Aquele aparato grande e redondo não havia combinado em nada com a decoração da sala. Eu teria me livrado dele na primeira oportunidade se pudesse. Mas ao que parecia a paz em nossas vidas dependia daquilo. Literalmente. E se aquele objeto asqueroso realmente espantasse os monstros, como Quíron havia dito, eu poderia aprender a conviver com ele. Tudo para facilitar o que todos sabiam que não seria nada fácil. Percy e eu ouvimos diversas criticas quanto a nossa brilhante ideia de morarmos juntos. Era praticamente uma unanimidade que incluía nossos pais e amigos. Acho que a única pessoa que realmente nos apoiou e nos deu algum incentivo foi Clarisse. Mas acho que era só por que Chris e ela estavam pensando em fazer a mesma coisa. Mas no caso deles era ainda mais complicado.

Deixei de lado os pensamentos que insistiam em me fazer vagar para longe dali. Seria muito fácil me perder nas lembranças e me preocupar com os problemas dos outros naquele momento. Mas eu não podia me esconder, tinha que enfrentar a realidade. Afinal eu havia batido o pé e reafirmado diversas vezes para os deuses e o mundo que a minha decisão era a correta. Que nós conseguiríamos. Que estávamos prontos para aquilo. Já tinha virado uma questão de honra. E eu tinha que provar, não só para os outros, mas principalmente para mim mesma, que era capaz. Cuidar de um apartamento, trabalhar e estudar não era nenhum bicho de sete cabeças, era? Eu já havia enfrentado bichos com muito mais do que sete cabeças afinal. Ia ser moleza.

Olhei para a caixa que eu havia aberto minutos atrás antes de me distrair com o “espanta monstros” super discreto que cobria grande parte do limitado espaço que tínhamos disponível. Me lembrei instantaneamente do que estava procurando. E me lembrei também que depois de longos minutos de busca não havia encontrado o que eu queria. Eu jamais imaginaria o quanto uma chave de fenda poderia ser essencial em uma casa. Certo, talvez aquilo tudo não fosse tanta moleza assim. Mas estava longe de ser impossível como todos faziam parecer. Eu só precisava encontrar aquela simples ferramenta no meio monte de caixas que ainda não havíamos desfeito da mudança. Pra alguém que já conseguiu entrar e sair viva do labirinto de Dédalo, essa não seria uma tarefa tão difícil. Desejei que Percy estivesse ali para me ajudar a procurar, mas ele estava se ocupando de sua própria tarefa no momento. E ao me lembrar do que era eu agradeci por ter preferido ficar no apartamento.

Aparentemente se você quer alugar um lugar para morar não basta encontrar o lugar, ter dinheiro para pagar o aluguel, e fazer a mudança. Muitas outras coisas estavam envolvidas e muitos trâmites burocráticos deveriam ser feitos. Água, luz, telefone, gás, isso sem falar na tevê a cabo que Percy insistiu em colocar. Pra alguém que já havia visitado as amplas e sofisticadas instalações do olimpo, eu tinha que confessar que a aparência daquele apartamento não me agradava nenhum pouco. Por sorte eu também havia tido a oportunidade de coordenar toda a reforma do olimpo, o que obviamente não fora nada fácil. Logo, dar um jeito naquela quitinete de quarenta metros quadrados não seria nenhum desafio para mim. Pelo menos assim eu esperava.

O importante é que estávamos dando o pontapé inicial no nosso futuro juntos. Tudo o que sempre sonhamos estava começando a virar realidade. Muita discussão e muitas brigas rolaram até que chegássemos a um acordo, claro. E eu sabia que muitas outras estavam por vir. Mas ao menos agora tínhamos infinitos dias de paz pela frente. Sem termos que nos preocupar com nenhum ser super poderoso tentando destruir o planeta. Sem nenhuma profecia para ditar o que irá acontecer ou quem vai viver e morrer. A partir daquele momento começava nossa vida a dois. E nós nem sonhávamos que aquela poderia ser a mais difícil de nossas missões.