Missão A Dois escrita por Sarah Colins


Capítulo 43
Capítulo 42 - Plenitude


Notas iniciais do capítulo

Bom dia, amigos! Tudo bem? ^^
Mais um capítulo pra vocês, espero que gostem :)

—________________ALERTA DE SPOILER_____________________
Esse capítulo também contém spoilers de "A Casa de Hades"
.
Boa leitura! ;)



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Ponto de vista de Nico

Não era bem aquilo que eu havia programado para minhas férias com Kurt. Nada daquilo chegava nem perto dos meus planos. Entretanto, não dava pra negar que eu estava gostando. Mesmo contra minha vontade eu havia encarado Percy e Annabeth. Os dois foram bem gentis e compreensíveis com a minha total falta de tato. Não me leve a mal, mas não planejava vê-los de novo pelo menos até o próximo milênio. Dias atrás eu teria preferido mergulhar nas águas do rio Flegetonte do que sentar em uma mesa acompanho dos dois, ainda mais com Kurt ao meu lado. Mas contrariando todas as expectativas, eu podia dizer que foi um dos melhores momentos da minha vida. Pela primeira vez não precisei esconder de ninguém quem eu realmente era. Até então, só tinha conseguido fazer isso com Kurt, e apenas com ele.

Annabeth nunca fora a minha pessoa preferida no mundo. Muito pelo contrário, eu nem sequer me considerava amigo dela antes. Só que mais uma vez tive que dar o braço a torcer, Annabeth estava sendo incrível comigo e com Kurt. Mesmo eu tendo sido frio e mal educado com eles assim que os vi, ela não pareceu ter achado ruim, nem ficou ressentida por isso. Parecia até entender o motivo para eu ter agido daquela maneira. A bebida havia nos ajudado um pouco, mas tenho quase certeza que fomos bastante sinceros um com outro naquela conversa à beira da piscina. Tivemos que quase tirar a força nossos namorados da piscina e levá-los para o quarto. Estavam muito bêbados. Kurt ficou dizendo o tempo todo que havia adorado conhecer meus amigos e que eles eram demais. Eu achei engraçado e até mesmo atraente ver ele ficando embriagado.

Tive que colocá-lo debaixo do chuveiro e depois ajudá-lo a se vestir para poder ir pra cama. Não me importava nenhum pouco de cuidar dele. Depois do que tinha feito por mim, era o mínimo que eu podia fazer. Kurt era a pessoa mais especial que eu havia conhecido na vida. A forma como nos conhecemos havia sido tão inusitada, que jamais poderia imaginar que viria a me apaixonar por ele no futuro. Mas devido à grande habilidade de Kurt em ler as pessoas, ele conseguiu perceber, de alguma forma, a atração que eu senti por ele instantaneamente. Antes mesmo de eu me dar conta disso. Foi por isso que ele não desistiu de mim, mesmo eu tentando evitar me aproximar dele. A primeira vez que ficamos, foi inesperada e intensa. Eu não queria falar do que estava sentindo, então simplesmente respondi aos meus instintos e “parti pra cima dele” literalmente.

Foi a primeira que vez que eu beijei um garoto. Não havia sido o meu primeiro beijo na vida. Quando estava em fase de negação quanto a minha orientação sexual eu tentara ficar com algumas garotas, mas as experiências não foram nada legais. Quando beijei Kurt, porém tive a certeza absoluta de que era daquilo que eu gostava. Nos beijamos por bastante tempo até que nos soltamos. Eu não pude fazer outra coisa senão tentar fugir dele. Literalmente sai correndo, não conseguia encara-lo. Senti vergonha do que tinha acabado de fazer, fiquei pensando se alguém pudesse ter visto. Kurt, obviamente, foi atrás de mim e tentou falar comigo. Não foi assim tão simples, mas ele não desistiu. Veio me procurar no hotel onde eu estava ficando, que por obra do destino, era um dos hotéis do pai dele. Assim foi fácil para ele conseguir permissão para acampar na minha porta.

Mal sabia ele que eu podia facilmente fugir dali viajando pelas sombras, ou então simplesmente pular a janela já que estava apenas no 1º andar. Mas por algum motivo eu não consegui continuar fugindo. Parecia que o fato de eu saber que ele estava ali esperando por minha tirava minhas forças pra tentar qualquer coisa. Eu queria vê-lo de novo. Falar com ele. Beijá-lo. Mas sabia que fazer isso seria admitir que eu era a aberração das aberrações. Uma hora Kurt cansou de esperar a minha boa vontade e foi embora. Aquilo me deixou arrasado. Sentia como se alguém houvesse aberto um buraco imenso no meu peito. Jamais sentira algo parecido com aquilo. Fiquei desesperado e comecei a procurá-lo. Ao contrário de mim, Kurt era uma pessoa muito fácil de se encontrar. Lá estava ele no primeiro lugar que eu pensara em procurar. Sentado na areia da praia de Crandon Park lhando o mar.

Ao avistá-lo meu desespero foi embora junto com a minha coragem. O que eu ia dizer a ele? Que enquanto ele estava na minha porta era fácil querer evitá-lo e que assim que foi embora eu percebi que não queria perdê-lo de jeito nenhum? Qualquer que fosse a desculpa que eu inventasse, pareceria um idiota. Então era melhor parecer um idiota falando a verdade. Fiquei de coração partido quando cheguei perto dele e vi que estava chorando. Seria por minha causa? Me sentei ao seu lado e comecei a falar tudo o que estava sentindo. Não tinha medo de qual seria o seu julgamento. Sabia que ele não me rejeitaria pelo que eu era. Talvez fizesse isso pelas minhas atitudes ridículas, afinal eu realmente havia sido um completo idiota. Por sorte, Kurt me entendeu completamente. Ele disse ter percebido logo de cara que aquilo tudo era novo pra mim. Me contou sua própria experiência quando descobriu que era homossexual.

Conversamos por horas e horas, só compartilhando nossas histórias. Senti uma confiança tão grande nele que poderia ter contado até meus segredos mais obscuros. Só não o fiz porque não queria assustá-lo. Era muito bom só estar ali falando com ele, mas quando Kurt começou a falar do seu interesse por mim, eu não podia explicar a sensação dentro de mim. Veja bem, não sou do tipo romântico nem sentimental, então é extremamente difícil entender e expressar essas coisas. Mas eu tinha quase certeza de que estava gostando dele “daquele jeito”. E por um segundo considerei a possibilidade de deixar ele saber disso e deixar rolar o que quer que tivesse que acontecer com a gente. Foi o suficiente para Kurt. Ele pegou essa chance mínima e a aproveitou da melhor forma possível. Naquela mesma noite eu soube que definitivamente havia um lugar no mundo pra mim, e esse lugar era na cama ao lado de Kurt.

Na época talvez eu tenha achado que fora muito precipitado. Que havíamos nos deixado levar pelo momento e apressado as coisas demais. Hoje, porém eu sabia que tudo aconteceu da maneira que tinha que acontecer. Não me arrependo de nada. Faria tudo de novo da mesma forma. Kurt era uma cara muito descolado e muito popular em Miami, totalmente diferente do tipo de pessoa que eu achava que iria me apaixonar. Entretanto, ele foi me conquistando cada dia mais. Nunca foi o tipo de cara que namora, segundo os próprios amigos dele. Entretanto ele me pediu, depois de algumas semanas saindo, para oficializarmos a relação. Queria até usar aliança, mas eu disse que aquilo não fazia meu estilo. Ele aceitou numa boa, como sempre. Não tinha nada que eu dissesse que Kurt não fizesse por mim. Ele estava me deixando muito mal acostumado com aquele tratamento.

Mas mesmo depois de meses juntos, Kurt continuou o mesmo. Me tratando como um rei, e sendo o mais compreensivo possível com as minhas paranoias. Eu me mudei de vez para Flórida só pra ficar perto dele e não pensava sair de lá nunca mais. A não ser que Kurt quisesse. Eu o seguiria até o fim do mundo. Demorou, mas enfim eu aceitei que o amava e que não queria ser diferente do que eu era. Finalmente havia uma certeza em minha vida e era apenas daquilo que eu precisava. Talvez por isso eu ficara tão chocado quando vira Percy e Annabeth em Miami. Por um momento achei que todo o meu passado fosse voltar para me assombrar. Achei que aquilo, de alguma forma iria atrapalhar as coisas com Kurt. Principalmente porque eu ainda não lhe contara que eu era um semideus. Tinha pensado até que jamais teria que revelar essa parte de minha vida a ele. Então, mais uma vez eu surtei, e mais uma vez Kurt ajudou a colocar meus pedaços no lugar. Foi por ele que eu aceitei encarar meus dois velhos amigos.

E como sempre também Kurt tinha razão, no fim das contas valeu a pena. Passamos momentos muito agradáveis na companhia de Percy e Annabeth. Os dois tinham uma química e uma harmonia incrível. Só agora que eu também estava apaixonado, conseguia perceber isso. Não tínhamos muitos amigos heteros para sair. Na verdade, na maior parte das vezes eu preferia que saíssemos sozinhos. Não porque ainda tivesse vergonha do que eu era, mas porque não confiava em mais ninguém além de Kurt. Fora ele, sempre achava que todos iriam me julgar, me criticar e me descriminar. Pelo menos com meus amigos semideuses eu já sabia que eles conheciam o pior de mim, então se ainda estavam ali, era porque realmente se importavam comigo e queriam conviver em paz.

***

Depois de quase duas semanas que Percy e Annabeth estavam na Flórida nos parecíamos já ter ido a todas as praias e pontos turísticos possíveis. Mas nada parecia ser suficiente para a incansável filha de Atena. A cada dia ela aparecia com um lugar novo para visitar e arrastava nós três junto. Teria ficado morando ali por anos sem ter nem curiosidade de conhecer metade das coisas que vimos naqueles últimos dias. Confesso que alguns deles despertaram minha atenção. Outros eram uma tremenda chatice. Por sorte estávamos sempre em boa companhia, então até mesmo uma visita a biblioteca municipal acabou sendo um programa interessante. Ainda mais quando Kurt me levou para uma das estantes mais afastadas da sessão reservada para estudantes universitários. Teoricamente só Annabeth tinha permissão para entrar lá, mas é claro que demos um jeito de burlar a segurança.

Kurt estava sempre dando um jeito de dar essas escapadas comigo. Principalmente por que ele sabia que eu não me sentiria confortável se ele me beijasse na frente dos meus amigos. Em um desses programas de índio inventados por Annabeth, eu e Percy ficamos muito entediados. O filho de Poseidon deu a desculpa que tínhamos que procurar um lugar pra almoçar. Como Kurt também parecia interessado nas obras de arte do tal museu, acabamos saindo apenas Percy e eu para procurar o tal restaurante. Só percebi que havia cometido um erro fatal quando já estávamos sozinhos. Até então eu só tinha estado na presença de Percy com um dos outros dois presente. Só tínhamos trocado meia dúzia de palavras e poucas delas foram dirigidas diretamente ao garoto. Sem Kurt ao meu lado eu perdia boa parte da minha auto confiança. Logo, um silêncio constrangedor pairou sobre nós durante vários minutos.

– Ele é um cara muito legal - falou Percy do nada, quase não entendi a que ele se referia - Quero dizer, Kurt. Ele é uma ótima pessoa. Tem sorte de tê-lo encontrado.

– E você diz isso pra mim? - falei brincando, mas acho que pelo meu tom Percy não entendeu dessa forma - Quero dizer, você tem razão. Ele é uma pessoa maravilhosa, nem sei como ele foi gostar de mim…

– Também não precisa se menosprezar. Você também é uma pessoa ótima, e ele também tem sorte de ter alguém como você ao seu lado - eu o olhei com cara de quem não estava acreditando então Percy continuou - É sério. Sei que não tive a melhor reação quando descobri que você gostou de mim no passado, mas uma das primeiras coisas que senti ao saber disso foi orgulho. Por você ter me admirado ao ponto de achar que estava apaixonado por mim.

– Eu mal sabia o significado dessa palavra naquela época...

– Eu sei, eu sei, não precisa acabar com a minha alegria - o olhei com estranheza. Mas do que é que ele estava falando? Ouvindo assim dava pra achar que ele realmente tinha gostado daquela revelação - O que eu quero dizer, Nico, é que só o fato de você pensar que gostava de mim já quer dizer que me achava incrível. E cá entre nós, você é um dos semideuses mais poderosos que eu já conheci. Fiquei no mínimo lisonjeado de representar tanto pra você… naquela época.

– Ainda representa, Percy - não sei como tive coragem de falar aquilo - Posso ter me enganado com o fato de estar gostando de você, mas não me enganei em te achar um semideus incrível. Não preciso ficar aqui rasgando seda, não é? Você sabe dos próprios feitos, sabe que é admirado por todos os semideuses na face da terra. Eu é que tenho orgulho de ser seu amigo, ou ter sido algum dia pelo menos…

– Você ainda é! - confirmou ele com um sorriso - Mesmo antes de nos reencontrarmos e acertamos as coisas, eu ainda te considerava meu amigo. Sempre considerei. Você salvou minha vida, lembra?

– Você também salvou a minha, mais de uma vez, alias…

– Mas você salvou a vida da pessoa que mais amo no mundo - ele se referia a Annabeth.

– É tem razão, eu ganhei - nós dois rimos e no segundo seguinte percebemos o quanto isso era estranho.

E o clima continuou estranho durante todo o tempo que Percy e eu continuamos sozinhos sem nossos respectivos namorados. Mas algo me dizia que tinha que ser assim. Nos sentirmos constrangidos um perto do outro já tinha virado rotina, levaria mais do que apenas alguns dias para superar aquilo. Pelo menos agora eu sabia o que ele pensava. Sabia que ainda me considerava seu amigo e isso era o que mais importava. Aproveitamos que os dois “vida saudável” não estavam presentes para escolher um restaurante de fast food para comer. Um daqueles que os espíritos dos mortos adoram. Quando Kurt e Anna vieram nos encontrar, não gostaram nada da ideia. Mas como estavam famintos, não quiseram procurar outro lugar para comer. Almoçamos e depois fomos dar uma volta numa praça que havia ali perto.

Segundo Kurt e Anna tínhamos que caminhar para perder as calorias ingeridas no almoço. Eu e Percy tiramos sarro deles e ficamos bem pra trás enquanto os dois quase corriam por uma pista de corrida que havia na praça. O sol estava de rachar, não sei como é que os dois conseguiam disposição para aquilo, ainda mais depois do almoço. Por sorte eu comecei a me sentir um pouco mais à vontade ao lado de Percy. Assim, não me importava que os dois nos deixassem a sós novamente. À princípio ficamos em silêncio apenas observando as pessoas que andavam pelo local. Me distraí momentaneamente olhando uma pequena garotinha brincando com bolas de sabão.

– Tem mais uma coisa que eu queria te falar - Percy me tirou do transe em que estava - Não é que eu queira ficar voltando nesse assunto toda hora, mas é que eu preciso me desculpar com você, Nico.

– Se desculpar pelo que? - não entendi o que ele queria dizer, achei que já havíamos falado o suficiente e que não havia mais o que perguntar nem responder.

– Pela reação que eu tive quando descobri que você era gay e que gostava de mim - ele fez uma pausa para respirar fundo - Olha eu vou ser sincero, fiquei com medo de magoar seus sentimentos por não corresponder o que você sentia. E foi principalmente por isso que me afastei. Um tempo depois eu percebi que não devia ter feito isso. Você deve ter pensado que eu estava sendo preconceituoso ou algo do tipo. Daí então já não tinha como voltar atrás. Eu realmente achava que você estava pensando o pior de mim, então achei que manter a distância seria melhor. No fim das contas, a culpa de termos nos afastado foi toda minha. Por isso eu peço desculpas.

– Apesar de achar que a culpa não foi só sua, ok, eu te desculpo, Percy - falei enquanto nos sentávamos em um banco à sombra de uma árvore - E não se preocupe, eu não fiquei pensando que você estava me discriminando. Simplesmente achei que você não estava pronto para encarar isso, assim como eu também não estava. Talvez tenhamos levado tempo demais para perceber isso. Mas como eu disse, por sorte temos pessoas muito importantes que nos fizeram abrir os olhos.

Ele sabia que eu me referia a Kurt e Annabeth, que naquele momento estavam vindo de volta a nosso encontro. Nós dois olhamos na direção deles e sorrimos. Os dois acharam a cena estranha mas não falaram nada. Decidimos que já era hora de voltar para o hotel e aproveitar a piscina. Quer dizer, os outros decidiram. Porque eu não fazia a mínima questão de ficar torrando embaixo do sol, nem de usar roupa de banho, muito menos de ficar numa piscina cheia de gente desconhecida nadando pra lá e pra cá. Infelizmente Kurt adorava todas essas coisas. Pelo menos agora ele tinha a companhia dos meus amigos para se divertir dessa forma, enquanto eu ficava num canto, à sombra, bebendo alguma bebida bem gelada e observando-os. Ficamos quase a tarde toda na piscina, mas eu não me entediei nem um minuto. Mesmo de longe eles interagiam comigo e me faziam rir a todo momento.

Mais tarde Kurt disse que iriamos ao centro novamente conhecer o Art Deco District. Annabeth não parou de falar desse lugar durante todo o tempo que estivera em Miami conosco. Para uma filha de Atena que cursava Arquitetura, não era de se esperar outra coisa. Eu sabia que haviam lugares muito legais por lá para quem tinha outros interesses também, então não seria maçante como os outros programas de Annabeth. Subimos para os quartos, tomamos banho e nos arrumamos. Novamente Kurt conseguiu um motorista para nos levar até nosso destino. Ter um namorado rico tinha suas vantagens. Bem que eu falei que ele estava me deixando mal acostumado.

Ao desembarcarmos, Annabeth e Percy foram olhar um prédio que para nós não tinha nada de mais. Era só a sede de uma banco nacional. Mas ao que parecia, a semideusa achou o lugar incrível. Aproveitei o momento para “roubar” Kurt só pra mim. Não tínhamos tido tempo de ficar a sós o dia todo. Segurei a mão dele e o levei até o outro lado da calçada, onde haviam alguns banquinhos. Só Kurt sabia o quanto aquele gesto significava, já que eu demorei muito para concordar em dar demonstrações de afeto em público. Nos sentar num banco, numa rua movimentada como aquela e ficarmos abraçados então, era um progresso imenso. Kurt, como sempre muito atrevido, me beijou algumas vezes, sutilmente, o que me fez querer esganá-lo e ao mesmo tempo agarrá-lo.

A noite estava perfeita, até que tudo foi por água abaixo. Eu já estava estranhando. Estava demorando para acontecer alguma coisa para arruinar tudo. Eu estava sendo feliz demais nos últimos meses com Kurt, e ainda mais nos últimos dias com a visita dos meus amigos. Aquilo não era normal para mim. Era óbvio que algo iria dar errado em algum momento. Quando Percy e Anna reapareceram e estavam vindo em nossa direção, uma senhora atacou Percy com uma bengala. À princípio não parecia ser nada além de uma velha doida, fazendo algo insano. Aquilo não era exatamente incomum em Miami. Mas logo em seguida eu percebi que havia algo a mais no olhar daquela mulher. Tive certeza que ela não era uma simples senhora de idade louca quando vi seus olhos brilharem vermelhos brilhantes e seu corpo começar a mudar de forma. Aquela era uma Empousa, e uma empousa muito furiosa.

Percy não hesitou nem um segundo em sacar contracorrente e atacar a criatura quando ela assumiu sua forma verdadeira. Kurt ficou de olhos arregalados vendo a cena. Provavelmente seus olhos ainda estavam sendo enganados pela névoa e ele estava vendo Percy atacar uma pessoa indefesa com uma espada de metal afiada. O monstro desviou do golpe de Percy mas Annabeth logo acertou a haste de sua adaga na cabeça dela e lhe deu um chute no peito, lançando-a para longe deles. Infelizmente longe deles significava perto de nós. Kurt continuou com cara de embasbacado e eu também não consegui reagir de imediato. Não estava com minha espada, na verdade não a carregava há tempos. Não me lembrava de ter enfrentado algum monstro desde que viera para a Flórida. Minha demora fez com que a criatura partisse para cima do meu namorado e o arrastasse consigo.

Fui tomado por tamanha fúria, que nem precisei penar muito para que “guerreiros esqueletos” começassem a sair da terra e ir atrás da empousa que carregava Kurt. Percy, que era mais rápido que eu, os alcançou quando eles chegaram ao litoral. Esse foi o grande erro daquela vampira maligna. Perto do mar, Percy era ainda mais poderoso. Antes mesmo de ele começar a agir eu já sabia que a batalha estava ganha. A questão era apenas o quanto seria dolorosa a morte da empousa. E claro, se ele conseguiria resgatar Kurt ileso. Bom, estamos falando de Percy Jackson e é claro que ele deu conta do recado. Tirou Kurt das mãos da criatura e a afundou nas águas do mar, antes de dar-lhe um golpe mortal com a espada.

Suspirei de alivio ao ver que Kurt estava bem. Me aproximei dele e perguntei se não estava ferido. Ele negou com a cabeça sem me olhar diretamente. Senti um mal estar profundo quando vi sua expressão. Ele estava apavorado, confuso, alucinado. Parecia não acreditar no que seus olhos acabaram de ver. E não era pra menos. Estendi minha mão para tocar seu braço e ele se afastou como se estivesse com medo de mim. Antes que eu conseguisse dizer qualquer coisa Kurt saiu correndo. Fui atrás dele. Corri pela areia da praia perseguindo Kurt e chamando seu nome por um longo tempo. Até que ele se cansou e caiu de joelhos no chão. Eu fui até ele e me coloquei na sua frente para encará-lo. Ele me perguntou se estava ficando louco. Se tudo o que vira era verdade. Então eu lhe expliquei tudo sobre a parte da minha vida que ele ainda não conhecia, e principalmente porque eu não lhe contara nada até então.

À princípio Kurt ficou apático, depois ele disse que precisava de um tempo para pensar e saiu andando para longe de mim. Dessa vez eu não o segui. Já tinha falado tudo o que eu podia. Ficar insistindo não iria ajudar. Ele precisava de tempo para pensar e digerir tudo aquilo que havia acontecido. Eu daria esse tempo a ele, mesmo que isso me causasse uma dor imensa. Já não podia mais imaginar minha vida sem ele. Percy e Annabeth então chegaram até onde eu estava, perguntaram por Kurt e quando lhes contei eles quiseram saber como eu estava. Normalmente eu tentaria evitar a ajuda deles, fingiria que estava tudo bem e me afastaria o máximo possível. Mas naquelas circunstâncias eu não estava em posição de rejeitar o apoio deles. Até porque, realmente precisava disso. De outro jeito eu acho que teria surtado. Se ainda tinha alguma dúvida de que eles eram meus amigos de verdade, nesse momento me desfiz de todas elas.

Percy e Annabeth foram essenciais, principalmente para tirar da minha cabeça pensamentos como: “Ele nunca mais vai querer saber de mim” e; “Minha vida não tem sentido sem ele”. Ambos disseram que iam me ajudar a falar com Kurt e explicar pra ele direito essa história de deuses e semideuses. Agradeci, mas disse que se alguém tinha que conversar com ele e tentar resolver as coisas, era eu. Estávamos conversando numa pequena sala de estar no lobby do hotel. Já havia passado algumas horas e já era bem tarde então não havia quase nenhum hóspede por ali. Por isso nós logo notamos quando Kurt veio descendo as escadas para a recepção. Por um momento achei que ele iria dar as costas e sair quando nos visse ali, mas ele veio andando exatamente em nossa direção. Percy e Anna deixaram a sala numa velocidade impressionante, saindo por uma porta lateral que dava para a piscina.

– Posso falar com você? - perguntou Kurt

– Aham - murmurei. Foi só o que consegui juntando meu nervosismo com o fato de ele me tirar o fôlego apenas com sua presença.

– Olha, essa coisa toda de você ser filho de Hades e seus amigos serem filhos e Atena e Poseidon ainda é muito surreal pra mim - começou ele inseguro - Mas parece que tem que haver uma explicação para tudo o que eu vi vocês fazendo, e também para aquela criatura que nos atacou... O que quero dizer é que acho que acredito em você. E mesmo se não acreditasse, mesmo se pensasse que está louco, eu jamais poderia te deixar. Pensar em terminar com você é, com certeza, muito pior do que aprender a conviver com tudo isso.

– Quer dizer que não está mais irritado por eu não ter te contato nada antes?

– Não consigo ficar mais do que cinco minutos irritado com você, Nico - ele sorriu e eu senti meu coração se aquecer uns cinco graus - Claro que entendo que você não tinha tido coragem de me contar essas coisas ainda. Na verdade você mal me conta sobre você e a sua vida normalmente.

– Pois é, você sabia disso desde que me conheceu. E mesmo assim quis ficar comigo...

– E não em arrependo nenhum pouco. Aliás, eu gosto desse seu jeito misterioso. Me dá ainda mais vontade de desvendar os seus segredos ou então te convencer de me conta-los - nos olhamos profundamente nos olhos naquele minuto e eu soube que estávamos bem.

O dia seguinte foi bem mais tranquilo. Sem monstros, sem brigas e sem namorados apavorados. A única coisa diferente era que havia chegado o dia de Percy e Annabeth partirem. Havia me acostumado com a presença deles ali então foi difícil dizer adeus. Mas prometemos nos encontrar novamente para outra temporada como aquela o mais breve possível. E pela primeira vez em muito tempo, na verdade pela primeira vez na vida, eu senti que tinha tudo o que poderia querer, sentia que pertencia a algum lugar e mais que pertencia a alguém. E sabia que merecia tudo aquilo!


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Notas finais do capítulo

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