito, Naruto estava parado a soleira da porta do quarto com o braço direito estendido e a mão fechada em forma de punho, ele estava prestes a bater na porta do quarto.

- O que quer aqui? – perguntei nervosa já recuperada da surpresa inicial.

- Sakura, eu não quero mais que fique brava. Eu vou te contar a verdade.

Naruto estava disposto a me contar a verdade sobre aquelas pessoas que estavam com ele no bar.

- Não precisa contar...

Naruto me olhou surpreso.

- Eu não vou mentir...- jurou-me

Eu abri um meio sorriso.

- Eu sei que não vai... – eu respirei fundo antes de continuar – Você disse que não queria que eu me envolvesse ainda mais na missão, e bem, se disse isso é porque de alguma forma você está tentando me proteger de algo, por isso eu vou confiar em você... Afinal nós dois somos espiões, ter segredos é parte de nossa profissão.

Naruto me abraçou forte, tão forte que eu pensei que ele fosse me partir ao meio. Eu novamente estava entre seus quentes braços que, de uma maneira estranha, pareciam tão protetores e aconchegantes. Eu passei meus braços por debaixo dos dele, e também o abracei.

Segredos... Eu também tinha os meus. Eu não havia contado a Naruto que sabia que Jiraya e Tsunade eram agentes da KGB, portanto eu podia perdoar Naruto por não me contar quem eram as pessoas que estavam com ele naquele bar... Eu simplesmente tinha que confiar em Naruto.

Eu arriscaria me entregar a essa paixão, já não importava se eu me machucaria; ficar sozinha também machucava, e eu já estava cansada de sentir a dor da solidão. Por isso explicações não eram necessárias... pelo menos não naquele momento.