Com que cara eu ia olhar para Nathan no trabalho segunda-feira depois daquela nossa festinha privada em sua casa? Foi essa a pergunta que me atormentou o fim de semana inteiro! Nós havíamos passado da conta em todos os sentidos. Na bebida, nas brincadeiras, na falta de inibição e principalmente na falta de bom senso! Fiquei pensando se aquilo não poderia me fazer perder a vaga de estágio na empresa. E se Dan Scott descobrisse que nós estivemos em sua casa naquela madrugada de sexta e fizemos algumas coisas não muito elegantes? Ele com certeza iria me demitir na hora. Não consegui parar de pensar nisso mesmo Nathan tendo dito que não havia problema algum. Eu me desculpei milhares de vezes depois que acordamos na manhã de sábado com uma tremenda ressaca. Mas ele insistiu que não tinha nada de mais e que deveríamos era repetir a dose mais vezes.

Para meu alívio não fui demitida e ninguém no trabalho parecia ter ficado sabendo do que houve, graças aos deuses! Nem mesmo Nathan chegou a comentar um “A” sobre o ocorrido. Ele era extremamente discreto durante as horas de serviço e eu agradeci imensamente por isso. Aos poucos fui deixando de me sentir envergonhada na presença do garoto e acabei aceitando que o que fizéramos não havia sido mesmo nada de mais. Só era incomum para minha realidade fazer coisas normais para jovens da minha idade. Deixei o trabalho cerca de meia hora mais tarde do que meu horário habitual. Tive que ajudar Peter com um projeto que estava lhe causando problemas há meses, desde antes de eu entrar na DSS. A forma como eu sugeri que ele solucionasse o assunto o deixou muito satisfeito e me rendeu alguns bons elogios. Voltei para casa feliz e saltitante de tanta alegria.

Fiquei ainda mais feliz ao chegar e encontrar Percy na cozinha preparando o jantar. Ele usava um avental de cozinheiro e estava sem camisa. O que o deixava extremamente sexy. Fiquei observando-o por um longo tempo sem que ele tivesse se dado conta da minha chegada. Quando me viu Percy levou um baita susto o que conseguiu deixá-lo ainda mais irresistível. O abracei, beijei e perguntei o que estava preparando para nós. Era um macarrão tipo pene com molho bolonhesa. Estava com numa cara ótima e meu estômago estava até roncando de ansiedade por prová-lo. Por sorte já estava quase pronto, então ajudei a colocar a mesa para comermos. Mais uma vez imaginei o que seria da minha rotina alimentar sem Percy? Provavelmente repleta de muitos fast foods e muitas refeições congeladas. Eu não tinha vocação nem paciência para cozinha. E havia percebido o quanto isso fazia falta quando ficáramos aqueles meses separados. Ter um chef particular realmente era muito bom.

Tirei os pratos e Percy disse que lavaria a louça enquanto eu tomava banho. Dei um beijo em seu rosto como forma de agradecimento e corri para o quarto. Deixei minha bolsa sobre a cômoda e separei uma roupa para colocar depois do banho. Estava calor demais para me trocar dentro do banheiro então deixei as roupas ali mesmo na cama. Entrei no banheiro e logo fui para debaixo do chuveiro. Tomei uma longa ducha morna, deixando meus músculos relaxarem bem. Quando desliguei a água e sai do box percebi que havia esquecido de pegar uma toalha limpa no armário. Não havia nem um roupão ou então alguma toalha de Percy disponíveis para eu me enrolar e sair do banheiro. Então não tive alternativa senão abrir um pequeno vão da porta e gritar por socorro. Aquilo era muito comum de acontecer, mas não comigo. Eu vivia dizendo para Percy não sair molhado do banheiro para não estragar os carpetes. Dessa vez, ele é que iria me dar uma bronca, afinal adorava quando era eu quem cometia um erro pra variar.

– O que houve? - disse ele alarmado ao chegar ao quarto e ver que eu assomava a cabeça para fora do banheiro. Devo tê-lo preocupado com meus gritos.

– Nada… É só que eu esqueci de pegar toalha, pode me dar uma por favor? - dei um sorriso forçado e falsamente inocente. Em seguida vi que Percy me analisava e levantava uma das sobrancelhas. Ah não, eu sabia o que aquilo significava, e não era nenhum pouco bom para mim.

– Não sei não - disse ele fazendo pose e enrolando de propósito. Eu sabia que ele queria me punir por todas as vezes que eu havia brigado com ele por aquele motivo - Acho que um erro tão grave como esse não deve ser deixado de lado assim. O que aconteceria se eu não estivesse aqui para pegar a toalha pra você, hein Annabeth? Você teria que sair do banheiro e molhar a “casa toda” para buscar sua toalha no armário? Ou você esperaria até escorrer até a última gota de água e então poder sair...

– Tá bom, Percy, já entendi onde quer chegar - cortei a dramatização dele - Fui burra de não me lembrar de pegar a toalha, eu sei. Me poupe do sermão…

– Ahhh claro, porque só você pode dar sermão por aqui, né?

– Mas é claro! - respondi com um sorriso provocador. Ele voltou a levantar a sobrancelhas e eu entendi que a “batalha” ainda não havia acabado. E quando Percy começava uma disputa como aquela, ele não parava até que alguém estivesse “morto”, figurativamente falando.

– Está bem, srta. Chase - seu tom de voz estava carregado de ironia e diversão. Ele estava adorando aquela brincadeira. Quanto mais eu ficasse irritada, mais divertido seria para ele - Pode dar as broncas que quiser. Já estou acostumado. Mas dessa vez terá que vir aqui e pegar sua toalha sozinha. O carpete não será poupado…

– Sério? - quis rir do que ele havia dito mas me segurei. Tinha que me fazer de durona e ao mesmo tempo não demonstrar minha irritação - Vai fazer isso mesmo? Não posso acreditar que seja tão infantil!

– Infantil? - ele fingiu estar surpreso e ultrajado - Não parecia ser infantil as vezes que você brigou comigo por eu fazer exatamente a mesma coisa…

O encarei por alguns minutos, séria. Tentei encontrar alguma brecha que me indicasse que ele iria ceder e acabar com a brincadeira. Que fosse se render e me entregar de uma vez a toalha. Mas Percy se manteve firme e não parecia que iria voltar atrás. O pior é que ele ficou lá, parado me olhando. Não parecia que iria sair do quarto e me deixar ir pegar a toalha em paz. Não, seria fácil demais. Ele ficaria ali para me ver tendo que sair nua e toda molhada para pegar a tal da toalha. Seria imensamente embaraçoso, mas de alguma forma aquilo estava me excitando. Eu sabia que ele iria manter seus olhos em mim o tempo todo de forma a me deixar o mais envergonhada possível. Veja bem, Percy já conhecia meu corpo muito bem, aliás possivelmente ele o conhecia melhor que eu mesma. Mas não costumávamos desfilar sem roupa um na frente do outro nem nada do tipo. Quando nos despíamos já estávamos entrelaçados e normalmente já deitados um sobre o outro. O fato de “me exibir” para ele, era algo completamente novo e estranho para nós. Mas nem por isso deixava de parecer interessante.

Com todos esses pensamentos eu me enchi de coragem e abri totalmente a porta do banheiro. Andei a uma velocidade normal, sem correr nem ir devagar demais. Fui até o armário e como eu havia imaginado, Percy não parou de me olhar em momento algum. Eu estava molhando todo o carpete mas por algum motivo não estava dando a mínima para isso. Só pensava nos olhos dele percorrendo meu corpo naquele momento. A luz estava acesa e com certeza dava para ele olhar tudo tintim por tintim. Parei e abri a porta do armário, ficando um pouco de costas para ele. Coloquei a mão na cintura como se pensasse “o que é mesmo que eu vim pegar?”. Levantei os braços para alcançar a prateleira mais alta e comecei a puxar uma toalha de cor rosa lá de cima. Antes que eu a pegasse, porém, fui surpreendida e maravilhada com a sensação de mãos percorrendo meu abdômen. Percy havia se aproximado tão silenciosamente que nem percebi que estava atrás de mim. Segurei suas mãos e as fiz parar de deslizar. Pelo caminho que elas tomavam eu não conseguiria ter concentração o suficiente para falar o que queria falar em seguida.

– O que está fazendo? - senti ele tirar as mãos de mim enquanto eu me virava de frente para ele - Quis me “punir” por eu ter esquecido a toalha, e agora quer se aproveitar da situação?

– Acha mesmo que eu ia ficar olhando você desfilar “desse jeito” na minha frente e não ia fazer nada? - ele enrugou a testa e ficou ainda mais lindo - Está superestimando o meu autocontrole, srta. Chase.

– De fato - respondi me aproximando mais dele, deixando meu corpo encostar na sua roupa - Na verdade eu estava contando com isso…

Um sorriso malicioso foi tudo o que consegui capturar na expressão dele antes da minha boca ser tomada pela sua. Percy foi me empurrando até que eu bati levemente contra a porta do armário. Ele colou seu corpo no meu e continuou me beijando ardentemente enquanto suas mãos desciam pelas laterais do meu corpo. Em seguida, com a maior delicadeza do mundo, Percy me pegou no colo e me colocou na cama deitada de bruços. Apoiei a cabeça sobre os braços e fiquei olhando para a parede só sentindo o que ele fazia. Colocou meus cabelos pro lado e começou a beijar minhas costas. Ainda haviam algumas gotas de água que restaram do banho, mas Percy não se importou. Pareceu querer sorver todas elas. Sua língua percorreu toda a extensão da minha coluna e chegou até meu traseiro. Senti suas mãos segurando minhas pernas me fazendo suspender ligeiramente os quadris.

Ele então deslizou a mãos até encontrar o meu ponto mais íntimo. Me acariciou nesse local por alguns instantes e depois introduziu seu membro levemente, sem que eu estivesse esperando. Quando foi que ele havia tirado a própria roupa? Quando dei uma rápida olhada pra trás percebi que Percy ainda estava vestido, só havia aberto alguns botões de sua calça. Aquilo não era muito comum para nós. Nossas relações na maioria das vezes ocorriam de forma mais regrada, com o tempo certo para tudo. Mas de vez em quando saíamos do padrão e eu tinha que admitir que era ótimo! Ele começou a se introduzir dentro de mim cada vez mais fundo e de uma forma torturantemente lenta. Quando terminamos Percy desabou seu corpo sobre o meu. Ele ainda estava vestido e aquilo me incomodou, queria sentir o corpo dele tocando o meu. Então o fiz deitar ao meu lado e comecei a despi-lo. Fiz sexo oral nele e muitas outras coisas antes de enfim estarmos exaustos o suficiente para resolvermos ir dormir

***

Dois dias depois eu ainda não havia esquecido aquela linda e empolgante noite de amor que havia tido com Percy. Por mim faríamos aquilo todas as noites, mas não podíamos nos dar ao luxo de não dormir direito durante a semana. Nossos empregos estavam exigindo muito de nós. Então eu só pude ficar sonhando acordada e esperando para o fim de semana seguinte chegar logo. Na sexta-feira, para meu azar, recebemos uma péssima notícia. Pelo menos ela era péssima para mim. Percy por sua vez pareceu achar ótima. Recebemos um convite pelo correio para a festa de aniversário de Rachel Elizabeth Dare que seria realizada naquele mesmo fim de semana no acampamento meio-sangue. Me perguntei porque ela iria querer uma festa lá, já que podia pagar por qualquer outro lugar do planeta. O acampamento tinha muito significado afetuoso para mim, mas para Rachel? Ela nem estava lá como oráculo a tanto tempo.

Não manifestei minhas implicâncias em voz alta, obviamente. Não havia gostado da ideia mas Percy parecia empolgado em ir aquela festa. Então eu seria uma boa namorada e faria um esforço para ir com ele. No sábado de manhã já tivemos que começar a nos preparar para a pequena viajem que faríamos, já que a festa seria durante o dia, começando por volta das 13 horas. Mas que tipo de festa começa nesse horário? Ok, eu tinha que parar de ser tão chata. Se fosse o aniversário de qualquer outra pessoa eu com certeza não estaria reparando nesses detalhes. Tomamos um taxi, como sempre fazíamos para ir ao acampamento. Nosso carro não serviria naquela ocasião afinal não teríamos onde deixá-lo para fazer a parte do caminho que só dava para seguir a pé.

Ao chegarmos lá fomos recepcionados pelos pôneis de festa, parentes de Quíron, que muito animadamente nos colocaram colares havaianos em nosso pescoço. O que achei estranho pois no convite não havia especificado nenhum tema específico. Mais tarde fui descobrir que realmente a festa não tinha um tema, era mais algo como vários temas misturados. Torci o nariz ao verificar a decoração que estava uma bagunça só. Mas no fundo até que estava bom. Combinando perfeitamente com a aniversariante. Sai de meus pensamentos perversos quando uma série de amigos começou a nos cumprimentar. Eles pareciam surpresos em nos ver juntos. Certamente a notícia do nosso término chegara um pouco atrasada por ali. A de nossa reconciliação provavelmente nunca chegaria, pelo menos não antes daquela nossa aparição em público. Percy e eu éramos como verdadeiras celebridades naquele lugar.

Rachel foi aparecer só algum tempo depois. De certo ela queria fazer uma entrada triunfal. Eu ficara sabendo que algum tempo depois de trabalhar na agência de modelos ela se cansou e fez com que o pai usasse sua influência para que ela fosse a nova cara da nova coleção de roupas de uma marca super famosa. Eu não tinha dúvidas de que o sucesso havia subido aquela cabeça ruiva dela. Mas como sempre, não podia comentar disso com Percy, ele certamente não concordaria. Precisava encontrar alguém naquela festa que também não suportasse Rachel para eu poder soltar meu veneno um pouco. Na hora pensei em Clarisse, que já não gosta de ninguém normalmente, mas que nos últimos anos parecia que vinha me aturando com um pouco mais de facilidade. Disse para Percy que iria dar uma volta para ele poder ir cumprimentar Rachel a vontade e sai procurando a filha de Ares.

Não consegui encontrá-la mas em compensação alguém me encontrou. Alguém que eu não queria encontrar tão cedo de novo. Estava numa parte mais afastada da maior concentração de pessoas ainda procurando por Clarisse quando Dean me abordou de surpresa. Eu nem mesmo sabia que ele estava na festa. Será que tinha sido convidado ou entrara de penetra? Achei que devido aos últimos acontecimentos ele não estava mais dando as caras no acampamento. Não me lembrava de nenhum amigo que ele tivesse mantido entre os semideuses. Só conseguia pensar que qualquer que fosse o motivo para ele estar ali, não poderia ser nada bom. Tentei parecer tranquila e não demonstrar o meu receio quando o cumprimentei.

– Dean, você por aqui?

– Não esperava me ver aqui, não é? - Dean tinha os olhos escuros e a expressão dura. De certa forma também parecia abatido, como se não comesse há uma semana - Na verdade nem eu esperava voltar aqui de novo, mas vejo que cheguei em uma boa hora, não é? Estão dando uma festa ou é impressão minha?

– Não, é uma festa mesmo. Estão comemorando o aniversário de Rachel - acabei falando sem pensar e me arrependi. Dean era conhecido por guardar ressentimento muito fácil, e eu me lembrava que Rachel costumava ser uma das únicas que falavam com ele antes. Se Dean realmente não tivesse sido convidado não iria ficar nada feliz.

– Entendo… - falou ele pensativo e eu pude ver uma sombra de ódio passar por seu rosto - Mas isso não importa agora. Eu vim até aqui só para ver como estavam as coisas e ainda bem que te encontrei, Annabeth. Preciso de falar uma coisa muito importante.

– Sinto muito Dean, mas não quero ouvir nada do que tenha para me dizer - fui direta e em seguida já dei as costas para me afastar dele.

– Ei, não me deixe falando sozinho - falou o filho de Deméter segurando meu braço. Não tentei me soltar, pois isso o deixaria mais nervoso, mas fiquei apreensiva - Acredite em mim, vai querer saber o que tenho pra dizer.

– Está bem, diga de uma vez - decidi que era melhor não tentar contrariar o garoto. Ele não parecia estar em seu estado normal de sanidade. Não que eu tivesse medo de enfrentá-lo caso precisasse. Mas não queria machucar ninguém nem fazer uma cena no meio da festa.

– Bom é algo sobre o seu querido e amado Percy - começou o semideus depois de soltar o meu braço. Ele tinha um tom sarcástico na voz - Enquanto eu ainda morava aqui no acampamento ouvi algumas histórias muito interessantes. Histórias sobre Percy e sobre uma filha de Afrodite, aquela que Percy beijou quando vocês brigaram - Como ele sabia daquilo? Estremeci de medo - Como era mesmo o nome dela?

– Caroline… Agora pare de enrolar a vá direto ao ponto, Dean - falei como se estivesse entediada, mas as ladainhas dele estavam começando a me intrigar. O que será que ele havia ouvido sobre Percy e Caroline? A curiosidade despertava dentro de mim. Eu queria saber o que ele tinha pra me contar.

– Sim, essa mesmo - confirmou Dean - Bom, já que insiste, vou direto ao assunto. Eu soube que há muitos anos, antes mesmo se você e Percy namorarem, essa garota andou tentando enfeitiçar Percy com seu charme divino de filha de Afrodite. E que por um bom tempo Percy teria ficado aos pés dela, até que Caroline se cansou dele e deixou de tentar seduzi-lo. Disseram também que depois que você começou a namorar Percy ela ficou morrendo de inveja e até tentou voltar a enfeitiçá-lo, porém sem sucesso dessa vez. Parece que o amor de vocês é bem forte afinal.

– Espera mesmo que eu acredite nesse monte de baboseiras sem sentido? - falei com tom de deboche.

Mas não demorou nada para que eu começasse a perceber que a história de Dean não era assim tão sem sentido. Eu sabia que já tinha ouvido algo muito parecido com aquilo. Claro, a história do diário de Percy! Se encaixava perfeitamente. Exceto pelo fato de que Percy me dissera que a filha de Afrodite se tratava de Silena e não Caroline. Ele teria mentido? Não, não podia ser. Ele não teria motivos para isso, teria? Eu queria acreditar que não, mas o fato de ele tê-la beijado para se vingar de mim me deixou com a pulga atrás da orelha. De qualquer forma eu não daria o gostinho a Dean de perceber que eu ficara preocupada com aquela informação. Sai de perto dele e o deixei falando sozinho. Dei uma volta pela festa para despistá-lo e em seguida fui procurar uma, pessoa. Uma pessoa que poderia tirar minha dúvida, me deixando aliviada ou então me deixando completamente furiosa.

Fui encontrar Caroline só alguns minutos depois. A garota estava numa área afastada conversando com algumas de suas irmãs do chalé de Afrodite. Eu sabia que quando elas se reuniam assim para conversar, boa coisa não podia sair. Então eu fiz algo que eu normalmente julgaria totalmente errado e antiético. Me escondi atrás de uma árvore próxima a elas e fiquei ouvindo o que falavam. Quase morri de tédio por cerca de uns cinco minutos em que elas ficaram comentando apenas sobre o vestuário de todas as pessoas que passavam perto do grupo. Comentaram também cada peteado e até mesmo a maquiagem. Nem Rachel que era a aniversariante foi poupada das alfinetadas das semideusas. Teve um momento em que pude ver Percy passando por elas. Ele parecia procurar alguém, provavelmente a minha pessoa. Mas não sai do meu esconderijo pois nesse exato momento as garotas mudaram de assunto.

– Aiai, passam-se os anos e Percy Jackson continua sendo o semideus mais bonito e charmoso desse acampamento - comentou aos suspiros uma das filhas de Afrodite. Reprimi minha vontade de ir e dar um soco naquela cara de sonsa dela.

– Está brincando, não é? - respondeu Caroline com desdém - Percy já não está entre os 10 mais do acampamento há muito tempo. Fora isso, ele perde boa parte do charme por causa de sua personalidade. Além de ser facilmente manipulável…

– Não seja hipócrita, Car - riu uma das garotas. Ela tinha pele morena e maravilhosos cabelos cacheados. Pela sua postura parecia ser a líder do grupo - Todos sabem quanto tempo você ficou atrás do filho de Poseidon. Ele até te deu bola uma época, mas depois que a filha de Atena o fisgou, você já não teve a menor chance!

Todas riram. Eu, por outro lado, não estava achando a mínima graça. Bem, Caroline também não estava exatamente no momento mais feliz de sua vida. No entanto, eu duvidava que ela estivesse se sentindo tão mal quanto eu. Percy realmente havia mentido, Dean tinha razão. Não sei qual era a pior das constatações. Na verdade eu sabia sim. Saber que Percy havia me condenado tanto pelas minhas mentiras enquanto ele fizera a mesma coisa. Meus olhos lacrimejaram e quando eu me virei para sair dali dei de cara com Dean. Sua expressão de triunfo me deu muita raiva e eu quase respondi ao instinto de partir para cima do garoto.

– A verdade é dura de se aceitar, não é mesmo Annabeth? - começou ele com lastima na voz - Eu por exemplo demorei muito para aceitar que não ficaríamos juntos. Que você não gostava de mim como eu gosto de você. E que tudo não passou de uma ilusão - ele fez uma pausa dramática para fitar o chão e depois voltar a me olhar - Acontece que não consigo simplesmente conviver com isso. Se você não pode ficar comigo, então não poderá ficar com mais ninguém…

– Do que está falando? - por um momento não acreditei que a ameaça dele era verdadeira.

– Não se preocupe, minha querida Annie. Não pretendo te machucar. Tenho certeza também que não vai se importar em ser afastada de seu namorado depois do que acabou de descobrir…

Sem que eu tivesse tempo de reagir, Dean me agarrou e me segurou enquanto pressionava um pedaço de tecido contra o meu nariz. Me debati para tentar me soltar, mas a substância que ele havia colocado no pano para me fazer desmaiar agiu rapidamente. A última coisa que consegui ver foi o rosto de Caroline enquanto a garota vinha em nossa direção. Eu entendi perfeitamente o que aquilo significava quando um sorriso perverso surgiu em seu rosto. No segundo seguinte tudo virou escuridão.