The Secret Weapon escrita por Pacheca


Capítulo 86
Leave Taking


Notas iniciais do capítulo

Depois de muitos anos, chegamos a esse dia, o fim. Obrigada a todos que leram, mesmo que só um pedacinho, dessa história. Espero vê-los por ai, um dia desses! Até lá. Boa leitura.



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/330799/chapter/86

Eu continuava com a venda ao redor dos olhos, mas mais acostumada com a falta de visão. Nasuada viera me ver no dia seguinte, também se recuperando dos seus ferimentos da prisão. Ela queria se certificar de que tudo que aconteceria dali para frente seria o melhor.

— Os Varden venceram, Nasuada. Logo, sua líder deveria assumir o novo reinado. Eu nunca fui criada para ser uma líder. – Argumentei quando, mais uma vez, ela me lembrou que a coroa era minha por direito.

— Você é uma líder, Capitã.

— Não melhor que você. Talvez soe egoísta, Nasuada, mas preciso te pedir para assumir essa responsabilidade no meu lugar.

— Muito bem. Devo me recuperar por completo logo, então. A coroação não tardará. – O silêncio poderia ser confundido com sua partida, mas não escutei sua cadeira se mover. – O que pretende fazer, agora?

— Não sei. Ainda não ouvi todos os relatos, vou começar por ai. Depois, veremos.

— Muito bem. A decisão dos outros talvez te ajude. Com licença.

Sem minha visão, sair daquele cômodo era impossível, então passei as horas esperando visitantes. Aidan voltou para conferir meus olhos, mas eles ainda não estavam totalmente recuperados. Sano viera primeiro, abraçando-me assim que me viu.

— Fiquei preocupado com você. – Ele explicou, me soltando. Franzi o cenho.

— Pelo que ouvi de Orun, você não esteve muito bem também. O que aconteceu?

— Passei muito perto daquele general do eldunari. Paguei o preço.

— Como se sente?

— Tão bem quanto eu poderia estar nesse estado. – Mesmo com a venda, ele deve ter visto minhas sobrancelhas afundarem. Ele tomou minha mão na sua e a guiou até segurar algo. Seu braço? – Pelo menos não foi meu braço dominante.

Arfei involuntariamente. Elrohir, ajudando a compor a cena que eu não conseguir ver ainda, me mostrou como Sano estava agora. Seu antebraço esquerdo não estava mais lá.

— Não pode mais usar uma lança.

— Não vou mais precisar. – Ele riu, tentando aliviar meu choque. – A guerra terminou, esqueceu?

— Bem, o que pretende fazer?

— Estive pensando bastante, talvez seja minha hora de ficar em algum lugar. Talvez aqui, talvez minha casa.

— Você era de Surda, não é?

— Sim, mas não tenho mais família por lá. Então, estou pensando em ficar por aqui, ajudando no novo reino. E você?

— Não sei ainda. – Finalmente soltei seu braço, suspirando. Aquela questão me assombrava. – Não me vejo montando uma vida aqui em Urû’baen.

— Se quiser ficar, provavelmente estarei aqui. – Ele falou. Percebi que Sano não esperava nada mais de mim. Eu tentara gostar dele como ele gostava de mim, mas nunca consegui. Chegava a me sentir mal por isso, mas ele não parecia se incomodar.

— Obrigada, Sano. Por todos esses anos.

Por mais que eu não gostasse de assumir, aquilo soava como uma despedida. Ele me deixou descansar e me deixou. Elrohir não comentou nada.

“Não quer dizer nada?”

“Você já tem muito com o que lidar, não precisa que eu te dê mais questões.”

Finalmente percebi a maturidade de Elrohir. Ele sempre tinha sido assim? Creio que sim, nos momentos sérios. Suspirei.

“O que você quer fazer, Grande?”

“Só quero estar com você, Pequena. Vou onde for.”

Não ajudava, mas era reconfortante. Sorri. Algum tempo depois da visita de Sano, Orun veio ter comigo. Ele agia menos formal, mais como amigo do que subordinado. Não me incomodava em nada.

— Seus olhos ainda não melhoraram?

— Aidan me disse que estarão novinhos em alguns dias.

— Muito bem. Acho melhor te deixar a par de tudo que aconteceu depois da nossa vitória. Já sabe que Nasuada vai assumir o trono, mas os elfos também ganharão uma nova rainha.

— Arya? – Ele confirmou.

— Ela também voltou a se responsabilizar pelo ovo de dragão que encontramos.

— O que mais mudou?

— Eragon fez alguma magia, não sei direito como, mas agora nós e os Urgals também podem ter um dragão. – Ergui o rosto no que imaginei ser sua direção, curiosa com a novidade. – União das raças, como ele mesmo disse. Ah, ele também se lembrou onde estão os ovos. Está buscando uma forma de guardar todos os eldunari.

— Parece trabalhoso. Ele pegou os que estavam com Galbatorix?

— Claro. Bom, Delrio vai voltar a navegar logo. Ela já veio te ver?

— Ainda não. Duvido que vá com ela, no entanto. Elrohir precisa de terra firme.

— Bom, fale com ela depois. Isso é o principal.

— O que aconteceu com Murtagh?

— O garoto está vivo, mas não se sabe para onde ele foi. Eragon disse que ele ajudou na luta final.

— Eu queria vê-lo, pelo menos para me despedir. – Suspirei.

— Nunca entendi muito bem essa relação de vocês.

— Murtagh foi meu amigo, mesmo quando não podia fazer muito. Ele é um bom rapaz.

— Talvez Eragon saiba para onde ele foi, não sei.

Fez-se silêncio por um instante. Elrohir simplesmente me acompanhava, como de costume, enquanto Orun esperava que eu dissesse algo. Finalmente, me ocorreu a única pessoa que ainda não havia sido citada.

— E Elwë?

— Não sei direito. – Orun confessou, parecendo sem jeito pelo tom de voz. – Ele não disse nada sobre seus planos futuros. Nem sobre partir, nem sobre ficar.

— Bom, obrigada Orun.

— Se precisar, estou à disposição. Com licença.

Foram dias lentos, naquele escuro da venda. Durante a noite, só depois que Aidan concordou, tirei-a por alguns momentos. Meus olhos ainda pareciam turvos, mas eu enxergava os vultos ao meu redor.

— Só mais alguns dias, tenha paciência. – Foi o que o mago me disse antes de me devolver a venda.

Tive a paciência. Nesse meio tempo, minha mãe viera falar comigo. Sua postura parecia diferente comigo, mas eu não entendia direito. Ela mesma explicou.

— A pessoa que você se tornou não tem mais nada a ver comigo, Silbena. – Ela suspirou. – Não que seja algo ruim. Todo pai deve estar preparado para ver seu filho caminhar com as próprias pernas.

— Vou sentir sua falta, Delrio, imensamente. Quem eu me tornei tudo tem a ver com você. Eu sou quem sou, porque você me criou para chegar aqui.

— Daqui para frente, não poderei mais fazer muito. Meu barco estará sempre de braços abertos, mas não sei como Elrohir caberá.

Ri. Aquele abraço era o primeiro que, abertamente, se declarava uma despedida. Eu sabia que já era grande o suficiente para viver sozinha, passara anos sem vê-la, mas ainda doía imaginar que aquilo era ainda mais definitivo.

— Que os bons ventos e as estrelas te guiem, mãe.

Quando meus olhos finalmente viram a luz de novo, eles já não me incomodavam mais. Tudo parecia tão mais colorido do que eu me lembrava. Era quase como Elrohir enxergava o mundo.

Pude ver minha mãe uma última vez, quando ela e Wayn foram embora. Não muito depois, Eragon decidiu partir também. Ele me convidou para ir com ele.

— Não vai ser possível criar os novos dragões aqui, mas podemos fazer lá, ao leste. – Ele se explicou. – Será melhor para nossos dragões também. Acho que lá, você pode encontrar algo sobre Elrohir. Pode voltar caso não queira continuar lá.

Elrohir parecia esperar minha resposta. A ideia de fato parecia a melhor opção para nós dois. Pensei um pouco.

— Arya vai conosco? Agora que o ovo se chocou para ela?

— Não, suas responsabilidades como nova rainha não permitem. – Eragon já não parecia mais tão triste quando falava da elfa.

— Só vamos nós?

— Acho que sim. Não sei de Murtagh.

— Muito bem. – Elrohir não queria mostrar, mas pareceu animado com o futuro. – Só preciso ver alguém antes.

Ele concordou, dizendo que terminaria de preparar tudo para nossa partida. Respirei fundo, tomando a coragem para fazer aquilo. Eu precisava tentar uma última vez.

O brilho dos seus cabelos o denunciou. Ele se virou antes mesmo que eu chamasse seu nome, paciente. Tomei alguns instantes para prender meus olhos aos seus, determinada.

— O que pretende fazer agora, Elwë?

— Não sei ainda. Talvez, com a nova rainha, eu possa voltar a ter um lar.

Depois dos anos fugindo de seu antigo clã, não ouvi convicção alguma na voz de Elwë.

— Venha comigo. – Falei, a voz quase num sussurro. O elfo pareceu não saber reagir.

— Já tivemos essa conversa.

— Há quanto tempo? As coisas mudaram, Elwë. Você só precisa querer me acompanhar. Lá, vai ser novo para nós dois. – Seus olhos não conseguiam mais me evitar depois disso. – Se seus sentimentos não correspondem aos meus, então eu aceitarei que você me rejeite, claro. Nós dois sabemos que são recíprocos.

— O tempo passado não pode ser ignorado.

— Não preciso ignorar tempo algum. Elwë, isso não me afasta de você. Eu também tenho no meu histórico experiências que você nunca vai viver, não como eu vivi.

— Silbena...

Ele parecia relutante, mas seus olhos o denunciavam. Arrisquei estender a mão, sorrindo para ele. Teimoso como sempre, ele insistia em hesitar.

— O medo do futuro compensa todos os anos de felicidade e amor? – Questionei, a mão ainda estendida.

Sua resposta foi a palma de sua mão sobre a minha e o sorriso que ele me deu. Elrohir grunhiu na minha cabeça, como se já estivesse perdendo a paciência.

Aquele era meu caminho. Juntos de Eragon e Saphira, deixamos a cidade para nosso novo destino. Perguntei a Eragon sobre Murtagh, ouvindo que ele decidira vagar pela Alagaësia até dominar sua raiva. Aceitei que não veria mais meu amigo, pelo menos, por um bom tempo.

Apesar do peso no meu coração por deixar tantas pessoas, Elrohir me consolava com sua presença.

“Está pronto, Grande?”

“Estou com você, Pequena. Não preciso temer nada. Também não precisa”

“Sentirei falta de todos eles. Sano, Orun, Nasuada, Aidan...”

“Eles farão parte do futuro próspero dessa terra. Você, do futuro dos Cavaleiros. Suas marcas serão seu maior orgulho.”

A minha marca, começando na palma das minhas mãos, agora estava a vista de todos. Os veios prateados que subiam por meu braço, atravessavam minhas costas e peito, enroscando-se pelo outro braço até a palma da mão também. Os das costas desciam até o quadril, e os do peito subiam um pouco para o pescoço.

“Ela já é, Grande.”

“Você tem seu dragão e o amor com você, Pequena. Ficará tudo bem.”

Concordei, olhando para Elwë mais uma vez, como se ele fosse sumir nesse meio tempo. Ele sorriu ao me ver fitando-o e retribui.

“Sim, Grande. Vai ficar tudo bem.”

Com isso, voamos seguindo Eragon e Saphira, cruzando o mar em busca daquela terra. O nosso novo lar.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Até mais!



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "The Secret Weapon" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.